Assim é a mulher por trás de seu véu?

                                                                                  por Léa Silveira

Assim é a mulher por trás de seu véu? – Questionamento sobre o lugar do significante falo na fala de mulheres leitoras dos Escritos.

Naturalmente, o lugar de fala em que me situo para falar[1] sobre os Escritos, além de ser o lugar de alguém que lê Lacan na filosofia, é o lugar de uma mulher. A partir desse lugar, assim marcado duplamente, o que pretendo fazer é trazer mais perguntas do que propostas em um sentido que pudesse ser positivo. Além disso, cabe advertir que os questionamentos que pretendo aqui trabalhar não são questionamentos novos. Não passam, na verdade, de mais uma tentativa de situar, talvez de outra forma, certos elementos já bastante conhecidos de muitas leitoras de Lacan. Essa tentativa, assim pretendo, irá se restringir a um percurso interno à psicanálise lacaniana.

A meu ver, é possível destacar dois grandes eixos de estruturação da reflexão que encontramos nos Escritos. É claro que isso precisa ser pensado de uma forma muito geral, uma vez que a coletânea inclui textos deveras distantes entre si tanto em termos de tempo quanto em termos de projeto intelectual. Apesar disso, creio ser possível dizer que os Escritos testemunham um esforço de, por um lado, subtrair a psicanálise dos impasses filosóficos do psicologismo e, por outro lado, embora na mesma medida, de oferecer à reflexão psicanalítica a respeito da diferença sexual um certo desenvolvimento.

No caso do que estou destacando como primeiro eixo, que se refere à crítica do psicologismo, os Escritos apresentam um movimento muito claro de adoção, a partir do estruturalismo, de uma perspectiva transcendental que permite a Lacan aceitar o conceito de inconsciente e dar início àquilo que chamou de “retorno a Freud”[2]. Isso significa que Lacan, de um ponto de vista epistemológico, afastou-se decididamente de um empirismo que encontramos em Freud por toda a parte e também que ele estava muito ciente de que tal afastamento — revelado necessário pela leitura de G. Politzer — deveria ser, idealmente, acompanhado de um estado de alerta quanto à adoção irrefletida de pontos de partida metafísicos. É esse o movimento que torna C. Lévi-Strauss tão interessante aos olhos de Lacan, a ponto de o antropólogo ser mesmo reiteradamente localizado — desde 1953 (“Discurso de Roma”) até 1966 (“A ciência e a verdade”) — como uma espécie de guia de seu programa. Que o inconsciente seja o discurso do Outro, eis aí uma diretriz que tornava de vez desnecessário o recurso à obscura entidade “representação psíquica”.

A ideia de que existe um lugar a partir do qual se fala, ideia que nos interessa hoje aqui, parece-me ser dependente, na reflexão lacaniana, dessa visada transcendental. Pois esse lugar é, para Lacan, estruturado e constrói-se a partir de elementos formais a priori que, por serem vazios, não seriam menos reais. Não é essa a tese central de Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano? Lemos nesse texto que o desejo, além de estar submetido ao aspecto contingente da história do sujeito, também o está a elementos estruturais[3] que permitiriam discernir o vínculo desse sujeito com uma articulação significante e que são apontados por Lacan no grafo do desejo. Esses elementos são, como todos sabem: a imagem especular i(a), o Outro, a demanda, a castração, o desejo, o significante da falta no Outro, o gozo, a fantasia, o ponto de basta, o eu, o ideal do eu I(A).  Eles são, para Lacan, estruturantes do lugar do sujeito como algo dividido entre enunciado e enunciação e situado diante de um objeto não especularizável, resultante da separação originária e do engodo de fazer de conta que ela não existiu, objeto que Lacan nomeia “objeto a[4]. É por referência ao grafo — e, portanto, à estrutura — que Lacan escreve na abertura dos Escritos que o lugar que, para o conde de Buffon, era marcado pelo homem — isto é: o lugar do estilo — é na verdade, não o lugar do homem, que não é mais “uma referência tão segura”[5], mas o lugar da queda do objeto a. Essa queda revela, diz Lacan, que o objeto a é causa do desejo e “suporte do sujeito diante da divisão entre verdade e saber”[6].

