por Gabriel Augusto de Carvalho Sanches
Introdução
Uma vez que a microssociologia permaneceu mais filosófica do que empírica, ela julgou não ser necessário demonstrar exatamente como os agregados de interações face-a-face se traduzem em macroestruturas. Desse modo, ficamos carentes de uma maneira satisfatória de passar do micro para o macro nas análises sociológicas. O primeiro sociólogo a tentar uma síntese capaz de fazer essa passagem foi Talcott Parsons, porém muito ainda resta para se demonstrar sobre os mecanismos de interpenetração entre a personalidade e os sistemas sociais para que possamos aproximar a sociologia da psicanálise como propõe Parsons.
Nessa empreitada sintética, o sociólogo encontrou Heinz Hartmann quem propôs, do lado da psicanálise, também fornecer a ponte entre psicanálise e sociologia. Porém, se, em Parsons, a categoria que faz o link entre o sistema social e o sistema da personalidade é o Superego, em Hartmann, é o Ego quem cumpre essa função na medida em que ele opera a mediação entre a realidade e o psiquismo. Ambos os autores ainda convergem na medida em que fundamentam suas teorias nos textos metapsicológicos e negligenciam em parte os escritos “culturais” de Freud por serem muito especulativos para guiar a investigação científica.
Kurzweil[1] demonstra como a proposta de Parsons, em “The superego and the theory of social systems”[2] de linkar as dimensões micro e macro, integrando a teoria freudiana da personalidade à ideia durkheimiana de sistema social, ainda que se pretenda geral e aplicável a outras sociedades, é determinada pela recepção americana das ideias de Freud nos anos 40 e 50, em especial pela psicologia do ego de Hartmann. O objetivo do presente trabalho é, pois, examinar essa recepção tanto do lado da sociologia, quanto do lado da psicanálise e criticá-la a partir da teoria crítica, tentando pensar uma nova articulação entre sociologia e psicanálise.
A ponte do superego
“No esquema teórico de Parson, tanto a personalidade quanto os sistemas sociais foram postulados como sistemas interativos; nesse esquema, eles são mediados e estabilizados por uma cultura comum, por um sistema comum de símbolos compartilhados”[3]. A partir desse esquema, Parsons visa demonstrar como a cultura comum é internalizada como parte da estrutura da personalidade. No momento em que ele propõe isso, a psicanálise estava em alta na América em especial pela sua apropriação pela escola culturalista de Fromm, Horney e Reich. Nesse contexto, a psicologia do ego se opunha à derivação culturalista da teoria freudiana e dava maior ênfase aos textos metapsicológicos e à divisão da personalidade em sistemas — o Id, o Ego e o Superego — em detrimento dos escritos culturais e da teoria freudiana das pulsões. Essa ênfase era vista como adequada à almejada cientificidade que circulava nos meios intelectuais americanos.
Seguindo a orientação da psicologia do Ego, Parsons propôs[4] um esquema conceitual amplo que pudesse amparar tanto a psicanálise, quanto a sociologia, a teoria da ação. Esta concebe o ator individual como operando em situações que são dadas independentemente de seus objetivos e desejos, mas, dentro dos limites daquela situação e usando as possibilidades que estão sujeitas ao seu controle, ele orienta-se para alcançar seus objetivos e desejos. A teoria da ação pode ainda ser dividida em dois sistemas, o sistema da personalidade e o sistema social. Nesse sentido, os mesmos conceitos são válidos para ambos os sistemas na medida em que derivam de um mesmo esquema conceitual amplo, porém, são combinados de maneiras distintas em cada um desses sistemas. É preciso, pois, diferenciar os níveis de análise em que esses conceitos são aplicados, o que faz com que não seja possível passar de um nível a outro sem alguma adequação conceitual.
É essencial, pois, que se trate o sistema social como um ente distinto e independente que possa ser analisado em seus próprios termos e não como um agregado de ações individuais, o mesmo vale para o sistema da personalidade individual[5].
Nesse contexto, o que se entende por estrutura social é um sistema de expectativas padronizadas do comportamento de indivíduos que ocupam determinados status no sistema social. Tal sistema de expectativas legítimas padronizadas é chamado pelos sociólogos de sistema de papéis. Na medida em que um conjunto de papéis é de importância estratégica para o sistema social, o complexo de padrões que definem o comportamento esperado neles pode ser referido como uma instituição.[6]
Nesses termos, a estrutura social é produto da interiorização de expectativas legítimas socialmente sancionadas, isto é, expectativas normativas ou institucionalizadas que dão origem a um sistema de papéis. Essas expectativas constituem ainda “cristalizações relativamente estáveis de forças comportamentais de tal forma que a ação pode ser suficientemente regulada para ser compatível com os requisitos funcionais de uma sociedade”[7].
Logo, do ponto de vista do sistema da personalidade, os papéis institucionalizados têm a função de estruturar a situação através da definição das expectativas de comportamento dos agentes de modo a que cada um deles possa calcular as prováveis consequência de diferentes planos de ação alternativos. Além disso, eles estruturam o conteúdo do Superego, isto é, os padrões morais que são introjetados no processo de socialização e que se tornam parte importante da estrutura da personalidade. Ainda, podemos postular a coincidência entre os padrões que são introjetados no Superego médio daqueles que ocupam uma posição na estrutura social com as necessidades funcionais do sistema social como uma medida da integração do sistema social.
A razão mais importante do porquê não se pode passar diretamente do registro da estrutura psicológica ao da estrutura social é o fato de não haver uma correspondência simples entre esses dois tipos de estrutura. Por exemplo, diversas pessoas que ocupam uma mesma posição na estrutura social e possuem um mesmo status podem ter, no entanto, personalidades muito distintas. Nesse caso, é preciso que existam mecanismos que garantam que as diferentes personalidades sejam motivadas a se conformar às expectativas funcionais do sistema social. Logo, o problema de Parsons é fazer com que a diversidade e a diferença das personalidades se conforme à estrutura de papéis institucionalizados, ele propõe, assim, uma sociologia de cunho terapêutico que visa conter o desvio[8]. Essa conformação envolve ainda um maior ou menor nível de constrangimento social sobre as personalidades. A estrutura social aparece, assim, como uma força que só foi introjetada porque se impôs sobre nossas cabeças desde a infância, forçando-nos à conformação e à adaptação às normas sociais.
Nesse sentido, a contribuição mais importante da psicanálise à sociologia é justamente o que Parsons chama de teoria dinâmica da motivação, isto é, aquela teoria que nos fornece as bases para compreender o que motiva os indivíduos a se conformarem aos padrões morais de uma sociedade. Para isso, ele se apropria da ideia de Superego e a opera no nível de análise da estrutura social. A psicanálise intervém, pois, para demonstrar que a motivação não é apenas produto da situação institucional, mas também dos componentes instintuais e sobretudo dos conteúdos superegóicos que motivam o indivíduo a se adaptar às expectativas normativas que são produtos da socialização em situações institucionais pregressas, mas que agem na situação de ação presente.
