Ciúmes e asco: duas notas de pé de página sobre a reação terapêutica negativa no caso Dora

por Markus Lasch

A retomada nos dias de hoje, para apresentação e discussão, do texto que Sigmund Freud pensou primeiro em chamar de “Sonho e histeria” e que depois denominou “Fragmento de uma análise de histeria” implica uma séria de incômodos. Antes de mais nada, supõe-se que esse primeiro dos relatos de caso de Freud seja por demais conhecido pela absoluta maioria, senão pela totalidade daqueles que têm interesse em assuntos psicanalíticos. E não só isso; o texto freudiano sobre a análise fragmentária de Dora foi, por sua vez, objeto de um sem-número de exegeses, comentários e críticas. Em outras palavras, está em questão o pensamento de se poder estar chovendo multiplamente no molhado.

Por outro lado, o próprio teor do relato e sua relação com o arcabouço teórico da psicanálise impõem dificuldades. As constelações em torno do adoecimento de Dora, os elementos de seus dois sonhos e as sucessivas interpretações contém tal quantidade de aspectos, de sobredeterminações, como diz Freud, que uma apresentação sucinta que se queira minimamente abrangente parece improvável. Ainda mais tendo em vista que o caso reúne um inventário considerável de conceitos e questões de teoria e práxis psicanalíticas em seu estágio precoce, mas que permaneceram relevantes, sofrendo por vezes inflexões consideráveis ao longo do tempo, da ab-reação, passando pelas teorias pulsional e do trauma, à noção de transferência.

Um terceiro incômodo diz respeito à forma do relato. Se todos os relatos de caso se apresentam, afinal, “romanceados”, em nenhum outro nos sentimos tão à mercê da criação freudiana como no caso Dora. Justificando seu procedimento a todo momento pelas circunstâncias – o curto tempo da análise de Dora e sua interrupção antes da hora – o fundador da psicanálise tece interpretações, explicações, especulações e suprimentos de lacunas numa urdidura cujos entrecruzamentos certamente não podem ser acusados, pela sobredeterminação já mencionada, de univocidade ou simplificação, simplificação, aliás, que seria, de acordo com Freud, o modus operandi precisamente da criação artística[1], mas que ainda assim são chamados a gravitar – a exemplo das pulsões parciais unificadas sob o primado da organização genital – predominantemente em torno da verdade demiúrgica do amor de Dora pela via identificatória masculina que interliga o pai, o Sr. K. e o próprio Freud. Essa perspectiva onisciente, porém, provoca a resistência do leitor minimamente insubmisso. Quer dizer, para além de meramente apontar ou sublinhar a contingência dos elementos, somos compelidos a amplificar ou restaurar a voz autodiegética, para usar a nomenclatura cunhada por Gérard Genette, a dar não só razão a Dora de ter abandonado a análise, como especular da nossa parte em torno da razão para tal, especular a respeito de seu desejo e da posição de seu desejo. Essa atitude, porém, parece temerária por sua dependência da narrativa freudiana, ainda mais se somos potenciais integrantes da referida via identificatória masculina.

Feito esse preâmbulo de autodesagravo, passo a algumas coordenadas mínimas do caso e de seu relato, a título de refrescar memórias, para então comentar dois aspectos específicos. Dora, aliás Ida Bauer, nasce em 1882 em Viena, como filha de um abastado empresário da indústria têxtil, Phillipp Bauer, e de sua mulher Katharina ou Käthe. Ela tem um irmão, apenas um ano mais velho, Otto Bauer, que se tornaria um economista e sociólogo marxista, membro do partido social-democrata. O pai tem saúde frágil. Por causa de uma infecção sua de tuberculose, a família muda-se de Viena para uma cidade que no relato é abreviada com B., quando Dora tem seis anos. Aos 10 anos de Dora, o pai é acometido por um descolamento de retina e quando dois anos mais tarde apresenta certa confusão mental, consulta Freud que lhe atesta que tanto o distúrbio quanto o deslocamento de retina teriam relação com uma infecção sifilítica que datava de antes de seu casamento; daí também sua impotência.

Uma segunda informação contextual importante é que a família Bauer mantém relação estreita com o casal Johann ou Hans e Giuseppina Zellenka, o Sr. e a Sra. K. do relato, que já residiam em B. antes da chegada dos Bauer. Ela cuida do pai doente e torna-se sua amante, ele passeia com a filha e dedica-lhe atenção e presentes. Dora, por sua vez, cuida maternalmente dos filhos do casal, Otto e Klara, partilha a cama com a Sra. K. durante viagens de férias, assim como segredos íntimos, como a leitura da Fisiologia do amor de Mantegazza.