O que significa dizer que o objeto a é suporte dessa divisão? Trata-se de uma divisão que aponta para o lugar da enunciação como distinto do lugar do enunciado. Um enunciado, o lugar em que se registra o saber, é produzido por uma posição de enunciação que remete à verdade do desejo; mas esta posição de enunciação resta sempre camuflada pelo enunciado. Trata-se aqui de uma distinção que é, para Lacan, originária na constituição do desejo: o fato de falar implica o Outro na mesma medida em que implica o fato de que a fala excede o que se quer dizer. Ou, como Lacan diria bem mais tarde, “que se diga fica esquecido detrás do que se diz no que se ouve[7]. Lacan indica isso de várias maneiras, mas há uma maneira que, para ele mesmo, é privilegiada. Ele escreve, também na abertura dos Escritos, assim como no Discurso de Roma, que se trata, em seu projeto, de promover à condição de princípio a ideia de que na linguagem nossa fala nos vem do Outro de uma forma invertida. Ocorre que, para Lacan, esse suporte que o objeto a é para o sujeito perante a divisão entre enunciação e enunciado consiste em um suporte corporal. O sujeito se constitui desaparecendo diante do Outro. Mas esse desaparecimento produz imagens que são imagens corporais resistentes ao significante, ainda que elas se restrinjam às imagens corporais do corte. Sua função, que é como a de um indicador apontado para uma ausência como indício do desejo, é exercida por “apêndices do corpo”[8]. O objeto parcial, no entanto, não é fornecido a partir de um lugar externo à estrutura, não é algo prévio à relação do significante com o sujeito; ele é “elemento da estrutura desde a origem”. Diz Lacan nesse sentido: “Se em sua função ele [o objeto a] é realmente o que articulo, ou seja, o objeto definido como um resto irredutível à simbolização no lugar do Outro, ainda assim ele depende desse Outro, pois, se assim não fosse, como se constituiria?”[9].

Embora essa seja uma questão complexa, acredito que essas breves indicações sejam suficientes para mostrar que Lacan pensa a estrutura, pelo menos a partir de certo momento, numa relação com o corpo e vice-versa. Talvez fosse necessário trabalhar que ontologia estaria implicada aí e Lacan parece sugerir essa necessidade ao escrever coisas tais como a seguinte: “(…) [o] objeto é o protótipo da significância [signifiance] do corpo como aquilo que está em jogo no ser.”[10] No entanto, sabemos que também, por diversas vezes, Lacan recusou de maneira contundente esse caminho, seja restringindo a possibilidade da ontologia a uma pré-ontologia[11], seja qualificando a ontologia como discurso do mestre a ser bem distinguido do discurso psicanalítico[12]. Como quer que seja, parece haver dificuldades profundas na localização do corpo entre ser e linguagem, dificuldades que não pretendo trabalhar aqui, mas que ecoam no problema a ser colocado mais adiante.

Não é esse, então, o caminho que quero seguir nessa minha fala de hoje. O que quero destacar agora é o fato de que essa estrutura transcendental do desejo que acabará por exigir o objeto a, envolve, para Lacan, o falo, com o que se coloca, para mim, o segundo eixo que mencionei no início[13].

Tanto a linguagem quanto a sexualidade implicam a alteridade. Lacan destaca, no entanto, o caráter paradoxal dessa implicação, visto que não se pode nem nomear o Outro de uma vez por todas, nem tampouco reduzi-lo a objeto de um gozo impossível tornado imaginariamente possível, mas sempre adiado, na fantasia. Que se trate aí de uma impossibilidade, o que Lacan quer situar em torno dela é essa sobreposição entre uma impossibilidade que diz respeito à linguagem e uma impossibilidade que diz respeito à relação sexual. É nessa convergência que Lacan localiza o falo como, ele diz,  “[…] um símbolo geral dessa margem que sempre me separa de meu desejo e que faz com que meu desejo seja sempre marcado pela alteração que ele sofre por entrar no significante.”[14] Ou, como lemos nos Escritos: “O falo é o significante privilegiado dessa marca, onde a parte do logos se conjuga com o advento do desejo”[15]

Embora Lacan distinga entre falo imaginário e falo simbólico, ele é, afinal, a “imagem do pênis”[16] e lemos, naquele mesmo texto em que ele apresenta o grafo do desejo que, se o falo simboliza o lugar do gozo na medida em que ele faz falta na imagem desejada é apenas porque se esteia no “órgão eréctil”[17], algo que é capturado porque é o que há de “mais saliente” na copulação[18] e porque sua “turgidez” é a “imagem do fluxo vital” que se transmite na geração[19].

