Tentativa de elaboração, negação da realidade ou submissão à lógica neoliberal: o que significa ler, escrever e publicar nos tempo do cólera? A reorganização do ritmo e da espacialidade da vida no contexto da pandemia não apenas questiona a nossa capacidade de equilibrar demandas diversas, mas também, no limite, o nosso próprio desejo de sustentá-las.
Nessa corda bamba e com o risco que em algumas épocas se deixa ver mais do que em outras, traço que se atualiza nas linhas virtuais que subjazem aos textos que ora publicamos, sustenta-se de alguma forma não exatamente a expectativa pelo novo — que, na forma da espera, abriria inevitavelmente uma outra ala para as mais diversas formas de ansiedade e desencanto.
Ora, a categoria do “novo” tende a se valorizar nos momentos de emergência social, uma vez que se trata de uma busca desesperada pela “nova” forma de funcionamento e pela “novidade” que as grandes transformações suscitam. Entretanto, a psicanálise é aquela que nos aponta que, na brecha entre o “novo” e o “agora”, sobrevive pulsante o passado e o antigo. Não há uma concepção progressista entre o velho, o presente e o novo — pelo menos não em termos psicanalíticos.
Nos detalhes do que se mostra em movimento é que podemos ver o reprimido atuante no que é atual, vivo como nunca. É na pauta do entusiasmo, portanto, que almejamos que ressoem os textos que, nestes tempos brutos, fazemos ecoar agora, inquietos, pelas beiradas dessa nossa Lacuna. ♦