por Camila Prandini Prandini e Daniel Kupermann
Introdução
Este artigo nasce de uma pesquisa de mestrado realizada no Programa de pós-graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo[1], na qual foram realizadas entrevistas semi-dirigidas com três defensoras de direitos humanos, duas mulheres negras e uma indígena. A pesquisa partiu de inquietações suscitadas pela prática no atendimento clínico e buscou colaborar com o debate sobre a saúde mental das defensoras de direitos humanos. Esperamos, ao longo do argumento, tecer uma compreensão possível sobre o sofrimento psíquico destas mulheres a partir de elaborações oriundas do campo da psicanálise e, em especial, da traumatogênese ferencziana.
O trabalho no enfrentamento às violações de direitos humanos implica em altos riscos para aqueles que o desempenham. O Brasil já foi considerado um dos países mais perigosos do mundo para as defensoras e defensores de direitos humanos, sendo os assassinatos e ataques a defensores apontados como um problema crônico[2]. Dados coletados pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) sobre o assassinato de defensores de direitos humanos no mundo pintam o mesmo cenário[3].
Segundo o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), as ameaças a defensores de direitos humanos têm sido utilizadas para intimidar a eles, suas famílias, comunidades ou aliados(as), com o intuito de inibir a atuação individual e coletiva. “As ameaças às PDDHs [Pessoas Defensoras de Direitos Humanos] podem fazê-las limitar, mudar ou cessar suas atividades; perturbar sua vida cotidiana e a de suas famílias, comunidades e aliados(as); estigmatizá-las, colocá-las em perigo e ter um efeito amedrontador sobre outras PDDHs. Ademais, as ameaças geram impactos duradouros, inclusive ao longo da vida, sobre as PDDHs”[4]. Além de em si já constituirem uma grave violação de direitos humanos, as ameaças “afetam a integridade psicológica e física das PDDHs” e têm um “grave impacto moral e psicológico” sobre quem as recebe[5].
As organizações Terra de Direitos e a Justiça Global, que atuam pela defesa e promoção dos direitos humanos no Brasil, fizeram um levantamento dos casos de violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no período de 2019 a 2022. Nele, foram mapeados 1.171 casos de violências contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil, sendo 169 assassinatos, média de 3 defensoras e defensores assassinados por mês. Dentre as violências mapeadas, estão contempladas: casos de ameaças, agressões físicas, assassinatos, atentados, criminalização, deslegitimação, importunação sexual e suicídio[6].
O termo “defensor(a) de direitos humanos” (DDH) é utilizado para se referir a todas as pessoas que atuam na defesa de direitos, fazendo referência à “Declaração das Nações Unidas sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou Órgãos da Sociedade de Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais Universalmente Reconhecidos”, Resolução 53/144 da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1998, também conhecida como a “Declaração sobre defensores de direitos humanos”. A Declaração prevê, em seu Artigo 1º, que: “todas as pessoas têm o direito, individualmente e em associação com outras, de promover e lutar pela proteção e realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais a nível nacional e internacional”[7].
A definição de defensora de direitos humanos é ampla e contempla mulheres que podem atuar individual ou coletivamente para promover ou proteger um direito ou conjunto de direitos humanos. Para efeitos ilustrativos, Dantas (2021) enumera alguns exemplos de mulheres defensoras:
[…] defensoras do meio ambiente, feministas, educadoras, lideranças sindicais ou comunitárias, líderes espirituais ou de povos tradicionais (como lideranças indígenas ou quilombolas) mulheres na política institucional, jornalistas e comunicadores, artistas, empreendedoras, trabalhadoras rurais, profissionais do sistema de justiça, profissionais da saúde, todas podem ser defensoras de direitos humanos[8].
Assim, a nomenclatura, adotada pelas organizações internacionais e utilizada pelo governo brasileiro no desenvolvimento de políticas públicas[9], “abarca um universo de mulheres bastante diferentes entre si e lutas que apresentam singularidades em cada parte do território brasileiro”[10].
Para a ONU “o conceito de defensor/a de direitos humanos está mais relacionado à atividade exercida do que a critérios subjetivos ou auto identificação da pessoa como defensor/a. Não se exige nenhum tipo de “qualificação” ou “requisitos mínimos” para que alguém seja considerado defensor/a de direitos humanos”[11]. Desta forma, não é necessário que defensoras/es de direitos humanos se auto intitulam “defensoras/es” para serem reconhecidas como tal.
Embora nem todas as mulheres que atuam na defesa de direitos se identifiquem com o termo, por remeter a marcos legais internacionalmente reconhecidos, o seu uso tem se popularizado também entre os coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil. O termo ativistas também é comumente utilizado por estas mulheres ao se autonomear, bem como utilizado nos materiais produzidos pelos coletivos.
A partir da experiência de Prandini, co-autora deste artigo, junto à defensoras — sobre a qual falaremos mais adiante — e da revisão bibliográfica que realizamos, optamos por utilizar os dois termos, defensoras de direitos humanos (DDHs) e ativistas, para dialogar mais facilmente com os materiais produzidos sobre o tema.
Não utilizaremos os termos militante e militância por observarmos que, no universo acadêmico, o termo militante costuma ser empregado para se referir especificamente à militância político partidária ou a atuação junto a movimentos bastante estruturados, como o MST, o que não correspondem à realidade da maioria das defensoras com as quais tivemos contato. Os termos militante e militância, no entanto, podem aparecer na fala das entrevistadas.
Os defensores de direitos humanos sofrem violências de diversas ordens por conta de sua atuação política. No caso das mulheres, somam-se às violências sofridas pelos homens, as agressões na esfera privada, as ameaças de violência sexual, o descrédito social por conta de sua atuação, a desqualificação e as violências que sofrem dentro das próprias organizações em que atuam, como a marginalização e o silenciamento[12].
O Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) considera que embora a letalidade feminina seja inferior a masculina, equivalente a aproximadamente 10% do total de assassinatos[13], “as mulheres defensoras de direitos humanos enfrentam violências específicas em decorrência do gênero”[14] e chama atenção para o fato destas diferenças de gênero serem invisibilizadas[15].
Esta não é uma percepção isolada. Existe um “forte consenso entre as organizações de direitos humanos no sentido de que mulheres enfrentam desafios específicos com base em gênero e estão sujeitas a formas específicas de violência ou são afetadas por elas de modo particular”[16]. Ou seja, é fato que as defensoras sofrem violências específicas por serem mulheres.
Assim, o recorte de gênero é essencial para compreendermos as violências sofridas pelas mulheres defensoras e o seu sofrimento psíquico. Entretanto, como ressaltam Simone Cruz e Jelena Dordevic, este recorte, embora necessário, não é suficiente. Reconhecendo o estatuto estruturante do racismo em nossa sociedade, elas apontam para a necessidade de “examinar a inter-relação de opressões que as mulheres negras enfrentam”[17].