Isso, no entanto, não parece ser uma argumentação que prime pela consistência porque traz insistentemente aspectos dificilmente conciliáveis entre si.

Como primeiro aspecto, podemos destacar que, em outro texto dos Escritos, “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina” (1960), Lacan parece reconhecer, ainda que muito de passagem, que a referência ao falo envolve uma circunstância (histórica?) de falocentrismo. Ele escreve que é “na dialética falocêntrica” que a mulher “representa o Outro absoluto”[20]. O texto não deixa claro o que seria essa “dialética” “falocêntrica”, mas marca bem que é preciso que isso tenha lugar para que a mulher represente o Outro absoluto. Lacan diz uma coisa importante a esse respeito no Seminário 5, algo que talvez nos fizesse avançar quanto a esse ponto. Ele diz que o fato de o falo ser o significante do desejo não é o resultado de um conjunto de considerações teóricas, “não é uma coisa deduzida”[21], mas um dado fornecido pela experiência analítica. Ora, se se trata de um dado fornecido por uma experiência, então fica claro que não há como isso não ser contingente.

Também o acompanhamos dizer, em um momento um pouco posterior de sua reflexão, que nada falta à mulher: “Com referência ao que constitui a chave da função do objeto do desejo, o que salta aos olhos é que não falta nada na mulher. Estaríamos inteiramente errados em considerar que o Penisneid é um termo final.”[22] No entanto, se retornarmos ao Subversão do sujeito…, de 1960, ali também iremos ler o seguinte: “Assim é a mulher por trás de seu véu: é a ausência do pênis que faz dela o falo, objeto do desejo.”[23] Além disso, Lacan escreve no mesmo ano, agora no texto sobre a sexualidade feminina, que o clitóris “coloca o sexo da menina sob o signo de uma menos-valia orgânica.”[24] Um pouco antes, ele também escrevia algo que estabelecia uma ligação entre castração e desenvolvimento. Eis o trecho: “a castração não pode ser deduzida apenas do desenvolvimento, uma vez que pressupõe a subjetividade do Outro como lugar de sua lei. A alteridade do sexo descaracteriza-se por essa alienação.”[25] Ora, que a castração não possa ser deduzida apenas do desenvolvimento, isso quer dizer que essa dedução exatamente implica esse desenvolvimento. Sem que seja explicitado o que se pensa aqui com essa palavra “desenvolvimento”, a questão permanece em aberto. Mas permanece lá. Não é, inclusive, pontualmente que ela aparece. Pois um dos objetivos do texto é defender que a “função da estrutura” não deve ser suprimida em favor da função do desenvolvimento[26], sendo preciso reconhecer, não que esta não tenha uma incidência importante, mas que possui limites[27]. “Desenvolvimento” e “pênis” são, me parece, termos aqui mobilizados em um sentido que tenderia a se desenhar na contracorrente do primeiro aspecto que destaquei agora há pouco e que indicava história e contingência. Além disso, não são poucas as circunstâncias em que Lacan insiste em que a diferença sexual é um fato de discurso e que a “relação do sujeito com o falo (…) se estabelece desconsiderando a diferença anatômica entre os sexos (…).”[28]

Cabe mencionar ainda que aquela capacidade para a ereção, que Lacan destacava na imagem do pênis, por vezes é relacionada à questão mais abstrata da oposição entre presença e ausência, embora ela seja acompanhada pela oposição tumescência/detumescência do órgão[29]. Ora, uma presença e uma ausência só são reconhecidas quando são nomeadas, quando são conduzidas à dimensão do significante. Que sentido haveria em falar de ausência ou desaparecimento relativamente a um órgão como sendo simultaneamente estruturante e prévia ao significante a não ser o sentido implicado em uma estratégia que afinal, seria de naturalização? Parece haver, assim, momentos em que a argumentação de Lacan dificilmente teria como se esquivar desse resultado, que é exatamente aquilo que ele defende que não podemos fazer. A consequência inevitável desse caminho – de assumir que o falo é o significante do desejo porque possui a capacidade de representar uma alternação entre presença e ausência em função da capacidade eréctil de um órgão – parece ser uma normatividade assumida pela cultura, mas dada como natural; uma normatividade que eternizaria a repulsa pelo feminino de um modo tal que, exatamente, produz ambas essas noções – tanto de repulsa quanto de feminino[30].

