[ Qui est le maître de l’objet confié à l’autiste?]
Tradução | Fernanda Cintra do Prado Pereira Bonilha
Quem é o mestre do objeto digital confiado ao autista?[1][2]
Quem é o mestre do objeto digital confiado ao autista? A resposta para essa pergunta está condicionada à utilização do objeto. Está ele a serviço de um método de aprendizagem ou se inscreve em uma abordagem psicodinâmica? Ele coincide com um simples utilitário pedagógico ou pode eventualmente se tornar uma borda autística? Com qual finalidade é utilizado? Ele contribui para a construção de um sujeito ou se limita a melhorar as aquisições de um aluno?
Que o autismo seja um problema de interação social é, atualmente, um consenso. Para se precaver de interações angustiantes, o autista se volta espontaneamente para objetos que o protegem dos atentados do Outro e que por vezes facilitam uma comunicação indireta tranquilizadora. O tratamento do autista pela borda parte da constatação de sua paixão por alguns objetos e apoia-se nela. Quais são as principais paixões do autista? Em primeiro lugar seu objeto autístico, mas também seu duplo e seu interesse específico. Esses elementos constituem as três encarnações da borda autística. O que eles têm em comum? Eles suscitam um interesse excepcional da criança autista, condensam aquilo que mais conta para ela, são seus tesouros. Certamente o investimento neles é inicialmente excessivo, convém muitas vezes dosá-los, mas a maior parte dos autistas de alto funcionamento concordam em considerar que suprimi-los é inapropriado.
Por que nomeá-los “borda”? Porque a criança autista os situa como intermediários tranquilizadores entre ela e os outros. Ela os utiliza espontaneamente, quando não é impedida, para se proteger das trocas, para regular sua vida emocional e para entrar em contato com seu entorno por intermédio deles. A armadura construída por uma criança em tratamento com Frances Tustin levou Éric Laurent a introduzir o conceito de borda em 1992. Ela pode se encarnar em objetos concretos ou fictícios, mas também em animais ou em personagens. Os amigos imaginários de Donna Williams e o brete de Temple Grandin são as duas encarnações mais conhecidas da borda autística. Sabe-se o quanto de proveito elas tiraram delas. D. Willians sublinha o quanto sua proteção foi importante para ela:
essas duas criaturas nascidas da minha imaginação […] me ajudaram a viver independentemente e evitaram que eu terminasse em uma instituição psiquiátrica. Elas também me conduziram a uma viagem ao longo da qual pouco a pouco, eu finalmente consegui existir enquanto ser dotado de sentimentos e de emoções no “mundo”, o mundo real.[3]
T. Grandin afirma que o brete não somente a tranquilizava, mas lhe permitiu canalizar sua vida emocional e lhe serviu de “motivação”[4]. A borda mais simples, aquela que se encarna em um barbante ou em um tecido, como para Williams em pelúcias, possui segundo ela “um valor defensivo e protetivo” e constitui então “uma ponte com o mundo exterior”[5]. Os testemunhos da função estimulante da borda encarnada por um animal se multiplicam: “um gato salva uma criança do autismo”[6]; “o cachorro e a criança que não sabiam amar”[7]; “a garotinha que se abriu ao mundo graças a um gato”[8] etc.
As demonstrações que provam a utilização espontânea da borda para se proteger, se construir e se socializar são frequentemente relatadas por pais revoltados com métodos que os especialistas defendem; pais que testemunham terem se amparado nas paixões de seus filhos. Que isso possa levar a êxitos fulgurantes é algo que eles constataram e comprovaram. L’étincelle [A faísca], de Kristine Barnett, Nos mondes entremêlés [Nossos mundos misturados][9], de Valérie Gay-Corajoud, Une vie animée [Uma vida animada][10], de Ron Suskind, e ainda Écouter l’autisme [Escutar o autismo][11], de Anne Idoux-Thivet estão entre os mais conhecidos e os mais convincentes desses testemunhos. Eles assinalam o quanto desenhos animados, brinquedos e objetos diversos podem ser preciosos para a construção de sujeitos autistas quando investidos e deixados à disposição deles. A maior parte desses pais teve de tomar a mesma decisão difícil de K. Barnett: ir de encontro à opinião dos especialistas, deixando os filhos com o objeto autístico e alimentando suas paixões. Não se concentrar nos pontos fracos, aponta ela, como fazem as terapias clássicas, mas começar por aquilo que a criança tem vontade de fazer[12]. É também o que preconiza uma autista de alto funcionamento como Michelle Dawson quando ela reivindica “um acesso educativo ao saber que respeite o sujeito autista e o deixe desenvolver, ele mesmo, as suas competências”[13]. Ainda que a abordagem cognitivista de Mottron leve pouco em consideração a vida afetiva, ela incita igualmente a dar acesso aos objetos de interesse da criança autista, não limitando-os a uma função de reforçadores — como quando se troca o acesso a eles pelo aparecimento de um comportamento típico —, mas deixando-os à sua disposição, em um lugar e por uma duração conhecidos dela, a partir da iniciativa do adulto e sem esperar que ela peça por eles.[14]
O ensinamento principal do tratamento pela borda consiste em se apoiar nas paixões do sujeito ainda que elas estejam reduzidas a um pedaço de tecido. Mas há outro também bastante importante, conforme uma indicação capital de D. Willians: “tudo deve ser indireto”[15]. A introdução da borda põe em jogo as condições de uma aproximação indireta; por exemplo, endereçando-se ao objeto que o encarna — maneira de melhor se fazer ouvir pelo autista. Tudo deve ser indireto, não somente a aprendizagem, mas também a regulação dos afetos, ao passo que a inserção social deve ser mediada. Apoiar-se na borda alinha-se às expectativas espontâneas dos autistas, que temem a troca direta acima de tudo.
