As empresas de terapia
Cresce, no Brasil, inspirado pelo sucesso nos Estados Unidos, o número de empresas privadas de serviços relacionados à terapêutica. Através da publicidade massiva criada por profissionais qualificados em SEO[1] e outras ferramentas de divulgação, empresas ofertam, através dos terapeutas “parceiros”, perspectivas que vão além da cura, como: plenitude, bem-estar, sucesso profissional, amoroso, aceitação corporal, afetiva, sexual, etc. Com o crescimento destes serviços, cada vez mais psicanalistas encontram, participando de seus catálogos de profissionais, uma oportunidade para receberem candidatos a uma análise, assim como um meio para a subsistência.
Os “consumidores”, que antes dependiam fortemente da indicação direta de conhecidos ou do empenho pessoal para encontrar um terapeuta, receberam a intermediação de pessoas jurídicas que pretendem lucrar — em termos capitalistas — com a oferta de serviços relacionados à terapêutica ao mesmo tempo que facilitam o acesso a estes serviços. Os navegantes das redes sociais e mecanismos de busca agora recebem indicações para tratamento baseadas em algoritmos por eles próprios fornecidos pelo seu padrão de utilização, indicação essa que pode dar match com a disponibilidade de um psicanalista. Ao ingressarem no website da empresa e no perfil do psicanalista, os visitantes conseguem verificar informações dos seus “candidatos-a-psicanalistas”, assim como o que se tem dito sobre eles através de sistemas de avaliações públicas por estrelas e comentários. Se antes todos os que chegavam ao consultório eram candidatos a uma análise, agora são os psicanalistas que, antes de saberem disso, são os candidatos e precisam ser aprovados. O TechTudo, conhecido portal de análise de tecnologia, afirmou que uma dessas empresas de terapia “permite que os usuários agendem atendimentos online com psicólogos, terapeutas, psicanalistas e coaches[2]” . É evidente que a classificação destas empresas como “site”, “plataforma”, “startup”, “agenda online”, “health tech” entre outros, são apenas rótulos. Na prática, são negócios privados em busca de lucros e retornos rápidos aos investidores. Antes mesmo da pandemia, a plataforma “FalaFreud” foi uma empresa brasileira por onde passaram mais de 300 mil pessoas[3] buscando tratamento. Está fora do ar atualmente, após seguidas polêmicas em torno da cobrança de mensalidades para terapia e tratamentos por mensagem de texto — o que hoje, após a “poeira ter baixado”, ocorre com relativa liberdade. Em 2016, o crescimento da empresa “FalaFreud” foi tão expressivo e os caminhos fornecidos para a realização dos tratamentos tão heterodoxos, que a revista Exame publicou uma matéria nomeando-a de “WhatsApp de terapia”[4] . É verdade que o controle exercido pelos conselhos de psicologia e o escândalo causada pelas terapias com mensalidade a partir de R$299 [5] foram fatores determinante para o cancelamento do registro desta empresa. Mas assim como a Hidra de Lerna, que após ter cortada uma cabeça tem várias outras surgindo em seu lugar, empresas parecidas com o FalaFreud nasceram, e continuam nascendo. O problema é o corpo. No caso, a era dos lucros vindos pelo investimento em empresas de tecnologia. Como dissemos anteriormente, o impulsionador do sucesso e do crescimento da terapia online no Brasil foi principalmente o sucesso de negócios bilionários deste tipo nos E.U.A.