Pensar interseccionalmente implica em reconhecer que “as intersecções das estruturas de opressão de raça, gênero e classe intensificam processos de violência a partir da posição que as e os sujeitos, individuais ou coletivos, ocupam”[18]. É necessário lembrar, no entanto, que as interseccionalidades não se referem a um “somatório de diferentes opressões, mas como elas se entrecruzam e adquirem conformações específicas para certos grupos”[19]. Assim, ao buscarmos avançar em nossa compreensão sobre o sofrimento psíquico das mulheres defensoras, buscaremos fazê-lo a partir de uma mirada interseccional.
A discussão sobre a saúde mental das mulheres defensoras tem sido feita sobretudo pelos próprios coletivos e organizações de defensoras, sendo escassas as produções sobre o tema dentro do universo acadêmico. Como consideramos em outro trabalho:
A preocupação com a saúde mental das mulheres defensoras de direitos humanos não é novidade para os coletivos e organizações feministas. Ela se origina da percepção compartilhada das defensoras de seu estado de cansaço e esgotamento diante das demandas e violações sofridas, o que por vezes resulta na suspensão de suas atividades políticas. Ainda que o termo “saúde mental” não seja comumente usado, a discussão sobre a saúde mental das defensoras tem sido feita empregando os termos “cuidado”, “autocuidado” e “cuidado coletivo”[20].
Transcrevemos a seguir uma fala de Rogéria Peixinho registrada em texto de Simone Cruz e Jelena Dordevic, todas integrantes do Coletivo Feminista de Autocuidado e Cuidado entre Defensoras de Direitos Humanos, que ilustra bem como esta preocupação com a saúde mental surge nos coletivos:
Olhando para o “nosso mundo”, percebemos que muitas de nós, depois de anos vivendo e trabalhando como ativistas, sentimo-nos exaustas, desiludidas, não conectadas, sem saber o significado de tudo isso, enfim, cansadas! Algumas de nós já decidiram deixar os espaços onde estávamos atuando, outras ficaram doentes, algumas já disseram “não tenho mais nada para dar, eu preciso cuidar de mim mesma para ser capaz de continuar nossa luta feminista e antirracista”, e outras não encontram formas de se fortalecer. Estas histórias que já ouvimos de muitas ativistas/feministas com as quais partilhamos espaços de organização e articulação do movimento nos colocam em xeque[21].
É portanto nos próprios movimentos de mulheres defensoras que surge a discussão sobre o seu sofrimento e a consequente necessidade de práticas de cuidado. Começa-se a fazer a seguinte pergunta: “o que podemos fazer para tornar nossas lutas sustentáveis, sem sacrificar nossa vida?”[22].
Diante da constatação da uma forma de fazer ativismo que tem sistematicamente levado as mulheres ao esgotamento, o cuidado e autocuidado surgem como uma esperança para as mulheres defensoras de direitos humanos[23]. Os coletivos passam a reconhecer o papel vital do cuidado — tanto individual como coletivo — para a suas lutas e a colocá-lo como uma preocupação central[24].
A partir desta perspectiva que coloca o cuidado como preocupação central dos coletivos, considerando-o fundamental para a garantia da vida das defensoras e para a continuidade de sua atuação política, nascem importantes iniciativas voltadas ao cuidado das defensoras. Entre estas iniciativas está o projeto da ONU Mulheres, do qual um de nós fez parte, e do qual falaremos mais adiante. Destacamos também como referências os trabalhos e publicações brasileiras do Coletivo Feminista de Autocuidado e Cuidado entre Defensoras de Direitos Humanos (CFACDDH), do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), do Instituto Zé Claudio e Maria, bem como de organizações latino-americanas, como a Iniciativa Mesoamericana de Mujeres Defensoras de Derechos Humanos (IM-D) e o Fondo de Acción Urgente: America Latina y el Caribe (FAU)[25].
Reconhecemos que as defensoras de direitos humanos desempenham “um papel fundamental na defesa dos direitos humanos, da democracia, do desenvolvimento e da paz”[26] e que sem o seu trabalho ativo na defesa dos próprios direitos e dos direitos de outras pessoas “a sociedade perderia uma força vital para a efetiva garantia dos direitos, da democracia e do Estado de Direito”[27]. Assim, se a saúde mental das mulheres defensoras é “indispensável para a continuidade de sua atuação na luta por direitos, e, portanto, para a garantia da democracia e do Estado de Direito”, ela “deve ser considerada como uma questão fundamental e urgente no campo dos direitos humanos”[28].
Prandini, co-autora deste artigo, participou do Projeto da ONU Mulheres “Conectando Mulheres, Defendendo Direitos”[29], voltado para o fortalecimento da atuação de DDHs por meio de diferentes ações, em dois momentos distintos. Entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021, participou do “Projeto Piloto de Promoção e Cuidado em Saúde Mental para Mulheres Defensoras de Direitos Humanos” e, entre o segundo semestre de 2023 e o primeiro semestre de 2024, assumiu uma consultoria sobre a questão da Saúde Mental das defensoras. A mesma autora também iniciou em 2020 e realiza até hoje atendimentos individuais a mulheres defensoras na clínica. É desta experiência no atendimento às DDHs que surge o interesse por este tema de pesquisa.
Durante a pandemia e o governo de Jair Bolsonaro, em um contexto de “escalada da retórica contrária aos direitos humanos”[30], de aprofundamento das desigualdades sociais, aumento das violências contra as mulheres e aumento dos riscos para as pessoas defensoras de direitos humanos[31], houve um expressivo crescimento na busca das mulheres defensoras por cuidados em saúde mental. O Projeto Piloto foi uma resposta da ONU Mulheres frente a esta demanda.
Objetivando o acolhimento, o mapeamento de demandas e a proposição, a partir do diálogo com as participantes, de dispositivos clínico-políticos de promoção e cuidado em saúde mental, foram realizados grupos remotos como mulheres defensoras de direitos humanos de todo o Brasil. Participamos da idealização, proposição, execução e avaliação do projeto, tendo coordenado grupos com mulheres defensoras.
No final de 2023 e começo de 2024, já durante a realização desta pesquisa, Prandini realizou uma consultoria para ONU Mulheres sobre a saúde mental das mulheres defensoras cuja principal entrega foi a produção de um documento escrito sobre o assunto, que deve ser publicado em breve. O material intitula-se “Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo” e busca promover a reflexão e democratizar o acesso ao que vem sendo produzido sobre o assunto.
Para a elaboração deste material foi realizada uma revisão da literatura produzida sobre a temática pelos próprios coletivos de defensoras. Além disso, como consultora da ONU Mulheres, Prandini mediou uma roda de conversa com aproximadamente 35 mulheres defensoras sobre a temática da saúde mental, dialogou com mulheres de diferentes coletivos e organizações e realizou diversos acolhimentos a mulheres defensoras durante os três dias do I Encontro Nacional de Mulheres Defensoras de Direitos Humanos, organizado pela ONU Mulheres em Brasília em janeiro de 2024.
