por Bárbara Cristina Souza Barbosa
É no interesse pelo enlouquecimento da psicose que Freud[1] subverte a concepção de delírio. A partir da leitura do diário de um paciente chamado Daniel Paul Schreber, o psicanalista apostará no delírio, não como um desarranjo neurológico, uma falha mental ou um desvio na normalidade, mas como uma tentativa de cura do sujeito diante daquilo que o invade. Nesse ponto, a direção de tratamento sofre radicalmente uma transformação. É como se o psicanalista falasse para nós: “ajude-o a delirar, porque delirando ele tenta a cura, ele produz uma reconstrução”. Agarro esse sintagma “tentativa de cura” e trago para a temática da não monogamia a partir de uma hipótese: a adesão à não monogamia no contemporâneo é uma tentativa de cura diante do rasgo no modelo de amorosidade que nos foi transmitido. Uma concepção de amor-família se esfarela; e justamente porque se esfarela, defende-se com tantas unhas e dentes.
Lacan uma vez brincou: “sabe quem é o verdadeiro ateu? São os padres, os pastores, porque só eles sabem o peso de carregar deus nas costas, todo o santo dia”[2]. Ou melhor: a intransigente defesa da família monogâmica cisheteronormativa[3] exibida por alguns setores políticos e pela sociedade civil só nos mostra o quanto se instalou alguma instabilidade nessa própria crença, por isso a necessidade de reza e afirmações todos os dias pela continuidade desse modelo familiar.
Tentativa de cura na medida em que ela tem que se haver com três problemas. 1) A normatividade amorosa que nos foi ensinada é colonial, logo a adesão cega ao modelo monogâmico romântico é, de algum modo, a adesão a dinâmicas coloniais[4]. 2) A adesão à “não monogamia”, por si, não se produz enquanto desvio colonial na maneira de amar, inclusive pode se dar como uma sofisticação dessa, a partir do ponto em que inclui imperativos neoliberais em seu bojo[5]. 3) Inserir-se numa proposta não monogâmica não nos isenta de termos que lidar com a famosa preposição lacaniana de que “a relação sexual não existe”, afirmação que pressupõe no mínimo três chaves de leitura: não existe no sexual a noção de relação, é apenas por haver a inexistência da relação que há abertura para os laços tais como os conhecemos, já que toda relação comporta em si sua negatividade constitutiva, sendo o sexual aquilo que instaura a impossibilidade de completar o sentido[6]; não há proporcionalidade na modalidade de satisfação no encontros entre dois sujeitos, cada um vai jogar com sua própria fantasia no encontro erótico[7]; há uma impossibilidade radical de fazer Um no encontro amoroso (sendo ele monogâmico, ou não). Deste modo, não é porque assumimos que nossos amores desejam e realizam vontades com outras parcerias que estamos mais tranquilos para lidar com a ausência de complementariedade que envolve o encontro de dois/duas.
Discutir sobre a não monogamia é, de algum modo, desnaturalizar transmissões que nos são dadas e colocadas como naturais, essencialistas e óbvias. É botar o “óbvio” em xeque e se perguntar: “Quero isso ou aquilo porque foi o que quiseram em mim”? A discussão sobre não monogamia está longe de ser uma mera conversa sobre quais combinados, acordos, categorias irão melhor representar o nosso jeito de amar, e sim mais uma conversa sobre a noção de sociedade, civilização e família que a gente quer construir[8].
Enquanto psicanalistas, somos privilegiados, pois temos contato com os discursos sociais, mas também com os discursos privados, ou ainda os restos discursivos que insurgem na boca dos nossos pacientes que topam “associar livremente”, as posições do sujeito que imperam muitas vezes como avesso daquilo que o Eu quer se fazer acreditar. Enquanto psicanalistas temos acesso a uma outra modalidade de verdade na experiência clínica, acesso esse privilegiado e do qual não podemos abrir mão com medo de nos apresentarmos como uma espécie de estraga-prazeres politicamente incorreto na roda de debates[9]. É menos a coragem de ser honesto, mas a possibilidade de sustentar um mal-estar entre os campos e fazer jus à descoberta freudiana: “somos menos senhores da nossa própria casa do que imaginamos”[10], mas nem por isso abrimos mão de cuidar dela.