A despeito de todo esse ziguezague, uma ideia parece ser sólida no pensamento lacaniano: a castração é algo que diz respeito, não ao pênis, mas “ao sujeito em sua relação com a linguagem e à opacidade do desejo do Outro”[31]. Ou, num vocabulário freudiano: a castração diz respeito à angústia da mediação entre o narcisismo e o princípio de realidade. Essa inadequação do desejo ao corpo, sempre atravessada tanto pelas contingências da cultura quanto por algo que é estruturante dela, por que chamá-la, afinal, de castração[32] na medida em que esse termo implicaria ter ou não ter o falo, ser ou não ser o falo?

Lacan, como todos sabem, procedeu a uma estruturalização do Édipo a partir da qual os lugares que o configuram são lugares vazios. Permaneceu, no entanto, nomeando esses lugares com esses termos: Nome-do-pai, Desejo-da-mãe, falo, apesar de nada na vinculação entre estrutura e corpo parecer exigir prerrogativas desse vocabulário. Não parece haver, afinal, nenhum argumento decisivo no sentido de fundamentar que seja o falo o significante a responder por essa vinculação. Se a castração é um dado estruturante do sujeito em relação ao seu corpo, quer esse corpo seja dotado de um pênis ou de uma vagina, por que precisaríamos manter, na palavra, essa referência a uma realidade, que não é da ordem do real exatamente por ser biológica ou natural? O falo não é o pênis. Mas, exatamente, quanto menos o falo é o pênis mais difícil se torna sustentar que se trate, aí, de falo.

Assim, ou o falo tem a ver com o corpo e não podemos, afinal, eliminar resíduos de naturalização no pensamento lacaniano que inevitavelmente (apesar da teoria da sexuação dos seminários tardios) serão tributários do mais profundo ranço de nossa cultura patriarcal ou não tem nada a ver com o corpo e então não temos, afinal, razão alguma para chamar de “falo” o significante do desejo. Haveria uma terceira alternativa?

Além de tudo isso, Lacan mobiliza o Nome-do-pai como significante da Lei. Pensar a castração numa relação com a linguagem o conduziu a assinalar o pai como nome da ruptura entre a criança e seu primeiro objeto de amor. Como essa ruptura é alojada no próprio simbólico, e como a entrada no simbólico corresponde à entrada na cultura, o resultado foi tornar amplamente coextensivos pai e cultura, tal como no mito freudiano do assassinato do pai da horda primitiva. A meu ver, a questão aqui se reduplica totalmente: que motivos haveria para destinar ao lugar masculino do pai a resposta pela própria incidência do simbólico senão o fato de partida de que vivemos em uma cultura patriarcal?

Toda a questão da subversão do sujeito e da dialética do desejo não poderia ser preservada, com vantagens, sem esse vocabulário que atribui tantas prerrogativas ao falo e ao Nome-do-Pai? Ora, não foi Lacan mesmo quem mais nos advertiu para o poder produtivo do significante e para o fato de que é com a linguagem “que emerge a dimensão da verdade”[33]

***

Esses são, a meu ver, dois eixos de reflexão que encontramos nos Escritos: a necessidade de remeter a constituição do sujeito a uma dimensão transcendental indicada exclusivamente pelo fato de que se fala e a referência ao falo como significante do desejo. A questão que eu gostaria de propor que seja visitada hoje é: seria possível preservar o primeiro sem o segundo? Em que medida esse segundo elemento é problemático quando tomado a partir do lugar de fala de uma mulher? Seria possível preservar a ideia de que um lugar de fala implica elementos estruturais que dizem respeito à sexualidade e ao desejo abrindo mão de nomear o significante do desejo como falo? Seria possível manter a referência a uma estruturação do desejo, a qual passa necessariamente pela construção de fantasias relativas à diferença sexual sem a centralização do falo que encontramos tanto em Freud quanto em Lacan? Não vou entrar aqui na questão sobre a necessidade de usar a expressão “diferença sexual” no plural porque penso que ela daria lugar a outra discussão muito ampla. Restrinjo-me a questionar sobre a existência ou inexistência de fundamentação para que se situe, no interior da diferença sexual, um paralelo entre de um lado posse do falo, lei e posição masculina e, de outro, ausência do falo, transcendência da lei e posição feminina.

