O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica

por Lucas Paolo Vilalta

para Mariana Morato Marques

[Foucault] anunciava a constituição de uma “nova ordem interior”, diferente da disciplinaria, que seria expressão de uma nova forma de “controle social” que teria, entre suas características, a criação de “um sistema geral de informação” de proporções inéditas e a constituição de “uma série de controles, coerções, e incitações que se realizam por meio dos mass media”. Isto permitiria “certa regulação espontânea que fará com que a ordem social se auto-engendre.”

*

Pablo Manolo Rodríguez [1].

Iniciamos com esta citação que recupera trechos de uma conferência de Foucault na Universidade de Vincennes.[2] Com ela nos instalamos em dois eixos fundamentais da encruzilhada digital que é o neoliberalismo hoje: por um lado, a governamentalidade algorítmica, como sua principal tecnologia ou dispositivo de subjetivação; e, por outro, a informação digital que constitui a base material histórica da ontologia hegemônica dos processos de individuação em nossa realidade — a arkhé de nossos tempos. Neste ensaio, apresentaremos alguns esboços de uma genealogia do digital por meio de uma investigação do primeiro eixo. O segundo eixo faz parte de uma investigação arqueogenética da informação que está em curso[3]. Ambos os eixos se cruzam compondo a base do funcionamento do neoliberalismo atual como um sistema geral de comunicação e controle de todos os seres e processos. O substrato energético-material que conforma esse sistema é a informação digital, e é por meio dela que as coerções, dispositivos de controle, incitações, ficções e ideologias engendram a ordem político-social vigente. Um ponto de partida privilegiado para traçarmos o cruzo desses dois eixos — uma ontogênese dessa encruzilhada[4] — é a cibernética, uma tecnologia intracientífica que, segundo o coletivo Tiqqun, esteve na base da passagem do liberalismo ao neoliberalismo.

A hipótese cibernética

Sob a influência da informatização, as técnicas de ajuste de oferta e demanda, surgidas no período de 1930-1970, foram depuradas, recortadas e descentralizadas. A imagem da “mão invisível” já não é uma ficção justificativa, mas o princípio efetivo da produção social e da sociedade, tal e como se materializa nas funções dos computadores. As técnicas de intermediação mercantil e financeira foram automatizadas. A Internet permite simultaneamente conhecer as preferências do consumidor e condicioná-las por meio da publicidade. Em outro nível, toda a informação sobre os comportamentos dos agentes econômicos circula em forma de títulos de que se ocupam os mercados financeiros. Cada ator da valorização capitalista é suporte de laços de retroação (feedbacks) quase permanentes, em tempo real. Agora, nos mercados reais, assim como nos mercados virtuais, cada transação dá lugar a uma circulação de informações sobre os sujeitos e os objetos da troca que vai além da mera fixação do preço. […] Por um lado, perceberam a importância da informação como fator de produção distinto do trabalho e do capital, e decisivo para o “crescimento”, na forma de conhecimentos e inovações técnicas, de competências distribuídas. Por outro lado, o setor especializado da produção de informações não deixou de aumentar de tamanho. Ao reforço recíproco destas duas tendências deve o capitalismo presente o fato de ser qualificado de economia da informação. A informação se converteu na riqueza a se extrair e acumular, transformando o capitalismo em auxiliar da cibernética. A relação entre capitalismo e cibernética se inverteu no transcorrer do século: enquanto que, depois da crise de 1929, se construiu um sistema de informações sobre a atividade econômica com o intuito de servir à regulação (este foi o objetivo de todos os planos), a economia, depois da crise de 1973, faz repousar o processo de autorregulação social na valorização da informação[5].

O texto A hipótese cibernética dos Tiqqun lança as bases para uma genealogia da nova episteme que se individua em nosso presente. Nele, encontramos uma hipótese radical para pensarmos as modificações que o neoliberalismo tem produzido no ordenamento do mundo. Repitamos aqui essa hipótese: o capitalismo se converteu em um dispositivo auxiliar às operatividades de um novo sistema de comunicação e controle geral cujo nome é cibernética[6]. Essa transformação não ocorreu pela mera substituição de um sistema de economia de acumulação e produção por um sistema econômico da informação e da financeirização; tampouco, apenas pela modificação no paradigma do trabalho — dado que esta é muito mais um sintoma do que uma causa do que está em questão.