Em 1952, Parsons dá uma formulação mais clara das bases teóricas de sua proposta sintética. Nesse texto, o autor situa a razão para a escolha do Superego como a ponte capaz de estabelecer a conexão entre sociologia e psicanálise na história das duas disciplinas e na preocupação compartilhada por ambas no que diz respeito à internalização dos valores morais. Assim como Freud elaborou a noção de Superego para dar conta da introjeção dos valores morais na estrutura da personalidade, Durkheim partiu da ideia de que o indivíduo, como membro de uma sociedade, não é inteiramente livre para fazer suas próprias decisões morais, mas antes é constrangido a aceitar certas orientações comuns aos membros da sociedade da qual faz parte. Esse constrangimento prescinde, porém, de coerção externa tão logo seja internalizado na estrutura da personalidade, isto é, no Superego. O que Parsons não menciona, porém, é a violência necessária para que essa coerção seja introjetada, violência essa que é, em nossa sociedade, perpetrada pelos pais durante o processo de socialização da criança. É, pois, justamente essa violência física que forma o conteúdo do Superego.
Parsons propõe ainda em 1952 que o sistema interativo faça a mediação entre as duas disciplinas. Ele situa aí sua aposta de síntese na medida em que nem Freud, nem Durkheim tomaram a interação como objeto[9]. Nesse sistema, uma pessoa é para a outra um objeto simultaneamente de percepção cognitiva [de identificação do statusou do papel que a pessoa ocupa na estrutura social], de catexia [de investimento libidinal] e de avaliação moral. São esses três modos de orientação do indivíduo em relação ao objeto que informam uma interação. Esta não é possível, porém, sem que a orientação seja mútua. Essa mutualidade da interação é ainda mediada e estabilizada pela cultura, isto é, por uma maneira comum de simbolizar os tipos de orientação de ação apreendida a partir do processo de socialização.
Assim, um sistema social é função da cultura comum, que não apenas forma a base da intercomunicação de seus membros, mas também define e, portanto, em certo sentido, determina os status relativos de seus membros. Não há, dentro de limites surpreendentemente amplos, nenhum significado intrínseco das pessoas umas para as outras, independentemente de sua interação real. Na medida em que esses status relativos são definidos e regulados em termos de uma cultura comum, a seguinte afirmação aparentemente paradoxal é verdadeira: o que as pessoas são só pode ser entendido em termos de um conjunto de crenças e sentimentos que definem o que elas deveriam ser.[10]
Parsons fomenta, assim, “a norma da identidade imediata entre ser e consciência, que diz que alguém só deveria pensar como sua existência autoriza”[11]. Em outras palavras, Parsons propõe a identidade entre ser e dever-ser, impedindo que o sujeito seja algo diferente daquilo que lhe é imposto pela estrutura social, pelos papéis ou pelas expectativas institucionalizadas.
O autor adere, desse modo, à sociologia positivista criticada por Adorno e Horkheimer[12] que toma o Ser como Dever-ser e glorifica o existente, estimulando a resignação, a conformação e a adaptação às condições subsistentes ao invés de fazer a sua crítica. Esta consiste, pois, justamente em confrontar o Ser com o Dever-ser e possibilitar que o sujeito irrompa de sua imanência nas condições materiais dadas e trabalhe no sentido da transformação dessas condições. Cabe à sociologia crítica, portanto, não positivar, mas negativas a realidade, confrontar-lhe com seu Dever-ser, explorar suas contradições e extrair-lhe suas energias utópicas.
Parsons nos dá, assim, uma imagem de uma sociedade inteiramente socializada na qual as pessoas aprendem e se adaptam àquilo que delas é esperado socialmente. Essa aprendizagem introduz, porém, um elemento de instabilidade potencial no processo de interação na medida em que existe a possibilidade de não apreender os significados comuns que tornam possível que a interação aconteça, impedindo aquela orientação mútua. É preciso, então, que existam mecanismos de estabilização e de controle da interação para que ela seja funcional. O que Parsons novamente deixa de explicitar é que esses mecanismos de aprendizado são também extremamente violentos e envolvem a imposição da norma àqueles que dela desviam. O autor advoga, então, em nome de uma educação que fomente os padrões morais dominantes da sociedade e que force aqueles que sejam desajustados a se conformarem.
Diante disso, a crítica só pode vir, como defende Adorno[13], do danificado. É preciso, portanto, opor à toda imagem do ser humano “correto” sua imagem negativa. Isso quer dizer que o representante da libertação é sempre aquele que é da sociedade, mas não pertence à sociedade, isto é, aquele que é a antítese da sociedade vigente, cuja existência mesma atenta contra as expectativas normativas que constituem a estrutura social. Isso porque os defeitos psicológicos representam algo diferente na totalidade social do que aquilo que representam no âmbito do indivíduo, os danificados são capazes de irromper de sua imanência e produzir uma imagem negativa da sociedade capaz de dinamizá-la, isto é, sem a qual a sociedade sempre reproduziria os mesmos padrões normativos.
Portanto, o Superego se situa, para Parsons, entre a personalidade e a cultura comum, é ele quem permite que os padrões sejam reproduzidos pelos indivíduos na medida em que são internalizados. Isso implica, porém, que não apenas os valores morais são introjetados, mas também todos aqueles componentes da cultura comum que orientam a ação social, isto é, tanto aqueles conteúdo catéticos, quanto aqueles cognitivos.
Assim, deu-se um passo decisivo na reformulação dos conceitos freudianos ao situá-los no contexto da teoria da ação. Freud falhou em dar conta do fato de que os objetos são conhecidos culturalmente. Em outras palavras, é preciso que aquilo que utilizamos para identificá-los, o sistema de significantes, seja aprendido. Por não levar em conta isso, Freud postulou uma separação irreal entre Superego e Ego,“que o primeiro é internalizado, por identificação, e que o último parece consistir em respostas à realidade externa, e não em cultura internalizada”[14]. No entanto, essas respostas são mediadas pela cultura e, pois, culturalmente aprendidas. Além disso, o próprio significado da realidade externa é também aprendido Em suma, “a constituição do objeto e sua avaliação moral fazem parte (…) dos mesmos padrões culturais fundamentais”[15].
