por Ilana Katz & Patrícia Cardoso de Mello
Senhoras e senhores,
é com grande prazer que anunciamos o primeiro confronto no Telecatch, esse que é o ringue, o octógono, o lócus da treta em nossa Lacuna. Bem entendido, trata-se de um tipo de contenda cuja preocupação maior não é fazer o oponente beijar a lona, mas explorar riquezas argumentativas que não teriam espaço se não fossem endereçadas a um outro com quem se discute. Nesta edição, duas psicanalistas convidadas terão não mais do que três assaltos — uma proposição, uma réplica e uma tréplica — para discutir o explosivo tema “a finalidade de uma análise”.
Ilana Katz é psicanalista. Doutora em Psicologia e Educação na FE/USP. Pós-doutoranda no Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise – Latesfip/USP.
Patrícia Cardoso de Mello é Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII e membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
PROPOSIÇÃO | Ilana Katz
Patrícia,
Eu perguntei à Lacuna o que ela queria dizer com “finalidade da análise”: se a demanda era de uma discussão a respeito da conclusão de uma análise, ou sobre as finalidades, na linha dos objetivos da análise. Claro que ela não me respondeu ;) . Fiquei com minha dúvida, que se formulou assim: essa gente que causa encomenda uma discussão sobre finalidade da análise. É para você, uma analista na IPA, que vou falar o que eu, uma analista lacaniana, penso sobre isso. Lembrei então que quando aproximamos nossos pensamentos, na discussão sobre a clínica com crianças, conversamos muito sobre o lugar e a função do diagnóstico, sobre os modos de fazer, discutimos casos. Pensei, por fim, que toda e qualquer discussão no campo clínico deveria começar por essa pergunta: para que serve isso que fazemos? Que talvez nas nossas “conversas na praia sobre clínica” tenhamos tomado essa declaração de intenções de nosso fazer como já dada, e que ela não é. Ou não é sempre. Assim, escolhi conversar com você sobre uma pergunta: para que serve uma análise?
Encontramos, invariavelmente, alguém que sofre. Se ocorre de não ser com isso que nos encontramos, não há análise possível, não fazemos prevenção. Sintoma e sofrimento precisam de tratamento, e nossa aposta é de que o sujeito formulará outros modos de resposta na sua experiência para viver seu mal-estar. O sujeito sofre; seu sintoma falha como uma resposta que dê conta da sua angústia, escapa; suas defesas não operam de modo a lhe proteger de modo suficiente; seus impasses frente a seu Outro não estão em bom termo. E se o sujeito sofre, e se entende que não pode mais sofrer assim, e se procura um analista para falar disso… é porque supõe que saibamos como fazer com isso. Resultado: transferência.
Aprendemos com Freud que há na transferência uma demanda de amor. Nicéas diz isso de um jeito que eu gosto muito, e que procurei pra iluminar nossa conversa: “É por amor que a Psicanálise começa a operar. Ele é o motor que imprime movimento ao tratamento.”[1] Ao procurar e ao dispor os significantes com os quais pode se dizer, o sujeito se começa a escrever uma história, e isso leva tempo.[2]
Ao começar a falar sobre si para aquele que supõe que saiba sobre seu sofrimento, o sujeito constrói o saber do qual vai se servir para se tratar. É através da experiência de amor na transferência que o sujeito pode vir a saber algo de sua relação com o desejo e com o gozo.[3] É a isso que serve uma transferência, e mesmo que essa não seja a única maneira de um sujeito se defrontar com sua divisão e fazê-la trabalhar, é certamente uma delas. É, muito provavelmente, uma via privilegiada para que esse acontecimento se desdobre.
A transferência suporta, de saída, uma vertente semântica da análise, em ‘lacanês’ diríamos: operamos uma necessária coleta dos “S1”, que são os significantes-mestres aos quais o sujeito esteve e está submetido em sua história. Isso acontece porque o sujeito se põe a falar, encadeia seus significantes[4] e, como ele endereça sua fala para aquele que supõe que saiba como resolver seus impasses, Lacan se referiu, no seminário 7, a essa forma da transferência como “um amor que se dirige ao saber”. Esse viés é muito importante de acontecer numa análise, mas o trabalho analítico não se reduz a isso, e nem mesmo a transferência põe apenas essa vertente da experiência no jogo clínico.
Freud não deixou de alertar aos analistas sobre a arapuca que é amor de transferência: ele pode operar como resistência. Ao que resiste? O esforço é o de “manter negada a realidade da pulsão,”[5] o incomensurável do gozo. Vou tentar explicar isso com Lacan.