Esta experiência atuando junto a mulheres defensoras nos colocou diante da complexidade da discussão sobre a sua saúde mental. Compreender o contexto de violências em que vivem e nos aproximarmos das produções dos próprios coletivos de defensoras, nos parece o único ponto de partida possível para evitar uma abordagem sobre o assunto que patologize o ativismo ou considere que a atuação política é sempre iatrogênica.
É importante que não percamos de vista o lugar de onde falamos e desejamos que o leitor tenha isso em mente ao acompanhar nosso trajeto nas próximas páginas. Nos aproximamos desta discussão a partir do lugar de quem oferta cuidado e é para qualificar este cuidado que nos propusemos a fazer esta pesquisa. Ora, se uma leitura social é fundamental para compreendermos o sofrimento das mulheres defensoras e o lugar que nos situamos inevitavelmente atravessará nossas interpretações, faz-se necessário que o leitor saiba a quem está lendo: uma mulher e um homem, ambos cisgênero, brancos, de classe média e psicólogos/psicanalistas. Se a compreensão sobre o contexto de violência em que estas mulheres vivem é o ponto de partida para qualquer consideração sobre a sua saúde mental, esta não deve ser abordada do ponto de vista de uma constituição psíquica mas a partir de teorias que destacam o lugar do social na produção do sofrimento. Neste sentido, apostamos na teoria ferencziana sobre o trauma como uma ferramenta de leitura possível, uma vez em reconhece a exterioridade do evento traumático e dá ênfase ao papel da alteridade na instauração do trauma. Qual o lugar das violências sofridas, experiências potencialmente traumáticas, na vida destas mulheres? Que relações estas experiências têm com o seu fazer político?
Para Jelena Dordevic, há uma relação evidente entre a vivência do traumático e o engajamento político. Ela afirma que, em sua atuação, as defensoras — coletividade na qual ela se inclui — lidam com “as marcas dos traumas em nós mesmas”, e que “existe uma forte ligação entre a cura da nossa história e a nossa própria cura”[32]. Ora, seria possível afirmar que as defensoras costumam ter vivido situações traumáticas relacionadas ao tema de sua atuação política? Nas palavras de Jelena Dordevic:
Muitas de nós aderimos ao ativismo devido à violência que sofremos ou contra a violência cometida contra os nossos povos. Vivenciamos pessoalmente ou testemunhamos essa violência por gerações nas nossas famílias. Esta vivência é sentida nos nossos corpos[33].
Adriana Vianna e Juliana Farias, duas sociólogas que estudam o movimento de mães que tiveram os seus filhos mortos pela polícia e que lutam por justiça, também reconhecem a existência de relação entre as vivências pessoais e a atuação política dessas mulheres. As autoras ponderam que o mais desafiador a ser observado seria justamente “a competência dessas mulheres e homens para se moverem nesse duplo limite político da perda pessoal e da ação coletiva, dos vivos e dos mortos, da contenção e do desvario”[34].
Buscamos, a partir da análise das entrevistas, aprofundar a reflexão sobre a relação entre trauma e ativismo. De saída, nos pareceria possível pensar a mobilização política que se segue a vivência de um trauma como uma tentativa de elaboração da situação traumática vivida, absolutamente adaptada à realidade. No entanto, será esta uma explicação suficiente? Se a atividade política se constituísse como forma eficaz de elaboração, persistiria o sofrimento? Dordevic pondera que se, por uma lado, “existe uma forte ligação entre a cura da nossa história e a nossa própria cura”[35], por outro, “estes traumas são feridas abertas, impedindo que avancemos em nossas causas ativistas”[36]. Nos deparamos novamente com a complexidade da discussão que nos propusemos a fazer.
Encerramos esta breve introdução não com afirmações pacificadoras, mas com perguntas que nos orientarão em nosso percurso. Ora, de que modo podemos entender o sofrimento destas mulheres? Como fazer uma leitura deste sofrimento sem perder de vista os fatores externos (marcadores sociais da diferença) — como gênero, raça, classe e sexualidade — que certamente contribuem para esse estado de esgotamento relatado pelas defensoras? Qual o lugar e a função do ativismo na vida destas mulheres? O sofrimento e o adoecimento têm relação com as violações sofridas ou com a natureza da relação que estabelecem com a sua atuação política? Qual o papel do ativismo na elaboração das situações traumáticas vividas por elas? Poderia a psicanálise nos ajudar a compreender este sofrimento?
Esperamos poder, com este trabalho, contribuir para o debate sobre a saúde mental das mulheres defensoras, tecendo, a partir de elaborações vindas do campo da psicanálise e em especial da traumatogênese ferencziana, uma leitura possível sobre o seu sofrimento. Sabemos, no entanto, que este seguirá sendo um campo em que haverá mais perguntas do que respostas.
O Trauma Social em Ferenczi
A obra ferencziana, opera uma importante mudança na noção psicanalítica sobre o trauma e o seu papel na produção de sofrimento psíquico. Ao conferir grande importância à alteridade na instauração do trauma, passar-se-ia do trauma sexual, constitutivo e estruturante, ao trauma social, patogênico e desestruturante[37].
Vejamos como isso se dá na obra do autor. Sándor Ferenczi pensa o trauma a partir do incesto, situação na qual aconteceria entre os adultos e a criança uma confusão de línguas: confundem-se a linguagem da paixão e a linguagem da ternura. A linguagem da ternura é própria da criança, que “tem fantasias lúdicas, como desempenhar um papel maternal em relação ao adulto”[38], para quem a interação se mantém “sempre no nível da ternura”, ainda que o jogo assuma “uma forma erótica”[39]. Os adultos, por sua vez, submetidos à linguagem da paixão, “confundem as brincadeiras infantis com os desejos de uma pessoa que atingiu a maturidade sexual, e deixam-se arrastar para a prática de atos sexuais sem pensar nas consequências”[40].
Osmo e Kupermann (2012) explicam que, ao empregar o termo linguagem da paixão, Ferenczi refere-se “ao que seria próprio da onipotência narcísica do adulto”, sendo a palavra paixão empregada “em um sentido de exagero ou de abuso”. Por outro lado, “a língua da ternura, que é própria da criança, é a língua do lúdico” e deve ser compreendida “não como ausência de sexualidade, mas como anterior à sexualidade sob o primado genital”[41].
Esta confusão, no entanto, não seria mais do que um pano de fundo para a instauração do trauma social. Kupermann organiza a traumatogênese ferencziana em três tempos: (1) o tempo do indizível, (2) o tempo do testemunho e (3) o tempo do desmentido[42].