Os sintomas neuróticos de Dora aparecem cedo. Aos oito anos é acometida de dispneia. Quatro anos depois, juntam-se enxaqueca, tosse nervosa, pigarreamento e acessos de afonia. As dores de cabeça cessam aos 16, o resto persiste. Aos 16 anos faz também sua primeira visita a Freud que, porém, não resulta em tratamento, dado o desaparecimento temporário dos sintomas. Só dois anos mais tarde, depois de uma carta com ameaças de suicídio acompanhada de desmaio, a palavra imperiosa do pai leva Dora à análise. O decurso da mesma revela ainda que, depois de algum tempo sem enurese, Dora voltou a fazer xixi na cama entre os seis e os sete anos, que um ano e meio antes do tratamento teve uma apendicite e que o “catarro” diz respeito também a um corrimento vaginal persistente cujo início escapa à memória.

Sabe-se que o tratamento de Dora teve um fim abrupto, depois de um aviso prévio de duas semanas, na passagem de ano entre 1900 e 1901. 15 meses depois, em primeiro de abril de 1902, Dora comparece mais uma vez e pela última no consultório de Freud. Na ocasião conta que havia tomado o falecimento de um dos filhos do casal K. como ensejo para uma visita de condolência a fim de resolver sua história com eles. À Sra. K. participa que sabia de seu relacionamento extraconjugal com seu pai. Ao Sr. K. faz admitir uma das cenas-chave e traumáticas, antes negada por K.: a tentativa de pedido de casamento deste, no lago da cidade L., quando Dora tinha 16 anos. Lembramos que a outra, a do agarramento e do beijo forçado, havia acontecido dois anos antes. O motivo da visita atual é uma nevralgia da face direita que persiste há duas semanas durante dia e noite, mas que, ainda assim, não leva à retomada da análise, o que Freud comenta com as seguintes palavras no posfácio: “Que tipo de ajuda queria demandar de mim, não sei, mas lhe prometi que a perdoaria por ter-me privado da satisfação de ter-lhe livrado bem mais profundamente de seus sofrimentos”.[2]

Dois anos depois desta visita, Ida Bauer se casará com Ernst Adler, um compositor de pouco sucesso que ganharia um posto na empresa do pai da antiga paciente de Freud. Do casamento infeliz, que terminaria em 1932 com a morte do marido, resultou um filho, Kurt Herbert Adler, um músico talentoso que teve aulas com um discípulo de Schönberg e trabalharia como diretor musical e dirigente entre outros com Max Reinhardt. Embora a família tivesse deixado a comunidade judaica já em 1905, convertendo-se para o protestantismo, tanto seu filho quanto Ida teriam, no final da década de 1930, que fugir do nazismo para Nova York, onde Ida morre em 1945 em consequência de um câncer de cólon. Felix Deutsch, que travou rápido conhecimento com Dora em duas consultas no ano de 1922, comentaria o falecimento da antiga paciente em sua “Nota de rodapé” para o caso: “Sua morte […] pareceu uma bênção para aqueles próximos dela. Ela tinha sido, nas palavras do meu informante, ‘uma das histéricas mais repulsivas’ que ele já tinha conhecido”[3].[4]

Quanto ao relato freudiano, sabemos que ele é composto por cinco partes. No prefácio, Freud justifica existência e forma do escrito. Os quatro anos de distância, a publicação numa revista especializada, rigorosamente científica, a anonimização e o fato de os principais acontecimentos terem acontecido fora da sociedade burguesa vienense, na província, satisfariam o quantum de dever para com a discrição profissional. Que, por sua vez, não seria exclusivo, na medida em que o médico teria responsabilidades não só em relação a cada um de seus pacientes, mas também em relação à ciência, isto é, em relação ao coletivo dos potenciais pacientes futuros. É o dever para com a ciência também que justifica a forma de falar direta e seca sobre assuntos sexuais, de dar nome aos bois não só na conversa com uma jovem paciente do sexo oposto, mais também no relato desse diálogo.

Ao prefácio segue-se o capítulo sobre o contexto do quadro clínico, o núcleo, com a apresentação, decomposição e interpretação dos dois sonhos, e um posfácio em que Freud admite certa falta de destreza no manejo da transferência, assim como, em uma nota de rodapé, o erro técnico de não ter participado a tempo à sua paciente que a mais forte das correntes inconscientes de sua vida anímica era a homossexual, a moção amorosa para com a Sra. K.

O conteúdo manifesto dos sonhos que compõem o núcleo do relato é bastante sucinto. No primeiro, Dora narra:

Há um incêndio numa casa. O pai está de pé diante de minha cama e me acorda. Ponho rapidamente minha roupa. A mamãe quer ainda salvar rapidamente sua caixinha de joias, mas o papai diz: não quero que os meus dois filhos queimem por causa de sua caixinha de joias. Descemos correndo e, assim que deixo a casa, acordo.[5]

O segundo é um pouco mais extenso, mas também pode ser reproduzido em poucas linhas:

Passeio por uma cidade que não conheço, vejo ruas e praças que me são estranhas. Chego então numa casa onde moro, vou para o meu quarto e encontro uma carta da mamãe. Ela escreve: Já que me afastei sem o conhecimento dos pais da casa, ela não me queria escrever que o pai adoeceu. Agora ele morreu e, se você quiser, pode vir. Vou agora à estação e pergunto mais ou menos 100 vezes: onde é a estação? Recebo sempre a resposta: cinco minutos. Vejo então uma floresta densa diante de mim, em que entro. Lá pergunto para um homem. Ele me diz: duas horas e meia ainda. Ele se oferece a me acompanhar. Eu recuso e vou sozinha. Vejo a estação diante de mim e não consigo alcançá-la. Isso é acompanhado pelo costumeiro sentimento de medo, quando não se consegue avançar no sonho. Então estou em casa, entretanto devo ter tomado uma condução, mas não sei nada disso. Entro na guarita do porteiro e lhe pergunto pelo nosso apartamento. A criada me abre e responde: a mamãe e os outros já estão no cemitério.[6]

Os comentários e as interpretações de Freud referentes a esses dois sonhos estendem-se por em torno de quarenta páginas e evidentemente não podem ser resumidos neste âmbito. Supõem-se, porém, razoavelmente conhecidos. Como também deve ser familiar ao público leitor interessado em psicanálise o que Lacan disse, nas diversas vezes em que abordou o caso (por exemplo no ensaio de 1951 dos Escritos e em seus seminários 3, 4, 16 e 17): que a atração fatal que a Sra. K. exerce sobre Dora diz respeito ao mistério da própria feminilidade (a pergunta de Dora relativa a “o que é ser uma mulher”, “o que é um órgão feminino”); que a histérica é alguém cujo objeto é homossexual, sendo que ela ama por procuração, ou seja, aborda esse objeto por identificação com alguém do outro sexo; que no caso de Dora a via de identificação imaginária masculina (remontando à relação com seu irmão e tendo como elementos o pai, o próprio Freud e, principalmente, o Sr. K.) se oporia, a nível simbólico, às identificações femininas (a mãe, a governanta, a Sra. K.); e, finalmente, que, enquanto histérica, Dora quer o saber como modo de gozo, porém, para fazê-lo servir à verdade que ela própria encarna, sendo essa verdade que o mestre é castrado. Retenhamos para os dois aspectos que gostaria de comentar a seguir apenas dois elementos dos sonhos: o fogo assim como a sensação de Dora de ter sentido o cheiro de fumaça ao acordar do primeiro e o grande livro em que teria lido, que aparece como pedaço suplementar antes esquecido do segundo.[7]

No posfácio de seu texto, Freud especula sobre as razões do abandono da análise por parte de Dora e qual papel a transferência, isto é, os seus equívocos ou falta de destreza no manejo da mesma teriam tido no processo:

Não ouvi, porém, essa primeira advertência, achei que haveria bastante tempo, já que outros graus de transferência não ocorriam e o material para a análise ainda não se esgotava. De maneira que então foi surpreendido pela transferência, e, por causa do X em que eu lhe lembrava o Sr. K., ela vingou-se de mim como queria vingar-se do Sr. K. e deixou-me como acreditava ter sido enganada e abandonada por ele. Ela atuou assim uma parte essencial de suas lembranças e fantasias ao invés de reproduzi-la na terapia. Qual era esse X, evidentemente não posso saber: suponho que se referia a dinheiro, ou então era ciúme para com uma outra paciente que continuou a relacionar-se com minha família depois de sua cura.[8]

Já terá sido observado que a trajetória de Dora é marcada por uma série de sentidos abandonos e traições. O primeiro diz respeito certamente à ausência da mãe que, enodoada e contaminada pela libido do pai, refugia-se em sua neurose obsessiva de limpeza, furtando-se a servir de modelo positivo de identificação feminina, quer dizer, dificultando a Dora uma das vias de acesso com respeito à indagação relativa a que é e quer uma mulher. Se isso não aparece de forma direta no relato da análise com Freud, o que, aliás, reforçaria a interpretação deste sobre a atuação de Dora que, no caso, representaria a ausência da mãe escamoteando-a da cena analítica, temos a confirmação da falta sentida e da ainda assim identificação pela via neurótica pelas informações posteriores de Deutsch.[9] A lacuna de identificação positiva é então suprida pela Sra. K. que, porém, não só demonstrará a Dora que quem lhe importa realmente é o seu pai, a exemplo da governanta anos antes, mas também a trairá sustentando a negação de seu marido quanto ao pedido de casamento e revelando suas leituras de teor sexual. O pai, por sua vez, essa é a principal queixa de Dora no início da análise, é insincero, tem um quê de falsidade no caráter, pensa apenas na sua própria satisfação e “sacrifica”, “vende” a própria filha, isto é, abandona Dora ao assédio do Sr. K., para não ter perturbada sua relação com a Sra. K. O Sr. K, finalmente, inicia o seu discurso de pedido de casamento justamente com as palavras que tinha usado para seduzir uma criada antes, levando em troca a bofetada que aquela não lhe havia dado. Com isso, não só fere orgulho e sentimento de classe de Dora, como observa Freud, mas frustra na interpretação de Lacan principalmente o seu amor edípico: se as estruturas Sr. K. – Sra. K – Dora e Pai – Dora – Sra. K. são paralelas e a Sra. K. não é nada para o Sr. K., então Dora não é nada para o seu pai.