No seminário 11, 1964, ele formula que a transferência põe em ato a realidade sexual do inconsciente. O real da realidade sexual, sabemos, aponta para a impossibilidade de emparelhamento entre os sexos, atesta que não há complementariedade possível; mesmo que possamos imaginarizar essa saída muitas e muitas vezes, este é o nosso impossível. Não há termo significante que dê conta da realidade sexual, isso falta. Se Lacan nos aponta para essa outra vertente da transferência, referida à realidade sexual do inconsciente, é para nos fazer entender que há na transferência também uma vertente que é de gozo, e não de saber. O que a articulação do saber pela cadeia significante faz é história, experiência diacrônica no tempo. E entre uma palavra e outra, entre uma história e outras, a impossibilidade de tudo dizer se revela nisso que cai enquanto procuramos nosso melhor verbo. Descontinuamos, ficamos sem a palavra exata. Não está dada ao humano a chance de cercar a experiência de uma vez por todas, falta um significante no Outro. Em outros termos: nossas formas de representar não dão conta da natureza, e também não encerram o acontecimento da pulsão no corpo.
Se a queda do objeto a partir da cadeia significante é seu despregamento necessário à divisão do sujeito, o apego a historização do lado do analista (ou seu excessivo “amor ao simbólico”) pode impedi-lo de deixar cair o que põe o sujeito pra fora do campo do sentido, o que o situa diante da impossibilidade radical de cercar simbolicamente toda a experiência, e com isso abre a perspectiva do ato analítico.
Entendo que não é sem consequência para o tratamento privilegiar uma ou outra via do acontecimento transferencial. Se privilegiamos a via semântica da transferência, o tratamento cumpre a finalidade de contar história, nomear razões, revelar as sobredeterminações às quais estamos todos submetidos porque não somos filhos de chocadeira (ou exatamente porque foi isso que nos aconteceu!).
Se pensamos aqui que uma análise precisa tratar o sofrimento, e se o sujeito em análise deve poder interromper-se em sua forma de sofrer, interrogar seu sintoma, não será possível esquecer que aquilo que o faz sofrer não se articula exclusivamente no registro simbólico da experiência e que, sobretudo, não será agindo apenas no simbólico que vamos dar conta do que uma análise se propõe.
Isso nos interessa — e muito! — quando vamos pensar a finalidade de uma análise, porque, contando histórias, uma análise quer mais que isso. Uma análise pretende e pode muito mais do que permitir que o sujeito saiba de si e dê nome aos seus porquês. Falamos de muitas maneiras o que esperamos que aconteça com aquele que procura uma análise. Armados pela via da transferência e situados a partir do desejo do analista, direcionamos o tratamento para que aquele que fala possa mudar de posição, situar-se de outra maneira frente a experiência, reordenar os termos que o determinam, modalizar o gozo. Apostamos que o sujeito possa ganhar certa liberdade diante do que o determina, mas não sem se responsabilizar por isso.
Os elementos que concernem à nossa operação estão no campo da linguagem e também no campo do gozo. A nossa experiência se opera em três registros diferentes, e, se a sobredeterminação se escreve no registro simbólico, a contingência expressa o Real como aquilo que não cessa de não se escrever. O Real como registro da experiência tem essa particularidade: registra e não cessa de não se escrever, escapa as redes simbólico.
Referir a finalidade da análise a um tanto de liberdade que se pode experimentar diante do que nos sobredetermina não é sem consequências. Um primeiro ponto se refere à necessária condição de que junto com isso venha a responsabilidade do sujeito, sua possibilidade de responder por isso, responder pelo que ganha e pelo que perde, no encontro com o outro, em termos de satisfação.
A orientação lacaniana fala disso de maneiras diferentes, mas já que estamos aqui às voltas com os temas da transferência e da finalidade da análise, eu pensei que seria interessante considerar[6] que a liberdade a que nos referimos como efeito de uma análise se realiza como uma certa liberdade na relação com o objeto. Essa é pra mim uma ideia esclarecedora, e situa bem uma construção que fiz na minha análise, de que é possível que o objeto funcione como um diafragma, e, nesse sentido, regule todo o investimento libidinal do sujeito.[7] Nessa condição, a libido assume o caráter viscoso que Freud formula em “Introdução ao narcisismo”: ela fica presa ao objeto e não pode se espalhar, articular-se em outras modalidades (e parcialidades) de satisfação. Assim, entendo, a operação analítica deve ser capaz de interferir na economia libidinal do sujeito para que a libido perca viscosidade: uma análise deve modalizar o gozo. E uma atenção extra aqui para lembrar que modalizar o gozo não é suprimir o gozo. Modalizar é dar tratamento, no sentido que falei logo acima.