O primeiro tempo, do indizível, refere-se ao momento em que a criança sofre uma violência que “age de forma esmagadora sobre o sujeito, de maneira que ele não pode oferecer resistência”[43]. Esta violência sofrida, “ato deflagrador de dor e de um excesso de excitação irrepresentável”[44], “promove choque e dor, mas ainda não o trauma”[45]. “O choque”, diz Ferenczi, “é equivalente à aniquilação do sentimento de si, da capacidade de resistir, agir e pensar com vistas à defesa do si mesmo”[46]. O primeiro tempo refere-se, portanto, ao momento em que ocorre uma violência e a pessoa que a sofreu, por estar em choque, não consegue reagir a esta violência e tampouco nomeá-la — daí o nome: tempo do indizível. Embora Ferenczi se refira muitas vezes a experiências de sedução incestuosa, de punição passional ou abandono, “é importante procurar não restringir esse acontecimento a um determinado tipo de experiência”[47]. Ou seja, embora o exemplo utilizado por Ferenczi para desenvolver sua teoria sobre o trauma seja o da violência sexual cometida por um adulto contra uma criança, a violência sofrida pode ser de qualquer ordem, não restringindo-se a violência sexual. Da mesma forma, vale lembrar que a vítima desta violência não necessariamente será uma criança, podendo também ser um adulto. A criança, em sua teoria, representa o sujeito em estado de vulnerabilidade.
Já o segundo tempo, do testemunho, faz referência ao movimento do violado “mais ou menos explícito, em direção a outro em quem confia”[48] em busca de um sentido para a experiência vivida. Neste momento, “a criança está confusa, ela nada pode dizer sobre o que aconteceu. Por conta disso, ela vai buscar junto a alguém de confiança algum sentido, ou ao menos um testemunho”[49]. “Tomada pela irrupção da angústia traumática, a criança, em função de sua tendência à simbolização, buscará uma segunda pessoa de confiança […] para auxiliá-la a nomear o indizível”[50]. Trata-se de uma “tentativa de produzir uma versão própria para o que foi vivido como injúria”[51], “de um apelo ao reconhecimento da própria dor, de uma tentativa de testemunhar perante a presença sensível do outro o ultraje sofrido”[52]. O segundo tempo refere-se, portanto, ao momento em que a pessoa que sofreu uma violência, ainda confusa, busca uma segunda pessoa de confiança que possa ajudá-la a dar um sentido e a nomear a violência que ela viveu.
Por fim, o terceiro tempo, é o tempo do desmentido (Verleugnung). Nas palavras de Ferenczi: “o pior é realmente a negação [Verleugnung[53]], a afirmação de que não aconteceu nada, de que não houve sofrimento […] é isso, sobretudo, o que torna o traumatismo patogênico”[54]. Assim, o trauma torna-se efetivamente desestruturante “quando se configura o abandono daquele que fora requisitado para autenticar e significar a violação por meio do reconhecimento da dor”[55], quando a segunda pessoa de confiança desmente a versão do violado, esta última “geralmente apenas esboçada, em função de sua inaptidão para nomear o indizível” (idem).
Recorrendo às palavras de Jô Gondar, comentando esse momento da traumatogênse ferencziana, lemos:
Sem ter o seu relato, o seu sofrimento ou a sua própria percepção das coisas reconhecida, a criança passa a duvidar do que houve, do que sente, do que percebe no mundo. O desmentido não é só uma questão de palavra: são os afetos de um sujeito, o seu sofrimento, e ele próprio enquanto sujeito que está sendo desmentido. Ferenczi vai então dizer que nessa cena o momento traumático não é o da violência física que o sujeito sofre, e sim o do desmentido de seu sofrimento. Esse desmentido conduz ao aniquilamento subjetivo e ao trauma invalidante[56].
Para Ferenczi, “não existe choque, nem pavor, sem um anúncio de clivagem da personalidade”[57]. No entanto, é a partir do desmentido do testemunho que a autoclivagem narcísica se estabelece de forma definitiva.
Nas palavras de Ferenczi, o processo de autoclivagem narcísica consistiria na “clivagem da pessoa em uma parte sensível, brutalmente destruída, e uma outra que, de certo modo, sabe tudo mas nada sente”[58]. A criança se dividiria assim “entre uma parte identificada com o agressor que “tudo sabe” e sua parte sensível destruída”[59].
Diante da situação traumática o sujeito criaria, por meio da clivagem, “uma instância autoperceptiva no sentido de substituir, ele próprio, seus cuidadores ausentes”[60]. Assim, “uma parte da sua própria pessoa começa a desempenhar o papel da mãe ou do pai com a outra parte”[61] numa tentativa de tornar o abandono sofrido “nulo e sem efeito”.
Assim, a instauração do trauma patogênico e a clivagem narcísica que lhe é característica tem como efeitos mais nefastos “o comprometimento da convicção das próprias percepções e a anestesia da afetividade”[62].
Do trauma à atividade política: “A fome de justiça se cura na atividade”
Em nossa introdução aventamos, a partir de falas de Jelena Dordevic, a possibilidade de haver uma relação entre a vivência de uma situação traumática e o engajamento político. O ativismo seria, assim, uma forma que as defensoras encontram para lidar com as marcas dos traumas em si mesmas. Ora, seria possível afirmar que as defensoras costumam ter vivido situações traumáticas relacionadas ao tema de sua atuação política, ou ainda, que é justamente por conta das violência que sofreram que se envolveram em suas lutas?
A partir não apenas das colocações de Jelena Dordevic, mas do encontrado em outros materiais sobre a saúde mental das mulheres defensoras e das escutas clínicas que realizamos destas mulheres, já supúnhamos ser possível estabelecer uma relação entre a vivência de violências e o envolvimento com o ativismo, no entanto, esta suposição deveria ser cotejada com o conteúdo das falas da entrevistadas. Destacamos aqui uma fala de Jurema[63], uma das entrevistas, sobre o seu envolvimento com o fazer político: “Mulher… eu acho que eu nasci ativista […] A gente cresce passando por privações de direitos, e essa privação de direito nos deixa com fome de justiça. E a fome de justiça se cura na atividade mesmo, sabe?”.
Identificamos a presença desta relação entre a vivência de violências e o engajamento em atividades políticas na fala das três defensoras que participaram da pesquisa. Assim, nos parece seguro afirmar que as defensoras costumam atuar com temáticas relacionadas com violências sofridas por elas ou por suas comunidades, violências cometidas contra os seus povos.
As violências que levam estas mulheres à atuação política não são as únicas sofridas pelas defensoras, que também sofrem novas violências durante e por conta de sua atuação. Por serem invisibilizadas no debate público e, o que é ainda mais grave, perpetradas e/ou encobertas por agentes estatais, consideramos que as violências cometidas contra as mulheres defensoras de direitos humanos são socialmente desmentidas no Brasil. Assim, tornando-se traumáticas, estas violências podem levar à anestesia da afetividade e ao abalo da convicção nas próprias percepções.