Ora, Freud insere-se de certa forma nessa linhagem de “traidores focados apenas em seus próprios interesses”. Lembramos que ele aventa no trecho citado há pouco que o abandono da análise por parte de Dora poderia ter a ver com possíveis ciúmes em relação a uma outra paciente. É plausível, porém, que haja indícios de que os ciúmes de Dora eram mais abrangentes, isto é, envolviam não uma paciente em específico, mas aquela coletividade de pacientes que Freud menciona no prefácio, ou seja, eram motivados pela desconfiança ou pela sensação de que as preocupações de seu interlocutor não eram primordialmente com ela.

Freud vincula o grande livro em que Dora lembra ter lido tranquilamente no segundo sonho a uma enciclopédia usada por ela em algum momento para satisfazer as suas curiosidades, possivelmente sexuais. Pelas associações de Dora, estabelece-se então a ligação com as apendicites, primeiro de um primo seu e então da própria Dora, quando do falecimento de sua tia, um ano antes da análise com Freud e nove meses depois do pedido de casamento pelo Sr. K. no Lago. O passo seguinte é a genial associação relativa à “mancada” de Dora, o passo em falso (Fehltritt), literalmente, quando criança ainda em B., torcendo o pé ao descer uma escada, e figurativamente, como mau passo, enquanto desejo recalcado que teria a consequência da gravidez figurada pela apendicite.

Contudo, Freud menciona em seu relato do caso Dora ele próprio pelo menos cinco vezes um outro grande livro. O capítulo sobre o quadro clínico de Dora já abre com uma referência à Interpretação do sonho. Nas duas menções subsequentes, Freud chama a publicação apenas de “meu livro”, e nas duas derradeiras, uma numa nota de rodapé referente aos números no segundo sonho de Dora e outra no posfácio, de “meu livro sobre a interpretação do sonho”.[10] Em carta de 25 de janeiro de 1900 a Wilhelm Fließ, por sua vez, refere-se ao trabalho sobre o caso Dora, que naquele momento ainda portava o título “Sonho e histeria”, como “continuação do livro sobre o sonho”[11], o que se reflete também na estrutura do escrito que tem os dois sonhos de Dora e suas respectivas exegeses e comentários como núcleo. Por outro lado, Freud descreve no posfácio a derradeira visita da paciente a seu consultório, 15 meses depois da interrupção de sua análise. Dora conta estar sofrendo de uma neuralgia da face direita que perdura há 14 dias e noites. Ao que Freud comenta: “Tive de sorrir, pois lhe podia provar que há exatos 14 dias ela havia lido uma notícia referente a mim no jornal, o que ela acabou confirmando (1902)”.[12] Além disso, Deutsch reporta que Dora lhe havia participado de forma sedutora e de bom grado ter sido “a Dora” de Freud, “demonstrando muito orgulho de terem a descrito como um caso famoso na literatura psiquiátrica”.[13] Em outras palavras, parece por esse contexto todo pouco provável que Dora não soubesse com quem se consultava e qual livro seu médico havia publicado, por sinal aproximadamente nove meses depois da suposta gravidez-apendicite.[14] Nesse sentido, o livro em que Dora diz ter lido tranquilamente em seu sonho pode, para além da enciclopédia aventada por Freud, pelo menos potencialmente representar também O livro, precisamente a Interpretação do sonho de seu analista.  Quer dizer, o que está em questão não é apenas o interesse (científico) de Dora, mas também aquele de Freud e com isso a atenção e preocupação divididas entre a paciente atual e a comunidade de potenciais pacientes futuros.

Para introduzir o segundo aspecto de meu comentário, gostaria de trazer um artigo mais recente sobre o caso, mas que provavelmente também seja conhecido pelo público leitor. Trata-se de “Permanecer histérica: sexualidade e contingência a partir do caso Dora”, de Vladimir Safatle. Safatle abre o seu texto, mas o título indica que estamos diante de não apenas uma abertura, mas de um dos vetores principais do artigo, enfocando o caso Dora

como um interessante relato de certa forma de resistência que não é apenas uma reação terapêutica negativa, mas a insistência da dificuldade em constituir uma fala sobre a sexualidade que seja capaz de dar voz aos arranjos contingentes que a sexualidade produz.[15]