A borda não é proveniente da cifração de uma perda traumática, mas uma tentativa de bordejá-la com a produção de um objeto. Quando David, a criança-carapaça de Tustin, cria uma armadura protetiva, é para compor com a angústia extrema suscitada pelo pus que sai de seu abscesso[16]. Quando Laurie, o primeiro caso relatado por Bruno Bettelhein em A fortaleza vazia, produz longas fitas de papel, dos quais ela destaca o centro com repulsa, é para dominar a angústia de fazer cocô[17]. Essas duas bordas, retidas no nascimento, não são nomeadas pelo sujeito. Elas colocam em evidência que, na falta do significante mestre, os autistas não são capazes de cifrar a perda angustiante para fazer um sinthoma; por outro lado, eles a localizam em um objeto dominado. A borda tem sua fonte em um acontecimento de corpo, de forma que ela é, se quisermos, o sinthoma do autista — contanto que se precise o fato de que ela não é um sinthoma lacaniano. Isso porque não se interpreta a borda. Ela se complexifica ao evoluir, antes de às vezes desaparecer; ela não tem a fixidez do sinthoma. Nada poderia colocar melhor em imagens a sua estrutura do que um objeto autístico adotado temporariamente por Marcia, um dos três grandes casos de A fortaleza vazia: “um fuzil que podia expulsar alguma coisa que não estava perdida”[18] — a bola permanece sempre ligada à ponta de um cordão. Marcia, comenta Bettelheim, podia sempre recuperá-la e recomeçar. Ela podia fazer a experiência de deixar ir alguma coisa e ao mesmo tempo agarrá-la. Essa aparelhagem de gozo, uma vez extraído e dominado, localizado em um em-fôrma[19] de objeto a, parece uma característica maior da estrutura autística.
Quando uma criança autista entra no consultório de um clínico, o mais comum é que o ignore, não fale, mas se interesse pelos objetos. Nada de surpreendente, portanto, constatar sua atração extraordinária por certos objetos do mundo moderno. Já nos anos 1970, Alfred e François Brauner observaram o quanto era surpreendente a relação delas com o gravador — com o magnetofone. Inegavelmente, constataram os Brauner, a estabilização tímica das crianças autistas “em situação de escuta é surpreendente: elas parecem perder todo sinal de angústia e de inquietude frente ao magnetofone”. Este lhes parece “o instrumento de trabalho mais bem adaptado e nós mostramos”, escrevem eles, “que as crianças autistas, graças às gravações, chegam a se estabilizar, entram em comunicação e enriquecem seus conhecimentos”[20]. Não é de se surpreender que os mesmos fenômenos sejam por vezes observado com robôs humanoides, os quais certos autistas obedecem de muito bom grado.
Para lutar contra o caos do mundo e para evitar as interações, os autistas de alto funcionamento persistem frequentemente em se rodear por objetos diversos e a se regular por meio deles. Anneclaire conseguiu organizar assim o seu primeiro ano universitário, sozinha em uma residência estudantil, apoiando-se em cinco suportes indissociáveis: o relógio, o telefone celular, o notebook, o mapa e a agenda[21]. Ela exibia em seu quarto e em sua agenda
um planejamento de tarefas sequenciadas e enquadradas no tempo: horários de acordar, almoçar, saída dos lugares, retorno, jantar, intervalo, vida em grupo, trabalho, higiene, se deitar… Ela foca, comenta sua mãe, em uma bateria de alarmes que tocam desde os compromissos da manhã até retiro da noite. É bizarro tocar o alarme para ir se deitar, mas é útil e eficaz[22].