E o segundo e último ponto para esse nosso começo de conversa. Ao tomar essa direção para pensar a finalidade de uma análise, esbarramos numa determinada compreensão da transferência e do manejo necessário, estratégico, para que possamos alcançar essa liberdade referida. Para dizer bem rápido, porque acabou meu espaço, penso aqui — amparada por alguns outros — que a necessária destituição do “objeto diafragma”, o espalhamento da libido em objetos outros e sua correlativa perda de viscosidade não podem ocorrer se no trâmite transferencial a identificação ao analista (como uma consistência) for tomada como um fim. O que vemos, e a psicanálise com crianças não cansa de demonstrar isso, é que, se há uma identificação libertadora, é que se realiza em relação à falta, e não ao objeto.
Patrícia, o que muitas vezes se escuta e se interpreta ‘do lado de cá’ é que a IPA propõe que a identificação ao analista seja a finalidade da operação transferência na análise. Eu desconfio que essa seja uma leitura superficial, talvez velha, do que se propõe como orientação clínica. É isso, me conta? Penso que temos que entender de que maneira num tratamento se articulam identificação e liberdade (em relação aos termos do objeto, da sobredeterminação), mas sem jamais esquecer que liberdade tem preço, e é preciso pagar por ele.
RÉPLICA | Patrícia Cardoso de Mello
Ilana,
Tenho muitas saudades do nosso “Estudo na praia” e das nossas conversas animadas sobre a clínica com crianças — que finalmente nem foram tantas, mas foram significativas para mim. Bastante divertida essa nova experiência que nos propõe a Lacuna, tão inusitada quanto a precedente, de debater por escrito e em três tempos um tema tão interessante quanto esse que você transformou na pergunta: “Para que serve uma análise?”.
Primeiro eu queria te agradecer pelo teu texto que levanta tantos pontos importantes e que constitui o nosso começo de conversa. E preciso dizer — não para você que me conhece, mas para os leitores —, que adoro discussões polêmicas quando elas nos fazem de fato refletir e avançar. Avançar significa necessariamente mudar de opinião a partir do debate, se deixar transformar a partir do contato com o ponto de vista do outro, enfim, construir a partir e apesar das diferenças.
Acredito profundamente ser esse o cerne do pensamento analítico. Como sabemos, a Psicanálise se inscreve na corrente humanista da cultura europeia, a qual tem o espírito crítico como um de seus pilares fundamentais. Nesta perspectiva, Freud nos convida permanentemente a refletir sobre o mundo, sobre a cultura, sobre nós mesmos. A compreensão do mundo e a compreensão de si caminham juntas e se apoiam num olhar curioso, interrogante e crítico com relação à vida.
Assim, parece-me que a própria proposta deste debate escrito nos aproxima de algum modo do nosso tema. Aqui estamos nós pensando juntos, levantando grandes questões e elaborando pequenas respostas, que são sempre provisórias, procurando sentidos, ideias, transformações. O que é a situação analítica senão um espaço privilegiado de reflexão e de busca da verdade?
Logo no início do teu texto, Ilana, você se endereça a mim, analista da IPA, enquanto analista lacaniana, situando nosso debate em um determinado campo de posicionamentos historicamente constituídos. No entanto, como você verá, a minha posição relativa à questão das finalidades da análise não se alinha com a posição clássica da IPA. Muito pelo contrário.
Neste sentido, tenho a impressão de não ser exatamente a interlocutora que a Lacuna estava procurando para conversar com você! Mas talvez finalmente isso torne nossa a conversa mais interessante ou pelo menos mais inesperada — assunto que também não é alheio ao nosso tema. Talvez pudéssemos pensar em ‘análise com finalidade’ por oposição à ‘análise criativa’ (ou livre, como você propõe), e em ‘debate com finalidade’ por oposição a ‘debate criativo’…
Achei que antes de mais nada seria interessante situar um pouco a discussão a respeito das finalidades da análise. Até onde eu sei, esta discussão ganha uma forma particular em torno da questão da análise de formação ou análise didática: quando a análise tem claramente uma finalidade pré-determinada, qual seja, transformar alguém em analista. Assim, o método analítico é tomado como um meio para se chegar a um fim preciso — e isso, evidentemente, com a anuência da instituição de formação, do analista didata e do analista candidato a membro da instituição.
Ora, no momento exato em que se define previamente a finalidade de uma análise, qualquer que seja ela, suprime-se em boa medida o espaço de aparecimento do inesperado, do desconhecido, do inconsciente, ou seja, tocamos fatalmente na essência mesma do processo analítico. Uma análise com finalidade pré-determinada seria, portanto, uma análise impossível: ou, dito de outra forma, simplesmente não seria análise. Esta é a posição de J. Laplanche, posição que me parece extremamente coerente.[8]
É verdade que quando se começa uma análise, nunca se sabe verdadeiramente por quê. Geralmente há um sofrimento e uma razão mais ou menos consciente, expressa com maior ou menor clareza. Mas o saber sobre as razões mais profundas desta busca vai sendo revelado, construído e desconstruído permanentemente ao longo do próprio processo — em um certo nível, possivelmente a construção-desconstrução desse saber constitui o próprio processo de análise.