Mais adiante, Safatle faz observações importantes sobre duas questões centrais de Dora: por um lado, “a incapacidade da figura paterna [de] dissociar sexo e destruição […] sexo e morte”[16] e, por outro, sua relação com a Sra. K., que Freud aborda sob o prisma da inclinação homossexual, do amor ginecófilo e confessa ter tratado de modo insuficiente com Dora, e que comportaria, de acordo com Safatle, um ponto que teria sido pouco explorado pela posteridade psicanalítica. A Sra. K., diz Safatle, é para Dora um suplemento ideal porque forneceria a ela uma imagem não só representante da “assunção da feminilidade como lugar de constituição de um objeto para o desejo masculino”, mas também a “conservação da prevalência de um modo de gozo oral”, gozo este que Dora não quer abandoar. Em outras palavras, a Sra. K. não é uma ameaça em relação à particularidade, isto é, oralidade do gozo de Dora.[17]

Em momento anterior de seu artigo, Safatle trata de outro ponto-chave do caso, a cena traumática do beijo forçado pelo Sr. K., quando Dora tinha 14 anos:

Freud afirma que a excitação sexual que deveria aparecer nesta cena foi vivenciada por Dora como desgosto. Uma garota normal teria se excitado, alguém capaz de saber o que fazer com sua feminilidade teria se comportado sem maiores problemas, diz Freud. Mas, a princípio, a posição de Freud parece insustentável. Afinal, tudo se passa como se ele recebesse em seu consultório uma garota que sofrera assédio sexual, não tendo ideia melhor do que tentar convencê-la de que, afinal de contas, ela está apaixonada por seu agressor. Note-se, no entanto, que a verdadeira ideia de Freud consiste em dizer que Dora não reage nem com uma excitação clara nem com um simples desgosto. A simples repulsa violenta ao assédio indicaria que ela nada quer do Sr. K. Mas isto não explicaria os sintomas somáticos como a pressão no tórax, nem a perpetuação da relação. Tais sintomas são, ao menos para Freud, a marca de uma reação contraditória onde desgosto e excitação parecem investir o mesmo processo. Desta forma, o problema da natureza traumática da situação vem do fato de haver algo de profundamente contraditório que impede a ação.[18]

O que transparece entre outros aspectos nessas linhas é que uma coisa é colocar em questão a insistência freudiana no amor de Dora pela via de identificação masculina, outra descartá-la por completo em nome de machismo e falocentrismo do autor, supostamente incompatíveis com nossa época. O que chama atenção, porém, é que aquilo que Dora sente seja denominado por Freud não de desgosto, como reporta Safatle, mas de asco, nojo [Ekel]. É verdade que desgosto pode ter a acepção de “sentimento de aversão”, “repugnância”, mas um dicionário como o Caldas Aulete, por exemplo, traz essa acepção apenas como quarta entrada e ainda assim a marca como sendo pouco usual. O senso comum linguístico também nos diz que desgosto marca uma aversão muito menos forte do que asco e nojo. Ora, o deslize de um comentarista desse calibre pode talvez em parte ser explicado pelas leituras e interferências do inglês e do francês, em que disgust e dégoût são de fato os correspondentes do vocábulo alemão Ekel. Penso, porém, que o lapso seja indício de um quadro mais amplo, que o asco, que é um tema em geral não tão assíduo na literatura teórica, tenha no caso Dora frequentemente menos exposição do que merece. Lacan, aliás, sequer toca no assunto nas passagens referidas acima. O vocábulo não aparece aí senão uma única vez e en passant.

Não se pode dizer que Freud tenha negligenciado o asco. Mas embora a noção seja central e duradoura em sua obra e ele aborde a questão em diversas passagens no relato do caso Dora, ainda assim algo, essa é a tese, parece escapar-lhe aí em relação à sua paciente.

O tema surge no relato por primeira vez de forma pormenorizada no âmbito da descrição do quadro clínico, na sequência da narrativa da cena traumática concernente ao beijo forçado pelo Sr. K.. Freud sustenta que teria ocorrido em Dora não só uma inversão, mas também um deslocamento do afeto: ao invés da sensação genital, que, segundo ele, certamente não faltaria numa garota sã em tais circunstâncias, surge nela o desprazer próprio da mucosa da entrada do canal digestivo, o asco. Ao lado da excitação dos lábios, que certamente teria influenciado essa localização, Freud aventa ainda um segundo fator que logo mais se revela ser o hipotético sentir do pênis ereto durante o abraço forçado, o que dará o ensejo para a explanação sobre semelhança e sobreposição (na medida em que o pênis serve tanto para a atividade sexual quanto para a descarga urinária) de fezes e órgão sexual, principalmente masculino, e a presença do asco, motivada pelo inter urinas e faeces nascimur,  entre os afetos da vida sexual, explanação essa que se repete de forma semelhante em outros escritos freudianos, como o ensaio “Sobre a mais comum degradação da vida amorosa”, de 1912, ou a famosa carta de 14 de novembro de 1897 a Fließ, a que voltaremos logo mais. No relato do caso Dora, Freud segue afirmando que o asco não se teria tornado um sintoma permanente em sua paciente e acrescenta em uma nota de rodapé que ele certamente não teria causas acidentais, já que Dora haveria recordado e mencionado isso e o Sr. K. seria ademais um homem ainda jovem e atraente.[19]

