Preâmbulo sobre religião e psicanálise
São bem conhecidas algumas das sentenças proferidas por Jacques Lacan em sua conferência “O triunfo da religião”, pronunciada em Roma em 1974 e publicada em 2005. Lacan sintetiza um certo debate imanente na discussão envolvendo as relações éticas entre psicanálise e religião, diferenciando a primeira da segunda por conta de seu horizonte epistemológico: a psicanálise é um sintoma do mal-estar da Modernidade, aparecendo como uma das consequências do avanço do discurso da ciência na civilização e do lugar do sujeito nesse cosmos. Já a religião, por sua vez, trabalha como uma máquina de produzir sentido.
Ambas funcionam a partir de um mesmo registro, que é o de ocupar-se daquilo que não vai bem, do que não funciona, “de ce qui ne va pas”[1]. No entanto, há um balizamento ético radicalmente oposto entre as duas: enquanto a religião é feita para curar os homens, para que eles não se deem conta de que algo não vai bem, a psicanálise se ocupa do falasser (parlêtre), desse animal falante que é o homem, em como ele fabrica essas atividades com a palavra e de como isso está ligado às coisas que Freud tomou como sendo as da sexualidade.
Ora, religião e psicanálise operam no mesmo registro da vida psíquica, a saber, ali onde a falta se mostra enquanto perda do objeto[2]. No entanto, e isso já era um apontamento de Freud, o grande erro das religiões é de tentar anular a perda do objeto através da consolação, oferecendo uma verdade que fica entre sabido e insabido, entre ficção histórica e verdade psíquica, mantendo um véu entre os avatares de nosso desamparo fundamental.
Não é à toa que, em sua conferência de 1974, Lacan chega a profetizar que a religião triunfará, enquanto a psicanálise acabaria por desaparecer, visto que aquilo a que ela se consagra é muito mais difícil, sendo o fracasso um destino iminente. Numa primeira leitura, isso parece nos dirigir a uma compreensão bastante razoável: a religião venceria essa “disputa” por oferecer sentido, entregando consolação seja pela via da palavra, do sensorial, da comunidade que compartilha dos mesmos ideais, ou ideal de eu[3], munindo-se de toda a capacidade de fantasiar a fim de criar mundos, destinos e narrativas que nos ofereçam visões do princípio e do final, unindo a escatologia individual (o desaparecimento de cada ser humano, com a iminência do fim de seu corpo) à universal (àquela que fala do fim dos tempos, do fim do mundo).
Ao propor a religião e as práticas religiosas como um problema para a teoria e a clínica psicanalítica, Freud chega a comentar: a religião não tem nenhum escrúpulo em recorrer à “imaginação criadora de fantasias”, valendo-se dela sem limites. Ora, a religião, em suas diferentes vertentes e formatações culturais, sociais e psíquicas, cumpre com seu mandado de oferecer visões, projeções, sonhos e pesadelos, no afã de dirigir consciência[4]. Com essa expressão remetemos às cartas trocadas entre Freud e Oskar Pfister, que compõem a relação epistolar mais longa da vida do criador da psicanálise. Com efeito, entre 1909 e 1939, Freud e Pfister conviveram pessoalmente e através da troca de missivas, discutindo desde os rumos da psicanálise até as contribuições que Pfister, um pastor protestante e teórico da educação, tentava inscrever na filosofia e na prática da psicanálise.
Em largas discussões e debates filosóficos, técnicos e pessoais, encontramos, nessas cartas, um Freud entregue à ambivalência da relação entre psicanálise e religião: enquanto Pfister falava sobre sua prática de psicanalista (mesmo sendo um “pastor de almas”), Freud salientava as conexões e diferenças entre essas duas modalidades de dirigir consciência. Pontuando que ambas, religião e psicanálise, se dedicam a tratar almas em sofrimento, ele argumentou que uma das diferenças fundamentais entre elas seria a da liberdade que cada uma dá ao uso da transferência: diferentemente dos psicanalistas, os religiosos se permitem conduzir os elementos eróticos da relação (e, portanto, o poder da influência) de modo a fazer uso da força da figura de Deus, restabelecendo o poder da religião para abafar o sofrimento neurótico[5].