Ora, se reconhecermos que é a vivência de uma situação traumática que leva estas mulheres ao ativismo, qual será a relação que estabelecem com o fazer político? Seria o ativismo uma busca pela legitimação do testemunho que foi desmentido no terceiro tempo do trauma? Seriam as marcas do trauma vivido curadas na atividade política?
A legitimação do testemunho e a ação diante da verdadeira fonte conflitual: seria o ativismo uma cura?
Se uma mulher defensora passou por uma situação de violência que foi desmentida, tornando-se traumática, e não mais confia em suas percepções, juntar-se a um coletivo que reconhece a violência por ela vivida e legitima o seu testemunho, poderia ter o efeito de restabelecimento da convicção em suas próprias percepções. Ora, se uma defensora encontra no ativismo a legitimação de seu testemunho, seria possível pensar o ativismo não como um fator causador de sofrimento, mas, pelo contrário, como promotor de saúde mental para mulheres que passaram por situações traumáticas.
Poderíamos ainda recorrer às proposições de Fanon. Para ele, “é na exata medida em que essa sociedade lhe cria dificuldades que ele [o negro/o indígena] se vê colocado numa situação neurótica”[64], ou seja, é a situação em que a pessoa se encontra que é neurótica, ou melhor, neurotizante, causadora de sofrimento, e não a pessoa. Seria então necessário auxiliar o paciente a encontrar a fonte de seu conflito e, se for identificado que é o mundo exterior que lhe adoece, colocá-lo em condições de reconhecer as fontes de seu sofrimento e optar agir ou não sobre elas. Nas palavras de Fanon: “meu objetivo será, uma vez elucidados os motivos, colocá-lo em condições de escolher a ação (ou a passividade) diante da verdadeira fonte conflitual – isto é, diante das estruturas sociais”[65].
Fanon não dirá à pessoa que sofre racismo para “permanecer no lugar que lhe foi destinado” e que lhe causa sofrimento — “Não direi nada disso!”[66] — ao contrário, ele auxiliará a pessoa a identificar que a sociedade é a responsável pelo seu sofrimento. Por fim, considera ele: “Levar o homem a ser acional […] é a principal urgência daquele que, depois de ter refletido, prepara-se para agir”[67].
Estas considerações de Fanon nos ajudam a pensar o ativismo. Sabemos que a sociedade é a responsável pelas situações violentas e causadoras de sofrimento a que estão submetidas as mulheres defensoras de direitos humanos e que essas violências são ademais desmentidas. Sabemos ainda que a determinação destas violências e do desmentido que paira sobre elas relaciona-se com os fenômenos do racismo, do sexismo e do classismo. De acordo com as proposições de Fanon, auxiliar na identificação da origem exterior do sofrimento — a saber: as estruturas sociais — e poder agir sobre elas ao invés de agir apenas sobre si mesmo consistiria em uma saída privilegiada da situação neurótica. Ora, não advém o ativismo justamente da correta identificação da fonte exterior causadora de sofrimento? Não seria portanto o ativismo uma forma de agir sobre a verdadeira origem de seu sofrimento? Seria então possível considerar o ativismo como uma saída privilegiada da situação neurotizante?
Se o ativismo proporciona a autorização do testemunho que foi anteriormente desmentido e se ele ainda consiste na correta identificação da origem exterior do sofrimento e a ação sobre ela, seriam as marcas do trauma vivido curadas na atividade política?
Se, por um lado, reconhecemos que o ativismo é potencialmente promotor de saúde mental e consiste em uma saída privilegiada da situação neurotizante, por outro, não consideramos possível afirmar que em si ele constituiria uma cura para o sofrimento das mulheres defensoras. Uma vez que partimos de relatos clínicos e de uma vasta produção, advinda dos próprios coletivos de defensoras, testemunhando sobre seu adoecimento, reconhecer que o ativismo é sim uma atividade promotora de saúde mental parece complexificar ainda mais a nossa questão. Consideramos que não é o ativismo em si que cura, assim como não é o ativismo em si que provoca sofrimento e adoece. Seguimos então com a nossa questão: como fazer uma leitura possível do sofrimento das mulheres defensoras de direitos humanos?
Entre desmentidos e autorizações: uma leitura possível da produção do sofrimento psíquico.
Não há uma leitura simples para o sofrimento experienciado pelas mulheres defensoras em sua atuação política. Mais de uma vez evocamos uma leitura possível para, logo em seguida, constatarmos sua insuficiência. Talvez nisso consista o exercício do pensamento, rascunhar leituras já enunciado suas limitações. O fenômeno parece ter sempre algo que nos escapa e, se não quisermos agir como Procusto[68], devemos reconhecer as rebarbas e considerá-las parte integrante de nosso trabalho.
Refaçamos rapidamente nossos passos até aqui. A partir da realização de entrevistas com mulheres defensoras de direitos humanos e da teoria ferencziana sobre o trauma, estabelecemos que as defensoras costumam atuar com temáticas relacionadas a vivências traumáticas vividas ou testemunhadas por elas. Reconhecemos que elas experimentam um sofrimento psíquico e que este pode estar estar relacionado às violências que as levaram à atividade política e às novas violências que sofrem durante sua atuação. Consideramos que as violências sofridas por elas são socialmente desmentidas, podendo levar a instauração dos efeitos do trauma patogênico, como a anestesia da afetividade e o abalo da convicção nas próprias percepções. E, quando parecia que estávamos chegando a uma leitura possível sobre o seu sofrimento — a saber: que ele seria resultante das experiências de violências desmentidas que elas sofrem antes e durante a sua atuação política —, dissemos que elas encontrariam no ativismo uma forma possível de elaboração das experiências vividas, pois ele oportuniza a legitimação do seu testemunho anteriormente negado, a correta identificação da fonte exterior causadora de seu sofrimento e a possibilidade de agir sobre ela. Consideramos, por fim, que não é o ativismo em si que cura, assim como não é o ativismo em si que provoca sofrimento e adoece.
Destacamos aqui a importância desta afirmação: não é o ativismo que adoece. Reconhecer isto é essencial para compreendermos o sofrimento das mulheres defensoras sem incorrer no erro de patologizar o ativismo, qualificando então nosso manejo ao atendê-las. Ainda que uma mulher que atue na defesa de direitos chegue à nossa clínica em grande sofrimento e possa, à primeira vista, nos parecer que este sofrimento advém do fazer político, devemos ficar atentos: o fazer político tem muitas implicações mas ele não é em si iatrogênico, ou seja, adoecedor. Já atendemos na clínica mulheres defensoras que, ao buscarem atendimento, ouviram de profissionais da psicologia algo como “se você está sofrendo no ativismo, então a solução para o seu sofrimento seria sair do ativismo”. Esta proposição não apenas levou à suspensão dos atendimentos, mas revela um profundo desconhecimento da natureza da relação que as defensoras estabelecem com o seu fazer político. Trazemos aqui uma fala da entrevistada Tuca Telles para nos ajudar na construção desta ressalva. Ao ser perguntada sobre o motivo do ativismo ser importante para ela, responde:
Tuca Telles: Olha, tem um tempo que eu pensava que talvez era para segurar a minha cabeça. Funciona para segurar a cabeça justamente quando falta sentido na vida. […] o ativismo faz tu pensar que está fazendo alguma coisa. Fazendo alguma coisa, mesmo que tu saibas que muitas coisas são realmente placebo. […] É crença para segurar a cabeça, na minha opinião.