A ficção do dinheiro está dando lugar à ficção do digital, o dígito é o novo dólar. O dinheiro foi por muito tempo — e em larga medida ainda é — a mais bem-sucedida ficção já inventada, pois é a única narrativa em que todos acreditam, ou da qual são compelidos a participar. O dinheiro foi o elo simbólico que sustentou a normatividade das equivalências nas relações humano-ocidentais. A ficção-dinheiro está ligada ao mundo homológico das substituições e semelhanças entre indivíduos, entre termos individuais já constituídos ou produzidos. Como diz Pierre Lévy: “A moeda não existe enquanto tal e não tem função econômica positiva a não ser por sua circulação. Ela é o marcador, o vetor e o regulador das relações econômicas. O dinheiro não é a riqueza, mas sua virtualidade”[7]. O dinheiro é o que permitia as equivalências entre sistemas de representação e a circulação de indivíduos em outras individualidades. A ficção do dinheiro foi a ideal para sustentar as dicotomias e ambiguidades único-intercambiável, dentro-fora, natureza-cultura, palavra-coisa, exterior-interior, real-virtual, social-individual. Com a progressiva e paulatina morte do indivíduo, a ficção do dinheiro ficará cada vez mais insustentável, pois já não haverá termos para colocar em circulação, fluidizar, dissolver momentaneamente; haverá apenas informações que são conjuntos de relações de relações, controladas por algoritmos. O problema não é apenas que a financeirização esteja desconectada da produção — como insiste Wolfgang Streeck em How will capitalism end? (2016), mas que em breve já não existirão duas mercadorias iguais — pois a cada mercadoria estarão somadas nossas informações digitais, perfilizadas por algoritmos e sistemas de metadados. A dinâmica do valor passou da lógica dos indivíduos para a lógica dos processos, das operações informacionais.

A cibernética é justamente o nome dessa transformação na centralidade das mercadorias e dos indivíduos para o controle da vida econômica e social, para o surgimento de um sistema de comunicação e controle geral em que nenhum ser ou processo é inapreensível e incognoscível. Segundo o que podemos apontar como a lei maior da cibernética, todos os seres emitem, recebem, armazenam e tratam informações codificadas que podem ser controladas, desde que se possua o programa adequado — ou seja, as relações entre dados e metadados controladas e codificadas por algoritmos. “A cibernética instaura como ponto de partida a identidade entre a vida, o pensamento e a linguagem[8]. A cibernética, muito antes das discussões do pós-humanismo, havia fundado um monismo ontológico radical ao abandonar o problema do humano ou da consciência como parâmetro de toda mediação, de toda presença e de toda representação, colocando a informação digital codificada como parâmetro universal e uniformizador de todos os processos comunicacionais. Como afirmou Rodríguez: “O que é possível ler hoje, em definitiva, é que os seres humanos não somos os únicos que lemos, escrevemos e interpretamos este mundo”[9]. Isto porque:

O projeto cibernético tinha clareza que para a circulação de mensagens era preciso libertar a comunicação das limitações do humano e torná-la maquínica, e desde este ponto também vivente, como mostra a biologia molecular. A ideia de que tudo processa informação rompe com a distinção entre matéria e espírito e funde a linguagem com a vida e com o pensamento enquanto fenômenos de comunicação[10].

Certamente seria de interesse apresentar em detalhe o projeto cibernético ao longo de sua história, mas para o que é de nosso objetivo aqui cabe afirmar que a cibernética lançou as bases para o surgimento da governamentalidade algorítmica ao se configurar com uma tecnologia intercientífica de controle e comunicação de todos os tipos de seres (físicos, viventes, psicossociais e técnico-tecnológicos)[11]. Isto se deu por meio da proposição de uma linguagem e de ferramentas (lógico-matemáticas, científicas e computacionais-cognitivas) que não mais representassem as coisas, os seres, os objetos, mas que operassem a partir de seu interior. Os símbolos, os dígitos binários (bit) e a lógica passam a compor as coisas desde dentro[12]. A cibernética instaura um sistema geral de equivalências entre todos os tipos de seres e objetos fazendo com que todos sejam considerados e operados como sistemas organizados que se comunicam a partir de dados[13]. Completa esse quadro a compreensão de que todos os tipos de relações e processos (do comportamento dos átomos aos resultados de modificações genéticas) podem ser traduzidos como informação e serem codificados, programados e reprogramados (sistemas de retroalimentação ou feedback). Os algoritmos governam e determinam o sistema de relações e correlações que podem existir entre conjuntos de dados; e os dados são hoje, no capitalismo de plataformas, o que há de mais valioso, pois é partir deles — muito mais até do que pelo dinheiro — que se tecem as dinâmicas de equivalências e valorização do capital.