O segundo grande complexo de tratamento do asco ocorre no âmbito das interpretações e comentários referentes ao primeiro sonho de Dora. Esta conta, como recordação suplementar, ter sentido o cheiro de fumaça toda vez que acordava depois do sonho típico. Ao comentário de Freud, “onde há fumaça, há fogo”, expressão segundo ele próprio repetida diversas vezes durante o tratamento para sugerir conteúdos inconscientes, recalcados à sua paciente, Dora objeta energicamente que tanto o seu pai quanto o Sr. K. assim como o próprio Freud seriam fortes fumantes. Além disso, também ela teria fumado no lago, tendo o cigarro sido feito pelo Sr. K. Freud comenta para o leitor que, como recordação suplementar, a sensação da fumaça representaria certamente conteúdos que tinham de superar especiais resistências do recalque e conjectura então que estes deveriam se ligar ao desejo de ser beijada, já que um beijo de fumante necessariamente tem sabor de fumaça, tanto pelo Sr. K. quanto por ele próprio. Mais adiante, o asco é ainda vinculado ao enodoamento pelo sexo, à atividade masturbatória de Dora e à sua enurese entre os seis e os sete anos.

Sem necessidade de entrar em mais pormenores, percebe-se que as interpretações e explanações de Freud seguem muito de perto as teorias sobre a etiologia da histeria, o recalque e o a posteriori tais quais as tinha formulado na época. Vejamos isso pela carta a Fließ, de 14 de novembro de 1897. Freud inicia sua exposição ao amigo com a lembrança de uma suposta colaboração orgânica no recalque, em forma de cessão de zonas sexuais de outros tempos. Depois segue-se a famosa teoria de que, pelo andar ereto do ser humano, se teria modificado o papel da sensação olfativa, de maneira que as regiões de ânus e boca-laringe já não produziriam no homem normal e maduro liberação de excitações sexuais, teoria esta que retornará ainda 32 anos depois, na longa nota de rodapé à parte IV de O mal-estar na cultura.[20] A liberação de excitação sexual, continua Freud, explicando o conceito como uma espécie de secreção que é sentida corretamente como estado interior da libido, ocorreria por três vias: por irritação periférica nos órgãos sexuais, por excitações internas desses órgãos e por representações mentais, isto é, por traços mnêmicos, o que quer dizer pelo caminho do a posteriori:

Se uma criança foi irritada nos genitais, origina-se anos depois pelo a posteriori da recordação dessa irritação uma liberação de excitação sexual bem mais forte que naquele tempo, porque o aparato determinante e o montante de secreção entretanto cresceram. […] Um tal a posteriori produz-se então também para as recordações das excitações das zonas sexuais cedidas. No entanto, sua consequência não é liberação de libido, mas de um desprazer, uma sensação interna que é análoga ao asco no caso do objeto.
Dito grosso modo, a recordação fede atualmente como fede no presente o objeto e assim como desviamos o órgão sensorial (cabeça e nariz) no asco, o pré-consciente e o sentido consciente desviam-se da recordação. Este é o recalque. […]
Agora às neuroses! […] Na medida em que a recordação afetou uma vivência na genitália, esta produz a posteriori libido, na medida em que afetou ânus, boca etc., ela produz a posteriori asco interno e daí o estado final que um montante de libido não consegue atravessar como ordinariamente até a ação ou a tradução psíquica, mas tem de prevalecer em direção regressiva (como no sonho). É que libido e asco estão ligados associativamente […]
A falta de clareza diz respeito principalmente à alteração pela qual a situação interna de necessidade se transformaria em sensação de asco.[21]

Winfried Menninghaus comenta em seu importante estudo sobre teoria e história do asco que, à diferença da antropologia do séc. XVIII, que tinha a incômoda proximidade, a presença física, portanto o caso eminentemente objetal como características cardeais de uma afeição dos protossentidos do nojo, olfato e gosto, o asco surge em Freud no espaço virtual, como ponte mnêmica entre duas datas que, por si só, prescindem do asqueroso. A vivência traumática (o susto sexual pré-sexual) não é sentida naquele momento como asquerosa, porque o necessário aparato físico e moral para tanto ainda não está desenvolvido. E o momento posterior, que desencadeará factualmente o asco, pode prescindir em sua presença sensorial de qualquer traço asqueroso. Só o curto circuito entre ambos os momentos, pela memória, origina no acontecimento mais tardio aquela sensação de asco com a qual é foracluído, a posteriori, o acontecimento anterior: “Ser um ‘sintoma de defesa’ significa para o asco a consequência radical de poder ser originado ‘apenas pela memória’, de poder ‘feder atualmente’ só na memória.”[22] A vantagem da teoria de Freud é, continua Menninghaus, que ela abarca o que a estética do séc. XVIII tinha dificuldade em explicar: como o asco, definido pela proximidade, podia ter lugar no campo ilusório do estético e até mesmo destruí-lo.