Esse questionamento, nós o encontramos diretamente em L. Irigaray[34], G. Rubin[35], J. Butler[36], J. Birman[37], M. Arán, para quem a tese lacaniana de que a mulher não existe é totalmente devedora do “modo masculino de ver as coisas”[38], e P. Knudsen, de quem destaco aqui a seguinte consideração, também já relativa aos últimos seminários: “Se a anatomia cede lugar à lógica, o sexual, enquanto objeto construído pela psicanálise, deve abrir mão dos termos que tradicionalmente se referem a realidades ontológicas, ainda que performativas: homem e mulher.”[39]

Penso que nenhuma dessas autoras deixou de estar alerta para a diferença entre sexo e gênero. Lacan precisa se referir a lugares de gozo, não a papéis sociais, é claro. Mas haverá mesmo uma distância tão grande entre as duas coisas? Ou melhor: qual é o modo dessa distância? Não é central à psicanálise essa tese de que o lugar de gozo reverbera no lugar de fala? Não é também a própria psicanálise que convoca a uma reflexão sobre o laço social que parta da questão do desejo? Quando se diz que a cultura é fálica e que o gozo que está para além da linguagem é um gozo feminino não se está reificando a forma histórica de cultura que conhecemos e em que vivemos?

Talvez se deva a isso essa circularidade tão aprisionadora que encontramos na teorização das fórmulas da sexuação: a mulher é não toda porque aquilo que é não todo é o que chamamos de mulher. Circularidade apenas estancável, afinal, por um órgão que o homem possui e a mulher não. Em Lacan, essa circularidade parece produzir, a meu ver, consequências tão inaceitáveis quanto alguns momentos do texto freudiano. É, a meu ver, uma circularidade do mesmo tipo que aquela produzida por Freud quando, em sua conferência sobre a feminilidade, discrimina a virilização (o que chama de “complexo de masculinidade”[40]) como um dos caminhos possíveis para a mulher diante da castração. Obviamente que já se assumiu previamente que tais e tais características (que, para Freud, são as características que marcam a ética e a estética) são características masculinas. No Seminário 20, por exemplo, Lacan apresenta a seguinte consideração: “A mulher só entra em função na relação sexual enquanto mãe. (…) Para esse gozo que ela é, não toda, quer dizer, que a faz em algum lugar ausente de si mesma, ausente enquanto sujeito, ela encontrará, como rolha, esse a que será seu filho.”[41]  No Seminário 20. O mesmo que teria avançado na formalização da sexuação a ponto de não precisarmos nos referir à anatomia para sinalizar o feminino e o masculino. Será mesmo? Até onde isso vai? Não podemos ler uma coisa como essa e fazer como se não a tivéssemos lido.

Certo, temos elementos para falar de um gozo para além da linguagem, mas por que chamá-lo de feminino se ele exatamente não requer uma fêmea? Certo, do ponto de vista psicanalítico, a existência da cultura implica a lei, mas por que qualificar essa lei como masculina ou paterna?

Lacan construiu para a psicanálise um caminho que tornou desnecessário o psicologismo freudiano. Não seria possível construir para ela um caminho, imperativo do ponto de vista político, que tornasse desnecessário do ponto de vista epistemológico a insistência em um vocabulário – mais do que em conceitos – que talvez tendam a reproduzir certas circunstâncias históricas tão vinculadas ao que J. Butler chamou de “sujeito masculino do desejo”?

M.-H. Brousses em um texto muito instigante chamado Em Miami, ou o sintoma como sex-symbol, ao qual já me referi acima, traz essa ideia que estaria, para ela, no centro do debate ente psicanálise e feminismo: na posição de uma mulher ela se propõe tornar o feminismo, como sintoma, operatório. Talvez possamos nos permitir perguntar: tornar o feminismo operatório até as suas últimas consequências não exigirá que ele seja de fato refeito até ser totalmente desfeito? Mas talvez possamos nos permitir perguntar outra coisa também: tornar o feminismo operatório como sintoma até as suas últimas consequências não exigirá também uma reconstrução do vocabulário psicanalítico?

Essas perguntas poderiam se desdobrar em outras que, por ora, eu poderia colocar assim: será que é viável a recusa da hipótese, que também parece até o momento ser inseparável da psicanálise, de que a repulsa do feminino (e então a opressão da mulher) teria um enraizamento inconsciente incontornável? Por que, afinal, como tão bem observou J. Andrès[42], a mãe está ausente de Totem e tabu? Isso que C. Calligaris[43] chamou de “ingrediente básico do machismo” seria também “ingrediente básico da cultura”? Ora, se for, que motivos temos nós, mulheres, para não capitular?