Aqui se faz necessário um recurso marxista para tratar do tema: a materialidade dando a letra da fita. O que das condições materiais faz com que estejamos vendo uma enxurrada de discussões sobre novas modalidades de amor, modelos relacionais e, junto disso, um crescimento frequente de pessoas defendendo a família tradicional? Tenho uma hipótese, mas prefiro fundamentá-la melhor antes de apresentar neste trabalho. Mas já adiantaria o seguinte: a burguesia tem algum interesse pela não monogamia. Assim como o comunismo[11].
Diante disso, algumas breves definições:
Oficialmente, monogamia é uma forma de relacionamento em que um sujeito tem apenas um parceiro amoroso-sexual, durante a sua vida ou períodos dela. A monogamia é um aspecto decisivo da organização da sociedade de classes, que se funda na ideia de fidelidade e honestidade entre o casal[12]. Para Brigitte Vasallo[13], o relacionamento amoroso monogâmico é entendido menos como uma prática amorosa e mais como um sistema de pensamento, um modelo de relacionalidade, apoiada pelo Estado, que reciprocamente se constitui no sistema de sexo-gênero binário. Ele contém uma hierarquia em que o casal monogâmico reprodutivo está no topo e se manifesta através de alguns discursos sociais como:
- Apoia-se em acordos de exclusividade[14] (eu sim, você não), ou na importância do casal frente aos amantes ou outros amores;
- Apoia-se na concepção de que amar ou desejar sexualmente um outro (que não o parceiro fixo) seria uma anulação do amor verdadeiro;
- Apoia-se em modelos de cisão psíquica (amor x sexo; puta x santa; família-responsabilidade x lazer-inconsequência);
- Apoia numa aposta de complementariedade sexual (no discurso oficial), paixão irrecusável e mágica amorosa, como vemos na narrativa de Romeu e Julieta[15];
- Apoia-se no direito à morte em situações de paixão-amor (certo reconhecimento da traição como violência passional compreensível)[16];
- Instiga a evitação de outras seduções[17];
- Apoia-se na concepção de ciúme como um afeto espontâneo e natural.
Diferentemente do que se nota no discurso do senso comum, nem sempre a monogamia foi o discurso oficial regulamentado pelo poder público. No livro de Engels[18] intitulado A origem da família, da propriedade privada e do Estado, o autor dará uma explicação materialista para o surgimento da monogamia, mencionando que a família monogâmica surge como uma necessidade histórica para sustentar a propriedade privada e a sobrevivência vinculada ao âmbito individual, e não mais comunitário como nas sociedades primitivas. Diante da descoberta da agricultura e da pecuária, o trabalho muda de configuração, e para se firmar a exploração de uma classe sobre a outra é necessária a destruição dos laços comunitários que faziam da sobrevivência de cada indivíduo a condição necessária para a sobrevivência da comunidade. A criação, educação e preparação dos alimentos das crianças passa de uma atividade coletiva para uma atividade privada; a família passa a se constituir como uma família nuclear composta por homem, mulher e filhos[19]. Devido a essa condição de propriedade, instaura-se uma preocupação excessiva com o corpo e a sexualidade da mulher, já que seria preciso garantir a veracidade genética do herdeiro. Isso provoca uma ruptura radical nas dinâmicas afetivas. Um membro da tribo Montagnais-Naskapi, ao anunciar o caráter nefasto que a construção da família privada produziu no que toca à solidariedade e ao enlaçamento no campo coletivo, amor esse cada vez mais vinculado a uma noção privatista de família, mostra sua estranheza diante da família monogâmica nuclear e do modo como ela funciona afetivamente: “Vocês franceses amam apenas seus próprios filhos; mas nós amamos todas as crianças de nossas tribos”[20].
Uma importante constatação no trabalho de Engels[21] é o fato de que a família monogâmica não seria composta apenas por três membros, mas quatro. Homem, mulher, filhos e prostituta/amante. O que está no cerne da família monogâmica é que, para ela sobreviver, uma outra figura precisa constar nesse enredo, que é a figura da prostituta. Figura essa que foi se tornando tão naturalizada no seio da família nuclear que frases como “homem sempre trai”, “dama na sociedade e puta na cama” foram se transformando em verdades absolutas, a ponto de se tornarem construções essenciais do que seria o desejo masculino e a tarefa feminina. Melhor dizendo, com o apoio do Estado e das leis jurídicas, a monogamia se funda numa espécie de cisão (putaria, ternura), em que o adultério feminino poderia ser punido com cadeia ou morte e o adultério masculino seria um direito configurado nessa família — desde que se mantenha certa discrição e responsabilidade na garantia das propriedades privadas dessa família. Assim, a monogamia se funda alicerçada no adultério — mas adultério alinhado a um gênero — e tendo como objetivo inicial o resguardo à propriedade e a herança. Com o surgimento da monogamia-amor-romântico, outros elementos entram na história: paixão, dificuldades, drama, uma concepção de amor como um sentimento surdo à voz da razão e imprescindível para a felicidade de alguém (como notamos nas novelas: o êxtase do encontro, a promessa da eternidade e os sinais de destino).