O ativismo segura a cabeça quando falta sentido na vida e confere ao sujeito um lugar de tomada de ação. Esta compreensão de que o ativismo é carregado de sentido para estas mulheres, que dá sentido às suas vidas, é fundamental para complexificar nossa visão sobre o seu sofrimento. Parece haver uma ambiguidade na relação que as defensoras estabelecem com o fazer político. Vejamos como esta ambiguidade aparece em uma fala de Catarina quando perguntada se considera que o seu sofrimento teria relação com o seu ativismo:
Catarina: Não, porque eu me sinto feliz fazendo isso, eu não me vejo fazendo outra coisa. Pelo contrário: acho que é a conjuntura mesmo nacional […] de violação de direito, de negação de direito […] [dentro do movimento] a gente aprende muito com o outro, e a relação que a gente tem é uma relação mesmo de família, de amor mesmo, de cuidado […] A gente tem momentos de choro, de angústia, de ansiedade, mas a gente também tem muitos momentos de acolhimento, de amor, de partilha mesmo, de sorriso.
Catarina se sente feliz em sua atuação política e diz ainda que não se vê fazendo outra coisa, ao mesmo tempo em que conta de experiências de choro, angústia e ansiedade dentro do movimento. Ela considera ainda que não é o ativismo que a faz sofrer, mas a conjuntura nacional. Sua fala traz uma dimensão da complexidade e da ambiguidade da relação que as defensoras têm com o fazer político.
Consideramos que a atuação política implica tanto em autorizações quanto em desmentidos do testemunho do violado, que acontecem e se sobrepõem em diferentes esferas e com a participação de atores diversos, acrescidos da reincidência de violências, ora vivenciadas no corpo e ora testemunhadas. Poderíamos dizer então que há um desmentido social que acontece ao mesmo tempo em que se dá a autorização do testemunho sobre as violências sofridas. Ressaltamos ainda que, tanto as novas violências sofridas quanto o desmentido do testemunho sobre elas, são interseccionalmente determinados.
Observamos assim, que há um adoecimento relacionado ao ativismo mas que, no entanto, não advém dele. Sabemos que as mulheres defensoras de direitos humanos sofrem novas violências por conta de sua atuação e, a partir da leitura ferencziana sobre o trauma, observamos que, durante a sua atuação política, coexistem autorizações e desmentidos dos seus testemunhos sobre as violências de que foram e são vítimas. Propomos então que esta situação, em que os testemunhos das defensoras são constante e simultaneamente autorizados e desmentidos, contribui significativamente na produção do sofrimento psíquico experimentado por elas. A própria situação — em que diz-se ao sujeito que é vítima de diversas violências que estas violências e os sentimentos que delas decorrem são legítimos para, em seguida, negá-los outra vez — é neurotizante, causadora de sofrimento, enlouquecedora.
Esta leitura não é exata e não exclui a existência de outros fatores que contribuem na produção do sofrimento psíquico experimentado pelas mulheres defensoras de direitos humanos, mas a compreensão da complexidade do fenômeno certamente qualificará nossa escuta. Talvez o fenômeno não se encaixe perfeitamente na cama teórica que construímos até aqui, mas isso não deve ser um problema e sim uma motivação para que sigamos pesquisando.
Desta compreensão de que a situação em que coexistem autorizações e desmentidos do testemunho das DDHs é neurotizante, decorre a consideração de que, enquanto reinar o desmentido social sobre as violências vividas por estas mulheres, até mesmo reconhecimentos vindo por parte do Estado não passarão de documentos burocráticos. Se o reconhecimento estatal ocorre concomitantemente com o desmentido das violências cotidianas — que seguem sendo perpetradas inclusive por atores estatais e desmentidas pela sociedade como um todo — ele não consistirá em reparação suficiente, pois a situação segue sendo neurotizante, adoecedora. O desmentido reinante faz com que tudo se passe como se estas violências não existissem, como se estas lutas não existissem, como se, em algum grau, essas mulheres não existissem.
Neste contexto, este sim profundamente iatrogênico, o ativismo parece ser justamente aquilo que traz sentido, que oportuniza alguma legitimação do testemunho e algum lugar no mundo que não o de vítima. O ativismo parece ser uma resistência saudável a uma situação enlouquecedora. A perversidade consiste no fato de que quanto mais as defensoras buscam testemunhar sobre as violências sofridas, mais se quer silenciá-las. E a manutenção do desmentido social colabora para que estas violências sigam acontecendo.
Ora, se as defensoras estão ameaçadas e silenciadas, e se o desmentido que paira sobre as suas experiências faz parte do mecanismo de manutenção das violências e da produção do sofrimento a que estão sujeitas, esperamos que esta pesquisa sirva de testemunho e denúncia. Que consigamos alcançar ao menos isso: trazer para a academia as experiências destas mulheres, podendo reconhecer e nomear a barbárie à qual ainda estão submetidas. ♦
REFERÊNCIAS
AI (Anistia Internacional). 2021. Informe 2020/21: O estado de direitos humanos no mundo.
Assembleia Geral da ONU. 1998. Declaração sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou Órgãos da Sociedade de Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais Universalmente Reconhecidos – Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1998. Disponível em: <https://www.ohchr.org/en/special-procedures/sr-human-rights-defenders/declaration-human-rights-defenders#:~:text=The%20declaration%3A,fundamental%20freedoms%20through%20peaceful%20means>. Acesso em: janeiro de 2024. Versão em português disponível em: <https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/Defenders/Declaration/declarationPortuguese.pdf>. Acesso em: janeiro de 2024.
CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2017. Vidas em Luta: criminalização e violência contra defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2016.
CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2021. Vidas em luta: criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2018-2020/1.
CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional). 2021. Protocolo La Esperanza. Versão em Português: 2023.
CFACDDH (Coletivo Feminista de Autocuidado e Cuidado Coletivo entre Defensoras de Direitos Humanos). 2023. Um olhar de dentro: autocuidado e cuidado coletivo entre defensoras de Direitos Humanos / [Jelena Dordevic…[et al.]]; organização: Louisa Huber, Michely Ribeiro, Simone Cruz ; ilustração: Isabella Alves. – 1. ed. – João Pessoa, PB: Livreditora.