A partir dessa formulação, Parsons borra as fronteiras entre Ego, Superego e Id. Ao fazer isso, ele abandonou a precisão teórica e o rigor científico que ele havia proposto em seu escrito anterior. Portanto, nessa segunda formulação da teoria da ação assentada sobre bases interacionistas, “a análise sociológica de Parsons, embora sistemática, não poderia mais explicar os elementos inconscientes da personalidade tão completamente quanto ele esperava”[16].
Outro problema da teoria freudiana identificado por Parsons consiste na relação entre catexia e Superego. Em Freud, o investimento objetal tende a tratar como acessório o elemento da mutualidade da interação, o objeto é, aí, inerte e apenas recebe uma carga de afeto. Freud falha, portanto, em considerar o simbolismo em sua função comunicativa de modo que o significado do objeto amado é, para Freud, independente do processo interativo, isto é, da mediação cultural. Parsons propõe, portanto, que pensemos o componente emocional ou libidinal da interação como mediado pela cultura comum, formando, portanto, um sistema de símbolos expressivos.
Em resumo,
O significado geral dessa crítica é que Freud, com sua formulação do conceito de superego, fez apenas o começo de uma análise do papel da cultura comum na personalidade. A estrutura de seu esquema teórico impediu-o de ver as possibilidades de estender a mesma análise fundamental da internalização dos padrões morais (…) à internalização do quadro cognitivo de referência para as relações interpessoais e para o sistema comum de simbolismo expressivo.[17]
Parsons propõe, portanto, uma ideia de Superego expandida e que inclua a internalização dos três elementos integrados da cultura comum: o sistema de valores morais, o sistema de símbolos cognitivos ou de categorização e o sistema de símbolos expressivos. Podemos ainda enumerar algumas implicações desse alargamento das internalizações para o processo de identificação que constitui o principal mecanismo através do qual o Superego é adquirido e através do qual a socialização é processada.
Só podemos, porém, falar em identificação de um indivíduo com um objeto no sentido de que eles compartilham importantes aspectos da cultura comum. Logo, a identificação com o objeto depende do fato de que ele seja catexizado, conhecido e avaliado. Em outras palavras, é preciso que a atitude dos outros tenha sentido para o indivíduo para que este se identifique com aqueles. Nesse processo, o indivíduo aprende a perceber, a significar e a reconhecer os sentidos afetivos, moral e cognitivo dos atos dos outros e a atribuir, da mesma forma, sentido aos seus atos. O componente catético, isto é, afetivo dessa identificação é o que fornece a motivação maior para a internalização dos padrões culturais na medida em que esses padrões e símbolos passam a ser investidos de afeto, de modo que o indivíduo se apega a eles e os toma como sagrados. Em resumo,
As condições de socialização de uma pessoa são tais que as gratificações que derivam de sua catexia de objetos não podem ser garantidas a menos que, juntamente com a generalização de significados emocionais e sua comunicação, ela também desenvolva uma categorização cognitiva de objetos, incluindo ele mesmo, e um sistema de normas morais que regulam as relações entre ele e o objeto.[18]
De modo geral, ainda que nesta segunda formulação Parsons borre as fronteiras entre os sistemas psíquicos, ele continua enfatizando a cientificidade da psicanálise com o objetivo de aproximá-la à sociologia para o estudo da ação social. Para tanto, ele utiliza a noção de Superego como ponte entre as disciplinas. De forma semelhante, a psicologia do ego propôs uma maior aproximação com a realidade empírica, porém, optando pela noção de Ego como elemento de mediação entre o sistema social e o sistema da personalidade. “Na América, os freudianos consideravam o conceito de ego como a construção mais útil para conectar os níveis micro e macro de análise: ele estava em contato direto com a realidade, enquanto o superego e o id localizavam-se em grande parte no inconsciente”[19]. A ideia de adaptação às estruturas sociais como objetivo da análise, defendida por Heinz Hartmann, em consonância com as formulações de Parsons, despertou, porém, duras críticas nos círculos intelectuais alemães que emigraram para os Estados Unidos em decorrência da ascensão do nazi-fascismo. O momento em que Hartmann escreve sua obra mais famosa[20], embora acidental, coincidiu, portanto, com um tema que parecia feito sob medida para a América: o estudo da adaptação configurou um meio científico para legitimar a adaptação de imigrantes à realidade americana.
A mediação do ego
Em seu ensaio de 1944[21], Hartmann nos apresenta um contexto de apropriação da psicanálise pela educação e pela criminologia. Nesse contexto, é tarefa da psicanálise não se limitar a expressões isoladas da personalidade humana, mas sim explicar a relação do indivíduo com seu meio social. Freud foi o primeiro a dar a devida atenção às interações do indivíduo com o meio na gênese dos sintomas neuróticos a partir da ideia de relação objetal. No entanto, segundo o autor, para que seja capaz de explicar a ação social é preciso que a psicanálise conjugue esforços com a sociologia.
Nesse esforço conjunto, a estrutura social, objeto da sociologia, entra na esfera da psicanálise a partir das oportunidades de satisfação e de frustração que ela oferece aos indivíduos. Hartmann aproxima-se, assim, da abordagem interacionista de Parsons na medida em que interessa à psicanálise estudar o desenvolvimento das relações objetais humanas, isto é, como o indivíduo aprende a eleger, a significar e a reconhecer objetos no sentido psicanalítico. Essa formulação coloca especial ênfase também na socialização, uma vez que esse aprendizado se dá na infância, logo, as relações objetais infantis passam a ter influência decisivamente nas relações sociais do adulto. Hartmann chama esse enfoque de ponto de vista genético.
Podemos compreender o processo de socialização da seguinte forma: o bebê já nasce em contato com seu entorno social, no entanto, ele não conhece objeto algum no sentido psicológico até que o princípio do prazer seja substituído pelo princípio de realidade com o desenvolvimento do Ego. Porém, o período em que o bebê dependia de seu entorno social para sobreviver, isto é, dependia de seus pais para satisfação de suas necessidades mais primitivas, deixa uma marca indelével em seu aparelho psíquico que determina suas possibilidades de desenvolvimento posteriores. Essa dependência tem um efeito ambivalente, o desamparo, isto é, a necessidade de ser amado é complementada pelo medo de perder o objeto amado.
Esse tipo de achado analítico que versa sobre o processo de socialização é importante para a sociologia na medida em que “a relação do bebê com sua mãe, a instituição do princípio de realidade, as mudanças nos tipos de gratificação instintiva, tudo pode ser descrito (…) ‘sociologicamente’”[22]. Parsons[23] nos dá um exemplo disso quando diz que o amor da criança em relação à mãe advém de sua dependência em relação à mãe para obter a satisfação de suas necessidades [comida, segurança, conforto etc.]. Gradualmente no processo de interação, emerge um sistema de expectativas da criança em relação à mãe, isto é, antes mesmo do desenvolvimento da linguagem, certos atos da mãe são interpretados como signos de que performances gratificantes podem ser esperadas.