Esse tipo de cisão aparecerá de maneira bastante delineada no trabalho de Freud[22] intitulado “Sobre a mais generalizada degradação da vida amorosa”. Nesse texto, o autor vai destacar um problema de síntese no que concerne ao campo da afetividade. Ele escutava homens que amavam de maneira cindida; homens que o procuravam porque tinham problemas com aquilo que ele chamou de “impotência sexual psíquica” e que se consolidava da seguinte maneira: quando amavam, não desejavam sexualmente; quando desejavam, não podiam amar. O amor terno e o amor terreno. Freud[23] chegará a afirmar que esse problema de síntese é o modo comum da vida do homem civilizado, produzindo um choque na nossa intuição ao imaginar que isso seria um sofrimento-exceção, e não um sofrimento-regra. Ou seja, aqui Freud é mais engeliano do que imagina: o amor na sociedade de classes se funda num tipo de degradação do objeto de amor; o sujeito retorna a desejar sexualmente quando o deprecia, já que o objeto de amor está inserido nas estruturas de parentesco. O psicanalista chega a dar um direcionamento no mínimo burlesco diante de uma situação como essa. Ele diz: “para ser realmente feliz e livre no amor é preciso haver superado o respeito ante a mulher, haver se familiarizado com a ideia de um incesto com a mãe e a irmã”[24].
O que Freud afirma é que desejo sexual e o excesso de respeito seriam coisas inconciliáveis, e a sua busca de resposta para esse problema — que, em sua época, era o problema que mais levava homens até seu consultório — se dará a partir do operador de Complexo de édipo e suas relações familiares envolvidas ali. Para sustentar o interesse sexual pelo parceiro, haveria que conseguir pinçar uma infamilariedade não muito respeitosa diante do par amoroso.
Lélia Gonzalez[25], uma autora latino-americana, irá interseccionalizar essa degradação no seu trabalho intitulado “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. A autora irá lembrar que, quando se trata de Brasil, essa cisão amorosa-sexual comporta elementos de cor, que perpassa o endeusamento da mulata no carnaval dançando ao som de globeleza e a sua transfiguração em empregada doméstica depois da Quarta-Feira de Cinzas. A autora faz uma provocação:
Foi aí que uma delas contou uma história muito reveladora, que complementa o que a gente já sabe sobre a vida sexual da rapaziada branca até não faz muito: iniciação e prática com as crioulas. É aí que entra a história que foi contada prá gente (brigada, Ione). Quando chegava na hora do casamento com a pura, frágil e inocente virgem branca, na hora da tal noite de núpcias, a rapaziada simplesmente brochava. Já imaginaram o vexame? E onde é que estava o remédio providencial que permitia a consumação das bodas? Bastava o nubente cheirar uma roupa de crioula que tivesse sido usada, para “logo apresentar os documentos”.[26]
O que a autora nos mostra é que os impasses do amor e do desejo sexual são impasses repletos de dimensões coloniais que constituem a amorosidade dos sujeitos. Preta pra trepar (ou realizar fantasias um pouco mais obscenas), branca pra casar: fantasia incluída no campo da cisão psíquica.
Não monogamia como termo guarda-chuva
A “não monogamia” é um termo guarda-chuva que abarca vários modelos consensuais de relação, como por exemplo poliamor, relações livres/amor livre, relacionamento aberto, swing, entre outros[27] . O número de categorias em torno desse guarda-chuva vem crescendo na mesma velocidade que o número de letras do LGBTQIAP+, escancarando o caráter incapturável do sexual e das modalidades amorosas envolvidas nesse sexual. A prática de swing, por exemplo, se apresenta menos agonizante pra alguns pacientes do que as relações livres. Tenho experiência com pacientes que contam que elas e seus parceiros topam swing pelo caráter ritualístico e enquadrado que a prática compõe, diferentemente da relação aberta, que exige dos sujeitos o encontro com a entrada dos terceiros de carne e osso no cotidiano do arroz com feijão.
