Brasil, modelo de continência pervertida

por Rodrigo Figueiredo Mello

1. INTRODUÇÃO

A psicanalista alemã Karin Zienert-Eilts defende a tese de que o governo de Donald Trump (2017-2020, seu primeiro mandato) converteu o Estado norte-americano num continente pervertido. Continente, aqui, aparece no sentido que Wilfred Bion deu a ele – ligado à ideia de uma função de continência, que tem como paradigma o papel de uma mãe junto a um bebê, e pervertido, por ter suas funções benignas deturpadas em algo destrutivo.

Zienert-Eilts faz sua proposição a partir da ideia de que haveria dois tipos de populismo, um que ela chamou de populismo geral, e outro que chamou de populismo destrutivo. Para a autora, enquanto o populismo geral emprega metas e mensagens positivas e gregárias em sua agenda política e em sua linguagem (o “Yes, we can” de Barack Obama seria um exemplo) – buscando estimular confiança e ações construtivas na sociedade – o populismo destrutivo, praticado por Trump, busca afetos negativos entre os cidadãos, como medo, persecutoriedade, inveja e agressão – e assim promove divisões na sociedade, repartida entre aqueles que seriam “cidadãos de verdade” e “os outros”[1]

Para Zienert-Eilts, “tempos de crise social[2] são propensos ao aparecimento do populista destrutivo, por produzirem desespero, angústias existenciais, exclusão e desconexão social. Nesses momentos, se tais sentimentos negativos instalados na sociedade não forem ouvidos, e seus anseios minimamente atendidos, pode aparecer no cenário político alguém que opera de forma regredida e “falará a língua” de certas parcelas da sociedade, escutando-as e compartilhando com elas o ódio ao sistema. Em seguida, pode se estabelecer entre essas parcelas tal afinidade que suas diferenças serão relevadas em nome da formação de um agrupamento social em que cada membro experimenta a si próprio como poderoso e onipotente. Para a psicanalista alemã, seguindo os apontamentos de Wilfred Bion sobre grupos[3], uma “continência materna-paterna é finalmente encontrada, simulando compreensão e proteção” aos membros do grupo. Seu líder é “celebrado como um salvador”.[4]

Há, porém, uma impostura na relação com o líder: os “medos inconscientes, as ansiedades, sentimentos de inveja e agressão são apenas supostamente contidos; esses afetos não são processados, transformados ou aliviados, mas, ao contrário, alimentados.”[5]

É nesse sentido, como veremos ao longo deste artigo, que se assenta a tese principal de Zienert-Eilts: o trabalho de continência oferecido por essa liderança é falso, um simulacro de continência que, ao invés de metabolizar para o grupo sentimentos negativos de forma a ajudar em seu difícil processamento, acaba por amplificar ainda mais os afetos de raiva, cisão e agressividade. Teríamos, assim, na figura desse líder e do governo que ele passa a representar, o exercício de uma continência pervertida.

A partir da proposição de Zienert-Eilts, apresenta-se uma questão: Trump teria convertido o Estado num continente pervertido, ou antes já estaria pervertido o Estado em seu papel fundamental de provedor de estabilidade econômica, jurídica e social, danificando assim os princípios democráticos e abrindo espaço para o populismo destrutivo e a ascensão de um líder autoritário? Ou, dito de forma mais radical, poderíamos pensar o momento histórico global como indutor de extremismos políticos individuais e coletivos? Estariam pervertidas as democracias liberais contemporâneas em suas principais funções de continência, ensejando o aparecimento dessas lideranças autoritárias?

Essa questão, como vimos, já aparece parcialmente respondida nos textos de Zienert-Eilts, que indica que “processos de erosão social, que aumentam em tempos de mudança ou crise, correspondem aos processos regressivos inconscientes vistos em psicanálise, nos níveis individual e grupal.”[6] Ela também observa que quando cidadãos não têm, por período suficientemente longo, suas necessidades atendidas pela classe política vigente – psicanaliticamente, representantes de pais e mães – uma continência competente não se estabelece. Nessas situações, o desapontamento e a regressão levam os indivíduos na direção da posição esquizoparanóide. Numa atmosfera que oscila entre medo e agressão, entre a raiva destrutiva e a esperança de recuperação, alguns acabam se resignando e se afastando de seu papel de eleitor, enquanto outros – para escapar de sentimentos ameaçadores de impotência e medo de aniquilação – formam grupos identitários à margem do sistema, podendo tornar-se bastante violentos.[7]

Por outro lado, Zienert-Eilts sustenta também a tese de que “não foi, primariamente, por razões econômicas”, mas, acima de tudo, o que fez muitas pessoas votarem em Trump como um ‘salvador’ foram “terríveis fantasias conscientes e inconscientes[8].”