CRUZ, Simone; DORDEVIC, Jelena. 2020. Proteção, autocuidado e segurança de defensoras de direitos humanos: Perspectiva de mulheres negras. SUR 30 – v.17 n.30. 247-257.
DANTAS, Maria Eduarda Borba. 2021. Dimensões da violência contra mulheres defensoras de direitos humanos no Brasil. ONU Mulheres, Entidade da Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres.
DORDEVIC, Jelena. 2015. “Yo solo pido un espacio pa’respirar”. In: Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA. Brasilia/DF. 35-43. 2015.
FANON, Frantz. 1952. Pele negra, máscaras brancas; traduzido por Sebastião Nascimento e colaboração de Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
FERENCZI, Sándor. 1931. “Análise de crianças com adultos”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011.
FERENCZI. 1931. Kinderanalysen mit Erwachsenen. Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 17(2), 161-175.
FERENCZI, Sándor. 1933. “Confusão de língua entre os adultos e a criança”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011.
FERENCZI, Sándor. 1934. “Reflexões sobre o Trauma”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011.
GONDAR, Jô. 2022. ”Um racismo desmentido”. In: Com Ferenczi – O coletivo na clínica: racismo, fragmentações, trânsitos/ Eliana Schueler Reis, Jo Gondar; coordenação Daniel Kupermann. – 1. ed. – São Paulo: Zagodoni, 2022.
IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2013. ¿Qué significa el autocuidado para las defensoras de derechos humanos? Diálogos entre nosotras.
IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2021. El pacto de Cuidarnos – Proteccion Integral Feminista 2010-2021: la proteccon integral feminista en mesoamerica desde la IM-defensoras.
IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2023. La Proteccion Integral Feminista (PIF).
KUPERMANN, Daniel. 2015. “A “desautorização” em Ferenczi: do trauma sexual ao trauma social” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017.
KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017.
KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni.
OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339.
PRANDINI, Camila Prandini. Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo. ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. No prelo.
TD; JG (Terra de Direitos; Justiça Global). 2023. Na linha de frente: violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil: 2019-2022. Coordenação: Alane Luiza da Silva [et al.]. – 1. ed. – Curitiba, PR: Terra de Direitos: Justiça Global – (Na linha de frente; 4).
VIANNA, Adriana; FARIA, Juliana. 2011. “A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional”. Cadernos Pagu (37), julho-dezembro, 79-116.
* Camila Prandini Prandini é Psicóloga (CRP 06/157432) e Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Atua como psicóloga clínica.
** Daniel Kupermann é Psicanalista, Professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador bolsista do CNPq – Brasil.
[1] Dissertação de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Daniel Kupermann e realizada com apoio do CNPq: “Ativismo e Sofrimento Psíquico: as mulheres defensoras de direitos humanos” (2024).
[2] AI (Anistia Internacional). 2021. Informe 2020/21: O estado de direitos humanos no mundo.
[3] Entre 2015 e 2019, foram registrados pelo ACNUDH um total de 1.323 assassinatos de defensores. Destes, 174 ocorreram no Brasil. Disponível em: <https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/mulheres-latinas-se-unem-pela-vida-das-defensoras-de-direitos-h umanos/23571>
[4] CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional). 2021. Protocolo La Esperanza. Versão em Português: 2023, p. 2.
[5] CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional). 2021. Protocolo La Esperanza. Versão em Português: 2023, p. 9.
[6] TD; JG (Terra de Direitos; Justiça Global). 2023. Na linha de frente: violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil: 2019-2022. Coordenação: Alane Luiza da Silva [et al.]. – 1. ed. – Curitiba, PR: Terra de Direitos: Justiça Global – (Na linha de frente; 4).
[7] Assembleia Geral da ONU. 1998. Declaração sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou Órgãos da Sociedade de Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais Universalmente Reconhecidos – Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1998. Disponível em: <https://www.ohchr.org/en/special-procedures/sr-human-rights-defenders/declaration-human-rights-defenders#:~:text=The%20declaration%3A,fundamental%20freedoms%20through%20peaceful%20means>. Acesso em: janeiro de 2024. Versão em português disponível em: <https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/Defenders/Declaration/declarationPortuguese.pdf>. Acesso em: janeiro de 2024.
[8] DANTAS, Maria Eduarda Borba. 2021. Dimensões da violência contra mulheres defensoras de direitos humanos no Brasil. ONU Mulheres, Entidade da Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, p. 26.
[9]A saber: no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH); no Plano Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, aos Comunicadores e aos Ambientalistas; e na proposta anteprojeto de lei sobre a Política Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, aos Comunicadores e aos Ambientalistas, que está sendo elaborada pelo Grupo de Trabalho Técnico Sales Pimenta, instituído por meio do Decreto nº 11.562.
[10] PRANDINI, Camila Prandini. Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo. ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. No prelo.
[11] DANTAS, Maria Eduarda Borba. 2021. Dimensões da violência contra mulheres defensoras de direitos humanos no Brasil. ONU Mulheres, Entidade da Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, p. 25.
[12] CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2021. Vidas em luta: criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2018-2020/1.
[13] Dos 66 defensores assassinados, 6 eram mulheres. CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2017. Vidas em Luta: criminalização e violência contra defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2016.
[14] CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2017. Vidas em Luta: criminalização e violência contra defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2016, p.15.
[15] CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2017. Vidas em Luta: criminalização e violência contra defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2016.
[16] DANTAS, Maria Eduarda Borba. 2021. Dimensões da violência contra mulheres defensoras de direitos humanos no Brasil. ONU Mulheres, Entidade da Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, p. 14.
[17] CRUZ, Simone; DORDEVIC, Jelena. 2020. Proteção, autocuidado e segurança de defensoras de direitos humanos: Perspectiva de mulheres negras. SUR 30 – v.17 n.30. 247-257, p. 252.
[18] CBDDH (Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos). 2021. Vidas em luta: criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil – Período 2018-2020/1, p.18.
[19] ZANELLO, Valeska. 2022. A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações / Valeska Zanello. 1. ed. – Curitiba: Appris, p. 35.
[20] PRANDINI, Camila Prandini. Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo. ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. No prelo, p. 7.
[21] CRUZ, Simone; DORDEVIC, Jelena. 2020. Proteção, autocuidado e segurança de defensoras de direitos humanos: Perspectiva de mulheres negras. SUR 30 – v.17 n.30. 247-257. 2020, p.254.
[22] IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2013. ¿Qué significa el autocuidado para las defensoras de derechos humanos? Diálogos entre nosotras, p. 16.
[23] IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2013. ¿Qué significa el autocuidado para las defensoras de derechos humanos? Diálogos entre nosotras.