Esse ponto da discussão Freud-Pfister, aliás, tangencia um dos nódulos mais problemáticos dos debates entre os dois: Pfister considerava uma exigência para o analista que esse se constitua, na transferência, como um Analista Idealista, de modo a representar ao analisando uma realidade final ética. Assim sendo, a transferência fica instrumentalizada com o intuito de auxiliar o sujeito a desvelar suas determinações inconscientes, devolvendo a ele uma suposta condição natural de ser espiritualizado, na qual inconsciente e consciente conseguiriam viver em harmonia[6].
Em nossa atualidade, particularmente com a evolução das discussões psicanalíticas das últimas décadas, tal compreensão da prática analítica fica insustentável. Entretanto, é fundamental entender que a história da psicanálise é marcada não apenas por uma sucessão de teses teóricas, desenvolvimentos técnicos e quebras institucionais, mas também pela história da resistência às teses freudianas, algo que já fora apontado com bastante distinção pelo próprio Freud quando escreveu sobre a história do movimento psicanalítico[7]. Pouco importa que a famosa lenda freudiana sobre a chegada da peste à América não passe de uma bonita anedota, o que ela indica, na verdade, é que a força da teoria psicanalítica está em trabalhar diretamente com aquilo que passa pelo recalque, com aquilo que está fora da alçada da consciência e do controle, algo capaz de mobilizar grandes forças.
Diante disso, Freud já constatava que haveria uma dificuldade afetiva, e não apenas intelectual, no caminho da psicanálise: suas teses centrais, como a da importância psíquica da sexualidade e da predominância do inconsciente na vida anímica, são não somente estranhas ao eu, mas vão ao ponto de confrontá-lo em sua ilusão de domínio da vida psíquica. Essa seria a principal razão, segundo Freud, para a repulsa e as resistências que a psicanálise atrai para si[8].
Além dessa repulsa “natural” que a psicanálise causaria, por confrontar nossas certezas egoicas e por remexer nos arcabouços dos recalques da civilização, também é bastante relevante lembrar que a grande maioria dos psicanalistas sempre manteve uma posição pouco confortável para com as práticas religiosas. Se já constatávamos isso em Freud, com a equiparação entre os sintomas obsessivos e as práticas religiosas[9], os próprios teólogos católicos e protestantes do século XX também desconfiavam da psicanálise enquanto uma disciplina científica, haja vista o ateísmo feroz de Freud e de muitos de seus seguidores.
Esse ateísmo passaria até mesmo por um certo ideal psicanalítico que permanecia premente desde Futuro de uma ilusão[10]: a religião está condenada a desaparecer, uma vez que já teria cumprido seu papel de consolar o homem e de lhe fornecer uma cosmovisão e um caldo cultural comum. Contudo, muitos conceitos psicanalíticos foram penetrando os meios religiosos, particularmente pela via da psicologia analítica de Jung, este considerado por certos religiosos como um aliado contra o ateísmo do século XX[11].
Quanto a isso, chama a atenção a presença do tema “psicanálise” em diferentes discussões da Igreja Católica. O Papa Pio XII durante a abertura do V Congresso Católico Internacional de Psicoterapia, em 1953, já mostrava simpatia pela psicanálise em suas concepções e aplicações. O mesmo Santo Padre, em 1958, no XIII Congresso Internacional de Psicologia Aplicada, se utiliza de conceitos de Jung ao pregar pelo esforço da psicologia em harmonizar o eu consciente com o eu pessoal na sua tarefa de individuação. Ele exortaria, ainda, que a psicologia aplicada não deveria sofrer restrições por parte de teólogos, pois ambos buscam encontrar um “caminho comum em uma nova afirmação de liberdade e unidade da pessoa humana”[12].
Constata-se então que a aproximação de teólogos e sacerdotes religiosos de temas e técnicas da psicologia e da psicanálise não é recente. A psicanálise se constituiu como um verdadeiro movimento intelectual, numa sobreposição daquilo que Paul-Laurent Assoun[13] classifica de “rótulo ambíguo”: entre uma disciplina em busca de um selo de “cientificidade” e uma subjetividade freudiana, compondo um bojo de leituras teóricas, métodos de tratamento temático, leituras de psicopatologia e modalidades de clínica sempre ligadas à discursividade de um fundador. Em todas essas multiplicidades de forças do campo psicanalítico, há espaços para capturas e para desvios, afinal, trata-se de um terreno sempre aberto e com inúmeras contradições — como bem atestam a própria obra freudiana, o ensino de Lacan, as transformações que a disciplina foi sofrendo ao adentrar em diferentes países e culturas.