E esse raciocínio não se restringe evidentemente à análise de formação. Quando qualquer paciente busca análise, existe uma queixa manifesta a ser elaborada pela dupla ao longo do trabalho analítico. O papel do analista não é de responder à queixa do paciente e solucioná-la, mas, ao contrário, de problematizá-la progressivamente, em movimentos que vão no sentido do descolamento do sujeito com relação ao desejo do outro, aos seus próprios ideais etc.. Então eu concordo com você, Ilana, quando você diz que a identificação libertadora que pode eventualmente se produzir na análise se dá em relação à falta, e não ao objeto. Gosto dessa formulação.
Voltando à formação analítica. Como se sabe, a análise didática é praticada na maioria das instituições filiadas à IPA.[9] Trata-se de um período de análise de cinco anos a ser feito com um analista reconhecido pela instituição para desempenhar a função de didata. Nesse caso, a questão da identificação ao analista está necessariamente colocada em primeiro plano, na medida em que o analista tende a funcionar como um modelo, colocando o analisando numa posição de aluno, de aprendiz, de seguidor.
E isso sem mencionar que temos aqui em questão não só o desejo do analisando de corresponder ao analista, de usá-lo como modelo, de imitá-lo, mas também o desejo do analista de ser usado como modelo, de ser seguido, de ter discípulos.
Nessa perspectiva, pessoalmente eu sempre fui e continuo sendo contra a análise didática — e isso apesar de ter aceitado a ela me submeter. Esse foi um dos preços a pagar para ter o que eu considero essencial no exercício da Psicanálise: fazê-lo de maneira plural dentro do possível, convivendo com analistas de diversas orientações. Para mim isso tem um grande valor, apesar das dificuldades e das limitações aí implicadas.
Claro, antes de fazer a análise didática, eu tinha uma série de ideias a respeito. Algumas se revelaram fazer sentido, outras não. Por exemplo, a questão da demanda — ou da ausência de demanda — de análise. Acredito, como você, Ilana, que só há análise quando há sofrimento. Então a análise de formação, que é muitas vezes uma análise por encomenda, com data de início e de fim, acaba se tornando uma análise pro forma, esvaziada de sentido. Eu sempre pensei assim. E, de fato, ouvi inúmeros relatos de colegas nesse sentido: a análise vira quase uma farsa, ou pelo menos uma obrigação entediante, onde se vai em nome da instituição, e não do próprio desejo.
Mas felizmente não é necessariamente assim. Vejo no meu entorno que em vários casos uma verdadeira demanda de análise pode ser criada no contexto da análise didática, dando lugar a um processo de transformação pessoal autêntico e interessante. Imagino que isso dependa de inúmeros fatores que têm a ver tanto com o funcionamento psíquico do analisando quanto com o do analista, e possivelmente com o que há de inédito do encontro entre eles. Além disso, é verdade que a maioria dos analistas que buscam formação chega à instituição já com um percurso de análise pessoal considerável, o que pode os ajudar a pensar a própria análise didática e a instituição de maneira crítica.
No meu entendimento, um ponto fundamental é o de saber se existe um espaço efetivo em determinada análise para se tratar destas questões. Por exemplo, se o desejo de ser analista pode ser verdadeiramente analisado como qualquer outro elemento da análise. Se o analista didata tem, ele mesmo, um posicionamento crítico e pensante com relação à instituição. Em termos institucionais, se há lugar na instituição de formação para uma discussão genuína a respeito das regras e do funcionamento institucional, o que supõe o exercício de questionamentos vivos e a tolerância a opiniões inevitavelmente conflitantes. E assim por diante. Enfim, se a criatividade encontra condições para emergir.
Na verdade, parece-me que infelizmente a análise didática está longe de ser a única forma de transmissão dogmática em psicanálise. No meu entender, o dogmatismo e o saber doutrinário são amplamente difundidos na nossa área, fazendo com que os analistas repitam de forma papagaiesca ideias, teorias, fórmulas. Com que pensem de maneira estereotipada. Com que defendam causas que não lhe são próprias. Com que hostilizem e desprezem a alteridade.
Laplanche, no texto que eu mencionei acima, escreve um par de frases muito contundentes que eu traduzi livremente assim: “O imperialismo ideológico, institucional e político é um dos componentes inegáveis do freudismo. O lacanismo é somente uma de suas manifestações mais bem acabadas.”[10] Escolhi este trecho por várias razões. Primeiro, porque gosto da coragem desse pensador em assumir suas convicções. Segundo, porque me parece ser a fala de alguém que pode questionar seus mestres, que pode tomar distância e pensar criticamente, e, ao mesmo tempo, fazê-lo de forma temperada — sublinhando, por exemplo, que o componente imperialista da Psicanálise é um dentre outros. E terceiro, porque ele chega ao lacanismo, fazendo uma ponte com a nossa discussão e me permitindo devolver a bola para você, analista de formação lacaniana.