Para a psicanalista alemã, no processo coletivo de regressão à posição esquizoparanóide, essas fantasias foram sendo transformadas em crenças fanáticas, nas quais os eleitores do republicano foram se convencendo de que as mudanças na sociedade – principalmente, nas normas raciais e de gênero – foram os tornando menos valiosos. Essas crenças teriam aberto espaço para o medo inconsciente de aniquilação; medo inconsciente de que os grupos subalternizados – mulheres, não-brancos, estrangeiros – estariam apenas esperando para oprimir, humilhar e até assassinar aqueles que historicamente os submeteram.

Porém, como pensar a identificação do eleitor pobre e minoritário com a agenda da extrema-direita, fenômeno que tem chamado a atenção por toda a parte?

Aqui, trago para o debate certas ideias do filósofo brasileiro Paulo Arantes, com sua tese sobre uma brasilianização do mundo[9], que estaria em curso há algumas décadas. Essa ideia aparece em seu livro A fratura brasileira do mundo, lançado no início do século em meio a certa euforia, no meio intelectual, com a Terceira Via e a possibilidade da retomada do Welfare State e de um capitalismo mais inclusivo, após a dura década neoliberal de 1980. Arantes enxergava, ao contrário da maioria dos intelectuais da época, e em tom abertamente pessimista, de que não seria o Brasil quem se desenvolveria em aproximação aos países centrais, mas seriam estes que, cada vez mais, se pareceriam com o Brasil.

Entre origens econômicas e emocionais para tal fenômeno, é possível dizer que Paulo Arantes fica com as duas, ainda que sua análise não se assente em teorias psicanalíticas. Não haveria, para Arantes, dissociação entre os impasses intrínsecos ao capitalismo e as emoções coletivas vividas pelas diversas camadas da sociedade. A precarização do trabalho, que transforma trabalhadores em empreendedores de si mesmo, e o desmonte progressivo das redes de proteção, colocam cidadãos numa atmosfera de cada um por si, ou, como defendeu Miguel Lago, ao se referir ao ideal de Estado de Jair Bolsonaro, transformam nações em Estados pré-hobbesianos, que amplificam a lei do mais forte[10] já inerente ao capitalismo.

Acompanhando Arantes, defendo aqui então a tese de que o Brasil funcionaria como um modelo da continência pervertida contemporânea: os impasses históricos brasileiros são uma espécie de amálgama dos impasses do mundo hoje, porque aqui sempre operou uma forma de capitalismo predatório, produtor e reprodutor de desigualdades, e, em paralelo, foram se instalando as instituições que chamamos de modernas – Parlamento, Judiciário, polícias, escolas etc., que, no seu desenho original, deveriam regular nossas relações e prover continência aos cidadãos, mas que na maior parte do tempo funcionaram e funcionam em sua versão pervertida.

Acelerada exclusão, divisão crescente entre ricos e pobres, entre vencedores e perdedores, entre colonizadores e colonizados: o Brasil, em sua eterna precariedade, convive ciclicamente com esses fenômenos, de forma que a eleição de um autoritário em 2018 não é exatamente uma novidade histórica. Britânicos e norte-americanos, porém, tendo escapado até do ciclo fascista dos anos 1920/1930, se surpreenderam com as escolhas eleitorais representadas respectivamente pelo Brexit e por Donald Trump, movimentos que enfraqueceram suas democracias. O mundo contemporâneo vem oferecendo uma continência na sua forma pervertida, contribuindo assim para uma espécie de regressão de tonalidade psicótica globalizada, e convidando cidadãos a flertarem com autoritarismos de toda a sorte.

Penso que este texto dialoga com certas reflexões recentes de Vladimir Safatle, que questiona a “profusão de conceitos psicológicos usados para descrever dinâmicas políticas[11], e pergunta se conceitos como regressão e ressentimento são realmente necessários “para entender o sistema de motivações que levam a adesões políticas.[12]. Esse desconforto de Safatle é também o de Ruy Braga[13] – lembrado por Safatle – que em sua pesquisa em pequenas comunidades rurais da Pensilvânia, nos Estados Unidos, pensa como a precarização da vida do trabalhador branco acabou o levando a apoiar Trump nas eleições de 2016, fenômeno que se repetiria em 2024.

Entre Arantes e Safatle, considero que aqui encontramos uma forma coerente de relacionar certos conceitos psicanalíticos, como os apresentados por Zienert-Eilts, com os escombros socioeconômicos promovidos pela precarização de grande parte das populações globais – ou o pavor de que a precarização chegue em vidas em que ela está ausente, transformando o cidadão subalternizado em “quase preto de tão pobre[14], como tem sido o cidadão brasileiro desde sempre.