É por essa via que privilegiamos esboçar algumas hipóteses de leitura de um fenômeno relativamente recente e mais concentrado no Brasil. Fazemos referência ao uso da psicanálise como tem sido observado na ação de grupos evangélicos em anos mais recentes, algo que passou a interrogar mais ainda não apenas os psicanalistas e profissionais do mundo “psi”, mas a própria sociedade e diferentes grupos políticos a partir do momento em que surgem projetos de lei visando regulamentar a “profissão de psicanalista” ou modalidades de tratamento às orientações de gênero ou de desejo sexual, ou mesmo a dispositivos de tratamento a adições que se utilizam, às vezes, de um discurso com pitadas de psicanálise. Avançando, ainda, o que interroga mais é como a psicanálise vai aparecendo como um referencial possível e, sobretudo, com um ideário com o qual certos religiosos vão se identificando e absorvendo, à sua guisa evidentemente.
Batalhas campais e legislativas
Foi o pastor evangélico e deputado federal Eber Silva (PDT-RJ) quem, em 13/12/2000, apresenta na Câmara o projeto de lei nº 3.944, que trata da regulamentação da profissão de psicanalista. Nesse projeto, o exercício profissional da psicanálise deveria ser pautado por um estatuto único, cabendo ao MEC definir um currículo mínimo, estágios, a questão da análise didática, etc., ficando os Conselhos Federal e Estaduais de Medicina responsáveis por fiscalizar essas entidades de ensino. Havia a prerrogativa de que as sociedades psicanalíticas pré-existentes a essa legislação ficariam de antemão reconhecidas. O que mudaria seriam os critérios para a criação de novas entidades de formação. O projeto sofreu grande rejeição por diferentes grupos de psicanalistas e acabou arquivado. Ademais, era sabido que o grande sustento do projeto vinha da SPOB, a Sociedade Brasileira de Psicanálise Ortodoxa[14].
Fundada em 1996 em Niterói (RJ), a SPOB gaba-se de possuir a maior rede de psicanalistas da América Latina, com mais de 3.000 formados em seus cursos que duram dois anos (com duas aulas por mês) e que exigem 80 sessões de análise pessoal. De custo muito acessível, as aulas são ministradas através de discussões e apostilas com conteúdo bastante simplificado[15].
Um de seus fundadores, Heitor Antonio da Silva, em uma entrevista dada à repórter Clara Becker, da Revista Piauí, deixa bem claro seu interesse em espalhar a psicanálise por todos os cantos do país. Já o pastor Franscisco Batista Neto, formado pela primeira turma da SPOB, é enfático sobre a separação que mantém entre suas atividades de pastor e de psicanalista:
Não misturo as coisas. Pode procurar, não tem uma Bíblia aqui no consultório. Enquanto o pastor fala e orienta, o analista apenas ouve e ajuda a interpretar. Não tem como confundir. […] A igreja dá acolhimento, ajuda no desamparo humano, mas não livra alguém das neuroses, fobias e depressões. Consigo encaminhar melhor uma ovelha doente para a cura. Acredito no poder curativo de Deus, mas os conhecimentos curativos também são obra Dele[16].
Com o arquivamento do projeto em 2001, o campo psi e a própria psicanálise foram reaparecendo na pauta legislativa brasileira sob outras modalidades. Em 2003, o Projeto de Lei nº 717/2003, de autoria do deputado e pastor da Assembleia de Deus Édino Fonseca (PRONA), foi apresentado à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Fortemente apoiado por grupos pastorais como o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses) e o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), o projeto de lei propunha “criar no âmbito do Estado do Rio de Janeiro o programa de auxílio às pessoas que voluntariamente optarem por mudança de homossexualidade”[17]. Aprovado pelas Comissões de Constituição e Justiça, a de Saúde e a de Combate às Discriminações e Preconceitos de Cor, Raça, Etnia, Religião e Procedência Nacional, o projeto acabou sendo barrado apenas pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania.