A interação da criança com a mãe não é apenas um processo de gratificação mútua de necessidades, mas é, por parte da criança, um processo de aprendizagem do significado simbólico de um complicado sistema de atos por parte da mãe — do que eles significam sobre o que ela sente, e de como eles são interdependentes e, portanto, em parte conseqüências de seus próprios atos. Ou seja, desenvolve-se entre eles uma linguagem complexa de comunicação emocional (…) que é a interiorização de uma cultura comum de simbolismo expressivo que possibilita à criança expressar e comunicar seus sentimentos e compreender os sentimentos da mãe em relação a ela.[24]
Porém, ainda que esses achados tenham validade universal, Hartmann enfatiza que existem variações no modo como cada cultura enfrenta os problemas de dependência e desamparo.
O grau e o tempo em que os impulsos da criança muito pequena são controlados por influências culturais, ou as satisfações e frustrações que a criança experimenta no processo, e o desenvolvimento peculiar de seu ego, que reconcilia com maior ou menor sucesso as demandas do mundo exterior com suas necessidades infantis.[25]
A psicanálise se interessa, portanto, pelo modo como os fatores culturais e históricos afetam a conduta do indivíduo, o que leva o autor a postular que os fatores culturais — junto com outras influências como o nível social, a classe etc. — codeterminam a estrutura da personalidade na medida em que eles oferecem diferentes possibilidades de satisfação e de privação aos indivíduos. Nesse sentido, a patologia é para Hartmann em parte social, é possível estudar os fatores sociais e culturais que exercem influência na frequência e nos tipos de patologia. Da mesma forma, um mesmo tipo de afecção psíquica terá implicações diferentes para pessoas que vivem em meios sociais, culturais e econômicos distintos.
Podemos concluir, então, que existe uma relação de analogia entre a estrutura da personalidade e a estrutura social que podemos chamar de complacência social[26], conceito através do qual podemos determinar em que grau a estrutura social provoca, reforça ou reprime certas tendências psíquicas, em outras palavras, em que medida a estrutura social facilita a solução de certos conflitos psíquicos ou os reforçam mediante as oportunidades que ela oferece de sublimação, de ação ou de fantasia na realidade. Disso decorre que
Há (…) um grande número de pessoas cujo comportamento social ativo representa não uma ação racional, mas uma “exibição” [acting out], mais ou menos neurótica em relação à realidade social. Nessa “performance”, eles repetem situações da infância e tentam usar seu comportamento social para resolver conflitos intrapsíquicos.[27]
Logo, a ação social é em parte determinada pelos conflitos intrapsíquicos. Todavia, essas pessoas só podem resolver seus conflitos psíquicos se a elas forem oferecidas oportunidades para tanto na realidade, isto é, em situações em que a estrutura social limita essa atuação ou a torna mais difícil, ou que mudanças na estrutura a façam limitar aquela atuação é provável que ocorra um reaparecimento do conflito que foi temporariamente dominado e com ele os sintomas neuróticos.
Desse modo, “as possibilidades de adaptação (…) podem ser diferentes em tipos de sociedade diferentes e entre classes sociais diferentes”[28], certos tipos de estrutura social podem exigir mais ou menos dos indivíduos para que se adaptem à realidade. É preciso considerar, então, as distintas possibilidades para resolução dos conflitos psíquicos, bem como os diversos graus de estabilidade psíquica que a estrutura social oferece aos indivíduos. Portanto, podemos dizer que
A relação entre o indivíduo e a sociedade pode ser caracterizada para tipos específicos de pessoas e para sistemas e estratos específicos da sociedade, não apenas como o efeito que o sistema exerce sobre o indivíduo, mas também como as funções sociais que o sistema exige dele. A primeira consiste, em um primeiro plano, na supressão e deslocamento dos impulsos psicológicos do indivíduo, na medida em que foram condicionados pela influência da sociedade. No segundo caso, pode-se falar de uma espécie de seleção social e entendê-la como os movimentos no meio social acessíveis ou proibidos a um determinado tipo de indivíduo.[29]
Cabe, pois, estudar até que ponto são funcionais ou não certas instituições sociais uma vez que expressem ou satisfaçam ou não as tendências psíquicas dos membros da sociedade. O que Hartmann não questiona é, porém, quem são esses membros: as instituições podem satisfazer as tendências, impulsos e interesses apenas de determinadas camadas da sociedade, as classes dominantes, impondo aos outros estratos da sociedade privações e frustrações. Ainda, podemos ver fenômenos de mudança de função ou de desfuncionalização uma vez que certas instituições cimentadas pela tradição deixem de exprimir novas tendências psíquicas que surjam com o desenvolvimento social.
Logo, nessa primeira formulação, Hartmann[30] afirma que é preciso enfocar sobretudo os fenômenos psicológicos que têm relação com os conflitos humanos, veremos que essa formulação encontra-se em contradição com aquela presente em sua obra de 1939 na qual ele desenvolve a noção de “esfera do ego livre de conflitos”. De qualquer forma, porém, ele afirma aqui que “a teoria dos conflitos humanos é a contribuição mais importante da psicanálise à ciência social”[31]. É somente quando o sociólogo não se limitar a investigar tão somente a conduta manifesta do indivíduo, mas também seus conflitos psíquicos e sua resolução, que ele poderá investigar a partir dos achados analíticos os determinantes da conduta humana, aquilo que Parsons chamou de teoria da motivação.
Já, em 1950, Hartmann comenta o artigo do mesmo ano de Parsons e elabora sua teoria em consonância com os postulados parsonianos, porém, substituindo o Superego pelo Ego como categoria de mediação entre sistema social e sistema da personalidade. Hartmann enfatiza ainda que é somente por meio dessa abordagem sintética que se poderá fornecer um modelo da “motivação total da personalidade concreta” capaz de explicar a ação social. Interessa ainda explicar esta na medida em que ela se dá entre o indivíduo e o objeto, logo, ela é objeto de interesse tanto da sociologia, como da psicanálise.
A partir da noção de ação social bem como do conceito de complacência social, podemos compreender por que as condutas de personalidades tão díspares são muitas vezes iguais com respeito à estrutura social. Podemos dizer que a estruturação das forças motivadoras é função mais das situações institucionais do que propriamente da estrutura particular da personalidade. Logo, Hartmann, assim como Parsons, advoga em favor de uma noção de estrutura social que se impõe de fora às personalidades e as empurra no sentido da conformação às expectativas padronizadas: “as estruturas sociais são, em primeiro lugar, impostas sobre o indivíduo em desenvolvimento como uma realidade externa”[32] a qual ele precisa se adaptar. Diante disso, é papel da psicanálise definir “as expectativas da conduta com relação às situações interna e externa”[33].