Farei, então, uma retomada dos conceitos de continência e continente em Wilfred Bion, para melhor compreendermos o conceito de continente pervertido proposto por Karin Zienert-Eilts. Em seguida, farei associações entre a ideia de brasilianização do mundo, de Paulo Arantes, e reflexões de outros autores, para pensar o Brasil como um modelo histórico de continência pervertida para o mundo.

2. WILFRED BION, O CONCEITO DE CONTINÊNCIA, E A CONTINÊNCIA PERVERTIDA

Wilfred Bion, entre várias considerações metapsicológicas presentes em seu livro Aprender da experiência[15], propõe a ideia de que a relação mãe-bebê poderia ser representada por uma dupla que ele chama de continente-contido. De matriz kleiniana, tais conceitos pressupõem que, no processo de identificação projetiva, o bebê projeta seus medos e maus sentimentos para a mãe (no universo de Klein e Bion, é uma projeção para o seio bom), que processa esses maus sentimentos e os devolve (os reintrojeta na criança) modificados e atenuados, de forma a serem toleráveis para o psiquismo infantil. Assim, essa dupla mãe-bebê operaria numa relação continente-contido (container-contained, para Bion). Desta forma, uma função materna primordial é a da continência, que pressupõe cuidado, compreensão e também a capacidade de tolerar turbulências e até ataques provenientes do bebê.

Se as turbulências vividas pela criança são bem recebidas e processadas pela mãe, os medos e maus sentimentos contidos, metabolizados e devolvidos vão promovendo o desenvolvimento da criança, e o apaziguamento das turbulências. As reflexões de Bion em Aprender da experiência nos levam a dizer que o desenvolvimento emocional, a própria linguagem e a capacidade de pensamento são fundados no encontro com a continência materna. Mais: que instâncias de continência são importantes todas as vezes em que um sujeito, em qualquer fase da vida, vive emoções que não consegue processar sozinho. Na linguagem kleiniana, de onde parte Bion, essas são ocasiões em que um sujeito pode regredir para estados emocionais mais primitivos, próprios da infância, que Melanie Klein[16] associa ao que ela chama de posição esquizoparanóide. Nesta posição, que é parte do desenvolvimento do bebê, o intolerável da experiência emocional provoca uma cisão na apreensão da realidade: os aspectos bons são vividos como cindidos dos aspectos maus, numa experiência então fraturada do mundo – e de si mesmo. Dito de forma ligeira, mas ilustrativa: a mesma mãe que amamenta é a mãe que, ao sair do quarto para ir fazer suas coisas, deixa de amamentar. No início, para Klein, essa ambiguidade é intolerável e o bebê “ataca” a mãe que “lhe nega o seio”, com seu choro, com sua ira, e ama somente “a mãe boa, que dá o seio”; quando o bebê pode tolerar essa ambiguidade, poderá dar início a sua própria integração como indivíduo, vivendo num mundo que não é perfeito, mas que pode ser bom. O processo de reagrupamento das experiências boas e más é também um processo de integração do bebê, que o leva a sair da posição esquizoparanóide para a posição depressiva, descrita por Klein como integrada, ainda que permeada por aspectos emocionais tributários dessa integração, tais como tristeza, culpa, arrependimento (por ter “atacado” a mãe).

Na psicanálise bioniana, a dupla continente-contido é um dos fundamentos da relação analítica, na qual o analista pode funcionar como a mãe continente e processar junto com seu paciente as turbulências que este não consegue processar sozinho. O papel de continência pode também ser prestado por um ‘bom objeto’ (um representante do ‘seio bom’, na linguagem kleiniana), internalizado pelo sujeito a partir das experiências de continência que recebeu no início e ao longo da vida. De certa forma, uma das funções de uma análise poderia ser descrita como a de auxiliar o paciente a internalizar um bom objeto, que o ajude a sustentar e processar, na vida, as turbulências emocionais que vier a enfrentar.

Porém, se as experiências emocionais negativas do bebê não encontram na mãe uma suficiente receptividade e capacidade de devolvê-las de forma metabolizada, e se a experiência emocional do bebê é a de que essas experiências turbulentas serão “retornadas” pela mãe de forma ainda mais negativa, pode intensificar-se uma espiral de angústia e medo, que Bion chamou de terror sem nome (“nameless dread”): “a criança, que no início tinha medo de morrer, fica agora contendo um terror sem nome”.[17] É a partir do terror sem nome que pode se erguer e se cristalizar um sistema primitivo de defesas onipotentes, em que predominam a cisão, o isolamento e a agressividade desmedida.