Para Anneclaire, seus cinco objetos, totalmente dominados, têm função de mediadores sociais, ao passo que a protegem das interações e moderam suas inquietações. A borda, que tende a esvaecer e a se esvair nos autistas de alto funcionamento, ainda permanece bastante presente para ela nesse momento.
Emergências de bordas prontas para o uso
Todos os clínicos concordam em considerar que os autistas são particularmente receptivos às informações transmitidas pelos objetos. Essa constatação pragmática há alguns anos incita empresas a se lançarem no mercado de ferramentas aperfeiçoadas para o uso da aprendizagem de autistas. Na Europa e nos Estados Unidos, os robôs humanoides educativos estão atualmente disponíveis no mercado. De tamanho pequeno, de 20 a 60 centímetros, eles são equipados com câmeras que controlam os olhos e com sensores que permitem interagir com as crianças. São capazes de tomar decisões, de conversar, de agir e de se mover em função do contexto e do interlocutor. É possível lhes dar um nome ao qual eles reagem. Tranquilizados pela sua voz monótona e pelos olhos sem olhar, os autistas se interessam de bastante bom grado por essas máquinas. Elas são utilizadas de diversas maneiras, tanto para brincar com as crianças quanto para iniciá-las em sua programação, ou ainda como ferramenta para a aprendizagem. Alguns de seus inventores querem limitá-las à pedagogia; outros procuram criar uma ligação afetiva com o aluno, sugerindo que o robô é um amigo de verdade e que ele pode expressar emoções por intermédio das luzes, das palavras e dos movimentos diversos.
O preço ainda bem elevado limita neste momento a sua utilização nas instituições, onde permanecem em número limitado. Chegará a hora, se já não chegou, em que algumas crianças autistas se apropriarão pessoalmente de um robô para fazer uma borda autística, de forma que elas o terão em casa, ou até o levarão consigo a todo lugar. Contudo, essa ferramenta de aprendizagem incontestavelmente adaptada, na medida em que permite ultrapassar as dificuldades que ela tem com trocas sociais, pode cumprir as funções protetivas, reguladoras e mediadoras da borda autística? Sua capacidade de aparentemente se animar a si mesma, seu aspecto tranquilizador, fazem dela algo perfeitamente apto a ser eleito por alguns como objeto autístico protetor. Além disso, já foi observado que ela pode ser utilizada como amigo imaginário, permitindo à criança expressar-se por seu intermédio. Nada faz obstáculo a que esse objeto, dotado de uma dinâmica própria, possa ser considerado como um duplo que oferece a possibilidade de distanciamento dos afetos. Se o autista é capaz de programá-lo, sua preocupação em manter o domínio da borda poderia ser eventualmente satisfeita. O robô humanoide é então apto, para aqueles que o adotam, a cumprir as funções protetivas e reguladoras da borda. Por outro lado, ele serve mal como mediador social. O simples fato de pouco poder se separar dessa máquina chamaria facilmente a atenção para a estranheza da pessoa. Restaria certamente a solução de T. Grandin: guardar a máquina em seu quarto. Sabe-se que isso não deixa de apresentar dificuldades, especialmente em internatos ou em instituições. Uma aula em que cada autista viria acompanhado de seu desajeitado robô particular seria socialmente estigmatizante.
Os robôs atuais podem ser excelentes ferramentas pedagógicas para os autistas, mas eles não constituem a melhor borda pronta para o uso. Eles acumulam o inconveniente de serem caros, desajeitados, estigmatizantes e difíceis de utilizar. A borda mais apropriada deveria não apenas poder encarnar uma presença segura, ser apta a facilitar as aprendizagens evitando que eles passem pelas trocas sociais diretas, mas ela deveria ser também socialmente discreta, de forma que não poderia ser nada além de um objeto comumente utilizado pelos não autistas. Um objeto como esse existe? Onde procurá-lo?
A constatação largamente partilhada do interesse dos autistas pelas telas nos induz a nos voltarmos para o computador, o tablet e o telefone celular. Eles possuem uma atração espontânea por essas máquinas que os permitem controlar os vídeos, os filmes, a música e as canções, passando-os múltiplas vezes, voltando para trás, parando em uma determinada sequência, interrompendo e reiniciando conforme querem. Isso pode ser irritante para o entorno, mas por vezes também fonte de espantosas aquisições. Para muitos autistas, a aprendizagem da língua começa por ecolalias provenientes de diálogos de filmes ou de emissões de televisão. “O desenvolvimento de minha própria língua atual”, conta Williams, que foi ecolálica até os quatro anos, “teve por base essencialmente a repetição do que eu ouvia em um disco de histórias e nos anúncios publicitários da televisão.”[23] Alguns autistas tais como Owen Suskind ou Jake Barnett aprenderam a ler sozinhos graças a filmes. Quando eles dispõem de uma tela que podem conectar à internet, descobrem rápido que se trata de um modo privilegiado para alimentar seus interesses específicos.