Ao longo de todo o segundo semestre de 2004, sua tramitação foi alvo de muitas discussões midiáticas, dando uma certa celebridade à psicóloga Rozangela Justino, que fizera uma controversa apresentação sobre o tema no Fórum de Debates sobre Preconceito e Discriminação da Alerj, em agosto de 2004. Em sua conferência, ela apresentou argumentos críticos contra o parecer do CFP 001/99, que estabelecia normas de atuação de psicólogos em relação à orientação sexual. Em seus argumentos, a psicóloga se baseava no discurso psiquiátrico, em definições sobre o transtorno de orientação sexual distônica do CID-10 e na pesquisa do psiquiatria Robert Spitzer, divulgada em 2001 na reunião anual da American Psychiatric Association — os resultados dessa pesquisa sugeriam que, “com desejo e grande esforço pessoal, é possível o retorno à heterossexualidade”[18]. Havia sido o próprio Spitzer quem, nos anos 1970, avalizou uma das grandes polêmicas das alcovas da psiquiatria: ele propôs a noção de “distúrbio de orientação sexual”, que se tornaria uma categoria operante na psicopatologia psiquiátrica a partir do DSM-III[19].
Rozangela Justino voltou à mídia em outros momentos. Em 2009, quando foi punida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) por oferecer terapia de “reversão sexual”, e também em 2017 e 2018, ao lançar uma chapa[20] para concorrer às eleições do CFP, chapa que se propunha de embasamento totalmente científico, livre de militância partidária-política e de “teorias inventadas, sem qualquer fundamentação científica, construídas simplesmente para a desconstrução de todo sistema de crenças e valores sociais”[21] e, consequentemente, carregando a bandeira de que psicólogos poderiam, caso fosse desejo de seu paciente, trabalhar com a perspectiva da reorientação sexual.
Polêmicas à parte, é importante salientar que psicanalistas de diferentes instituições e associações se posicionaram midiaticamente em todas essas polêmicas, no entanto, utilizando-se de motivos e princípios diferentes para embasar seus discursos. Entretanto, conceitos e polêmicas na históricas da psicanálise — assim como da psiquiatria e da psicologia — também são utilizados como munição para sustentar visões religiosas. Na entrevista à Revista Piauí, Heitor da Silva, criador da SPOB, é direto quanto a sua concepção de homossexualidade: ele afirma não ter preconceito “porque se trata de uma patologia […] ela não é uma coisa boa. É uma agressividade, consciente ou inconsciente. É prejudicial para a pessoa, mas eu não bato, não hostilizo, não xingo. Trato como outro problema qualquer, como pedofilia ou necrofilia”[22].
Fósseis, arquivos e capturas
Num recente artigo sobre o tema das terapias de “cura gay”[23], nomeamos de fósseis do campo psi esses restos morais e conceituais que compõem os registros lógicos e históricos das teorias e discursividades do campo psi. A hipótese ali aventada é de que o discurso religioso, por lidar exatamente com uma zona subjetiva tão instável, entre psiquismo, cultural, recalque histórico, jurisprudência, etc., acaba por capturar restos de discursividade científica, como a do campo psi, onde ainda jazem certas noções de gênero, certos construtos e vetores políticos, étnicos, raciais, econômicos, ou seja, tudo aquilo que vai sendo transmitido e que fica marcado enquanto arquivo ao longo das gerações e dos mais variados tipos de ruptura.
No caso da psicanálise, muitos dos conceitos e dos antigos debates acabam por servir de armamento para compor discursos que contrariam a ética psicanalítica de cabo a rabo. É o caso dos preconceitos institucionais quanto à formação de analistas homossexuais, de algumas concepções de gênero e família fortemente patriarcais e falocêntricas, ou mesmo o exagero de certas leituras das configurações contemporâneas do arranjo edipiano em famílias que não seguem a modalidade de terem pais heterossexuais e de estrutura nuclear.