Uma paciente, em um atendimento, menciona fazer swing com o marido e que, após isso, combinam de não ficar falando sobre o ocorrido na frente das crianças ou no café da manhã: eles vão lá, realizam algumas fantasias, voltam pra casa e continuam o casamento. Ela diz preferir assim, por não “querer se ocupar de ter que ficar pensando toda hora aonde o marido vai ou como irão dividir os cuidados com as crianças, caso alguém saia sozinho” — é um casal que faz isso há anos. Pra essa moça, há uma certa segurança de que seu lugar está bem preservado no desejo desse homem, segurança essa desatrelada de qualquer hipótese de que ela seria “o grande objeto de amor dele”. Como ela diz: “eu não quero agonia no meu dia a dia”, melhor dizendo, os monogâmicos não são necessariamente pessoas iludidas que supõem que seu parceiro só pode amar uma pessoa. Essa moça está fazendo cálculos em relação ao que ela quer no seu cotidiano; mesmo sabendo que ações do marido podem acontecer à revelia dela, foi o modo que encontraram de negociar com a norma.
Com isso, a partir de toda essa revisada histórica, lanço uma pergunta, entrando um pouco mais na dimensão clínica, da escuta das “não monogamias”: se nesse guarda-chuva a palavra liberdade se repete, o que muda sobre o amor, e a liberdade, depois que a hipótese do inconsciente foi inventada?
Neste aspecto, coloco alguns diagnósticos encontrados na escuta de alguns pacientes não monogâmicos:
Diagnóstico 1: Uma reformulada ética da confissão se instaura
Foi Foucault[28] quem nos alertou que as modalidades de jogos com o poder às vezes se operam não por uma perspectiva de “proibição da fala, de emudecimento, de silenciamento”, mas por uma via de instigação da fala de si, da verbalização de si. Alguns pacientes se utilizam do sintagma da honestidade e do “a gente combinou de contar” para poder confessar a seus parceiros aquilo que eles mesmos já sabem, de antemão, que o parceiro não iria suportar. Nesses momentos, já tive a ingenuidade de perguntar: “mas por que você contou essa parte”, obtendo às vezes como resposta: “porque ele pediu pra eu contar e disse que preferia saber, estou seguindo o combinado”. Um trecho de um manual de relações não monogâmicas se coaduna com isso:
Então, talvez mais importante do que estabelecer regras e combinados rígidos, seja a capacidade de manter uma comunicação aberta e continuada sobre tudo o que for emergindo. Dessa forma, fica mais fácil de acompanhar a vivência de cada um enquanto o casal se mantém aberto para aprender com a evolução dessas experiências. É preciso alinhar as intenções.[29]
No filme Closer, perto demais[30], tem uma cena belíssima em que um médico, advertido da sua condição asquerosa, ao descobrir que sua parceira o traiu com um rival, pede detalhes do modo como a cena aconteceu, de como ele a comia, se ela gostou, se ela gozou. É uma verdadeira cena de tortura e imperativo da confissão, e quem fica com a angústia na mão é a personagem de Julia Roberts. No final do filme ela o escolhe como parceiro de vida. A confissão invoca elementos como: culpa, perdão, relação com a verdade. Talvez a tal da “responsabilidade afetiva”, sintagma que surge no mesmo período em que o livro A arte sutil de ligar o foda-se explode de vendas[31], esteja menos ligada à honestidade totalizante com o outro e mais a uma certa localização onde você e o outro encostam no ponto do abismo de cada um e do consentimento com a experiência da castração. Há um certo cinismo ao dizer que se confia no “combinado” apenas verbal, pois há aqueles ditos, menções, que não são combinados, mas estão implícitos ali; alguns casais jogam com isso de maneira mais interessante, sem a necessidade de tentar dizer uma suposta “toda” verdade, muitas vezes pra poder lidar com sua própria culpa diante da experiencia. Foucault[32] uma vez questionou:
A mecânica do poder e, em particular, a que é posta em jogo numa sociedade como a nossa, seria mesmo, essencialmente, de ordem repressiva? Interdição, censura e negação são mesmo as formas pelas quais o poder se exerce de maneira geral, talvez em qualquer sociedade e infalivelmente, na nossa?