[24] IM-D (Iniciativa Mesoamericana de Defensoras de Derechos Humanos). 2013. ¿Qué significa el autocuidado para las defensoras de derechos humanos? Diálogos entre nosotras; IM-D. 2021. El pacto de Cuidarnos – Proteccion Integral Feminista 2010-2021: la proteccon integral feminista en mesoamerica desde la IM-defensoras; IM-D. 2023. La Proteccion Integral Feminista (PIF); CFACDDH (Coletivo Feminista de Autocuidado e Cuidado Coletivo entre Defensoras de Direitos Humanos). 2023. Um olhar de dentro: autocuidado e cuidado coletivo entre defensoras de Direitos Humanos / [Jelena Dordevic…[et al.]]; organização: Louisa Huber, Michely Ribeiro, Simone Cruz ; ilustração: Isabella Alves. – 1. ed. – João Pessoa, PB: Livreditora. 2023; PRANDINI, Camila P. Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo. ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. No prelo.
[25] Os materiais produzidos por estas organizações sobre o assunto podem ser encontrados online e gratuitamente em suas respectivas bibliotecas virtuais.
[26] CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional). 2021. Protocolo La Esperanza. Versão em Português: 2023, p. 1.
[27] CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional). 2021. Protocolo La Esperanza. Versão em Português: 2023, p. 2.
[28] PRANDINI, Camila Prandini. Quem cuida da mulher que luta? Referenciais sobre a Saúde Mental das Mulheres Defensoras de Direitos Humanos: Cuidado, Autocuidado e Cuidado Coletivo. ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. No prelo, p. 5.
[29] Para mais informações sobre o projeto “Conectando mulheres, Defendendo Direitos”: <https://www.onumulheres.org.br/defensorasdedireitoshumanos/>. Acesso em: março de 2024.
[30] Anistia Internacional. 2021. Informe 2020/21: O estado de direitos humanos no mundo, p.64.
[31] Anistia Internacional. 2021. Informe 2020/21: O estado de direitos humanos no mundo.
[32] DORDEVIC, Jelena. 2015. “Yo solo pido un espacio pa’respirar”. In: Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA. Brasilia/DF. 35-43. 2015, p.42.
[33] DORDEVIC, Jelena. 2015. “Yo solo pido un espacio pa’respirar”. In: Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA. Brasilia/DF. 35-43. 2015, p.42.
[34] VIANNA, Adriana; FARIA, Juliana. 2011. “A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional”. Cadernos Pagu (37), julho-dezembro, 79-116, p.122.
[35] DORDEVIC, Jelena. 2015. “Yo solo pido un espacio pa’respirar”. In: Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA. Brasilia/DF. 35-43. 2015, p.42.
[36] DORDEVIC, Jelena. 2015. “Yo solo pido un espacio pa’respirar”. In: Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA. Brasilia/DF. 35-43. 2015, p.43.
[37] KUPERMANN, Daniel. 2015. “A “desautorização” em Ferenczi: do trauma sexual ao trauma social” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017; OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339.
[38] FERENCZI, Sándor. 1933. “Confusão de língua entre os adultos e a criança”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.116.
[39] FERENCZI, Sándor. 1933. “Confusão de língua entre os adultos e a criança”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.116.
[40] FERENCZI, Sándor. 1933. “Confusão de língua entre os adultos e a criança”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.116.
[41] OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339, p.331.
[42] KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017; KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni.
[43] OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339, p.332.
[44] KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni, p. 57.
[45] KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017, p.63.
[46] FERENCZI, Sándor. 1934. “Reflexões sobre o Trauma”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.125.
[47] OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339, p.332, grifo nosso.
[48] KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017, p.63, grifo nosso.
[49] OSMO, Alan; KUPERMANN, Daniel. 2012. Confusão de línguas, trauma e hospitalidade em Sándor Ferenczi. Psicologia em Estudo. Maringá, v.17, n.2, abr./jun, p. 329-339, p.332, grifo nosso.
[50] KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni, p. 58.
[51] KUPERMANN, Daniel. 2015. “A “desautorização” em Ferenczi: do trauma sexual ao trauma social” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017, p.52.
[52] KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni, p. 58.
[53] No original alemão, o termo utilizado por Ferenczi é Verleugnung, que traduzimos por desmentido, e não por “negação”, como o faz a tradução para o português encontrada na edição das obras de Ferenczi publicada pela Martins Fontes. FERENCZI. 1931. Kinderanalysen mit Erwachsenen. Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse, 17(2), p. 172.
[54] FERENCZI, Sándor. 1931. “Análise de crianças com adultos”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.91, colchetes nossos.
[55] KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni, p. 59.
[56] GONDAR, Jô. 2022. ”Um racismo desmentido”. In: Com Ferenczi – O coletivo na clínica: racismo, fragmentações, trânsitos/ Eliana Schueler Reis, Jo Gondar; coordenação Daniel Kupermann. – 1. ed. – São Paulo: Zagodoni, 2022, p. 37-38.
[57] FERENCZI, Sándor. 1933. “Confusão de língua entre os adultos e a criança”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.119.
[58] FERENCZI, Sándor. 1931. “Análise de crianças com adultos”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.88.
[59] KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017, p. 63.
[60] KUPERMANN, Daniel. 2019. Por que Ferenczi? coordenação Daniel Kupermann. 1.ed. São Paulo: Zagodoni, p.73.
[61] FERENCZI, Sándor. 1931. “Análise de crianças com adultos”. In: Obras Completas: Psicanálise IV. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. 2011, p.87.
[62] KUPERMANN, Daniel. 2016. “Trauma, sofrimento psíquico e cuidado na psicologia hospitalar” In: Estilos do Cuidado: a psicanálise e o traumático. São Paulo: Zagodoni. 2017, p. 63.
[63] Com o intuito de manter o seu anonimato, os nomes das defensoras entrevistadas são fictícios. Cada defensora escolheu o nome que a identificaria na pesquisa.
[64] FANON, Frantz. 1952. Pele negra, máscaras brancas; traduzido por Sebastião Nascimento e colaboração de Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 114, chaves nossas.
[65] FANON, Frantz. 1952. Pele negra, máscaras brancas; traduzido por Sebastião Nascimento e colaboração de Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 114.
[66] FANON, Frantz. 1952. Pele negra, máscaras brancas; traduzido por Sebastião Nascimento e colaboração de Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 226.
[67] FANON, Frantz. 1952. Pele negra, máscaras brancas; traduzido por Sebastião Nascimento e colaboração de Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 232.
[68] O mito da cama de Procusto conta a história de um homem chamado Procusto que tinha uma cama de ferro e, ao receber hóspedes, obrigava-os a caberem perfeitamente em sua cama, sendo estes deformados para caber nela. Recorre-se comumente a este mito no campo das ciências para falar sobre o exercício do pensador que, no afã de encontrar respostas exatas, acaba por cometer o equívoco de distorcer o fenômeno para que este se adapte às suas explicações, ao invés de admitir a insuficiência das teorias e explicações diante do que se apresenta.
COMO CITAR ESTE ARTIGO |