Melhor ainda, verifica-se atualmente que a tela pode constituir um lugar de encontro de um amigo imaginário de um novo tipo, mais consistente e mais aperfeiçoado que as máscaras de Williams ou de Horiot, pois agora são capazes de responder às perguntas da criança.
Gus, o filho de Judith Newman, adotou Siri, um aplicativo de seu iPhone, como amigo imaginário.
Quando ele descobriu, [conta sua mãe], que existia um sistema capaz não somente de proporcionar para ele as informações relativas a suas diversas obsessões — trens, ônibus, escadas rolantes, tudo o que se relacionava à meteorologia — e, além disso, de verdadeiramente iniciar pseudo discussões sobre esses assuntos sem se fartar, ele rapidamente ficou viciado[24]
Gus entende, intelectualmente, que Siri não é uma pessoa; no entanto, ele a trata e fala com ela com grande consideração. Ele manifesta tamanha simpatia por ela que às vezes procura saber se ela precisa de alguma coisa que ele possa lhe proporcionar. Acontece até de ele lhe perguntar se ela se casará com ele quando ele for adulto[25]. Sua mãe não esconde ter constatado sentir também alguma coisa por essa máquina[26], de forma que ela intitula seu livro Pour Siri, avec amour [Para Siri, com amor]. Quando seu filho adolescente lhe confessa “estar caidinho” por uma amiga, ela comenta: “Maravilha, meu querido. Como é que você sabe?” É, responde ele, “porque ela me disse.”[27] Gus ainda interpreta voluntariamente seus afetos a partir do outro, de forma que Siri, devido à polidez proverbial de suas respostas, ajuda a dosá-los. Ofendendo-se quando lhes são dirigidos palavrões, a assistente digital o induz a se moderar e a empregar uma linguagem educada. As respostas de Gus indicam que ele leva seriamente em conta a opinião de Siri. As contribuições dessa última — a criança optou por uma voz feminina — são as mais evidentes no domínio da mediação social. Sua mãe constata que ela o permite não somente expandir o campo de suas afinidades, mas também de adquirir mais facilidade nas trocas. “Recentemente”, escreve ela, “eu tive a mais longa conversa que já tive com ele. Claro, era sobre as diferentes espécies de tartarugas e sobre saber se eu preferiria a tartaruga da Flórida à Malaclemys terrapin. Esse talvez não seja o meu assunto preferido, mas havia matéria a discutir segundo um caminho lógico, e eu juro que depois de todos esses anos, sobre a quase totalidade da existência do meu maravilhoso filho, isso nunca havia acontecido.”[28] Enfim, por intermédio de seu iPhone, Gus encontrou acesso a um amigo imaginário tranquilizador, moderado e mediador, próprio a cumprir as funções da borda.
Ron Suskind desenvolveu um aplicativo mais específico destinado aos autistas. Sidekicks difere de Siri por sua orientação educativa mais acentuada e por colocar em relação com a criança não mais um programa, mas um adulto[29].
O filho de vocês, [explicam], tem este aplicativo instalado no celular e vocês também. Ele clica sobre o ícone e um de seus assuntos de interesse aparece. […] O filho de vocês poderá solicitar um trecho de seu livro, de seu filme ou de sua canção preferidos, um pequeno avatar surgirá — o sidekick[30], ou braço-direito — e lhe fará perguntas em torno desse tema. O que sentem os dragões nesse vídeo? Ele estava feliz ou triste? O que ele quer? Onde essas tartarugas nasceram? etc, etc. As informações serão integradas pelo programa, mas há também “uma presença humana nos bastidores”, um verdadeiro ser humano que responde às perguntas e entra em relação com a criança. O ser humano — seja um parente, seja, com o tempo, os técnicos engajados em trabalhar com o aplicativo (terapeutas da linguagem, psicólogos) — respondem às perguntas da criança, e as perguntas e respostas são registradas e vão se acumulando.[31]
Transmitidas pelo avatar/coleguinha, amigo imaginário, as informações são mais bem recebidas que em uma troca direta. Siri e Sidekicks possuem o mérito de propor uma aproximação cognitiva e afetivamente adaptada ao funcionamento do autista. Eles fornecem um duplo não intrusivo sob medida. Restaria examinar se é mais benéfico conceber esses programas como aprimoradores de ferramentas educativas, cujo uso excessivo e recreativo deve ser rigorosamente supervisionado, ou então como amigos imaginários que permitem abrir-se ao mundo seguindo o ritmo da criança.