Volta e meia vemos algum projeto legislativo ou ação na Justiça em que a formação de psicanalistas se torna objeto de discussão a partir de uma demanda de associações e grupos dos ditos psicanalistas evangélicos. Recentemente, em 2014, o TRF da 1ª Região negou à SPOB o pedido ao direito de ministrar cursos e formações profissionalizantes em psicanálise, numa demanda tanto de autonomia para estabelecer os princípios e diretrizes da formação de psicanalista como numa espécie de brecha de jurisprudência onde a Sociedade poderia se considerar depositária de um direito de, vencendo o processo, demarcar o funcionamento da profissão de psicanalista no Brasil. No caso, a decisão foi pautada no Artigo 5 da Constituição, que garante o livre exercício profissional e também no fato de que a SPOB não é credenciada juntos aos órgãos competentes de regulação de formações[24].
Poderíamos citar outras instâncias da saúde mental e da educação onde grupos evangélicos vêm deixando suas marcas, desde as Comunidades Terapêuticas, que muitas vezes são financiadas pelo poder público, isso já ao longo de toda a última década, e que funcionam, em sua maioria, tendo a religião e a espiritualidade como fundamento para o cuidado[25], até movimentos que tentam promover transformações no ensino público, seja pela inserção de certos temas e modalidades de organização da vida e do funcionamento escolar até a militância contrária àquilo que seria fruto de uma cultura de esquerda (como a polêmica envolvendo a suposta “ideologia de gênero”). Na maioria das vezes, a psicanálise aparece ora como um discurso que fundamentaria algo, seja por certas leituras do Complexo de Édipo na formação do sujeito, seja como uma modalidade de prática que leva a um exercício espiritual através da palavra e da confissão.
De pronto, nota-se que a psicanálise entra como um discurso que nutre e legitima certas modalidades de práticas e de compreensão de fenômenos humanos, da sexualidade, do desenvolvimento infantil, da organização da família. Mesmo que Freud tenha elegido como gesto inaugural da psicanálise a recusa da hipnose e da sugestão, ela mesmo assim carrega ferramentas técnicas que conferem um poder[26]. Porém, apesar de dirigir o tratamento, a posição ética do psicanalista o leva a excluir radicalmente toda direção de consciência[27]. A ética da psicanálise tem, logo, a incumbência elementar de renunciar ao poder da sugestão.
Ora, a questão que em seguida pode ser colocada é a das razões pelas quais a psicanálise passa a ser tomada, capturada, como uma teoria e uma prática que sirva a certos interesses grupais, institucionais e culturais de grupos e indivíduos religiosos. Afinal, ela parece carregar um certo sopro de Iluminismo e até mesmo de ateísmo. Quanto a isso, a pergunta sobre um certo horizonte ateu no fim de uma análise não é algo tão descabido assim[28]. Bem evidente, como apontava Lacan, continuamos a crer secretamente em Deus, afinal, isso aponta para algo que é da estrutura, do simbólico, o Outro cuja fantasia vestida pode ser, às vezes, aquela de uma divindade. Por isso, o ateísmo psicanalítico acaba devendo ser um exercício mais estético que ético, em que o homem tenta não se endereçar, em seus atos e pensamentos, finalmente, a Deus[29].
O ethos evangélico neopentecostal e a Guerra Santa
Essa orientação ética ateia não impede que a psicanálise sirva de arsenal em missões que a utilizam a outros propósitos. Não contamos com a capacidade etnográfica para listar aqui de modo exaustivo as modalidades de aparecimento de referências à psicanálise entre evangélicos, a quantidade de pastores que se dizem também psicanalistas, de centros de formação que oferecem cursos de psicanálise, até mesmo de “psicanálise pastoral”. Trata-se de algo que pode estar atrelado ao ethos evangélicos neopentecostal, na medida em que uma das distinções do neopentecostalismo em relação ao pentecostalismo mais tradicional se baseia na chamada Teologia do Domínio, que é uma espécie de decalque das pretensões políticas, sociais e culturais de grupos evangélicos.