Vou então levantar dois pontos que me parecem importantes para relançar o debate.
Pelo que eu sei, Lacan sempre foi favorável à análise didática. Mais do que isso, defendeu e praticou a superposição de funções na formação analítica, ou seja, o fato de o mesmo analista ocupar para um determinado analista em formação as posições de analista didata, supervisor e coordenador de seminário. Esse funcionamento me parece claramente favorecer a idealização, atribuindo um poder desmesurado a uma pessoa só e entravando o discernimento, a tomada de distância, ou seja, a genuína formação. Vi isso pela primeira vez quando era aluna de Psicologia e fiquei perplexa com o que me pareceu na época uma prática bizarra. Na verdade, não sei como isso funciona hoje, no Brasil, entre as escolas lacanianas. E tampouco conheço os argumentos que sustentam essa prática, se é que ela ainda existe. Por isso peço a você, Ilana, para me contar.
O segundo ponto diz respeito a este existir paralelo do pensamento lacaniano com relação às demais correntes psicanalíticas. Acho uma pena que o lacanismo seja tão fechado nele mesmo, e que venha evoluindo de maneira tão alheia. Nessa perspectiva, a iniciativa da Lacuna me encanta: considero fundamental abrir espaços de diálogo entre analistas de escolas diferentes, propiciando trocas que permitam alguma forma de compartilhamento, de reflexão conjunta.
E para concluir, Ilana, volto à tua questão inicial: “Para que serve uma análise?” Eu responderia agora de maneira despretensiosa dizendo assim: para viver criativamente, para pensar com autonomia, para que os conflitos inevitáveis da vida sirvam como motor do desabrochar humano.
TRÉPLICA | Ilana Katz
Patrícia,
Está muito bem nomeado: grandes questões, pequenas e provisórias respostas. Estamos em casa. ;)
Eu não quero começar essa conversa sem fazer seus ouvidos escutarem que me referi a você como uma analista na IPA, e não da IPA. Não tenho a intenção de, com isso, desrespeitar a instituição a qual você se filia, e a partir de onde fala. Muito pelo contrário, considero louvável uma tradicionalíssima instituição de psicanálise suportar como analista membro um analista não todo membro — espero me fazer entender nesses termos. Identificação sem limite não dá lugar pra pensamento, não cria — pra usar sua boa palavra. Enfim, essa letrinha me faz diferença, e é por causa dela que agradeço ‘Os Lacunas’ por nos colocarem para conversar. Porque conversa é quando nos é possível pensar com um outro. É o que você disse: o que chamamos de avanço não é um pensamento que cresce e se qualifica em si mesmo, que se credencia por concordâncias internas e eternas; andamos mais firmes (e, em muitos aspectos, menos sabidos) quando suportamos os atravessamentos de um encontro.
Eu tenho repetido muitas vezes que a psicanálise deve se fazer valer como um exercício na pólis. Acho que repito isso tanto para mim mesma e para alguns outros, pois, para analistas da nossa geração, isso não é uma obviedade. Muito me alegra me dar conta de que a geração de psicanalistas que chega logo depois da nossa tem essa questão mais clara. Eles não deixam isso vacilar com tanta frequência, como fizemos; e, se formos com eles, acho que ainda temos alguma chance.
A psicanálise como experiência na cidade quer dizer que é preciso estar, pensar e produzir com os outros, e não pelos outros e, muito menos, apesar dos outros. ‘Outros’, aqui, faz referência a outras pessoas, experiências outras, outros campos de saber e, ainda, para aproximarmos do que nos põe a falar aqui, outros psicanalistas, orientados por outras referências. Para fazermos a psicanálise acontecer no laço social não será possível desviar dessa tarefa.
Outro dia, o Christian Dunker lembrou de uma piada antiga, que perde um tanto da graça quando nos damos conta que ela é muito velha, mas bastante atual.
