Editorial

Fruto de encontros, afinidades, convergências e divergências, Lacuna se propõe a ser um espaço de diálogo. Uma revista em que a psicanálise possa ser discutida de modos diversos, sejam eles tradicionais ou experimentais. E isso não só para que surjam novas formas, mas também para que haja temas inesperados, que tenham um acento clínico ou um peso social, ou mesmo que nos tragam reflexões sobre os limites e as especificidades presentes nesta separação: cultura psicanalítica, psicanálise na cultura. Acreditamos que uma abertura aos temas, formatos e interlocutores mais improváveis pode contribuir para uma circulação interessante, e que esse é um bom modo de se trabalhar a partir de uma das contribuições mais importantes do pensamento psicanalítico, aquela sobre certa indistinção entre o dentro e o fora.

Partimos do pressuposto de que, quanto mais gente pensando junta, melhor; e de que, quanto mais diferente o modo de se expressar e de questionar, mais interessante. A psicanálise pode contribuir com diversos assuntos, e só tem a ganhar com mais debates: quer entre psicanalistas, quer com “estranhos” — que nunca estão tão distantes quanto costumamos acreditar.

Que as ideias possam ter a leveza de uma conversa que se tem durante um café, ou o trabalho de uma comunicação rigorosa. Que a Lacuna sirva de gatilho para que elas possam se formar, crescer, se desfazer ou permanecer — pouco importa. Interessa, sim, a possibilidade de troca, de encontros e desencontros que permitam borrar, de alguma maneira, o desenho de fronteiras que às vezes construímos mesmo sem perceber, mas que nos fazem esquecer outras tantas possibilidades.