Aqui retomamos o fio de Karin Zienert-Eilts no caminho de pensarmos como o conceito de continência, em Bion, pode ser utilizado para a compreensão de fenômenos grupais.

A psicanalista alemã lembra que desde Freud a psicanálise já se ocupa com grupos, e com a presença do indivíduo em grupos. Em Psicologia das massas e análise do Eu, Freud, a partir da leitura que faz de Psicologia das Multidões, de Gustave Le Bon, pergunta: “Se indivíduos da massa estão ligados numa unidade, tem de haver algo que os une entre si, e este meio de ligação poderia ser justamente o que é característico da massa”.[18] Mais adiante no texto, Freud propõe a tese de que essa ligação é libidinal: “(…) evidentemente a massa se mantém unida graças a algum poder. Mas a que poder deveríamos atribuir esse feito senão a Eros, que mantém unido tudo o que há no mundo?”[19].  Assim, os indivíduos estariam, para Freud, ligados libidinalmente ao líder e aos outros membros do grupo[20], por “instintos amorosos que se acham desviados de suas metas originais, sem por isso atuarem com menos energia[21].

Bion expande as investigações de Freud com grupos, ainda que este tenha pensado principalmente o funcionamento de grupos grandes e organizados, como a Igreja e o Exército, e Bion tenha se atentado mais a grupos menores, desestruturados e sem liderança. É numa senda deixada por Freud a partir de seus questionamentos sobre o papel da identificação no funcionamento dos fenômenos de massa que Bion constrói suas investigações sobre grupos: “A psicanálise conhece a identificação como a mais antiga manifestação de uma ligação afetiva a uma outra pessoa. Ela desempenha um determinado papel na pré-história do complexo de Édipo[22]. Acompanhando Melanie Klein, é exatamente na pré-história edipiana que Bion vai pensar quando investiga as relações entre membros de um grupo, e entre cada indivíduo do grupo e seu líder.

Como lembra Karin Zienert-Eilts, Bion entendia que “indivíduos regridem regularmente e, de certa forma, coletivamente, quando se veem num grupo de trabalho ou grupo social”, e que “quanto mais desestruturado o grupo, maior a regressão, e maior o aumento do medo”. É na perda momentânea de individualidade quando inseridos num contexto grupal que os indivíduos podem viver emoções ameaçadoras, ensejando estados primitivos de “desorientação e desamparo, medo de dissolução e uma percepção de dependência existencial em relação ao grupo[23], que podem por sua vez convocar nos sujeitos o aparecimento de mecanismos arcaicos de defesa, típicos da posição esquizoparanóide.

Pensemos no sentido dessas ideias, porque é aqui que a alemã vai fazer as amarrações entre essas regressões (à posição esquizoparanóide) de indivíduos num grupo desestruturado, e à possibilidade de surgir entre esses indivíduos uma liderança que ofereça ao grupo uma continência pervertida em sua função de processamento, sustentação e atenuação de medos e defesas primitivas. Zienert-Eilts recorre à obra do psicanalista germano-britânico Herbert Rosenfeld para fazer essas amarrações.

Rosenfeld cunhou o conceito de narcisismo destrutivo para ilustrar forças defensivas e onipotentes do self, que atacam os “laços e conexões libidinais e de dependência na sua relação com os objetos, incluindo objetos primários”[24]. Essas forças primitivas do narcisismo destrutivo estão presentes em todos nós, apesar de predominarem em alguns, e vão se fortalecer quando nos deparamos com impasses e turbulências emocionais. Assim, se aumenta a turbulência numa sociedade e na vida de seus indivíduos (pobreza, desigualdade, incerteza política e econômica, fratura nas relações sociais, funcionamento precário ou corrupto de instituições como polícia, sistema judiciário etc), estará instalado um terreno fértil para uma regressão coletiva.