Com efeito, no movimento evangélico pentecostal mais antigo, preconizava-se uma prática religiosa que molda uma vida mais afastada dos efeitos da modernidade, das mídias, de formações culturais que seriam aquelas ligadas às coisas do mal, do demônio, do vício. A experiência pentecostal é de uma religiosidade sensorial, no corpo, em que o sujeito vê sua conversão como legítima pelos efeitos da palavra divina sobre sua vida, sua capacidade de trabalhar, sua saúde física, até mesmo sobre seu sucesso material no mundo, naquilo que nas últimas décadas ficou conhecido como Teologia da Prosperidade. Havia uma relação com algo de ordem de uma purificação da vida à espera do Juízo Final, da volta do Messias. O neopentecostalismo, por sua vez, se estrutura por uma via de mais ação sobre o mundo dos homens, através de um combate contra as “forças do mal”, na direção de um engajamento de um grupo para com a transformação política do mundo[30].
Nesse neopentecostalismo que vai surgindo depois dos anos 1970, com a aproximação do milênio, vai se estabelecendo uma orientação de “disciplinar a sociedade”[31], transformando seus valores segundo uma ética e uma estética evangélica. Diante disso, não estava mais em questão a espera pelo retorno do Messias para que esse mundo fosse o Reino de Deus, mas sim de transformar esse mundo naquilo que se espera. Foi assim que tivemos, especialmente no Brasil, uma entrada massiva de evangélicos na política, na mídia, na indústria musical, numa verdadeira Guerra Santa em que a violência é autorizada em nome de Deus[32].
Foi nesse ínterim que a psicanálise se torna uma verdadeira arma teológica, espiritual e moral. O que pensar disso? O que os psicanalistas podem fazer quanto a esse surrupio? Uma evidência que não deve ser negligenciada é de que o movimento psicanalítico (se for possível falar assim, no singular…), marcado por uma instalação um tanto elitista em praticamente todos os países, teve dificuldade em pensar nessas modalidades de subjetivação que se dão fora de uma alçada de via burguesa e familiarista.
Sabemos que grande parte dos evangélicos pertence a camadas mais populares, que vivem em meio a dificuldades econômicas, em zonas urbanas deixadas a esmo pelo poder público, submetidos às piores mazelas do racismo, do preconceito, da indiferença social e até da violência direta das forças da ordem. No entanto, os articuladores desse movimento evangélico pertencem, normalmente, às camadas sociais mais favorecidas e que acabam, em seu proselitismo-militante, nessa Guerra Santa, amealhando os lucros e louros para si, num projeto de poder desenfreado. Parece-nos, e aí entramos na zona das hipóteses ainda iniciais, que a psicanálise entra como fundamento de discurso e arcabouço técnico, como um discurso disciplinar, moralizante e bastante efetivo para lidar com o sofrimento subjetivo dessa população mais sofrida. A “psicanálise” vira um nome da máquina de guerra da conquista de território, das almas, da população. Temos algo como o uso da energia nuclear para fazer bombas, ou seja, um desvio técnico que se aproveita de algo muito potente.
Mas e se for possível pensar outramente nesse fenômeno? E se a psicanálise puder ser usada para subverter esse império de signos que tenta capturar a peste psicanalítica em prol de uma ideologia de domínio? Não seria esse desejo neopentecostal pela psicanálise um certo fascínio por tudo aquilo que ela desperta, pelos recalques que ela aponta?
Freud, ao comentar sobre Pfister, dizia que o verdadeiro investigador não se encontra ao abrigo do desamparo, diferentemente do investigador que está garantido pela tradição do conhecimento de origem religiosa, o qual, assim, seria um fabricante de imposturas[33]. O uso do nome “psicanálise” por esses grupos, sociedades e por causas nefastas à subjetividade é uma impostura, tanto intelectual quanto ética. Por outro lado, a presença dessa fascinação pela psicanálise, suas teorias, sua forma de pensar a psicopatologia e o sofrimento e sua técnica denota um certo espaço possível de negociação ou até mesmo para algo um tanto mais poético e estratégico: seria possível pensarmos que esse desejo neopentecostal pela psicanálise, essa fascinação, pode vir a ser usada como um cavalo de Troia? Afinal, em vez de ser manejada e manipulada segundos certos interesses e vicissitudes, a psicanálise não poderia estar, na verdade, corrompendo e contaminando? Feito uma peste, ela poderia estar agindo feito uma doença autoimune, minando toda essa potência louca de domínio do mundo, da política, das estéticas de si, de tudo isso que é tão característico da Teologia do Domínio dos evangélicos.