O que proponho aqui é que a mecânica do poder que opera em muitos casais não monogâmicos que chegam na clínica é pela via da confissão e do detalhamento do ocorrido, e menos pela partilha de uma cena amorosa-sexual que produz satisfação prazerosa em ambos com sua narrativa. Detalhes que envolvem “os buracos interditados” (“Você fez sexo anal com ele”?) ou a tentativa de apreensão do desejo do Outro (“O que você gosta tanto nela, que não encontra aqui”?) são questões que, entre outras, regularmente deixam o parceiro numa experiência de angústia. Qual a diferença entre a contação de uma cena erótica que envolve aspectos exibicionistas/voyeristas de satisfação (quando o parceiro narra a história com alguns detalhes ou a pessoa se satisfaz eroticamente ao assistir e viver com o parceiro a experiência) e a situação em que um parceiro coloca o outro como testemunha de algo que está insuportável de assistir?
Diagnóstico 2: A incessante psicologização das relações e dos afetos
Com Lacan[33], descobrimos que as palavras servem menos para nos fazer comunicar bem e mais como uma função organizadora dos nossos corpo, desejo, pulsões, endereçamento e suportabilidade do “mal-entendido”. Nota-se que, após alguns anos de análise, um dos efeitos mais interessantes produzidos na andança de um sujeito é que ele para de se explicar demais quando se depara com o fracasso da comunicação bem-sucedida; ele interrompe esse excesso de explicação não porque se desinteressa do outro, mas justamente porque ele se interessa mais. Clarice Lispector nos ajuda nisso: “Pouco me importa ser entendida, quero o impacto das sílabas ofuscantes, quero o nocivo de uma palavra má”[34].
A psicologização da vida e das relações amorosas tem como efeito uma certa esperança de que as situações de indeterminação serão solucionadas com mais reflexividade. “Se a gente refletir melhor, se a gente desconstruir nosso ciúme, se a gente recombinar, a gente vai chegar num bom acordo”. Nessa perspectiva se mantém um ideal de comunicação, de que basta mais uns passos, uns livros a serem lidos que o ideal acontecerá. Nessa perspectiva, há pouco lugar para a pergunta em torno do desejo, para a escuta dessa palavra má[35], que surge de maneira intempestiva na própria boca e que pede lugar pra passar. O problema não está exatamente na tentativa do acordo, mas na aposta desenfreada de que o acordo vai nos proteger da contingência[36]. Existe uma prática comum na não monogamia que, por sinal, é bastante curiosa: se o bicho começar a pegar, um dos parceiros do casal tem aquilo que se chama de “poder de veto”. O poder de veto é um direito onde uma pessoa tem poder de permitir, ou não, quem fará parte das relações do(a) parceiro(a). Uma paciente me diz: “eu não aceito que ela se relacione com racista, o resto eu não me importo”. Muda-se o proibido de lugar, sem que isso modifique a relação de cada um com a dimensão do impossível. A psicologização nesses momentos entra como uma espécie de infinitizacão da discussão da relação, tentando refazer de novo o acordo, quando um elemento surpresa aparece na cena.
Diagnóstico 3: A descoberta de que “qualquer combinado” ou modelo de relação não irá me absolver de ter que lidar com a pergunta: Qual é o desejo do Outro?
O desejo seria aquilo que dá uma espécie de unidade pra pergunta: o que eu sou? De onde eu vim? Pra onde vou? O que o Outro deseja? O desejo é uma cadeia que mobiliza histórias, sendo possível conhecê-lo, porque o conhecimento requer uma relação de captura. Há modos diferentes de responder à pergunta do desejo. Isso vai depender da modalidade fantasística a que cada sujeito recorre para lidar com essa pergunta. Abaixo, um trecho de Lacan sobre esse ponto:
Eis por que a pergunta do Outro, que retorna para o sujeito do lugar de onde ele espera um oráculo, formulada como um “Che vuoi?” – que quer você? é a que melhor conduz ao caminho do seu próprio desejo — caso ele se ponha, graças à habilidade de um parceiro chamado psicanalista, a retomá-la, mesmo sem saber disso muito bem, no sentido de um “Que quer ele de mim”?[37]
O instante da pergunta em torno do desejo é uma abertura radical a uma experiência de solidão e ocasião para o reconhecimento do próprio desejo. Solidão na medida em que, ao se descobrir não sendo o falo do Outro, o que o sujeito irá fazer é construir uma resposta, à sua maneira, a partir dessa constatação. Essa construção comportará a experiência de dissolução do ser[38] (“não sou o que completa o Outro”), mas também a tentativa de restituição do ser (“fazendo ou tendo isso, acredito que serei”). Aprender-se solitário é descobrir que sua presença é contingente, e não necessária, podendo se separar do Outro sem o pavor do autoextermínio. Assim, a solidão benéfica nunca se estrutura em torno de um “eu não preciso do outro”; é justamente quando se dá conta de que se precisa do outro, mas não absolutamente, que a solidão se torna um espaço criativo[39].