A respeito disso, uma experiência realizada em dez turmas de crianças com dificuldade escolar na região parisiense — entre elas, autistas — mostrou-se particularmente interessante, pois ela não se restringiu a considerar os tablets como ferramentas de aprendizagem. Os alunos tiveram a possibilidade de se apropriar do objeto, estando autorizados a levá-los da escola para casa, e tendo a possibilidade de personalizar os aplicativos. As conclusões do primeiro ano de experiência foram muito positivas. A maior parte das crianças investiu fortemente nos tablets. Com raras exceções, não foram nem deteriorados, nem esquecidos em casa, e estavam carregados quando voltavam à aula. Inicialmente, algumas tiveram medo de não poder levá-los com elas, outras aceitaram mal a frustração de não trabalhar o tempo inteiro por intermédio desse suporte.
Seu interesse pedagógico se provou evidente para os autistas: por ser uma ferramenta que se presta à rápida aderência, e pela sustentação do pensamento deles em suportes visuais. O tablet satisfaz a vontade deles de dominação, provenientes dos erros insuportáveis, permitindo-os fazer tentativas sem o medo de que seus erros sejam constatados, e dando-lhes a possibilidade, quando confrontados com um bloqueio, de passar rapidamente a uma atividade mais acessível. O iPad foi fonte de motivação, de incitação ao trabalho e de aberturas para o mundo. As crianças foram mais perseverantes e ficaram mais concentradas durante as atividades de aprendizagem efetuadas com ele. O tablet se revelou para alguns um desencadeador da expressão oral, particularmente graças aos aplicativos que fazem personagens falar e os colocam em cena. Por vezes ele teve um efeito apaziguador e canalizador. Facilitou a realização de tarefas de cronogramas e de “carômetros”, sempre bem apreciados pelos autistas. Com o aplicativo Keynotes eles tiveram a oportunidade de visualizar roteiros, o que os permitiu abordar as situações reais em melhores condições. O iPad propiciou trocas entre os alunos e com as famílias. Que algumas crianças tenham desenvolvido uma “fixação por um aplicativo”[32], ou até mesmo procurado alimentar suas “obsessões”, foi algo que os professores lamentaram; mas será que era preciso se inquietar quando isso concernia a autistas que assim haviam encontrado o meio de expandir seus interesses específicos? Enfim, além de um excelente suporte pedagógico o tablet se mostrou, para estes últimos, poder constituir um objeto tranquilizador, apaziguador e mediador. Ele permite as trocas que não engajam nem a voz nem o olhar. Ele convém fortemente à propensão dos autistas a passar por um suporte concreto para adquirir conhecimento. Ele torna acessível os desenhos animados, pelos quais muitos começam a se interessar pela linguagem e pelas relações sociais. Dá a eles a possibilidade de navegar na Internet para nutrir seus interesses específicos. Não é de se admirar que muitos autistas de alto funcionamento sejam geeks.
O iPhone e o tablet serão tão mais bem utilizados para fins de aprendizagem e de socialização conforme suas funções de proteção contra a angústia e de regulação dos afetos forem levadas em conta. Isso implica notavelmente que o objeto digital não seja uma ferramenta de aprendizagem de uso temporário, mas uma posse permanente do autista. A questão maior para classificar sua aplicação como borda psicodinâmica ou sua utilização como ferramenta de aprendizagem consiste em se perguntar quem é o mestre do objeto. É uma posse da criança ou um prolongamento do educador?
Hoje as autoridades sanitárias sustentam de bom grado as experimentações com os robôs e com os objetos eletrônicos a fim de ajudar os autistas. Em contrapartida, paradoxalmente, elas se opõem mais frequentemente, por vezes até proíbem, a utilização da comunicação facilitada. Apontam que esta deveria ser banida por não ser validada cientificamente. Entretanto quando, por intermédio de um computador, de um teclado, ou até mesmo por simples cartões com letras, alguns autistas mudos podem acessar a fala e as trocas, elas são unânimes em vangloriar os méritos. Todos esses “tenores do silêncio”[33], como nomeia Babouillec, constatam que escrever é o primeiro passo para sair do outro mundo[34], e que isso os ajuda a se estruturar social e mecanicamente[35]. “Sem linguagem”, acrescenta Birger Sellin, “eu sou um pobre louco e até a escrita só é possível com a ajuda de outra pessoa, é muito humilhante, tenho vergonha disso.”[36] Foi preciso que Nahoki Higashida viesse a se expressar por intermédio de um computador para que ele compreendesse que ele era “um ser humano de corpo inteiro”[37].