Voltando ao caso Dora, vemos que é exatamente isso que Freud tenta deixar insistentemente claro para a sua paciente: que o beijo do Sr. K. não deveria ter e não teria nada de asqueroso. Sobre a cena traumática anterior, na infância, nada sabemos. É presumível que ela se localize em algum momento entre a imagem idílico-narcísica de Dora chupando o seu polegar esquerdo, enquanto ficava com a mão direita puxando levemente o lóbulo da orelha de seu irmão um ano mais velho, e o tempo em que a menina precoce já associava tudo quanto era sexual ao asqueroso, inclusive a sua atividade autoerótica masturbatória e o corrimento vaginal e a enurese concomitantes. Evidentemente seu asco tem de ser visto, enquanto sintoma de defesa, principalmente contra a tentação edípica, a exemplo de todos os demais sintomas de defesa como uma formação de compromisso que não atesta apenas o poder do recalque, mas é também representação negativa, conforme à censura, das moções recalcadas. Tampouco se trata de negar os sentimentos de ambivalência com respeito aos integrantes da linha de identificação masculina. Contudo, é visível que a sensação de asco é predominante e de alguma forma insuperável para Dora. É, aliás, o próprio Freud quem lembra que o asco tem justamente a função de servir de obstáculo à superestimação libidinosa do objeto sexual.[23] Duas observações de Dora sugerem que talvez não houvesse elucidação possível que demovesse ela da sensação de que os objetos pai, Sr. K. e o próprio Freud fediam também atualmente e não “apenas” na memória.

A primeira diz respeito ao elogio frequente de “seu encantador corpo branco” quando Dora falava da Sra. K.[24] Ela toca aí na oposição basal asqueroso vs. estético que se confunde com a própria emergência da estética como disciplina científica autônoma e opõe a conformação contínua da superfície corporal, a pele ternamente traçada sobre a carne sã, às rugas, dobras, odores e excrementos do corpo.[25] Nessa perspectiva, a atratividade da Sra. K. consiste, por assim dizer, justamente no fato de ela não feder, sendo que ambos os lados da equação se corroboram à moda da lógica antiga mutuamente. A segunda fala de Dora para qual gostaria de chamar atenção é quando ela avisa a Freud que aguentaria ainda até o Ano Novo, mas que não queria esperar mais tempo por sua cura.[26] O que isso quer dizer senão que a situação é demasiado premente, demasiado nauseante para Dora e que ela não quer e não aguenta esperar se um dia porventura conseguirá aquilo que Menninghaus chama de “torção-superação” [Verwindung], de “foraclusão da foraclusão” do asco, “sua integração em uma economia do prazer e do conhecimento”[27]? É que por mais que as raízes do asco sejam culturais e contingentes, a sensação correspondente apresenta-se como natural, corporal e inescapável, notadamente se envolve olfato e paladar, em que os mecanismos de defesa só podem iniciar de outro modo a posteriori, isto é, depois que o objeto asqueroso já transpôs as barreiras corporais. É plausível supor que Dora tenha deixado o consultório de Freud também por e com asco.

REFERÊNCIAS

DEUTSCH, Felix (1957) Uma nota de rodapé para “Análise fragmentária de uma histeria” de Freud [Trad. de Eduardo Zaidan e Luiz Moreno Guimarães Reino]. Jornal de psicanálise, São Paulo, 55(102), 2022, pp. 265-274.

FREUD, Sigmund (1887-1902) Aus den Anfängen der Psychoanalyse: Briefe an Wilhelm Fliess, Abhandlungen und Notizen aus den Jahren 1887-1902. London: Imago Publishing Co., 1950.

_____. (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 83-186.

_____. (1930 [1929]) Das Unbehagen in der Kultur. In: Studienausgabe (Bd. IX). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 191-270.

_____. (1905) Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie. In: Studienausgabe (Bd. V). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 37-145.

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* Markus Lasch é professor de Teoria Literária da Universidade Federal de São Paulo e membro coordenador do centro de pesquisa Outrarte: psicanálise entre ciência e arte.



[1] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 133.

[2] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 185. As traduções dos textos originais em alemão são, salvo indicação em contrário, de minha autoria.

[3] DEUTSCH, Felix (1957) Uma nota de rodapé para “Análise fragmentária de uma histeria” de Freud [Trad. de Eduardo Zaidan e Luiz Moreno Guimarães Reino]. Jornal de psicanálise, São Paulo, 55(102), 2022, p. 273.

[4] O caso Dora suscitou também uma série de tratamentos artísticos e literários. Um dos mais recentes rebentos nesse sentido é o romance de estreia Ida, que Katharina Adler, bisneta de Dora, publicou em 2018.

[5] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 136.

[6] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 162.

[7] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 144 e 167.

[8] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 183.