“Para fundar uma nova escola de psicanálise basta um psicanalista. Dois são suficientes para tornar tal empreendimento um acontecimento internacional. Mas se você tiver três lacanianos juntos, é uma questão de tempo até isso se transformar em uma ruptura inconciliável, motivada pelos mais fundamentais antagonismos epistemológicos, éticos e metapsicológicos”. Ele analisa: “É obviamente uma piada de “condomínio”, uma internal joke, que aponta para a falta de senso de tamanho, a extrema idealização de si mesmo e dos grupos humanos em que se toma parte, bem como o efeito desagregador das ideologias baseadas na autenticidade.” [11]
Como você disse, Patrícia, seria muito bom que esse fosse um ‘problema lacaniano’, e arrisco, seria melhor ainda se fosse só um ‘problema de psicanálise’. A experiência segregadora, o muro, já custou muito caro à civilização e, ao que tudo indica, caminhamos na direção de ter que pagar o impagável por isso. Nesse sentido, eu recomendo vivamente o último livro do Christian e o documentário “Muro”, de Eliane Scardovelli, exibido no Festival de Gramado no dia 8/08. E, se o chiste continua cumprindo sua função é porque nos faz rir da revelação de uma situação que ainda insiste. É rir pra não chorar, pois se as experiências de muro não são privilégios inerentes aos grupos psicanalíticos, podem também se fazer presentes ali como o mais nefasto exercício do controle, como ‘idealização do si mesmo’. Então, como chorar sobre o leite derramado nunca foi solução, vamos continuar nossa conversa, pequeno exercício político de estar com o outro.
Sua carta me fez pensar muito sobre as dimensões do poder no jogo analítico. Quando te fiz a pergunta sobre a identificação ao analista, não tinha claro que entraríamos no tema da análise didática, e, porque a questão da identificação ao analista está colocada em primeiro plano nessa situação, eu fico muito grata ao esclarecimento que você me prestou a respeito desse dispositivo de formação em curso na IPA. Achei importante você torcer nossa questão na direção da demanda de análise como uma demanda de formação, e dizer que uma análise com finalidade previamente decidida — fazer análise para ser analista — é tudo, menos uma análise. Mais importante ainda é ter claro que essa prerrogativa não se eliminaria com a extinção da análise didática. Truques de poder estão em jogo em mais de um dispositivo na psicanálise, novamente você tem razão; e, aqui, chego ao cerne da nossa discussão.
Eu não sei de um Lacan favorável à análise didática. Considerando que entre nós é comum darmos o estatuto de aforismo a falas contextualizadas, e considerando também que eu estou longe de saber tudo que Lacan pensou e disse, gostaria de te contar porque essa ideia me parece estranha.
Apesar e ao lado da experiência de ter ocupado para alguns o lugar de analista, supervisor e de ter esses mesmos na audiência de seus seminários de transmissão da psicanálise, Lacan foi longe e avançou significativamente na teoria sobre a função analista. Antes de seguir com isso quero te dizer que concordo com você que essa condição de onipresença nos três dispositivos de formação é, em termos gerais, complicada. Por razões muito próximas às que você me deu para dizer que uma análise didática pode ainda ser uma análise, eu não consigo decidir que esse seja um problema em si, pois sempre temos a perspectiva do modo como essa presença se efetiva em cada encontro. Porém, fato é que insiste a pergunta sobre a necessidade disso se dar desse modo, em cada tempo de cada experiência analítica, e também a cada tempo da experiência histórica da psicanálise.
Parece que vou dar um jeito de fazer de Lacan exceção com essa formulação, né? Vou tentar me posicionar mais claramente: o que penso é que, em tempos de hoje, nem ele poderia ser igual ao que ele foi no tempo que ficou para trás, e tenho claro também que o modo que ele foi tem efeitos no que se seguiu. Vamos juntas na aposta de que a disposição da formação ‘entre vários’[12] é bastante mais potente na medida que guarda lugar para a incompletude do Outro com a qual teremos que lidar, e sobre a qual é indispensável estarmos advertidos — mas advertidos mesmo, na carne. Por outro lado, lembro de uma formulação da Graciela Brodsky: se há um standard no dispositivo lacaniano é que não há standard. E nesse sentido, teremos sim que dar conta da exceção que pode se produzir necessária quando, para um, a relação com a psicanálise precisar, em algum momento, se concentrar numa única transferência de maneira privilegiada. Mas isso como caminho, jamais como conclusão.
Lacan, bastante interessado em discutir as relações de poder no interior da psicanálise, nos alertou insistentemente para os perigos de tomar a contratransferência como recurso a se realizar na clínica. Se a contratransferência é um fenômeno de indiscutível ocorrência, este não pode ser tomado pelo analista como um recurso no manejo clínico. O que Lacan nos diz é que o analista precisa cuidar disso. Retomo esse ponto pois foi através dessa discussão que, ainda nos primeiros tempos do ensino, Lacan chegou à ideia de desejo do analista.[13] E o desejo do analista é um dispositivo bastante esclarecedor daquilo que aprendi com Renata Petri a chamar de lugar-função do analista. Há um desejo que nos move na direção de sermos analistas, mas não é desse que falamos nessa importante formulação, a partir do que nos fazemos presentes na condição de analista. O melhor jeito que consigo pensar sobre isso é considerar que o desejo do analista é um desejo dessubjetivado. O que parece uma contradição entre termos, desejo/dessubjetivado, se explica quando entendemos que a experiência de análise do analista deve ter lhe dado a condição de resistir a operar como sujeito na sua clínica. A pessoa do analista não conta, o que ele pensa, o que ele imagina ser certo ou errado, o que ele sente ou o que gostaria que acontecesse na vida daquele que escuta… nada disso deve ter lugar. Porque o analista deve ficar no lugar do objeto que põe o analisante para funcionar. Sua função é de causa, de pôr o sujeito para trabalhar em relação ao seu próprio léxico significante, na trama do seu corpo.