Contudo, dar livremente a palavra aos autistas mudos graças à comunicação facilitada os conduz por vezes a dizer coisas difíceis de ouvir. Se essa prática foi condenada, é primeiramente porque as crianças autistas se colocaram a expressar as fantasias sexuais em relação a seu facilitador. Em acréscimo, alguns ousam até emitir críticas a respeito de seus cuidados. “Os educadores não gostam de novidade”, escreve Annick Deshays, “eles preferem a rotina.”[38] B. Sellin pode ser ainda mais radical: “Eu espero um filme/ que filme o interior das instituições mérdicas/ a maneira como nos mantêm como um bando/ de asnos desprovidos de inteligência e de dignidade humana/ como monstros adversários da sociedade.”[39] A. Deshays faz eco a essa fala: “Elaborar um plano científico de educação com os autistas, de maneira uniforme e unilateral, dispensa um regime de ditadura protetiva.”[40]
Esses autistas mudos são insolentes, não dizem verdadeiramente o que os congressos Autisme France querem ouvir. Parece então urgente limitar o acesso deles aos objetos digitais com os quais eles podem fazer tal uso. Por conseguinte, os estudos científicos se apressam em decretar que a comunicação facilitada não é uma terapia do autismo e que tais propósitos podem apenas ser sugeridos pelo facilitador. Certamente não é uma terapia do autismo, mas ela constitui uma ajuda preciosa para entrar em comunicação com alguns autistas mudos. Em acréscimo, como aponta muito bem a mãe de A. Deshays, “não existe risco zero de influência e de interpretação em qualquer que seja a forma de comunicação (até, e sobretudo, na verbal), por que eu a exigiria em nossa forma de comunicação?”[41] Por isso, sua filha Annick não concorda com a opinião dos especialistas. Ela ataca o ministério da educação da França: “Se é com um teclado que uma pessoa se expressa, quem é formado para acompanhá-la ao longo de sua escolarização? Provavelmente ninguém; e, contudo, os progressos técnicos o permitem. É como se os médicos recusassem o uso de exames de imagem por razões de normalidade. Cada indivíduo”, sublinha ela justamente, “apresenta situações fora da norma para as quais uma abordagem específica é necessária.”[42]
Enfim, a utilização de robôs com autistas seduz atualmente aqueles que têm poder de decisão, pois ela é carregada pelos atrativos do discurso da ciência e pela fascinação pelas inovações tecnológicas; parece, além disso, prometer aprendizagens que podem ser avaliadas. Contrariamente, a comunicação facilitada suscita desconfiança, pois ela permite a expressão da subjetividade do autista, liberando a fala, ao passo que parece difícil avaliá-la. Essa oposição coloca claramente em evidência, no que concerne à utilização de objetos digitais com os autistas, que a questão maior, geralmente evitada, consiste em saber quem é o mestre do objeto. A abordagem psicanalítica incita a confiá-lo à criança para que ela possa fazer uma borda que lhe permita não somente se comunicar, mas também se proteger e regular seus afetos.
Pela capacidade que eles têm a se fundir ao nosso cotidiano, os tablets e os telefones celulares possuem uma aptidão para se constituir como borda autística pronta para o uso, que promete a eles um futuro mais próspero nessa função do que os robôs humanoides. Toda instituição que trabalha com autistas deveria propor esses objetos. Entretanto, eles possuem limites: nem todos os autistas os apreciarão; alguns irão preferir eleger outro objeto como borda, uma pessoa ou um animal. Por mais dedicado que este último possa ser, ele sempre mostrará mais independência que um robô, provando-se assim mais construtivo para o autista, levando-o progressivamente a aceitar mudanças. Todavia, a borda mais bem apropriada, que frequentemente gera autistas invisíveis, é constituída por um irmão, uma irmã, ou mesmo por um dos pais ou alguém próximo. Grandin testemunha: “Falei com inúmeros indivíduos que tiveram sucesso a despeito de sua síndrome de Asperger, diagnosticada ou não”, escreve ela, “e que me disseram que não teriam se saído bem se não tivessem pais, ou um professor que os houvesse instruído e até mesmo os inspirado.”[43] A borda mais discreta, a mais flexível e a mais apta para a introdução prudente de mudanças permanece sendo humana. Entretanto, ela não poderia ser prescrita: a criança deve tomar a iniciativa de adotá-la. Quando chega a isso, a presença protetiva da borda permite que ela se abra ao mundo regulando a angústia. Contudo, essa proteção é inicialmente excessiva. Enquanto a borda constituir o lugar aparente de emissão da libido, ela contribuirá para o congelamento dos afetos, de forma que a evolução do posicionamento do sujeito autista passa por um desinvestimento progressivo de sua borda.