Nas palavras de Zienert-Eilts:

Se as pessoas, fortalecidas num grupo, não encontram atenção e escuta, os afetos negativos primitivos aumentam ainda mais e as percepções se estreitam intrapsiquicamente: os representantes políticos não são mais diferenciáveis em sua complexidade e diversidade, mas experimentados como uma só figura inacessível (O governo, O sistema) – psicanaliticamente concebidos como uma figura materna negativa, inacessível, autocentrada e corrupta (…) Essa mãe (…) não é capaz de absorver, transformar e modificar as demandas dos diferentes grupos populacionais em seus afetos de desespero e raiva.[25]

Então, é a partir dessa regressão coletiva que pode abrir-se espaço para a busca por um líder autoritário que ofereça uma pseudo-segurança em troca de submissão. Zienert-Eilts, a partir da ideia de narcisismo destrutivo de Rosenfeld, lembra que essas forças defensivas que operam na posição esquizoparanóide, quando se tornam predominantes, funcionam como gangues mafiosas que submetem o self em troca de uma promessa de segurança e superioridade que envolve soluções simples e ideais para impasses, superação de humilhações e a legitimação de satisfações sádicas contra a fraqueza alheia[26]. Se, num grupo desestruturado, surgir um líder que opere na mesma frequência dessas gangues mafiosas internas, os indivíduos desse grupo poderão se submeter em troca da segurança existencial oferecida, e permanecerão regredidos numa situação emocional análoga à posição esquizoparanóide kleiniana.

Estamos aqui pensando então que, em situações de turbulência social, as pessoas estão mais propensas a se agrupar em torno de um líder do tipo mafioso proposto por Rosenfeld, e tenderão a entregar a ele a lealdade, em troca do apaziguamento da angústia e do medo de aniquilação.

3.  FRATURA GLOBAL E CONTINÊNCIA PERVERTIDA

No início de setembro de 2022, a menos de dois meses das eleições que derrotaram, por ora, o projeto da extrema direita para o Brasil, José Miguel Wisnik proferiu conferência no seminário USP Pensa Brasil, na Universidade de São Paulo[27]. Comentando sobre a associação, não somente simbólica, mas também prática, entre o governo em exercício e as milícias do Rio de Janeiro, Wisnik falou sobre a jaguncização do cidadão comum brasileiro como método histórico das elites nacionais defenderem de forma terceirizada seu território, e massacrarem sua própria população.

Alguns meses depois, em 8 de janeiro de 2023, assistimos mesmerizados aos ataques golpistas em Brasília – ataques perpetrados por tais jagunços, abrigados em acampamentos nos arredores de quarteis militares e financiados por empresários de várias partes do país. Os jagunços foram presos, às dezenas. Seus patrocinadores econômicos e ideológicos, no empresariado e na caserna, seguem sendo investigados, e sua punição é incerta – provavelmente manteremos a tradição brasileira de contemporização com os mandantes de crimes contra a democracia.

Acompanhando o pensamento do artigo, poderíamos nos perguntar se os ataques em Brasília seriam uma repetição dos ataques de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio, nos Estados Unidos, ou se estes é que seriam uma repetição meio trágica, meio farsesca, do velho golpismo latino-americano. A invasão do Parlamento norte-americano escancara a profunda crise no autodeclarado bastião da democracia global, hoje cada vez mais parecido com uma Banana Republic – enquanto os ataques golpistas no Brasil seriam apenas mais um evento na longa lista de atos antidemocráticos em nossa história. Dessa maneira, teríamos os ataques ao Capitólio como sinais da fratura brasileira da América.

            Rodrigo Nunes, filósofo brasileiro, associa a depressão econômica pós-2008 à crise das democracias liberais. Para Nunes, não estaríamos falando aqui de um “determinismo econômico simplista que supõe uma relação linear entre a piora das condições de vida e aumento da mobilização social.”[28] Essa linha de raciocínio interessa por evidenciar a complexidade do debate, e nos obrigar a fundamentar melhor as proposições deste artigo. Sigamos com Nunes: para ele, e aqui notamos raciocínio análogo ao de Paulo Arantes, a crise econômica a partir do crash de 2008 desmascara e deslegitima o próprio sistema, não só econômico, mas simbólico. Para além do colapso financeiro, há a resposta estatal a ele, que “protegeu aqueles que o causaram e transferiu os custos do resgate para a população em geral.” Assim, a crise de 2008 desencadeia uma crise narrativa das “promessas de uma ordem estritamente meritocrática e autorregulada.[29] Aqui está uma face muito clara da continência pervertida: na hora da crise, subverte-se o discurso do Estado mínimo, há emissão desenfreada de moeda, perdão de dívidas – e de crimes – e zelo com aqueles que estão misturados ao Estado através do poder econômico. Grande demais para quebrar (too big to fail!), dizia-se dos grandes bancos, com o cínico – e, dentro da lógica capitalista, coerente – lembrete de que a alternativa ao resgate do sistema financeiro seria a tragédia ainda maior da desintermediação financeira generalizada.