[6] . E anos antes da pandemia do novo coronavirus! A FalaFreud, que cogitava ingressar na bolsa de valores brasileira, e a Vittude, outra plataforma do tipo, receberam investimentos milionários de gestoras de venture capital[7] , isto é, gestoras de dinheiro privado que esperam rápido crescimento e retornos acima da média. Ora, se há capitalistas investindo nestes negócios de terapia online, obter indícios e provas sobre qualquer atentado à “ética da psicologia” fica cada vez mais difícil. Além dos escritórios de advocacia empresariais e das informações que poderiam ser usadas como provas sobre infrações éticas estarem guardadas nos seus próprios bancos de dados, há milhares de terapeutas obtendo o seu sustento e de suas famílias por estas plataformas, o que torna qualquer medida de controle do Estado extremamente delicada, pois há agora forte impacto social envolvido. O uso destas empresas de conhecimentos de profissionais especializados para a criação de publicidade, a relação direta com planos de saúde e empresas privadas beneficiadas, assim como a pressão pela redução dos preços das sessões para a obtenção de maior lucro através de percentuais dos atendimentos, assinaturas e mensalidades, retiram pouco a pouco das mãos dos psicanalistas os meios de produção da clínica, transformando-o em força de trabalho especializada. A época que favorecia o surgimento de psicanalistas “empreendedores”, “patrões de si mesmo”, “profissionais liberais” está perto do fim. Se antes a “tática infalível” para o sucesso na obtenção de bons rendimentos e reconhecimento social era alcançar o topo da hierarquia das universidades ou instituições de psicanálise e montar uma rede de contatos capaz de encaminhar candidatos a uma análise, agora a nova receita inclui o domínio dos algoritmos. Claro, é possível terceirizar a sua utilização, mas eles vieram para ficar. Os psicanalistas foram arremessados na era da publicidade digital de massas, e precisarão aprender como sustentar sua clínica nela. Se o artigo “Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico”[8] fosse atualizado, constariam dicas de sobrevivência para o psicanalista e maneiras para manter a atenção equiflutuante[9] sob as condições da luta pela sobrevivência dos interessados no exercício da psicanálise. Diferente dos médicos de Viena do século XIX, o psicanalista “médio” de hoje sustenta um estilo de vida bem modesto. Mas ainda assim, diante da crise do capitalismo e da busca por formas alternativas de renda, certificados e diplomas de “Psicanalista” são emitidos aos montes por instituições, muitas religiosas[10] . Não se trata aqui de um debate moralista. Receber interessados através de uma empresa que oferta sessões de “terapia” a preço de mercado e capta “clientes” nas redes sociais e mecanismos de busca é independente de concordar com essa realidade. Mesmo o psicanalista honesto, estudioso, que leva a sério sua própria análise e formação, consciente da tradição, pode, pelas circunstâncias, e ciente delas, aceitar receber pacientes sob estas condições. Contudo, será necessário lançar mão de uma elasticidade técnica própria da psicanálise, que permite sim adaptações ao ambiente e a cada analisando[11]. No ano de 1918, em um ambiente marcado pela guerra, Freud defendeu a abertura da psicanálise para as inovações técnicas como maneira de responder aos desafios da sua época[12]. Ora, se foi possível sobreviver à guerra na Europa, ao fascismo e à repressão stalinista, por que então a psicanálise deveria se negar a participar das transformações que envolvem o mundo digital? Ou melhor, será que é possível impedir essa participação?
