Editorial

No famoso ensaio “Sobre a transitoriedade”, Freud aborda as temáticas da morte, da destruição e do apagamento através de uma reflexão sobre a beleza. A fórmula freudiana já é bem sabida: o que é belo e significativo acaba dotado de mais beleza e significância, uma vez que é finito — postura um tanto melancólica, que não abre mão do objeto perdido, pois consegue ver seu valor na perda consumada ou na iminência de perdê-lo.

Entretanto, talvez a lição mais significativa nessa perspectiva seja a concepção aí latente de que a morte só implica os vivos, ou seja, aqueles que ficam. Parece óbvio, mas não é — depende de não sermos tão melancólicos com o tema da morte.

O fim de algo só tem sentido quando é o fim para alguém; noutras palavras, o fim por ele mesmo não é nem belo nem significa nada. Se as coisas têm fim, a beleza é efeito de sobrevivência de um fragmento fugidio da coisa em alguém.

Nesse sentido, a beleza na transitoriedade não é algo ontológico — coisas que se desfazem no ar —, mas transitivo: aos que ficam, os leitores do mundo.