Os combinados tendem a ser uma tentativa de bordear o jogo, de combinar algumas regras, notas pra que o jogo aconteça. Quanto mais exigências, maior a tendência de o caráter lúdico do jogo amoroso se mortificar. Elas entram, geralmente, como uma tentativa de dar continência a uma experiência que envolve riscos explícitos — todo relacionamento envolve, mas na não monogamia há uma certa assunção e convivência diária com isso. Contudo, o combinado também aponta para as proibições e, logo, para o objeto de desejo. “Ela falou que só não pode fulano”, nem sequer tinha olhado pra fulano, agora se instaura a pergunta: “quem é fulano?”. Fulano que estava ausente passa a brilhar a partir da proibição. Há que se pensar que modalidades de negociação estão sendo construídas. Há negociações que jogam com o impossível e tentam recolocar em caixas, como o caso de alguns sujeitos que topam abrir a relação desde que o parceiro não se apaixone por outro, desde que não haja afeto envolvido. A pergunta que nos interessa é como cada um dos nossos pacientes que escolhem a não monogamia tem negociado com sua solidão? Com esse instante em que ele se perde do Outro. Possivelmente a palavra “condição” pode ser mais interessante que a palavra “combinado”. Geralmente, a condição se basta em 1, 2. Os combinados se proliferam.
Diagnóstico 4: O trabalho da invenção em torno da ausência de referência modelar vivida.
Muito se fala sobre a dificuldade posta nas relações não monogâmicas pela ausência de referência em torno da experiência. A prática não monogâmica não se circunscreve a uma prática contemporânea[40]; contudo, a monogamia é uma proposta que nos oferece inúmeras referências sobre onde nos amparamos diante dos impasses. A monogamia enquanto sistema de pensamento ajuda a nos localizar no mundo, diante das questões do desejo e do amor. Ela oferece pressupostos, por exemplo, no que toca à dimensão do tempo. Na relação monogâmica, pressupõe-se, mesmo sem precisar combinar, que os tempos de lazer serão preenchidos com a presença do casal: ida a cinema, teatro, bar, viagens, igreja. Esses pressupostos podem ser vividos de maneira mais ou menos consistente, dependendo do arsenal cultural e territorial em que cada paciente está inserido.
Há casais em que uma grande conquista de “espaço” se dá quando eles passam a consentir com a ida um do outro pra baladas ou bares sem necessariamente estarem acompanhados. Nas relações não monogâmicas, a instauração da negociação desse tempo se dá de maneira mais constante. “O que faremos com o tempo de lazer, quem vai ficar com as crianças, qual dia da semana um sai sem o outro”? Nesse aspecto, é importante lembrar o conselho de hooks[41] , já que a autora não vai aderir com tanta facilidade à não monogamia como uma prática intrinsecamente antifeminista, por considerar que a prática não monogâmica pode se destrinchar pra uma sofisticação patriarcal, justamente pelo fato de o patriarcado ser uma grande referência modelar na nossa cultura. Aqui vale a pergunta: até onde é possível inventar uma ética não monogâmica num sistema de produção como o capitalismo? Não endosso certa postura de espera da dissolução desse sistema para que, com isso, outras práticas amorosas possam se construir; não é interessante lançar mão de um certo etapismo. Contudo, é importante marcar que a maquinaria capitalística produz restrições no que toca ao tempo do proletariado e ao direito à fruição dos afetos; lembrar que, depois da invenção da mais-valia, não falamos em liberdade do mesmo modo.
A ponto de concluir
O ideal de amor romântico monogâmico tem produzido uma exaustão em alguns sujeitos e esses estão descobrindo que a família nuclear burguesa, que se apresentou durante décadas como possibilidade de produção de experiência de amparo, de apresentação de modelos de identificação e de privatização dos cuidados, tem sofrido um processo de desilusão. Esse modelo familiar pequeno burguês se apresenta insuficiente diante das novas exigências contemporâneas. Vinculo aqui monogamia com família porque a criação de uma não foi sem a outra. Será que consentir com a experiência não monogâmica poderia partir de um pressuposto e — a partir daí, quem sabe? — uma nova razão amorosa possa ser criada? Pressuposto que é o seguinte: “não somos livres e nem por isso destinadamente submissos”; de que talvez a autonomia relacional não seja o ponto de partida mais interessante pra estar com o outro.