A psicanálise como profissão e a sessão como mercadoria
Há autores que defendem que a psicanálise é incapaz de gerar produtos dotados de valores de troca, e que por isso falar sobre uma “profissão psicanalista” seria inadequado, como Gabriel Tupinambá em seu artigo “A psicanálise é um trabalho? Uma profissão impossível e o conceito marxista de trabalho” [13]. Entretanto, com um psicanalista em uma empresa privada, tudo muda. Por mais que as empresas tentem se colocar como simples intermediárias entre pacientes e terapeutas, a verdade é que cumprem outro papel. Na prática, todo o dinheiro pago pelos clientes para as sessões de terapia vai para a empresa, isto é, para que os seus proprietários façam o que bem entenderem com ele, inclusive pagar os terapeutas. Como explica Marx, em O Capital[14], a dinâmica reprodutiva do capitalismo propicia aos detentores de dinheiro a oportunidade para que façam investimentos no processo de produção de mercadorias. Essas mercadorias não precisam ser materiais, palpáveis, mas destinado ao mercado para que consumidores paguem por elas. O esperado é que ao final do processo produtivo os capitalistas estejam com mais dinheiro em mãos do que no início do mesmo. Em suma, uma parte do dinheiro investido na produção que está na mão dos proprietários das empresas de terapia é destinado aos meios de produção, como salas presenciais e virtuais, base de dados, aplicativos, etc. A outra parte é destinada à remuneração dos terapeutas, ou capital variável. Ora, mas o terapeuta não recebe uma parte do que é pago pelos pacientes? Não imediatamente. A remuneração recebida pelo terapeuta não vem diretamente do paciente, mas do caixa da empresa, que paga pelo trabalho realizado preteritamente. O psicanalista, para a empresa de terapia, é apenas um trabalhador especializado, vendedor de força de trabalho para um setor da produção capitalista. Finalmente, a psicanálise cresce como uma profissão, um tipo de força de trabalho. O psicanalista que trabalha na empresa de serviços relacionados à terapêutica presta serviços à empresa, interessada em reproduzir o capital, não ao candidato a uma análise, que está lá como cliente da empresa. E qual é o único valor de uso que o analista é capaz de produzir para que a empresa venda? Ondas sonoras no formato de palavras, que causam efeitos. Em uma psicanálise, estas ondas sonoras devem impulsionar, no candidato, um trabalho de associação de ideias. É o candidato que deve realizar a análise do seu próprio inconsciente, e essa análise será manejada pelo psicanalista, não feita por ele. As palavras e a função do psicanalista é produzir efeitos, sim, mas eles se desencontram com a demanda inicial. Todavia, o bom consumidor exige, com a razão que a empresa ratifica e defende com seus sistemas de avaliações, que a palavra do psicanalista seja potencialmente encobridora da verdade sobre a satisfação que está ligada ao sintoma[15] . Isto é, apesar do neurótico sentir na pele que o sintoma pode custar muito caro, ao ponto de procurar auxílio especializado, ainda assim o sintoma é o melhor amigo do neurótico, como afirma Quinet[15] , amizade esta que pode ser de décadas. E, convenhamos, é muito difícil estar contra um melhor amigo, por mais que ele possa causar mal. Mais difícil ainda é aceitar um estranho psicanalista, antes de uma transferência forte estabelecida, criando um ambiente em que a relação neurótica com o sintoma fique a céu aberto, principalmente se o objetivo principal ao buscar ajuda é exatamente o contrário, incentivado pela propaganda: encobrir. Do outro ponto de vista, podemos dizer que “melhor amigo do analista” para a continuidade do tratamento é o sofrimento do paciente. Ele precisa ser administrado como uma força motriz fundamental, que impele à cura.
Durante o tratamento [Kur], os senhores podem observar que cada melhora de seu estado de sofrimento [Leidenszustand] retarda a velocidade do restabelecimento e diminui a força motriz [Triebkraft] que impele para a cura. Mas não podemos renunciar a essa força motriz; uma diminuição dela é perigosa para a nossa intenção de cura. Então qual é a conclusão que se evidencia irrefutavelmente? Temos de — por mais cruel que isso possa parecer — cuidar para que o sofrimento, de algum modo eficaz, do paciente não termine antes da hora. [16]