Pode ser que isso seja apenas um breve sonho diurno em meio a uma realidade rarefeita. Por outro lado, não é incomum recebermos em nossos consultórios e instituições pacientes que passaram anos sendo cercados e sendo transformados segundo todas essas modalidades de existir como as do neopentecostalismo. Pessoas que foram criadas em comunidades, que foram submetidas a terapias de “cura gay”, que frequentam igrejas da quebrada, que lutam contra adições e o desemprego como se luta “contra o mal dentro de si”, e que acabam por contestar algo que percebem nelas mesmas, com certezas que vão se corrompendo. Podemos então tomar essa psicanálise, esse nome, essa teoria que tanto nos alimenta como uma verdadeira arma de guerra, uma peste que surge como um lindo presente a um adversário que pensa ganhar uma guerra, Guerra Santa.
Isso passaria por inúmeras estratégias, tanto grupais quanto institucionais e culturais. Devemos tratá-la como uma guerra a fim de manter a ideia de que há agentes de subjetividade que vêm se utilizando de forma tóxica do nome “psicanálise”. Pois uma psicanálise que sustente seu nome e seu exercício ético deve também encarar seus efeitos na cultura e os obstáculos que ela acaba gerando. Claro que a psicanálise não vai durar para sempre; de todo modo, podemos lutar para que a profecia de Lacan não chegue mais rápido do que deveria, afinal, isso só adiantaria a chegada de um mundo em que a subjetividade seria muito menos complexa do que pode ser. ♦
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* Gabriel Binkowski é…
[1] LACAN, Jacques (2005) Le triomphe de la religion. Précédé de Discours aux catholiques. Paris: Seuil, p. 87
[2] HIRT, Jean-Michel (2009) La psychanalyse entre athéisme freudien et ouverture à l’écoute de “l’événement intérieur” du sujet, Cycle de Conférences Psychanalyse et Spiritualités – Lyon, Quatrième Groupe. Disponível em: <www.quatrieme-groupe.org/pdf/pdf_01075LEPSY.pdf Acessado em 26/11/2019>.
[3] FREUD, Sigmund (1921) “Psychologie de masse et analyse du Moi”. In: Écrits philosophiques et littéraires. Paril: Seuil, 2015; pp. 1289-1362.
[4] FREUD, Sigmund (1966) Correspondance avec le Pasteur Pfister 1909-1939. Paris: Gallimard.
[5] FREUD, Sigmund (1909) Carta de 9-2-1909 In: Correspondance avec le Pasteur Pfister 1909-1939. Paris: Gallimard;pp. 46-48.
[6] GOMEZ, Maria Luísa Trovato (2000) O pastor psicanalista Oskar Pfister: um legado de desconforto, Psicologia: Ciência e Profissão, vol. 20, n. 3, Brasília set. 2000. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932000000300007>.
[7] JORGE, Marco Antonio Coutinho (2017) Freud com Lacan: a psicanálise hoje, Reverso, vol. 39, n. 73, Belo Horizonte jun. 2017.
[8] FREUD, Sigmund (1917) “Une dificulté de la psychanalyse”. In: Écrits philosophiques et littéraires. Paril: Seuil, 2015; pp. 1163-1174.
[9] FREUD, Sigmund (1907) Actes obsédants et exercices religieux. Disponível em: <http://classiques.uqac.ca/classiques/freud_sigmund/avenir_dune_illusion/t2_actes_obsedants/Actes_obsedants.pdf>.
[10] FREUD, Sigmund (1927) “L’Avenir d’une illusion”. In: Écrits philosophiques et littéraires. Paril: Seuil, 2015; pp. 1411-1462.
[11] ELLENBERGER, Henri (1994) Histoire de la découvert de l’inconscient. Paris: Arthème Fayard.
[12] SILVA, Gastão Pereira (1966) O ateísmo de Freud. Rio de Janeiro: Zahar Editores, p. 84.
[13] ASSOUN, Paul-Laurent (2001) Le freudisme. Paris: PUF.
[14] BALEEIRO, Maria Clarice (2002) Sobre a regulamentação da psicanálise, Cogito, v. 4, Salvador 2002.