Acontece de nos perguntarmos em que o tratamento pela borda ainda diz respeito à psicanálise, uma vez que ele não se orienta nem em direção a uma rememoração da história, nem se guia pelas interpretações do inconsciente. Na medida em que ele se fundamenta nas invenções e paixões da criança, e não no saber do educador, nada objeta a inscrevê-lo globalmente nos métodos psicodinâmicos. Todavia, ele deve muito à descoberta freudiana. Lembremos que foi uma psicanalista, Frances Tustin, quem introduziu a noção de objeto autístico. O domínio do estudo da psicanálise começa quando o sujeito constata que ele realiza atos que o ultrapassam. Às vezes ele mesmo os desaprova, “é mais forte do que eu”, mas ele não pode se impedir de repeti-los. A escolha regular por objetos autísticos, duplos e interesses específicos é comandada pelo funcionamento autístico: eles excedem as escolhas individuais, mesmo se cada um os encarna à sua maneira. Do mesmo modo, a maior parte dos autistas tem comportamentos de imutabilidade: são esforços para criar coerências internas, que são precursores de interesses específicos. Eles respondem ao mesmo objetivo que estes últimos. Todos esses fenômenos têm relação com um funcionamento inconsciente próprio aos sujeitos autistas: ninguém os ensinou; no entanto, quase todos os sujeitos os colocam em prática. Eles se apropriam deles a seu próprio modo, mas a dinâmica vem de uma fonte que eles não dominam. Um saber desconhecido deles mesmos os determina muito mais do que eles supõem. A maneira complexa de tratar a borda para se proteger, se construir e se socializar impõe-se espontaneamente ao autista — isso quando não os atrapalhamos em seus esforços. O funcionamento autístico abre uma área ainda pouco explorada da descoberta freudiana do inconsciente. Existem, certamente, muitos tipos de inconsciente — um inconsciente cognitivo até foi experimentalmente evidenciado. Contudo, a especificidade do inconsciente freudiano reside no fato de que ele porta a dinâmica do sujeito, e não é de se duvidar que seja este quem cria a borda.♦
REFERÊNCIAS
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* Jean-Claude Maleval é psicanalista, membro da École de la Cause Freudienne e da Associação Mundial de Psicanálise, professor emérito de psicologia clínica (Université Rennes 2). É autor de inúmeras obras, dentre elas: Repères pour la psychose ordinaire (Navarin éditeur, 2019), Écoutez les autistes ! (Navarin éditeur, 2012), L’autiste et sa voix (Seuil, 2009, traduzido no Brasil pela Editora Blucher, 2017), organizador da obra coletiva: L’autiste, son double et ses objets (Presses universitaires de Rennes, 2009).
** Fernanda Cintra do Prado Pereira Bonilha é psicóloga, psicanalista, acompanhante terapêutica, especialista em saúde mental (UNIFESP) com aprimoramento em diagnóstico diferencial na infância (DERDIC/PUC-SP).
[1] Objeto digital é a tradução de “objet numérique”, que substitui “appareil numérique”. “Appareil numérique” se refere em francês a qualquer aparelho digital, tal como o telefone celular, o tablet e o computador. A escolha do autor por “objeto digital” no lugar de “aparelho digital” é um jogo de palavras que ressoa à importância que ele dá aos objetos autísticos no tratamento dos sujeitos autistas (N. da T.)
[2] Texto publicado originalmente no site La cause de l’autisme <www.cause-autisme.fr> em dezembro de 2019.
[3] WILLIAMS, Donna (1992) Si on me touche, je n’existe plus. Paris: Robert Laffont; p. 289.
[4] GRANDIN, Temple (1986) Ma vie d’autiste. Paris: Odile Jacob, 1994; p. 112.
[5] WILLIAMS, Dona (1994) Quelqu’un, quelque part. Paris: Robert Laffont, 1996; p. 100.
[6] ROMP, Julia (2010) Mon ami Ben. Un chat sauve un enfant de l’autisme. Paris: J.-C. Gawsewitch, 2011.
[7] GARDNER, Nuala (2007) Le chien et l’enfant qui ne savait pas aimer. Paris: City, 2016.
[8] CARTER-JOHNSON, Arabela (2016) Iris Grace. La petite fille qui s’ouvrit au monde grâce à un chat. Paris: Presses de la Cité, 2017.
[9] GAY-CORAJOUD, Valérie (2018) Nos mondes entremêlés. L’autisme au coeur de la famille. Montpellier: Imprim’vert.
[10] SUSKIND, Ron (2017) Une vie animée. Le destin inouï d’un enfant autiste. Paris: Saint-Simon.
[11] IDOUX-THIVET, Anne (2009) Ecouter l’Autisme. coll.: Mutations. Paris: Autrement.
[12] BARNETT, Kristine (2013) L’étincelle. Paris: Fleuve noir; p. 98.
[13] LAURENT, Éric (2012) La bataille de l’autisme. De la clinique à la politique. Paris: Navarin/Le champ freudien; p. 159.