Talvez se levante aqui a suspeita de que essa formulação que endereço a vocês agora não passaria da expressão de um desejo reprovavelmente fálico. Seria ela isso: um desejo direcionado ao discurso do mestre? Ou será que, afinal, não seria politicamente necessário assumirmos que não temos motivos para continuar a perpetuar essa tão longa tradição que identifica o discurso do mestre como algo masculino?

Apesar de hoje eu responder positivamente à última questão, não posso encerrar esse momento da minha intervenção — que está mais para uma avalanche de perguntas — sem deixar de lembrar que uma das coisas que Freud pretendeu ter ensinado foi que duvidar de si mesma é um hábito extremamente salutar para qualquer teoria e vital para a psicanálise. E sem deixar de reconhecer, tomando um pouco emprestado esse grande insight do texto da M.-H. Brousse, que, com essa fala, eu trato de pôr em ato o meu feminismo como sintoma.

Referências

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* Léa Silveira possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará, mestrado em Filosofia e Metodologia das Ciências e doutorado em Filosofia, ambos pela Universidade Federal de São Carlos, e aperfeiçoamento em estágio de doutorado pela Université Paris VII – Denis Diderot. É professora de Filosofia da Universidade Federal de Lavras. Membro do GT de Filosofia e Psicanálise da ANPOF desde sua fundação em 2002. Membro da International Society of Psychoanalysis and Philosophy/Société Internationale de Psychanalyse et Philosophie. Membro do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Psicanálise, da Universidade Federal de São Carlos. Atua como assessora ad hoc para a Fapesp desde 2011.



[1] Este texto foi apresentado em agosto de 2016 no Instituto Gerar (São Paulo – SP) em um dos debates promovidos pela Lacuna – Uma revista de psicanálise a propósito dos 50 anos de publicação dos Escritos, de J. Lacan (https://www.facebook.com/revistalacuna/videos/1798841927012131/). O tema desse debate específico foi “lugar de fala”. Agradeço ao Instituto Gerar pela acolhida e à equipe da Lacuna, especialmente ao Pedro Ambra, pelo convite.  Por causa de uma certa conversa que este texto apenas tentou continuar, eu o dedico a três mulheres: Fabíola Izaias, Lia Silveira e Alessandra M. Parente, a quem devo a leitura de alguns textos que vou mencionar aqui.

[2] Argumento que desenvolvi na tese de doutorado “Determinação versus subjetividade: Apropriação e ultrapassagem do estruturalismo pela psicanálise lacaniana” (Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2008).

[3] LACAN, Jacques (1960c) “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; p. 826.

[4] Para uma gênese do conceito de objeto a no pensamento de Lacan cf. GARCIA, L. F. B. Despertar do real: A invenção do objeto a. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

[5] LACAN, Jacques (1966) “Abertura desta coletânea”. In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 9.

[6] LACAN, Jacques (1966) “Abertura desta coletânea”. In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 11.

[7] LACAN, Jacques ([1972-73]1975) Seminário, livro 20: Mais, ainda. Trad. Vera Ribeiro Rio de Janeiro: Zahar, 2008; p. 22.

[8] LACAN, Jacques (1958a) “Observação sobre o relatório de Daniel Lagache” In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 689.

[9] LACAN, Jacques ([1962-63]2004) O seminário, livro 10: A angústia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005; p. 359.

[10] LACAN, Jacques (1960b) “Subversion du sujet et dialectique du désir dans l’inconscient freudien”. In: Écrits. Paris: Éditions du Seuil, 1966, p. 803.

[11] LACAN, Jacques (1964) Le séminaire, livre XI: Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse. Paris: Éditions du Seuil (Points), 1973; p. 31.

[12] LACAN, Jacques ([1972-73]1975) Seminário, livro 20: Mais, ainda. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

[13] Para uma exposição de elementos importantes da elaboração teórica de Lacan a respeito do falo, cf. MANZI, Ronaldo. (2014) Seria o falo uma questão anatômica ou não? Levando ao extremo certa desconfiança de Butler sobre a teoria lacaniana. Revista Brasileira de Psicanálise, São Paulo, v. 48, n. 4, pp. 127-137. Consultado em 16/07/2017.