Lacan entendeu que isso só acontece a partir da condição do analista se deixar ocupar o lugar que o analisante o designa na transferência. É desde ali que ele opera. Se entramos no jogo como sujeito, é como sujeito que somos afetados pelo que o paciente diz; e se respondêssemos daí, a partir dos efeitos que uma fala tem sobre nós, estaríamos tomando-nos como um “parâmetro de sanidade” — em última instância, nosso sentimento serviria para montar uma verdade a respeito do outro que nos fala.
Ainda que reste muito pouco espaço para a nossa conversa, acho importante tocar no tema da verdade que você aludiu logo no início da carta. Você falou da experiência de uma análise como busca da verdade. O que entendendo é que você sugere que há um caminho pela verdade do sujeito para que uma análise possa cumprir sua proposta. Nós sabemos como Freud se debateu com essa ideia em temas decisivos, tais como a transgressiva proposição de uma realidade psíquica que emoldurasse a experiência humana. Lacan, como um bom freudiano, insistiu nessa discussão sobre a verdade do começo ao fim de seu ensino. Seu percurso, porém, permitiu uma proposição que abre certa distância de algumas posições freudianas, e esse tema se implica radicalmente na nossa questão sobre a finalidade da análise. Esclareço que não entendi que você propõe a finalidade da análise como revelação de uma verdade do sujeito em tratamento. Você foi bem clara, aliás, ao apontar para a criação como ponto decisivo da operação analítica. Minha ideia aqui é abrir essa “busca da verdade” na nossa discussão, pois acredito que enfrentar essa polêmica poderia nos fazer avançar sobre a questão ‘para que serve uma análise?’
Lacan não aposta na passagem do inconsciente obscuro às luzes da consciência, a proposta de uma análise não seria a de esclarecer uma verdade que já estaria ali escrita. Sua ideia é passar do inconsciente à fala. O importante é que a fala seja ouvida por alguém ali onde não pode ser lida por ninguém. É isso que vai dar ao sujeito a possibilidade de se servir desses termos enunciados no seu dizer para fazer alguma coisa com eles. E, no que diz respeito à relação entre o dizer e a verdade, ainda que o sujeito se ponha a falar tudo que lhe vier à cabeça, Lacan se deu conta que há sempre um impossível de dizer, que a fala não libera uma totalidade.[14] Ele segue firme com a concepção de que o saber inconsciente é o lugar da verdade, mas, para dar conta dessa parcialidade em jogo no dizer a verdade, ele propõe o termo ‘verdade mentirosa’ — para expressar a impossibilidade constitucional de que o sujeito constrangido pela forma humana, mesmo sob associação livre, possa dizer toda a verdade, articular-se em significantes que lhe permitam uma apropriação absoluta de seus termos originários e supostamente verdadeiros. “Não há verdade que, ao passar pela atenção, não minta.”[15]
Nós só temos acesso à verdade pelo saber, ou seja, pela articulação de termos referidos ao tecido inconsciente e que se instituem em uma determinada ligação, numa determinada concatenação e ordenação entre termos que se registram a partir de acontecimentos e experiências. Então, ainda que a verdade do sujeito seja escrita pelo funcionamento inconsciente, que essas marcas que tecem o que chamamos de cadeias simbólicas sejam determinantes de nosso movimento no mundo, será preciso considerar que essa verdade não é toda acessível. Foi a partir dessa característica da verdade que Lacan criou o neologismo varité (varidade): verdade variável. O verdadeiro está sempre a deriva quando se trata de real.
É por esse caminho, que aqui encurto sobremaneira, que entendo que nos últimos anos de seu ensino Lacan tentou desembaraçar a psicanálise da crença no verdadeiro. Essa argumentação de Lacan em torno da condição varité da verdade encontra eco nas formulações freudianas e pós-freudianas? Penso que ainda que não se contradigam, se distanciam… O que você me diria? Não sei como vamos fazer, mas vamos ter que dar um jeito desta conversa continuar!
E que o que é diferença entre nós siga nos dando muito trabalho. Na praia, na Lacuna, e noutro lugar. Obrigada pela oportunidade de pensar com. A você, e a eles que aqui nos juntaram.