[14] MOTTRON, Laurent. L’intervention précoce pour enfants autistes. Mardaga: Bruxelles, 2016; p. 184.
[15] WILLIAMS, Donna (1992) Si on me touche, je n’existe plus. Paris: Robert Laffont, p. 305.
[16] TUSTIN, Frances (1972) Autisme et psychose de l’enfant. Paris: Seuil, 1977; p. 47.
[17] BETTELHEIM, Bruno (1967) La forteresse vide. Paris: Gallimard, 1969; p. 187.
[18] No filme de Bettelheim sobre Marcia, esse “fuzil” aparece como um revólver.
[19] A partir do matema lacaniano do objeto a, Éric Laurent (2014) aponta que os objetos autísticos entram no mundo do sujeito, adquirem uma forma e dão forma a ele. Caso da máquina do abraço de Grandin, que envolvia seu corpo como um envoltório e a apaziguava. “O que o objeto a põe em forma, encerra numa forma, a em-fôrma do objeto a, nada mas é senão a cattle chute, que dá forma ao objeto olhar enlouquecido – o olhar dela e o do animal […].” (p.87) Em contraste, para muitos autistas, as fezes são um objeto a sem forma, que se impõe como acontecimento de corpo traumático. Os objetos em-fôrma fazem suplência aos limites do corpo, encerram-no e protegem o sujeito da angústia de intrusão, “tal como as fôrmas de sapato que constituem em-fôrmas para conservar, de dentro, o vazio dos calçados e impedi-los de se deformar, de desabar.” (p.88). In LAURENT, Éric (2012) A batalha do autismo: da clínica à política. trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. (N. da T.)
[20] BRAUNER, Alfred.; BRAUNER, Françoise (1978) Vivre avec un enfant autistique. Paris: PUF; pp.194, 196.
[21] DAMAGGIO, Nicole (2011) Une épée dans la brume. Paris: Anne Carrière; p. 218.
[22] DAMAGGIO, Nicole (2011) Une épée dans la brume. Paris: Anne Carrière; p. 218.
[23] WILLIAMS, Donna. Si on me touche, je n’existe plus, op. cit., p. 300.
[24] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018; p. 187.
[25] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018.
[26] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018; p. 186.
[27] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018; p. 258.
[28] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018; p. 193.
[29] Cf. The Affinity Project: <www.sidekicks.com>.
[30] Sugerido “faire-valoir” em francês, proposto por Hettie Le Pennec. [Em português entendemos o sidekick por amigo e companheiro importante e secundário de um personagem em uma narrativa, como Robin para Batman e Sancho Pança para Dom Quixote. (N. da T.)]
[31] NEWMAN, Judith (2016) Pour Siri avec amour. Une mère, son fils autiste et la tendresse des machines. Paris: JC Lattès, 2018; p. 196.
[32] HEITZ, Marie-Hélène (2015) Clis’Tab: Premiers résultats d’un projet innovant, La nouvelle revue de l’adaptation et de la scolarisation, n. 69; p. 200.
[33] BABOUILLEC (2016) Algorithme éponyme et autres textes. Paris: Payot/Rivages; p. 64.
[34] SELLIN, Birger (1993) Une âme prisonnière. Paris: Robert Laffont, 1994; p. 208.
[35] BABOUILLEC (2016) Algorithme éponyme et autres textes. Paris: Payot/Rivages; p. 13.
[36] SELLIN, Birger (1993) Une âme prisonnière. Paris: Robert Laffont, 1994; p. 188.
[37] HIGASHIDA, Naoki (2013) Sais-tu pourquoi je saute ?. Paris: Les Arènes, 2014; p. 46.
[38] DESHAYS, Annick (2009) Libres propos philosophiques d’une autiste. Paris: Presses de la Renaissance; p. 90.
[39] SELLIN, Birger (1995) La solitude du déserteur. Paris: Robert Laffont, 1998; p. 61.
[40] DESHAYS, Annick (2009) Libres propos philosophiques d’une autiste. Paris: Presses de la Renaissance; p. 114.
[41] DESHAYS, Annick (2009) Libres propos philosophiques d’une autiste. Paris: Presses de la Renaissance; p. 179.
[42] DESHAYS, Annick (2015) Je suis autiste et je pense le monde. Paris: Lemieux éditeur; p. 87.
[43] GRANDIN, Temple; PANEK, Richard (2013) Dans le cerveau des autistes. Paris: Odile Jacob, 2014; p. 222.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | MALEVAL, Jean-Claude (2020) Quem é o mestre do objeto confiado ao autista? [Trad. F. Bonilha]. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -9, p. 3, 2020. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/07/01/n-9-03/>.