Se o sofrimento tem lugar para a continuidade do tratamento, devemos reconhecer o quão insensato é para um cliente pagar por algo desse tipo. Imaginemos a seguinte propaganda: Imperdível! Venha conhecer o tratamento revolucionário que usará seu sofrimento para lhe fazer continuar vindo às sessões e um psicanalista que se absterá em fornecer qualquer satisfação que demandar a ele! Tudo isso custará caro e não haverá prazo estabelecido para terminar! As sessões realizadas nas empresas de serviços relacionados à terapêutica são ofertadas como uma mercadoria, o que pressiona o psicanalista para que suas palavras produzam o efeito almejado por qualquer empresa que busca recorrência na compra de seus produtos, que é a satisfação e a atualização do impulso a nova compra. Mais uma sessão, mais uma assinatura, mais uma mensalidade, mais um produto terapêutico etc. E a compra de mais um produto só se realizará caso a anterior tiver sido capaz de produzir satisfação ou expectativa de satisfação futura no cliente, o que é incentivado pela publicidade. Imediatamente, ou até a próxima sessão, a sessão conduzida pelo profissional psicanalista necessita gerar, no consumidor, efeitos perceptíveis na sua vida ou consciência. Não necessariamente terapêuticos, mas compreendidos como benéficos. Caso o benefício fique evidente para o cliente, o psicanalista provavelmente será avaliado por vários deles como um terapeuta “cinco estrelas”. Diversas empresas utilizam o recurso das avaliações por “estrelinhas”, tal qual os aplicativos de entrega e transporte. Sendo avaliado negativamente, o psicanalista carregará uma chaga para todos que o encontrarem nas redes: analisandos, candidatos, familiares, amigos, outras empresas. Precisará, assim, sair da empresa para que seu perfil seja apagado junto às avaliações. É uma forma de demissão, velada, mas conduzida pela capacidade do profissional em contribuir adequadamente para os objetivos econômicos da empresa.
O custo-benefício de uma análise
O dinheiro funciona como equivalente geral de mercadorias[17]. Contudo, ele não é simplesmente meio de troca entre os indivíduos. Ele carrega também a promessa de tudo ter, borrando a diferença entre as coisas[18] e encobrindo que a causa do desejo não é a possibilidade de possuir objetos, mas a ausência de objetos específicos para o desejo. A definição, nas primeiras sessões, para o preço do tratamento é um recurso valioso na mão do psicanalista. E aqui não estou falando da negociação comercial, mas do potencial que uma conversa “sobre dinheiro” carrega para colocá-lo como puro significante, despedaçando seu uso como imagem especular capaz de unificar o Eu através da fantasia de plena satisfação pelo consumo de uma mercadoria qualquer. A priori, a submissão do preço das sessões de vários indivíduos e suas particularidades financeiras a tabelas pré-estabelecidas pelas empresas não inviabiliza análises, afinal, o psicanalista não tem apenas este recurso. Mas, certamente, perde-se um dispositivo para a introdução da relação analítica. Um preço que se define com cada candidato é um preço que aponta para o particular do desejo. Em contrapartida, um preço “tabelado” para o tratamento aponta para o custo-benefício da relação estabelecida com o analista, isto é, uma relação de mercado. Com um preço pré-estabelecido, conclusões comuns vindas das relações cotidianas de compra e venda ganham espaço. Analistas mais experientes, com mais idade e com posições mais destacadas na sociedade cobrariam mais caro por seu “trabalho” ser “mais qualificado”, enquanto os analistas que atuam nas empresas de serviços relacionados à terapêutica, principalmente os mais jovens, seriam escolhidos por ser “o que dá pra pagar”. Há uma transferência negativa à espreita para os que trabalham nestas empresas, especialmente para os mais jovens. Ademais, um consumidor com perspectivas intensas por resultados, nas primeiras sessões, pode se ver em confronto com a”abstinência do analista”[20]. O princípio da abstinência parte de repetidos conselhos de Freud, que defendia que os analistas não realizassem todas as demandas dos seus pacientes, pois isso minaria as forças motivadoras do trabalho de análise, levando, cedo ou tarde, ao abandono do tratamento. O problema central é que para manter uma ausência de satisfação buscada pelo paciente na relação analítica, uma “falta” que impulsione o trabalho de análise — Freud utilizou as palavras Bedürfnis e Sehnsucht para falar de um princípio da “necessidade” e do “anseio”[21] —, será preciso atentar para o estabelecimento da transferência. Sem ela, pensar em manter a falta pode ser considerado mal atendimento, descaso ou desrespeito ao “cliente”. Afinal, em uma relação de compra e venda, a satisfação não viria junto a qualquer coisa que valha a pena pagar? “Se o psicanalista não me estrega o que é meu por direito como consumidor, a satisfação, talvez eu esteja sendo vítima de um calote. Nas primeiras sessões é essencial que o psicanalista investigue até onde se está lidando com um cliente da empresa. Ora, nenhum consumidor sensato olharia aceitaria a manutenção de uma insatisfação como “motor do tratamento”[22] . Portanto, as resistências impostas pela dinâmica custo-benefício demandam que nos coloquemos não só como sinceros cirurgiões que têm “ferramentas que podem ajudar”[23] , com defendeu Freud, mas também de acordo com os fatores externos dos quais a situação analítica depende para seu estabelecimento.