Um beijo,
Ilana. ♦
REFERÊNCIAS
DRUMOND, Cristina (2012) Como fazer com a transferência? Disponível em: <www.ebp.org.br>.
DUNKER, Christian. A alma revolucionária. Blog da Boitempo, São Paulo, jun/2015. Disponível em: <http://wp.me/pB9tZ-3hp>
LACAN, Jaques [(1953-54) 1975] O seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud. Trad. B. Milan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
LACAN, Jaques (1958) “A direção do tratamento e os princípios de seu poder”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; pp. 591-652.
LAPLANCHE, Jean (1999) Entre seduction et inspiration, l’homme. Paris: PUF
NICÉAS, Carlos Augusto (2014) Introdução ao narcisismo – o amor de si. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
[1] NICÉAS, Carlos Augusto (2014) Introdução ao narcisismo – o amor de si. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; p. 105.
[2] Lacan, no seu primeiro seminário, dirá: “O sujeito, confessando sua história em primeira pessoa, progride na ordem das relações simbólicas fundamentais em que tem de encontrar o tempo, resolvendo as paradas e as inibições que constituem o supereu. É preciso tempo” (LACAN, Jaques [(1953-54) 1975] O seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud. Trad. B. Milan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986; p. 323) ou, um pouco mais adiante: “Há o fator tempo numa análise (…) há um certo desdobramento do tempo-para-compreender” (p. 325).
[3] DRUMOND, Cristina (2012) Como fazer com a transferência? Disponível em: <www.ebp.org.br>.
[4] Antes de seguir com meu pensamento, uma ressalva: aposto que eu e você, analistas de crianças que não falam, não precisamos sequer discutir que significantes não são as palavras. Neste ponto estamos atrás dos termos através dos quais um sujeito pode vir a se dizer, a saber de si.
[5] NICÉAS, Carlos Augusto (2014) Introdução ao narcisismo – o amor de si. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; p. 114.
[6] Recolhi essa formulação sobre a liberdade em relação ao objeto de um texto de Miller, mas, peço desculpas, muito infelizmente não consigo localizá-lo novamente.
[7] Quando uma criança, por exemplo, pode se desdobrar pela vida, mas o faz porque “a mamãe vai ficar feliz”, a libido está controlada por esse objeto que funciona como diafragma da experiência: ela joga bola porque a mamãe quer um filho atleta, vai à escola pra mamãe se orgulhar e come para ela não ficar triste.
[8] LAPLANCHE, Jean (1999) Entre seduction et inspiration, l’homme. Paris: PUF; pp. 75-84.
[9] Na verdade, a IPA reconhece hoje três modelos de formação diferentes: o modelo Eitington, que é o clássico; o modelo uruguaio e o modelo francês. Os dois primeiros preconizam a análise didática, enquanto que este último, não.
[10] “L’impérialisme idéologique, institutionnel et politique est un des composants indéniables du freudisme. Le lacanisme n’en est qu’une des manifestations les plus achevées” (LAPLANCHE, Jean [1999] Entre seduction et inspiration, l’homme. Paris: PUF; p. 76).
[11] DUNKER, Christian. A alma revolucionária. Blog da Boitempo, São Paulo, jun/2015. Disponível em: <http://wp.me/pB9tZ-3hp>.
[12] Faço aqui uma alusão ao dispositivo clínico Entre Vários, nomeação de uma experiência que se desenvolve em instituições como Courtil e Antenne 110, que atendem em sua maioria crianças e jovens psicóticos e autistas. Este trabalho se organiza em três eixos: tratamento do Outro, a pluralização dos parceiros na clínica institucional e o remanejamento de saber. A pluralização dos parceiros tem sido um recurso clínico potente para lidar com a condição de invasão com que o Outro é assumido pelo psicótico. Entre vários, cada um cumpre a função de descontinuar o outro, esburacar seu saber sobre o sujeito, ou seja, fazer vacilar a onipotência do Outro que assume sempre efeitos avassaladores sobre o sujeito nesses casos. Entre vários, o esforço é de fazer o saber bascular para o lado do sujeito, uma vez que o Outro pode se apresentar mais regulado. Trata-se de uma prática em ato, jamais de um exercício de interpretação e a qual me refiro apenas de maneira analógica.
[13] LACAN, Jacques (1958) “A direção do tratamento e os princípios de seu poder”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; pp. 591-652.
[14] A esse respeito vale a leitura dos preciosos versos de Drummond em “A verdade” (ANDRADE, Carlos Drummond [2002] Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002).
[15] LACAN, Jacques (1976) “Prefácio à edição inglesa do Seminário 11”. In: Outros escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003; pp. 567-9.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | KATZ, Ilana; MELLO, Patrícia Cardoso de (2015) A finalidade de uma análise. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. 0, p. 5, 2015. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2015/09/29/a-finalidade-de-uma-analise/>.