Em sua obra mais importante, Hartmann define a adaptação da seguinte forma, “falando de modo geral, dizemos que um homem está bem adaptado se a sua produtividade, sua capacidade de desfrutar a vida e seu equilíbrio mental não sofrem perturbações”[34]. O grau de adaptabilidade só pode ser ainda determinado em referência às situações ambientes, isto é, na interação entre o organismo e o meio. O problema da adaptação assume, porém, três formas como problema da psicologia do ego, como finalidade terapêutica e como uma consideração de natureza educacional[35]</sup?.
Dada a amplitude do problema, a psicanálise para enfrentá-lo deve almejar segundo o autor ser uma teoria geral do desenvolvimento mental que conjuga o estudo do Id e de seus conflitos com o estudo da esfera do Ego livre de conflitos.
Proponho que adotemos a expressão provisória esfera do ego livre de conflitos para aquele conjunto de funções que, em qualquer momento dado, exercem seus efeitos fora da região dos conflitos mentais. Não quero ser mal compreendido: não estou falando de uma província da mente cujo desenvolvimento seja, em princípio, imune a conflitos, mas, outrossim, de processos (…) que permanecem empiricamente fora da esfera do conflito mental.[36]
Nesses termos, é somente abrangendo os fenômenos da consciência ou do Ego que a psicanálise poderá se tornar uma teoria geral. Logo, Hartmann aproxima a psicanálise da psicologia de cunho fenomenológico, isto é, da descrição dos comportamentos sociais. Trata-se de aplicar os pontos de vista metapsicológicos às experiências conscientes que conduzem a realizações adaptadas.
O estudo da esfera livre de conflitos do ego nos leva, assim, a conceber o problema da adaptação a partir de uma nova perspectiva que não se limita àquela do conflito. A solução deste envolve realizações adaptativas, isto é, a aquisição de garantias biológicas que configuram um desenvolvimento. O desenvolvimento é, portanto, produto do conflito. No entanto, adverte Hartmann, “nem toda adaptação ao meio ou todo o processo de aprendizagem e maturação significam um conflito”[37]. O valor positivo de adaptação resultante da defesa egóica em relação a uma moção instintual não necessariamente é produto de um conflito, mas pode a defesa estar indiretamente regulada por aquelas funções da esfera do ego livre de conflitos. Trata-se, pois, de abordar um mesmo fenômeno psíquico a partir de dois pontos de vista:
Do primeiro ponto de vista, “positivo” significa “prevenção da neurose”; do segundo, significa “aperfeiçoamento geral da adaptação”. Só uma avaliação prematura e unilateral poderia ignorar essa unidade essencial. Durante muito tempo a psicanálise não teve ocasião de se ocupar desse outro aspecto dos processos que pertencem ao domínio da psicologia normal, mas que, naturalmente, não é compreendido pela psicologia normal não-psicanalítica.[38]
Esse outro ponto de vista visa fornecer subsídios à educação, à pedagogia. Estas “só têm a lucrar com a ampliação do nosso horizonte, na direção da esfera livre de conflitos e adaptação”[39]. Isso porque a vocação da psicanálise deixa de ser a prevenção da neurose e se torna adaptar os indivíduos à realidade, realidade esta que é ela mesma, porém, conflitiva. Logo, Hartmann marca um deslocamento importante dentro da psicanálise, pois não se trata mais de vencer as resistências através do trabalho analítico e libertar a pulsão, mas antes reforçar a capacidade funcional [i.e. de trabalho] dos seres humanos; trata-se de sufocar seus conflitos mediante o reforço do Ego, instância recalcante, para que seus conflitos internos não prejudiquem sua capacidade produtiva.
A partir desse ponto de vista, podemos concluir que a adaptação diz respeito a uma adequação do organismo ao meio. Não se trata, porém, de uma realização espontânea, mas sim ela deve ser empreendida ativamente através das mudanças que o indivíduo efetua em seu meio com o uso de ferramentas, tecnologia etc. [mudanças aloplásticas]. Ao transformar seu meio, porém, o indivíduo altera a si mesmo para adaptar-se ao meio que ele ajudou a criar, isto é, para cumprir as novas demandas ambientais [mudança autoplástica]. Esse processo sócio-metabólico envolve, porém, uma contradição na medida em que a adaptação individual não coincide com a adaptação da espécie. Logo, Hartmann dá expressão a dialética existente entre indivíduo e sociedade quando diz que, “ao estabelecerem-se objetivos terapêuticos, os interesses do indivíduo superam, em geral, os da sociedade, mas isso deixa de ter validade quando se amplia o nosso ponto de vista de modo a incluírem as necessidades da sociedade.[40]
A adaptação pressupõe, assim, uma colaboração ativa em relação à estrutura social. Isso é evidente se observarmos a prolongada impotência da criança humana em relação aos outros animais, o que faz com que ela precise adquirir uma parte crucial de seus processos de adaptação, do seu desenvolvimento através da socialização. Logo, a criança depende da estrutura social para sua adaptação e deve se conformar àquela estrutura se quiser tornar-se um cidadão responsável. Nas palavras de Parsons, “a criança deve maturar até o ponto no qual ela possa começar a assumir um papel responsável num sistema de interação social, onde ela pode entender que o que as pessoas sentem ou pensam é função da conformidade dele e delas com os padrões de conduta mutuamente aceitos”[41].
Em suma,”o meio em que o homem vive é, cada vez mais, moldado pelo próprio homem. Assim, a adaptação crucial que o homem tem de fazer é à estrutura social e sua colaboração em criá-la”[42]. Portanto, “não entendemos por adaptação apenas a submissão passiva aos objetivos e metas da sociedade, mas também uma colaboração ativa para que eles se realizem, assim como as tentativas para modificá-los”[43]. Nesse processo, como vimos com o conceito de complacência social, a sociedade atua na escolha das formas de comportamento que terão maiores possibilidades de adaptação. A adaptação se dá, então, essencialmente entre o indivíduo e o meio, porém tem um efeito no psiquismo na medida em que ela tem como correlato o ajustamento dos sistemas psíquicos.
Hartmann defende ainda a função positiva dos valores morais para a adaptação e consequentemente para o ajustamento. As hierarquias de valores fazem parte daquilo com que a criança tem de chegar a acordo para fazer parte do mundo social, elas fazem parte daquelas obras realizadas pelo homem que são transmitidas pela tradição e que objetivam métodos descobertos pelos antepassados para resolver problemas. Essas hierarquias de valores são especialmente interessantes para o estudo na medida em que elas podem “servir como (…) pontos de cristalização do comportamento humano”[44]. Portanto, com Hartmann, ainda que a psicanálise avance na consideração de algumas contradições inerentes no funcionamento psíquico e em sua relação com a realidade, ela se torna uma espécie de comportamentalismo. Para a psicologia do ego, a pessoa adaptada nada mais é, pois, “do que um feixe de reflexos condicionados”[45].