Será que não podemos lhe fornecer [ao doente] nenhuma outra ajuda além da que ele recebeu com o impulso [Antrieb] da transferência? Não seria muito mais óbvio ajudá-lo também, colocando-o naquela situação psíquica que é a mais favorável para a solução desejada do conflito? Afinal, a sua produção [Leistung] também depende de uma constelação de fatores externos. Sendo assim, será que deveríamos pensar em mudar essa constelação através de uma intervenção nossa que fosse adequada? Acredito que uma tal atividade do médico analista é unívoca e claramente justificada. [24]
Se o psicanalista é colocado no lugar de profissional da psicologia que deve prestar bons serviços, tanto pela empresa quanto pelo cliente, abster-se totalmente a responder inicialmente deste lugar de “bom servidor” é, de maneira prática, afrontar cliente e empresa, é virar-se de costas para ambos buscando ser expulso deste triângulo a pontapés. Não devemos nunca esquecer que Freud estabelece que antes da análise há o “ensaio” de uma análise. É nesse ensaio que o psicanalista avaliará se um tratamento com psicanálise é adequado.
Se durante esse período [de ensaio] ocorrer uma interrupção, poupamos ao doente a impressão desagradável de uma tentativa fracassada de cura. O que se fez foi apenas uma sondagem para conhecer o caso e para decidir se é adequado à Psicanálise. Não temos à disposição outro tipo de avaliação além desse ensaio; nem mesmo longas conversas e perguntas aos pacientes durante a sessão seriam um substituto para tanto. Mas esse ensaio prévio já é o início da Psicanálise e deverá seguir as suas regras. Podemos, por exemplo, mantê-la separada, na medida em que deixamos principalmente o paciente falar e não lhe prestamos esclarecimentos além daqueles imprescindíveis à continuidade de sua narração. [25]
O que, nas empresas de serviços relacionados à terapêutica, é imprescindível para o psicanalista dizer em prol da continuidade da narração do “cliente”, será distinto ao que seria preciso em consultório próprio. O surgimento da transferência é, para Freud, resultado inevitável das sessões[26].
A questão seguinte que se nos apresenta é uma questão de princípios. É a seguinte: quando devemos começar com as comunicações ao analisando? (…) A resposta a essa pergunta só pode ser uma: não antes de ter se instalado no paciente uma transferência produtiva, um rapport razoável. O primeiro objetivo do tratamento permanece o de atrelá-lo à terapia e à pessoa do médico. Nada mais precisa ser feito além de lhe dar tempo. Se demonstrarmos interesse genuíno, afastarmos cuidadosamente resistências que surgiram inicialmente e evitarmos certos erros de conduta, o próprio paciente irá estabelecer esses laços, associando o médico a uma das imagos daquelas pessoas, das quais estava acostumado a receber carinho.[27]
Portanto, o desenrolar do tempo e a continuidade da narração contam ao favor do analista, que precisa operar uma subversão do papel de cliente para fazer surgir o de analisando. O pleno potencial de uma psicanálise surge, então, quando a função da empresa como garantidora da satisfação do consumidor, existente de maneira mais ou menos formal desde o início, perder sua eficácia para a decisão de retorno do indivíduo à uma próxima sessão. ♦
* Pedro Henrique Corrêa Guerra é psicanalista, graduado em Psicologia (PUC-Rio), mestre e doutorando em Saúde Coletiva (IMS-UERJ), e membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi (GBPSF), e-mail pedrocorreapsi@gmail.com./p>
[1] SEO é a abreviação inglesa para Search Engine Optimization, em português Otimização Para Mecanismos de Busca. É um conjunto de conhecimentos e técnicas desenvolvidas para fazer com que certos conteúdos e produtos despertem interesse em certos tipos de público através de ferramentas de busca como o Google e em redes sociais como Instagram, Facebook, TikTok, etc.