[15] BECKER, Clara (2010) A cura pela palavra. O que fazem, pensam e pregam os pastores evangélicos psicanalistas, Revista Piauí, edição 50, novembro 2010. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-cura-pela-palavra/>.
[16] BECKER, Clara (2010) A cura pela palavra. O que fazem, pensam e pregam os pastores evangélicos psicanalistas, Revista Piauí, edição 50, novembro 2010; pp. 6-7. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-cura-pela-palavra/>.
[17] VENANCIO, Ana Teresa Acatauassú; BELMONTE, Pilar Rodriguez (2017) “O debate legislativo carioca sobre a “mudança da homossexualidade”: ciência, política, religião”, Sexualidad, Salud y Sociedad Revista Latinoamericana, n. 26, agosto 2017; pp. 105. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2017.26.06.a>.
[18] VENANCIO, Ana Teresa Acatauassú; BELMONTE, Pilar Rodriguez (2017) “O debate legislativo carioca sobre a “mudança da homossexualidade”: ciência, política, religião”, Sexualidad, Salud y Sociedad Revista Latinoamericana, n. 26, agosto 2017; pp. 113. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1984-6487.sess.2017.26.06.a>.
[19] LIEBERMAN, Jeffrey A. (2016) Psiquiatria: Uma história não contada. São Paulo: Martins Fontes.
[20] Chapa 24 – “Movimento Psicólogos em ação”.
[21] Retirado de material de divulgação da Chapa. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/07/CHAPA-24-MPA-MOVIMENTO-PSIC%C3%93LOGOS-EM-A%C3%87%C3%83O_2.pdf>.
[22] BECKER, Clara (2010) A cura pela palavra. O que fazem, pensam e pregam os pastores evangélicos psicanalistas, Revista Piauí, edição 50, novembro 2010; pp. 13-14. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-cura-pela-palavra/>.
[23] BINKOWSKI, Gabriel (2019) Fósseis do campo psi: sobre conversão de orientação sexual e de gênero, Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39 2019 (n. spe 3), e228542, 1-6.
[24] Cf. <https://trf-1.jusbrasil.com.br/noticias/112338528/psicanalise-nao-pode-ser-exercida-como-profissao-no-brasil>.
[25] Isso foi amplamente sinalizado pelo Relatório da Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas, publicado pelo CFP em 2018. <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/06/Relatorio-da-inspecao-nacional-em-comunidades-terapeuticas_web.pdf>.
[26] MALEVAL, Jean-Claude (2012) Étonnantes mystifications de la psychothérapie autoritaire. Paris: Navarin / Le Champ Freudien.
[27] LACAN, Jacques (1958) “La direction de la cure et les principes de son pouvoir”. In: Écrits. Paris: Seuil, 1966; pp. 585-645.
[28] BANCAUD-BESOIN, Sandra (2012) L’athéisme des psychanalystes. Les acceptions du therme athéisme dans la théorie psychanalytique. Tese de Doutorado em Psicologia. Université Toulouse le Mirail – Toulouse 2.
[29] ADAM, Jacques (2010) “Lacan, un athéisme du Pas-Tout”, Champ Lacanien Revue de Psychanalyse, n. 8, mars 2010; pp. 15-22.
[30] AUBRÉE, Marion (2003) Un néo-pentecôtisme brésilien parmi les populations immigrées en Europe de l’Ouest, Anthropologie et Sociétés, vol. 27, n. 1, 2003; pp. 64-84.
[31] GARCIA-RUIZ, Jesus (2008) Acteurs locaux, acteurs globaux. Les néopentecôtistes en Amérique Latine, L’Homme, 2008/1, n. 185-186; pp. 387-399.
[32] DIP, Andrea (2018) Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
[33] GOMEZ, M.L.T. (2000) “O pastor psicanalista Oskar Pfister: um legado de desconforto”, Psicologia: Ciência e Profissão, vol. 20, n. 3, Brasília set. 2000. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932000000300007>.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | BINKOWSKI, Gabriel (2019) Os evangélicos e a peste: o desejo neopentecostal pela psicanálise como um cavalo de Tróia. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -8, p. 5, 2019. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2019/12/08/n-8-05/>