O que digo aqui é que talvez nosso maior desafio seja um certo giro discursivo em que a não monogamia se produza mais enquanto uma lógica do que necessariamente uma prática por si só. Vale lembrarmos que Lacan fez uma hipótese diagnóstica em relação ao nosso tempo e sua articulação com o amor, ele diz: “O capitalismo deixa de lado o que chamaremos simplesmente de ‘coisas do amor’”[42]. Há que se esperar se os encontros não monogâmicos colocarão pra dentro as coisas do amor. ♦
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* Bárbara Cristina Souza Barbosa é psicanalista, docente na Universidade Santa Cecília na Baixada Santista, graduada em psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e mestre em psicologia clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como consultora do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) no Serviço de Abordagem Social e como supervisora clínico-institucional da Fiocruz. Atualmente é membro do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL). E-mail: barbaracsb@hotmail.com.
[1] FREUD, Sigmund. (1911) “Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schreber”). In: Obras completas, v. X. Trad. P. C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 61.
[2] Sugiro vídeo do psicanalista Welson Barbato, na Casa do Saber, trazendo a articulação da monogamia com essa frase do Jacques Lacan. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=mGjbehIPjOc>. Consultado em: 04/09/2023.
[3] FERREIRA, Guilherme Gomes (2016) Conservadorismo, fortalecimento da extrema-direita e a agenda da diversidade sexual e de gênero no Brasil contemporâneo. Lutas sociais, v. 20, n. 36, pp. 166-178.
[4] NÚÑEZ, Geni Daniela; DE OLIVEIRA, João Manuel; DE SOUZA LAGO, Mara Coelho (2021) Monogamia e (anti) colonialidades: uma artesania narrativa indígena. Teoria e Cultura, v. 16, n. 3.
[5] Neste trabalho esse ponto será tocado de forma breve: PILÃO, A. C. (2022) Ativismos não-monogâmicos no Brasil contemporâneo: a controvérsia poliamor, relações livres. Sexualidad, Salud y Sociedad (Rio de Janeiro), v.38
[6] ZUPANČIČ, Alenka. O que é sexo? Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2023, p. 43.
[7] NASIO, Juan-David. A fantasia: o prazer de ler Lacan. Trad. André Telles e Vera Ribeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
[8] Importante destacar a discussão marxiana que este autor traz sobre isso: LESSA, Sergio (2012) Abaixo a família monogâmica! São Paulo: Instituto Lukács.
[9] Freud insistiu nisso em sua obra inteira, ao se colocar taxativo na relação da psicanálise com outros campos de saber, sempre nos mostrando que essa relação é necessária (distanciando-se de uma psicanálise purificada), mas, ainda assim, necessariamente conturbada, já que o discurso psicanalítico comportaria a dimensão da peste.
[10] FREUD, Sigmund (1917) “Uma dificuldade no caminho da psicanálise”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
[11] No trabalho de Lessa (2012) é apresentado de que modo uma sociedade construída por modelos
[12] LESSA, Sergio (2012) Abaixo a família monogâmica! São Paulo: Instituto Lukács.
[13] VASALLO, Brigitte (2022) O desafio poliamoroso: por uma nova política dos afetos. São Paulo: Editora Elefante, 2022.
[14] Um trabalho importante para pensar as dimensões afetivas envolvidas no registro de exclusividade, exceção, inveja, construções paranoicas em torno das rivalidades imaginárias (eu-outro), e o modo como isso afeta as dimensões políticas da cidade e das relações, é o seguinte livro: DUNKER, Christian Ingo Lenz (2016) Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. São Paulo: Boitempo.
[15] Sobre isso, ver a seguinte discussão sobre o amor romântico: FERNANDES, Rhuann; REZENDE, Claudia Barcellos (2021) A noção de pessoa ocidental como fundamento do amor romântico. Revista Anthropológicas, ano 25.
[16] Até 2005, o adultério constava no código penal brasileiro como um crime passível de encarceramento, demonstrando o modo como, no Brasil, as leis são inspiradas por determinações cristãs. No documentário intitulado Quem matou Eloá?, as estudiosas mostram como o ex-namorado de Eloá, autor do crime contra a garota, vai sendo compreendido e produzindo efeitos de identificação no público por se tratar de uma rapaz que sofria de ciúme, revelando uma certa cumplicidade social com o crime contra uma mulher “supostamente adúltera que abandona um homem”. PEREZ, Lívia (dir.). (2015) Quem Matou Eloá?, Brasil, Doctela. 24 min., son., color.
