Editorial

Um projeto editorial sempre está às voltas com a indomesticabilidade do tempo. Se, por um lado, buscamos estar afinados e ritmados com a urgência dos acontecimentos contemporâneos; por outro, é essencial manter uma lógica editorial que preze por cálculos a longo prazo, visando a sobrevivência do nosso projeto enquanto relevante por anos a fio. Então, quando decidimos por publicar o que consideramos como clássicos da psicanálise — textos escritos pela primeira e segunda geração de psicanalistas —, optamos por traduções que sejam inéditas ou que tragam algum ineditismo na forma como será apresentada. Por outro, lado quando publicamos nossos contemporâneos, insistimos que o foco esteja no “novo”, no inédito. A questão do ineditismo torna-se então o eixo central através do qual tentamos nos estabilizar através das peripécias temporais. Porém, o que o último tem nos acenado de maneira gritante está intimamente relacionado ao efeito de obliterador de uma lógica na qual nada se decanta e tudo o que importa é a polêmica da vez, principalmente a política, que, cá entre nós, bem sabemos que tem sua mira sempre ajustada para daqui a quatro anos.

A psicanálise, enquanto fundamentada no manejo de nossa relação com o passado como método de tratamento, também nunca abriu mão da presença do futuro enquanto determinador daquilo que nos causa. Nada mais freudiano do que reconhecer no desejo uma oportunidade no presente para projetar, através de um modelo do passado, uma imagem do futuro. Somente assim o inconsciente pode ser concebido como algo atemporal, no sentido de que os três tempos do tempo sempre se expressam de maneira amarrada. É nesse limbo — no qual nos localizamos sempre um tanto atrasados quanto um tanto adiantados, e nunca em nosso próprio tempo — que buscamos, enquanto comitê editorial, oferecer a nossxs pares a possibilidade de decantar o nosso tempo. Enquanto corremos para que nossas edições saiam em tempo, esperamos que xs leitorxs sintam-se à vontade para perder um tempinho com a nossa revista.