[9] “Ela descreveu as dores pré-menstruais e uma descarga vaginal depois da menstruação. Em seguida, falou principalmente da relação com a mãe, da infância infeliz pelo exagero da mãe na limpeza, da sua compulsão de lavagem irritante e de sua falta de afeto por ela. A única preocupação da mãe tinha sido a própria constipação, da qual a paciente agora sofria. […] Muitos anos se passaram durante os quais o ego de Dora continuou em extrema necessidade de afastar os seus sentimentos de culpa. Aprendemos que ela tentava alcançá-lo através de uma identificação com a mãe que sofria de uma ‘psicose de dona de casa’ (ibid., p. 98), consistindo em lavagem obsessiva e em outros tipos excessivos de limpeza. Dora se parecia com ela não somente fisicamente, mas também por esse aspecto. Ela e a mãe viam a sujeira não só nos arredores, mas também nelas e dentro delas. Ambas sofriam de descargas genitais no momento em que Freud tratou Dora, assim como quando eu a vi.” (DEUTSCH, Felix (1957) Uma nota de rodapé para “Análise fragmentária de uma histeria” de Freud [Trad. de Eduardo Zaidan e Luiz Moreno Guimarães Reino]. Jornal de psicanálise, São Paulo, 55(102), 2022, pp. 269 e 271.)

[10] Cf. FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 94, 139, 165 e 178-179.

[11] FREUD, Sigmund (1887-1902) Aus den Anfängen der Psychoanalyse: Briefe an Wilhelm Fliess, Abhandlungen und Notizen aus den Jahren 1887-1902. London: Imago Publishing Co., 1950, p. 349.

[12] Cf. FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 185. A notícia referia-se à nomeação de Freud como professor extraordinário da Universidade de Viena.

[13] DEUTSCH, Felix (1957) Uma nota de rodapé para “Análise fragmentária de uma histeria” de Freud [Trad. de Eduardo Zaidan e Luiz Moreno Guimarães Reino]. Jornal de psicanálise, São Paulo, 55(102), 2022, p. 268.

[14] A apendicite de Dora foi em março de 1899 e a publicação da Interpretação do sonho aconteceu em novembro daquele ano.

[15] SAFATLE, Vladimir (2016) Permanecer histérica: sexualidade e contingência a partir do caso Dora. Ágora, Rio de Janeiro, v. XIX, n. 3, set/dez 2016, p. 379.

[16] SAFATLE, Vladimir (2016) Permanecer histérica: sexualidade e contingência a partir do caso Dora. Ágora, Rio de Janeiro, v. XIX, n. 3, set/dez 2016, p. 386.

[17] Cf. SAFATLE, Vladimir (2016) Permanecer histérica: sexualidade e contingência a partir do caso Dora. Ágora, Rio de Janeiro, v. XIX, n. 3, set/dez 2016, p. 385.

[18] SAFATLE, Vladimir (2016) Permanecer histérica: sexualidade e contingência a partir do caso Dora. Ágora, Rio de Janeiro, v. XIX, n. 3, set/dez 2016, p. 381.

[19] Cf. FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 106.

[20] Cf. FREUD, Sigmund (1930 [1929]) Das Unbehagen in der Kultur. In: Studienausgabe (Bd. IX). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, pp. 229-230.

[21] FREUD, Sigmund (1887-1902) Aus den Anfängen der Psychoanalyse: Briefe an Wilhelm Fliess, Abhandlungen und Notizen aus den Jahren 1887-1902. London: Imago Publishing Co., 1950, pp. 247-249.

[22] MENNINGHAUS, Winfried (1999). Ekel. Theorie und Geschichte einer starken Empfindung (Asco. Teoria e história de uma sensação forte). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, pp. 311-312.

[23] Cf. FREUD, Sigmund (1905) Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie. In: Studienausgabe (Bd. V). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 62.

[24] FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 134.

[25] Cf. a esse respeito os dois subcapítulos de Menninghaus “Die ideale Haut und der Ekel vor Falten, Runzeln, Knorpeln und Fettansätzen“ (A pele ideal e o asco de rugas, sulcos, cartilagens e dobras adiposas) e “Ekel, ästhetische Kultur, anti-ästhetische Libido” (Asco, cultura estética, libido antiestética) in: Ekel. Theorie und Geschichte einer starken Empfindung. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, pp. 78-82 e 280-288.

[26] Cf. FREUD, Sigmund (1905 [1901]) “Bruchstück einer Hysterie-Analyse“. In: Studienausgabe (Bd. VI). Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1994, p. 171.

[27] MENNINGHAUS, Winfried (1999). Ekel. Theorie und Geschichte einer starken Empfindung. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, p. 20.




COMO CITAR ESTE ARTIGO | LASCH, Markus (2023) Ciúmes e asco: duas notas de pé de página sobre a reação terapêutica negativa no caso Dora. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -15, p. 2, 2023. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2023/12/22/n-15-02/&gt;.