[14] LACAN, Jacques. ([1957-58]1998) Le séminaire, livre V: Les formations de l’inconscient. Paris: Éditions du Seuil; p. 273.

[15] LACAN, Jacques (1958b) “A significação do falo”. In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 699.

[16] LACAN, Jacques (1960c) “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; p. 836.

[17] LACAN, Jacques (1960c) “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; p. 837.

[18] LACAN, Jacques (1958b) “A significação do falo”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 699.

[19] LACAN, Jacques (1958b) “A significação do falo”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 699.

[20] LACAN, Jacques (1960a) “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 741.

[21] LACAN, Jacques (1957-58) Le séminaire, livre V: Les formations de l’inconscient. Paris: Éditions du Seuil, 1998; p. 273.

[22] LACAN, Jacques, ([1962-63]2004) O seminário, livro 10: A angústia. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005; p. 200.

[23] LACAN, Jacques (1960c) “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; p. 840.

[24] LACAN, Jacques (1960a) “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 738.

[25] LACAN, Jacques (1960a) “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina” In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 741, grifo meu.

[26] LACAN, Jacques (1960a) “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 741.

[27] LACAN, Jacques (1960a) “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 739.

[28] LACAN, Jacques (1958b ) “A significação do falo”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 693.

[29] Cf. LACAN, Jacques LACAN, Jacques, ([1962-63]2004) O seminário, livro 10: A angústia. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005; passim, especialmente a sessão do dia 29 de maio de 1963.

[30] Essa observação é inspirada na leitura de BUTLER, Judith (1990) Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Trad. R. Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. Ela não diz exatamente isso diz, mas escreve coisas parecidas do ponto de vista estrutural.

[31] Expressão de BROUSSES, Marie-Helène  “Em Miami, ou o sintoma como sex-symbol”. In: A diretoria na rede, Boletim da Escola Brasileira de Psicanálise. Disponível em: <www.ebp.org.br/dr/destaques/ecos_de_miami004.asp>. Consultado em: 15/07/2016.

[32] De acordo com o dicionário Houaiss, etimologicamente a palavra “castração” remete a algo “que serve para separar” (Houaiss).

[33] LACAN, Jacques (1957) “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”. In: Escritos. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998; p. 529.

[34] IRIGARAY, Luce (1977) Ce sexe qui n’est pas un. Paris: Les Éditions de Minuit.

[35] Citada por BUTLER, Judith, (1990) Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Trad. R. Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016 e por KNUDSEN, Patricia Porchat Pereira da Silva. (2007) Gênero, psicanálise e Juditth Butler: Do transexualismo à política. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

[36] BUTLER, Judith (1990) Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Trad. R. Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

[37] BIRMAN, Joel. 2006. Genealogia do feminino e da paternidade em psicanálise. Natureza humana, São Paulo ,  v. 8, n. 1, pp. 163-180.  Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302006000100005&lng=pt&nrm=iso>. Consultado em: 17/07/2016.

[38] ARÁN, Márcia. (2009) A psicanálise e o dispositivo diferença sexual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis,  v. 17, n. 3, pp. 653-673.  Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2009000300002&lng=en&nrm=iso>. Consultado em: 17/07/2016, p. 660.

[39] KNUDSEN, Patricia Porchat Pereira da Silva (2007) Gênero, psicanálise e Juditth Butler: Do transexualismo à política. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, p. 126.

[40] FREUD, Sigmund (1933) “A feminilidade”. In: Obras completas, vol. 18. Trad. P. C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

>[41] LACAN, Jacques ([1972-73]1975) Seminário, livro 20: Mais, ainda. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008; pp. 40-41.

[42] ANDRÉ, Jacques (2000) O privilégio: As duas teorias freudianas do originário social. Psicologia em estudo, Maringá ,  v. 5, n. 1, pp. 1-34.  Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722000000100002&lng=en&nrm=iso>. Consultado em 18/07/2016.

[43] CALLIGARIS, Contardo. Primeiro assédio. Folha de São Paulo, São Paulo, 12 de nov. de 2015. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/11/1705026-primeiro-assedio.shtml> Consultado em 18 de julho de 2016.




COMO CITAR ESTE ARTIGO | SILVEIRA, Léa (2017) Assim é a mulher por trás de seu véu? Questionamento sobre o lugar do significante falo na fala de mulheres leitoras dos Escritos. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -3, p. 8, 2017. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2017/04/28/n3-08/>