O conformismo e o fascismo
Adorno critica a tendência perceptível na psicologia do ego de atribuir papel mais importe às motivações de tipo social e cultural acessíveis à consciência, do que aos mecanismos ocultos do inconsciente. “O que se procura é algo como uma psicologização da psicanálise”[46]. Além disso, com a ideia de uma esfera do ego livre de conflitos, o que a psicologia do Ego fez foi justamente suprimir o conflito que dá origem ao caráter como um sistema de cicatrizes formado pelos choques através dos quais a sociedade se impõe aos indivíduos. A insistência no caráter como uma totalidade harmônica e não como um sistema fragmentário fez do ajustamento das instâncias psíquicas um dos objetivos da psicanálise.
Ela suprimiu, assim, a teoria dinâmica das pulsões por uma esquematização do aparelho psíquico em instâncias harmônicas, o que a fez conceber o ajustamento dessas instâncias como a imagem da vida correta. Esse ajustamento interno é, porém, como vimos com Hartmann, produto da adaptação à realidade externa, da mesma forma que esta é determinada por aquele.
Assim, o objetivo da psicanálise passou a ser a integração da personalidade total. Porém, “sua integração seria a falsa reconciliação com o mundo irreconciliado e provavelmente conduziria à ‘identificação com o agressor’, mera máscara da submissão”[47]. A psicanálise se alisa, portanto, à sociedade contra o indivíduo, tentando submetê-lo à hierarquia de valores subsistentes. Obscurece-se, assim, que o verdadeiro mecanismo de integração e de adaptação social é a violência física e aquilo que a acompanha o medo [Angst] da castração.
A partir dessas observações, Adorno extrai uma série de reflexões tanto sobre as condições subjetivas da racionalidade objetiva, quanto sobre as condições objetivas da irracionalidade subjetiva. Em outras palavras, ele demonstra como o comportamento econômico e racional não é e não pode ser produto dos interesses subjetivos, mas sim está em contradição com eles; ele não se realiza meramente pelo cálculo, mas sim pela angústia de castração na medida em que não agir “racionalmente”, isto é, segundo as regras do jogo econômico, tem como consequência o fracasso econômico. Logo, a sanção social do comportamento econômico, a castração econômica internalizou-se no Superego repressivo cuja finalidade é motivar o indivíduo a agir segundo as expectativas padronizadas da sociedade com objetivo de se autopreservar no processo econômico. Autopreservação esta que está em contradição, no entanto, com a autopreservação da vida, já que ela pressupõe a autodestruição de si mesmo pela exploração a qual o indivíduo se submete para prosperar, ou melhor, para sobreviver economicamente.
Adorno identifica essa imagem do Superego repressivo em Parsons. Através dessa noção, como vimos, o objetivo de Parsons é superar a contradição entre indivíduo e sociedade com objetivo de alcançar uma síntese entre a sociologia e a psicanálise. Parsons desconsidera, todavia, a diferença de natureza existente entre a sociologia e a psicanálise, de modo que, para ele, a diferença entre as disciplinas reside não no objeto, mas sim nos níveis de abstração. Seria possível, assim, segundo Parsons, empregar o mesmo quadro de referência, os mesmos conceitos nas duas disciplinas apenas com diferenças de níveis. Parsons tenta, portanto, superar a divisão das ciências independentemente da natureza dos seus objetos, para ele, essa superação só estaria bloqueada, no entanto, pelo estado atual do progresso científico. Em suma,
Para ele, o antagonismo se torna um problema de organização científica, que se resolveria harmonicamente através de um progresso constante. O ideal de unificação conceitual extraído das ciências naturais é aplicado, sem mais, a uma sociedade que possui sua unidade no fato de não ser unitária.[48]
Logo, a tentativa de Parsons é superar a divisão entre personalidade e sociedade, isto é, entre sujeito e objeto, sem antes alterar a base material que sustenta essa falsa consciência da sociedade burguesa[49], a saber, o fato de que
Os seres humanos não conseguem reconhecer-se na sociedade, e esta não se reconhece em si mesma, porque eles são alienados entre si em relação ao todo. Suas relações sociais objetificadas se lhes apresentam necessariamente como um ser em si.[50]
A harmonização pretendida por Parsons entre indivíduo e sociedade passa ainda pela adaptação dos indivíduos às necessidades funcionais da sociedade através da internalização destas no Superego médio. Essa adaptação é elevada, no esquema parsoniano, à norma sem considerar, porém, os conteúdos repressivos que podem assim se sedimentar no Superego uma vez que as estrutura sociais em relação às quais os indivíduos se adaptam podem ser altamente repressivas, irracionais, coercitivas etc. Logo, vemos como a experiência do nazi-fascismo influenciou a crítica de Adorno a Parsons, uma vez que, no momento em que escreve, na Europa, populações inteiras estavam se adaptando ao fascismo. Assim, estruturas sociais irracionais exigiriam que os indivíduos agissem em oposição aos seus interesses racionais, em oposição ao seu instinto de autopreservação. Em suma, o que Parsons chama de expectativas internalizadas não são senão a imposição da sociedade ao indivíduo.
Como vimos, Hartmann compartilha dessa noção de estrutura social. O psicanalista insiste, porém, na contradição entre indivíduo e sociedade quando defende a distinção entre um elemento especificamente psicológico, inconsciente e irracional e um elemento econômico, consciente e racional na determinação das motivações da ação. Ele dá expressão, pois, justamente ao complemento pulsional da ação racional e econômica, à condição objetiva da irracionalidade subjetiva; aquela irracionalidade a qual a estrutura social capitalista nos impele ao se impor sobre nossas cabeças.
Logo, ainda que Hartmann compartilhe do otimismo de Parsons em relação a unificação das ciências, ele recorre à distinção psicanalítica entre Ego e Id para distinguir os comportamentos econômicos e racionais que não são passíveis de explicação analítica daqueles comportamentos inconscientes dotados de determinações pulsionais. Assim, Hartmann se recusa a remeter o inconsciente às influências sociais diretas, mas antes “se fixa a uma esfera psicológica sui generis”[51]. Ele se recusa, pois, a inserir no inconsciente aquelas determinações sociais que impelem o sujeito a se conformar com os ditames sociais, desse modo, ele se blinda de achatar as contradições entre indivíduo e sociedade e de fazer daquele mero suporte da estrutura social. A partir disso, “as metas do Eu não são mais idênticas às metas pulsionais primárias, não se deixam mais retraduzir nelas e as contradizem frequentemente”[52], o Id resiste, portanto, à adaptação, resiste em atender às expectativas normativas e às necessidades funcionais do sistema social. O valor de Hartmann está, pois, justamente na contradição que ele deixa em aberto e que aponta justamente para a necessidade de superação das condições subsistentes.