É necessário apontar que essa crise narrativa dos últimos quinze anos ainda não se resolveu, talvez porque a lógica de mercado passou a ter um sentido muito profundo para as mentalidades contemporâneas. Como aponta Nunes, “o abalo simbólico e material sofrido pela autoridade do neoliberalismo se encontra parcialmente cancelado pela hegemonia neoliberal no campo dos afetos.[30] Em outras palavras, o “empreendedorismo de si mesmo[31] tornou-se não mais uma possibilidade entre tantas de pertencimento ao mundo do trabalho, mas um dado quase incontornável – e, mais uma vez, o Brasil tem sido um teatro importante para esses impasses do capitalismo global.

Aqui, o empreendedor de si mesmo está, e sempre esteve, a um tropeço da miséria. Numa democracia, poderíamos esperar que tal precariedade fizesse o cidadão-eleitor identificar-se com o discurso da esquerda, como havia sido durante toda a redemocratização. Durante a pandemia, porém, pudemos notar parte importante das camadas subalternizadas identificando-se com o discurso bolsonarista de que as medidas de confinamento estariam “tirando a liberdade de trabalhar”. A adesão do pobre à extrema direita oferece uma imagem típica das ansiedades paranoides, e mostra uma face econômica e outra simbólica – “agora que estou conseguindo consumir, com o fruto de meu esforço, eles querem me impedir de trabalhar; querem roubar minhas coisas e meu lugar”. Eles, os comunistas, os quilombolas, os imigrantes, os gays: sempre há um outro que pode ser colocado no lugar de perseguidor. Até hoje, na Espanha, os imigrantes norte-africanos são chamados, pejorativamente, de moros.

À época da primeira eleição de Donald Trump, a sociedade americana, ainda marcada pelo caos gerado pela crise de 2008, empobrecida, dividida e mergulhada num universo de fake news, já operava num alto nível de regressão, e Trump farejou o que cidadãos regredidos queriam: um líder tão regredido quanto elas. Essa, inclusive, foi uma das conclusões de Bion em seus trabalhos com grupos: “A crença na santidade de idiotas, a crença de que a genialidade é igual à loucura, tudo isso indica a mesma tendência do grupo de escolher, quando desestruturado, seu membro mais doente como seu líder.”[32] Freud, em Psicologia das Massas, já anunciava a alta correlação entre cidadãos regredidos na massa, o conservadorismo, a violência como moeda, e a eleição de líderes autoritários.[33]

Robert Paxton lembra da anotação que Thomas Mann faz em seu diário em Março de 1933, dois meses após a ascensão de Hitler ao cargo de chanceler alemão: a de que o fascismo nazista “não tem ideias, é contra ideias.[34]

Não à toa, a estocada final que o fascismo desferiu na democracia italiana foi o assassinato, em junho de 1924, de Giacomo Matteotti, parlamentar socialista que ousou acusar, em plenário, as fraudes e arbitrariedades que cercaram o processo eleitoral de abril daquele ano. É bastante simbólico que um membro do Parlamento – lugar por excelência da fala – tenha sido calado pela violência. O derradeiro discurso de Matteotti, dias antes de ser morto, é pleno de pensamento[35]. Há dados, há raciocínio, há uma construção cartesiana de causas e efeitos. Os deputados fascistas, e demais asseclas de Mussolini, não podem suportar o pensamento, e reagem do único modo que um fascista reconhece como válido: a violência.

No Brasil, os ataques de 8 de janeiro de 2023 à Praça dos Três Poderes também são cheios de significado, se tomarmos o ataque aos três poderes como símbolo de um ataque à triangulação.[36] Cada um dos poderes detém certos direitos de interdição dos outros, e isso acabou se revelando insuportável para a massa regredida em torno de um líder autoritário como Jair Bolsonaro, que respondeu com a linguagem (ou exatamente a falta dela), típica dos regredidos, que é a violência. Bion, em Notas sobre a teoria da esquizofrenia, teceu interessantes considerações sobre as limitações do pensamento verbal no sujeito regredido à posição esquizoparanóide. Uma delas é a da preponderância da ação, em detrimento do pensamento: o paciente regredido “irá mostrar uma preferência pela ação em ocasiões em que outros pacientes perceberiam que o que era necessário era o pensamento.[37]

Para Bion, ainda, o pensamento verbal traz ecos das dores vividas pela criança às portas da posição depressiva e, portanto, pode ser vivido como algo a ser evitado, um verdadeiro inimigo.[38]

Insisto nas associações entre regressão à posição esquizoparanóide e perda da capacidade de pensamento verbal, porque me parece que é exatamente nesse ponto que as democracias liberais são atacadas: no pensamento e na linguagem. Sem pensamento e linguagem consensuais, não há possibilidade de se buscar consensos coletivos a respeito de todas as turbulências do viver em sociedade e, regredidos, acabamos por ver a violência se tornar um meio de comunicação preferido.