[2] TECHTUDO. Zenklub é confiável? Veja como funciona site para terapia online. Techtudo online. 6 jun. 2020. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2021
[3] REVISTA PEGN. Terapia online, flexibilidade e preço mais baixo fazem aumentar número de apps deste marcado. Revista PEGN, jun. 2018. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2020
[4] EXAME. “WhatsApp da terapia” estreia no Brasil com mensalidade de R$ 299. Exame Tecnologia, 2016. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2020
[5] CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Nota do CFP sobre matéria veiculada pela revista Exame, 9 nov. 2016. Disponível em: . Acesso em: 13 jul. 2021
[6] CORREIO BRAZILIENSE. FalaFreud: Aplicativo conecta pacientes a psicólogos. Correio Braziliense, 2018. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2020
[7] EXAME. Estas três startups de tecnologia receberam investimento de R$ 1 miExame, Tecnologia, 2019. Disponível em: . Acesso em: 12 jan. 2021
[8] FREUD, Sigmund. “Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico (1912)”. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
[9] FREUD, Sigmund. “Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico (1912)”. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019, p. 70.
[10] BINKOWSKI, Gabriel. Os evangélicos e a peste: o desejo neopentecostal pela psicanálise como um cavalo de Tróia, 2019. In: Lacuna, uma revista de psicanálise. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2020
[11] FERENCZI, Sándor. “A elasticidade da técnica psicanalítica (1927-1928)”. In: Psicanálise IV / Sándor Ferenczi. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.
[12] FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918])”. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
[13] TUPINAMBÁ, G. A psicanálise é um trabalho? Uma profissão impossível e o conceito marxista de trabalho. Tempo Psicanalítico, v. 46, 2014, p. 41.
[14] MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, Livro I, O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
[15] ALOMO, Martín. Avatares do desejo no mundo capitalista: a noção lacaniana de “latusa” e sua relevância clínica. Stylus Revista de Psicanálise, Rio de Janeiro, v. 29, p. 99–111, 2014, p. 102
[16] QUINET, Antonio. As 4+1 condições da análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 87.
[17] FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918]).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b, p. 150, grifo meu.
[18] MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, Livro I, O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013, l. 275/1493.
[19] MARTIN, Pierre. Dinheiro e psicanálise. Rio de Janeiro: Revinter, 1997, p. 15.
[20] FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918])”. In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b, p. 130.
[21] FREUD, Sigmund. “Observações sobre o amor transferencial (1915 [1914]).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019c, p. 130.
[22] FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918]).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b, p. 150.
[23] FREUD, Sigmund. “Sobre o início do tratamento (1913).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019d, p. 100.
[24] FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapia psicanalítica (1919[1918]).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019b, p. 149.
[25] FREUD, Sigmund. “Sobre o início do tratamento (1913).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019d, p. 92, grifos nossos.
[26] FREUD, Sigmund. “Observações sobre o amor transferencial (1915 [1914]).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019c, p. 134.
[27] FREUD, Sigmund. “Sobre o início do tratamento (1913).” In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019d, p. 106.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | CORRÊA, Pedro Henquique (2021) As empresas de terapia e a gênese do psicanalista como profissional, São Paulo, n. -12, p. 7, 2021. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/12/12/n-12-07/>.