No entanto, Hartmann exorciza o potencial crítico de sua teorização quando estipula que o objetivo da análise é fazer o sujeito resistir à suas moções pulsionais. Assim, a psicanálise se comprometeu com a repressão com o objetivo de adaptar os indivíduos a uma realidade social de sofrimento e exploração. É justamente isso que nos diz Hartmann quando define a adaptação como manutenção da capacidade de trabalho. Trata-se, pois, de criar uma ponte entre o Id e o Superego, trata-se de sujeitar o sujeito do inconsciente de modo que a satisfação pulsional manifeste-se como satisfação das necessidades funcionais do sistema social, isto é, que o sujeito se satisfaça com sua adaptação e que ele busque compulsivamente se adaptar. Em Hartmann, o indivíduo adaptado sofre, pois, de compulsão à conformação que inculcada pelo medo social de caráter delirante que se expressa no medo de não pertencer mais ao conjunto social, medo este que motiva os indivíduos a se confirmarem em relação a uma civilização que outrora odiaram em virtude das privações que ela lhes impôs tanto em virtude da sublimação necessária para produzir os bens civilizacionais, quanto em virtude da exploração a qual foram submetidos para produzí-los. Em suma, Hartmann busca harmonizar as moções pulsionais com a proibição, unir princípio do prazer e princípio de realidade, conformar o desejo à demanda capitalista[53] e castrar o potencial crítico-emancipatório do inconsciente não socializado. Com a psicologia do ego, a psicanálise se torna, pois, uma espécie de terapia social cujo resultado prático são “aqueles seres humanos desesperadamente ajustados à realidade”[54].
Podemos dizer, então, que “a sociedade avança em todo o âmbito psicológico como recalcante, como censura e supereu”[55], a sociedade avança sobre o Id e o coloca a serviço do princípio de realidade, o submete ou aos mecanismos de defesa do Ego que serve à realidade ou às necessidades funcionais do sistema social expressas pelo Superego. A sociedade procura socializar e domesticar o Id, procura remetê-lo à influência social direta acabando com toda sua espontaneidade. Ela desmembra o sujeito “entre a interiorização da máquina da produção e um resto insolúvel (…) impotente”[56], o indivíduo monadológico.
Nessas condições de socialização total do sujeito, a autoconservação do Ego só é alcançada, porém, mediante regressão autoimposta. Isso porque, a sociedade impõe a ele uma série de renúncias que em parte precisam se manter inconscientes já que o Ego na concepção psicanalítica não é capaz de experimentar sua impotência[57]. A supressão dessa experiência de impotência real é justamente o que bloqueia a esperança de resistência contra o sistema social. Essa ferida narcísica nos leva a concluir que “o conceito do Eu é dialético, psíquico e não psíquico, um fragmento da libido e o representante do mundo”[58]. Ele se constitui de momentos objetivos, subtraídos do contexto imanente do psíquico, embora seja ele mesmo psíquico. Logo, para se autoconservar, é preciso que o Ego regresse ao Id a fim de tornar aquela experiência de impotência inconsciente.
O Ego que reverte ao inconsciente mantém, porém, suas qualidades como agente socializado e opera justamente aquela harmonização pretendida por Hartmann entre o princípio de realidade e de prazer. Assim, diante de uma realidade irracional e que se impõe de forma irresistível aos indivíduos, “ao eu resta apenas ou transformar a realidade ou retroceder novamente ao isso”[59]. A saída tanto de Hartmann, quanto de Parsons é justamente a última; trata-se de livrar o Ego do conflito que lhe é constitutivo e conformá-lo a uma realidade que lhe é estranha. Em outras palavras, trata-se de estimular sua impotência e fazê-lo retroceder àquelas moções arcaicas que unificam “a racionalidade parcial do interesse próprio com aquelas más formações irracionais de tipo destrutivo e autoaniquiladoras”[60]. Logo, o preço de uma noção de estrutura social que se impõe aos indivíduos é justamente a dissolução do sujeito e a socialização daquele resto insolúvel, daquela impotência narcísica e primitiva que não denuncia as condições existentes e aponta para a sua superação, mas sim que busca retornar a um estágio anterior quando não existiam limites ao princípio do prazer. O resultado é, de um lado, indivíduos resignados e desesperadamente adaptados e, de outro, indivíduos inadaptados cuja revolta individualizada e atomista não implica uma emancipação, mas o fascismo[61].
Por fim, podemos esboçar uma articulação entre sociologia e psicanálise que reconheça a cisão subsistente e, aceitando-a no movimento dialético, possa superá-la, afirmando a unidade dialética entre sujeito e objeto em sua verdade e contradição. Para tanto, será preciso abandonar o que Hondrich[62] chama de teorema da correspondência, que consiste no fato de que sistemas sociais saudáveis produzem indivíduos saudáveis, enquanto sistemas sociais patológicos produzem patologias individuais. É preciso substituí-lo pelo teorema da contradição que o autor identifica tanto na obra de Marx, quanto na de Freud; ele propõe a possibilidade de que macroprocessos de socialização [Vergesellschaftung] produzam microfenômenos patológicos. É justamente isso que Adorno demonstra quando faz a crítica da sociedade administrada. É preciso, pois, para articular os níveis micro e macro de análise admitir o movimento contraditório em cada um dos níveis de associação.
A articulação não significa, porém, uma síntese. Trata-se de conceber as duas disciplinas em sua unidade e diferença. Em outras palavras, é preciso reconhecer que a sua separação exprime uma cisão real entre indivíduo e sociedade que não pode ser superada por decreto metodológico ou desenvolvimento conceitual. No entanto, essa cisão é ela mesma uma falsa consciência burguesa que é preciso superar dialeticamente. Logo, a dialética permite que concebamos as contradições existentes entre as duas coisas para que possamos irromper de nossa imanência e entrever uma unidade essencial entre sujeito e objeto. Unidade que é expressa no conceito de Ego proposto por Adorno. Trata-se de uma noção dialética na medida em que ele é ao mesmo tempo uma parcela da pulsão e um outro, psíquico e não-psíquico. Em outras palavras, é preciso reconhecer que o ser humano por si se diferencia de si mesmo como ser social, logo, seu comportamento não é redutível nem ao psicologismo, nem ao sociologismo. Em suma, “os conhecimentos psicológicos e sociais são tão mais decisivos e podem ser tão mais significativos reciprocamente quanto menos um se apoia imediatamente no outro”[63]. Portanto, ainda que seja preciso superar a cisão entre indivíduo e sociedade que fundamenta a divisão disciplinar, não se pode superar essa contradição sem a alteração da sua base material, o que podemos, no entanto, é concebê-la como uma “unidade antagônica [que] permanece unidade mesmo em seu antagonismo”[64] e analisar os termos dessa contradição. ♦
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. “A psicanálise revisada”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015a.