De que forma o Brasil pode ser pensado como uma espécie de laboratório histórico para o capitalismo de hoje? Arantes traz o pensamento de Francisco de Oliveira, que apontava as diferenças entre as colônias do norte da América, forjadas “na retaguarda da expansão mercantil”, e o Brasil, que “nascia para o sistema na vanguarda, isto é, como lugar de produção”, ocupando um lugar “quimicamente puro” do capitalismo que viria a se consumar ao longo dos séculos, o da “prevalência (e transparência) absoluta da razão econômica na gênese de uma ‘sociedade”.[39] Maior experimento escravocrata do mundo, disfarçado de paraíso tropical, não escapou a Gregório de Matos, ainda no Seiscentos, a tristeza de sua condição de refém da máquina mercante: “Triste Bahia/oh, quão dessemelhante/(…)/ A ti trocou-te a máquina mercante/ Que em tua larga barra tem entrado /A mim foi-me trocando, e tem trocado/ Tanto negócio e tanto negociante.[40]

Quando a razão econômica torna-se a razão última de uma sociedade, fica em segundo plano a razão da sociedade moderna, que aceita trocar violência por estabilidade social, ou, na expressão de Arantes, que busca “o melhor acordo intersubjetivo possível”. Se as ideias liberais e modernas no Brasil sempre estiveram fora do lugar – para acompanharmos Roberto Schwarz[41] – hoje elas parecem estar fora do lugar até nos lugares onde já foram predominantes.

Dito de outra forma: a boa continência vai se tornando artigo de luxo mundo afora, e não dever do Estado, exatamente como no Brasil. A Constituição de 1988, que tentou, de forma um tanto imprecisa, é verdade, estabelecer um novo contrato social no país, vai sendo corroída através dos anos, numa selvageria mal fantasiada de liberalismo, com ataques a direitos básicos que já deveriam estar consensuados entre nós, não fosse a inércia imparável de nosso compromisso com o passado. Essa suposta inexorabilidade da opressão aparece no discurso crítico da extrema direita brasileira sobre questões de justiça social. É simbólico lembrar que a chamada “PEC das Domésticas”, de 2013, emenda constitucional que enfim concedeu aos trabalhadores domésticos as mesmas garantias dadas aos demais trabalhadores desde os anos 1940, teve na Câmara, como único voto contrário, o do então deputado federal Jair Messias Bolsonaro. Um de seus argumentos foi muito similar ao utilizado no movimento contrário ao 13 de maio de 1888: seria preciso manter o regime para proteger as próprias domésticas.

O moinho de gastar gente a que se referia Darcy Ribeiro[42] acaba revelando uma permanência brutal, e a leitura de Paulo Arantes enseja em nós um inevitável pessimismo, que o próprio Darcy se recusou a observar em vida: o Brasil não como país do futuro, mas como futuro do mundo. Um mundo que vai se tornando um continente pervertido.

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______________. The destructiveness of omnipotence and ‘perverted containing’: psychoanalytic reflections on the dynamic between Donald Trump and his supporters. In: ARUNDALE, Joan (org.) The omnipotent state of mind. Abingdon e Nova York: Routledge, 2022.


* Rodrigo Figueiredo Mello é psicólogo e psicanalista, mestre e doutorando em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. E-mail: rofmello@gmail.com

[1] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.973, 2020.

[2] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.978, 2020.

[3] Bion, Wilfred R. (1961) Experiences in Groups and other papers. Nova York: Routledge, 2004.

[4] Zienert-Eilts, Karin J. The destructiveness of omnipotence and ‘perverted containing’: psychoanalytic reflections on the dynamic between Donald Trump and his supporters. In: ARUNDALE, Joan (org.) The omnipotent state of mind. Abingdon e Nova York: Routledge, p.223, 2022.

[5] Zienert-Eilts, Karin J. The destructiveness of omnipotence and ‘perverted containing’: psychoanalytic reflections on the dynamic between Donald Trump and his supporters. In: ARUNDALE, Joan (org.) The omnipotent state of mind. Abingdon e Nova York: Routledge, p.223, 2022.

[6] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.978, 2020.

[7] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.979, 2020.

[8] Zienert-Eilts, Karin J. The destructiveness of omnipotence and ‘perverted containing’: psychoanalytic reflections on the dynamic between Donald Trump and his supporters. In: ARUNDALE, Joan (org.) The omnipotent state of mind. Abingdon e Nova York: Routledge, p.222, 2022. Zienert-Eilts usa o termo ‘phantasies’, adotando assim a grafia kleiniana para fantasias inconscientes.