[17] Em algumas páginas evangélicas da rede Instagram, há vários vídeos de pastores ensinando homens e mulheres a evitarem situações de sedução. Por exemplo: aconselham os homens a evitarem dar carona para colegas de trabalho para se esquivarem de situações de sedução que podem vir a acontecer nesse espaço privado do carro.
[18] ENGELS, Friedrich (1884) A origem da família, do Estado e da propriedade privada. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
[19] LESSA, Sergio (2012) Abaixo a família monogâmica! São Paulo: Instituto Lukács, p. 21.
[20] LEACOCK, Eleanor Burke (2019) Mitos da dominação masculina: uma coletânea de artigos sobre as mulheres numa perspectiva transcultural. São Paulo: Instituto Lukács, p. 272.
[21] ENGELS, Friedrich (1884) A origem da família, do Estado e da propriedade privada. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019, p. 90.
[22] FREUD, Sigmund (1912) “Sobre a mais comum depreciação da vida amorosa”. In: Obras completas, vol. 9. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
[23] FREUD, Sigmund (1912) “Sobre a mais comum depreciação da vida amorosa”. In: Obras completas, vol. 9. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 276.
[24] FREUD, Sigmund (1912) “Sobre a mais comum depreciação da vida amorosa”. In: Obras completas, vol. 9. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 278.
[25] GONZALEZ, Lélia (1984) “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. Revista ciências sociais hoje, 2(1), pp. 223-244.
[26] GONZALEZ, Lelia (1984) Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista ciências sociais hoje, 2(1), p. 234.
[27] FERNANDES, Rhuann (2022) Negritude e não monogamia. Rio de Janeiro: Áfricas/Faperj.
[28] FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
[29] Ver <www.sexoerelacionamento.org>.
[30] BROKAW, Cary; NICHOLS, Mike (2004). Closer – perto demais. EUA-Inglaterra, 2004, 1h44min.
[31] Para mais sobre isso, ver <https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2018/08/15/por-que-a-sutil-arte-de-ligar-o-foda-se-e-o-livro-mais-vendido-no-brasil.ghtml>. Trata-se de um livro, no estilo autoajuda, que é considerado uma espécie de “tapa na cara” dos leitores, por propagar ideias como “você não é especial como imagina” e “você precisa se preocupar com os verdadeiros problemas, e não pequenas coisas que não estão no seu controle”. Uma das intenções do autor era pra fazer uma espécie de contraponto àquilo que ele chama de “masturbação good vibes”.
[32] FOUCAULT, Michel (original) História da sexualidade I: a vontade de saber, 13. ed. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque Rio de Janeiro: Graal, 1999, p. 15.
[33] LACAN, Jacques. (1953). “Função e campo da fala e da linguagem em psicanalise”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, pp. 238-324.
[34] LISPECTOR, Clarice (1978) Um sopro de vida. Rio de Janeiro, Rocco, 1999.
[35] Palavra má aqui considerada pela perspectiva inconsciente: vinculada menos a uma dimensão teológica da maldade do que ao sentido de maldita, daquilo que age à revelia do meu próprio eu.
[36] Quando dizemos que algo é contingente, dizemos não só que acontece sem que soubéssemos ser possível, mas que só depois que acontece é que descobrimos sua possibilidade, ou seja, precisa acontecer pra revelar sua possibilidade. Para mais sobre isso, ver: TUPINAMBÁ, Gabriel (2014) “A psicanálise é um trabalho? Uma profissão impossível e o conceito marxista de trabalho”. Tempo Psicanalítico, 46 (1), pp. 27-43.
[37] LACAN, Jacques. (1960). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Escritos (V. Ribeiro, trad., pp. 807-842). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1998.
[38] FARIA, Michele (2003) Constituição do sujeito e estrutura familiar: o Complexo de Édipo de Freud a Lacan. São Paulo: Cabral Editora.
[39] Sobre o tema da solidão, sugiro a leitura do texto de Isabel Tatit intitulado “Do discurso de isolamento a uma experiencia de solidão”. TATIT, Isabel (2012) Do discurso de isolamento a uma experiência de solidão. Dissertação de mestrado em Psicologia Social – PUCSP. São Paulo.
[40] NÚÑEZ, Geni (2023) Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo: Planeta do Brasil.
[41] HOOKS, Bell (2000) O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
[42] LACAN, Jacques (1981) Estou falando com as paredes. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | BARBOSA, Bárbara Cristina Souza (2024) Relações não-monogâmicas como tentativa de cura. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -16, p. 2, 2024. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2024/08/01/n-16-02/>.