_____. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b.
FREUD, S. (1917) “Uma dificuldade no caminho da psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
_____. (1923) “O Eu e o Id”. In: Obras completas de Freud, vol 16. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968.
_____. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969.
_____. (1950) “La aplicación de los conceptos analíticos a la ciencia social”. Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969.
HONDRICH, K. O. “Micropathology and macronormality”.In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 255-266.
HORKHEIMER, M., & ADORNO, T. W. (orgs.). Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.
KURZWEIL, E. “Psychoanalysis as the macro-micro link”. In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 237-254.
PARSONS, T. (1950) “Psychoanalysis and the social structure”. In: Essays in sociological theory. Chicago: The Free Press, 1954.
_____. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964.
TREVIÑO, A. J. “Parsons, psychoanalysis and the therapeutic relationship”. In: The anthem companion to Talcott Parsons. Londres: Anthem Press, 2016.
* Gabriel Augusto de Carvalho Sanches é sociólogo, mestrando em Sociologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo e pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência. Atua nas áreas da Sociologia da violência, da punição e do controle social com temas relacionados à justiça juvenil. E-mail: gabrielcsanches1@gmail.com
[1] KURZWEIL, E. “Psychoanalysis as the macro-micro link”. In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 237-254.
[2] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964.
[3] KURZWEIL, E. “Psychoanalysis as the macro-micro link”. In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 238.
[4] PARSONS, T. (1950) “Psychoanalysis and the social structure”. In: Essays in sociological theory. Chicago: The Free Press, 1954.
[5] “Não há razão para atribuir qualquer prioridade lógica ou ontológica fundamental a qualquer um dos sistemas sociais da personalidade” (PARSONS, T. (1950) “Psychoanalysis and the social structure”. In: Essays in sociological theory. Chicago: The Free Press, 1954, p. 337).
[6] PARSONS, T. (1950) “Psychoanalysis and the social structure”. In: Essays in sociological theory. Chicago: The Free Press, 1954, p. 337.
[7] PARSONS, T. (1950) “Psychoanalysis and the social structure”. In: Essays in sociological theory. Chicago: The Free Press, 1954, p. 337-338.
[8] TREVIÑO, A. J. “Parsons, psychoanalysis and the therapeutic relationship”. In: The anthem companion to Talcott Parsons. Londres: Anthem Press, 2016.
[9] O primeiro se limitou ao estudo das personalidades singulares sem considerar suas interações e o segundo não percebeu que é justamente as interações sociais que constituem o sistema social por ele concebido.
[10] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 22.
[11] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 119.
[12] HORKHEIMER, M., & ADORNO, T. W. (orgs.). Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.
[13] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b.
[14] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 23-24.
[15] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 24.
[16] KURZWEIL, E. “Psychoanalysis as the macro-micro link”. In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 245.
[17] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 25.
[18] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 29.
[19] KURZWEIL, E. “Psychoanalysis as the macro-micro link”. In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 243.
[20] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968.
[21] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969.
[22] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 33.
[23] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964.
[24] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 27.
[25] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p.33.
[26] Posteriormente, Hartmann se refere à complacência social como “o fato de que uma estrutura social dada seleciona e torna efetivas certas tendências psicológicas e sua expressão, assim como certas direções de desenvolvimento” HARTMANN, H. (1950) “La aplicación de los conceptos analíticos a la ciencia social”. Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 91.
[27] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p.36)
[28] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 37.
[29] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 37.
[30] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969.
[31] HARTMANN, H. (1944) “Psicoanálisis y sociología”. In: Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 42.
[32] HARTMANN, H. (1950) “La aplicación de los conceptos analíticos a la ciencia social”. Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969., p. 93.
[33] HARTMANN, H. (1950) “La aplicación de los conceptos analíticos a la ciencia social”. Ensayos sobre la psicología del yo. México: Fondo de Cultura Económica, 1969, p. 63.
[34] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 23.
[35] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 5.
[36] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 10.
[37] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 9.
[38] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 20.
[39] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 13.
[40] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 27.
[41] PARSONS, T. (1952) “The superego and the theory of social systems”. In: Social structure and personality. Chicago: The Free Press, 1964, p. 28.
[42] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 30.
[43] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 31.
[44] HARTMANN, H. (1939) Psicologia do ego e o problema de adaptação. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968, p. 70.
[45] ADORNO, T. “A psicanálise revisada”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015a, p. 61.
[46] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 43.
[47] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 102.
[48] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 74.
[49] “A falsa consciência é ao mesmo tempo correta: vida interna e vida externa estão cindidas uma da outra (…) A verdade do todo reside na unilateralidade, não na síntese pluralista.” (ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 75). Logo, é preciso não negar, mas sim reconhecer essa divisão subsistente e só assim, aceitando-a no movimento dialético podemos superá-la, identificando nela o momento de sua superação.
[50] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 74-75.
[51] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 85.
[52] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p.85-86.
[53] Nesses termos, “satisfação se transmuta na consecução das regras do jogo” (ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 90)
[54] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 98.
[55] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 95.
[56] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 94.
[57] FREUD, S. (1917) “Uma dificuldade no caminho da psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
[58] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 107.
[59] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 112.
[60] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 110.
[61] Na realidade, essas duas figuras estão imbricadas dialeticamente na medida em que o fascismo ocorre quando a revolta pela liberação da pulsão é instrumentalizada pela propaganda e por outros meios com objetivo de colocá-la à serviço do conformismo, da conservação. Temos, então, aquela compulsão à conformação que liga o Id ao Superego.
[62] HONDRICH, K. O. “Micropathology and macronormality”.In: ALEXANDER, J.; GIESEN, B.; MÜNCH, R.; SMELSER, N. J. (orgs.) The micro-macro link. Berkley: University of California Press, 1987, p. 255-266.
[63] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 131.
[64] ADORNO, T. “Sobre a relação entre sociologia e psicologia”. In: Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo: Editora Unesp, 2015b, p. 134.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | SANCHES, Gabriel Augusto de Carvalho (2023) Sociologia e Psicanálise: revisão e esboço de uma articulação necessária. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -15, p. 8 , 2023. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2023/12/22/n-15-8/>