[9] Arantes, Paulo E. (2001) A fratura brasileira do mundo: visões do laboratório brasileiro da mundialização. São Paulo: Editora 34, 2023a. Paulo Arantes elabora o conceito de Brazilianization of America, formulado por Michael Lind em The Next American Nation.

[10] Lago, Miguel. Como explicar a resiliência de Bolsonaro? In: Starling, Heloísa M., Lago, Miguel, Bignotto, Newton. Linguagem da destruição: a Democracia brasileira em crise. São Paulo: Companhia das Letras, p.48, 2022.

[11] Safatle, Vladimir. Os limites do ressentimento. In: Revista piauí, edição 206, p.40, 18 de nov. de 2023.

[12] Safatle, Vladimir. Os limites do ressentimento. In: Revista piauí, edição 206, p.42, 18 de nov. de 2023.

[13] Braga, Ruy. A angústia do precariado: trabalho e solidariedade no capitalismo racial. São Paulo: Boitempo, 2023

[14] Haiti, canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil de 1993, quando o Brasil mal iniciava sua Nova República, segue sendo uma boa descrição do Brasil, do Haiti e, como pensaremos no artigo, daquilo que costumávamos chamar de Primeiro Mundo.

[15] Bion, Wilfred R. (1962) Learning from experience. Oxford: Rowman & Littlefield, p.27, 2004.

[16] Klein, Melanie. (1935) Uma contribuição à psicogênese dos estados maníaco-depressivos. In: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

[17] Bion, Wilfred R. (1962) A theory of thinking. In: Second thoughts: selected papers on psychoanalysis. Londres e Nova York: Karnac, p.96 2007

[18] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.18, 2011.

[19] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.45, 2011.

[20] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.49, 2011.

[21] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.59, 2011.

[22] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.60, 2011.

[23] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.974, 2020.

[24] Rosenfeld, Herbert. Impasse and interpretation. Nova York: Routledge, p.27, 1987.

[25] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.979, 2020.

[26] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.976, 2020.

[27] Wisnik, José Miguel. Conferência. In: Seminário USP Pensa Brasil, edição 2022, em 02 de set. de 2022. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=oiAmGkyfj_c> Acesso em: 20 de Novembro de 2023.

[28] Nunes, Rodrigo. Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu, p.11, 2022

[29] Nunes, Rodrigo. Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu, p.11, 2022

[30] Nunes, Rodrigo. Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu, p.13, 2022

[31] Nunes, Rodrigo. Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu, p.14, 2022

[32] Bion, Wilfred R. (1961) Experiences in Groups and other papers. Nova York: Routledge, p.122. 2004. Bion também descreve as soluções alternativas do grupo regredido na escolha do líder (na ausência do esquizofrênico paranoide, que seria a primeira opção): “o psicopata com tendência à delinquência, e na ausência deste, o imbecil falastrão”. p.123

[33] Freud, Sigmund (1921) Psicologia das massas e análise do Eu. In: Obras completas, volume 15. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). [tradução Paulo César de Souza]. São Paulo: Companhia das Letras, p.27, 2011.

[34] Paxton, Robert. Anatomy of fascism. Nova York: Vintage Books, p.7, 2004

[35] Ver discurso de Matteotti na íntegra em: https://www.unacitta.it/it/articolo/127-

[36] Zienert-Eilts, Karin J. Destructive populism as ‘perverted containing’: A psychoanalytical look at the attraction of Donald Trump. In: The International Journal of Psychoanalysis, 101:5, p.977, 2020.

[37] Bion, Wilfred R. (1962) Notes on the Theory of Schizophrenia. In: Second thoughts: selected papers on psychoanalysis. Londres e Nova York: Karnac, p.27 2007

[38] Bion, Wilfred R. (1962) Notes on the Theory of Schizophrenia. In: Second thoughts: selected papers on psychoanalysis. Londres e Nova York: Karnac, p.36 2007.

[39] Arantes, Paulo E. (2001) A fratura brasileira do mundo: visões do laboratório brasileiro da mundialização. São Paulo: Editora 34, p.63-65, 2023.

[40] Matos, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, p.55, 2010

[41] Schwarz, Roberto (1977). Ideias fora do lugar. In: Ao vencedor, as batatas. São Paulo: Livraria Duas Cidades/Editora 34, 2000

[42] RIBEIRO, Darcy (1995). O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, p.95, 2006




COMO CITAR | MELLO, Rodrigo Figueiredo (2025) Brasil, modelo de continência pervertida. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -17, p. 7, 2025. Disponível em <https://revistalacuna.com/2024/11/28/n-17-07/>.