A cultura algorítmica

O primeiro ponto fundamental para apresentarmos a governamentalidade algorítmica é oferecermos uma definição de algoritmo e tentarmos entender porque diferentemente de outros dispositivos totalizantes e uniformizadores da tradição logocêntrica, o algoritmo forneceu uma base para a universalização dos modos de programação e controle da dinâmica social e vital.

[Um algoritmo é] um conjunto finito de instruções ou passos que servem para executar uma tarefa ou resolver um problema de tipo matemático por meio da manipulação de símbolos. Toda a complexidade de sua influência na atualidade reside no fato de que tal conjunto é o que faz funcionar o computador e, por extensão, também qualquer sistema informático baseado em um sistema de codificação binária[14].

Um primeiro aspecto fundamental que explica as razões pelas quais a governamentalidade algorítmica se transformou no dispositivo central de controle e comunicação no neoliberalismo reside no fato de que os algoritmos estão na base da hipótese cibernética, a saber, que com a linguagem e as técnicas corretas é possível programar e controlar todos os processos informacionais que conectam os indivíduos, sejam eles animais humanos ou máquinas. Os algoritmos são, portanto, a base dos códigos e programas que permitem a constituição de um sistema geral de comunicação e controle que tem na informação digital o substrato ou a base material de funcionamento do mundo. Entretanto, podemos dizer que esses conceitos expressam as condições materiais ontológicas e epistemológicas que nos permitiriam explicar o funcionamento do neoliberalismo como uma governamentalidade algorítmica. Contudo, o intuito deste ensaio é lançar um convite para que nos impliquemos nesses conceitos para compreendermos que modos de subjetivação garantem essa operatividade imanente ao neoliberalismo. Precisamos, então, investigar como a governamentalidade algorítmica opera no interior do neoliberalismo garantindo que os modos de existência de todos os tipos de seres funcionem a partir da emissão, recepção, armazenamento e tratamento de informações, segundo códigos e algoritmos pré-determinados. Em outras palavras, como propôs Miguel Benasayag, é preciso que as singularidades das vidas estejam implicadas em conformar a existência em certos funcionamentos; e quando existir é funcionar, é possível governar ciberneticamente. Como descreveram os Tiqqun, relendo Karl Deutsch, este governo consiste em:

Inventar uma coordenação racional dos fluxos de informações e decisões que circulam no corpo social de acordo com três passos: instalar um conjunto de sensores para não perder nenhuma informação proveniente dos “sujeitos”; tratar as informações por correlação e associação; situar-se nas proximidades de cada comunidade vivente[15].

Voltaremos a esses três passos propostos por Deutsch mais adiante, antes precisamos abordar o aspecto que permite a conexão íntima entre existência e funcionamento, trata-se do que o campo dos algorithmic studies tem denominado “cultura algorítmica”. De acordo com Ted Striphas, “os seres humanos estiveram delegando o trabalho da cultura crescentemente aos processos computacionais. Semelhante modificação altera o modo pelo qual a categoria de cultura tem sido até agora praticada, experimentada e entendida” e com isto, “estamos assistindo ao gradual abandono do caráter público da cultura”[16]. Esta transformação faz com que “os algoritmos que conformam as pautas e escolhas culturais se invizibilizem enquanto tais, se ocultem no processo de seleção dos conteúdos culturais”[17]. Nesse sentido, a operatividade imanente dos algoritmos encontra seu pleno sentido no momento em que a cultura algorítmica vai constituindo um “segundo eu”, uma “antena” interfaciadora de dados do que, como sugeriu Pablo Rodríguez, podemos denominar subjetivação smartphónica. A questão chave aqui é que a governança algorítmica das redes vai além de um poder soberano transcendental — tal qual ainda propunha as primeiras formulações cibernéticas — para se dissolver em uma cultura algorítmica imanente que realiza uma gestão estatística da vida a partir de uma ambivalência fundamental:

Os algoritmos nos fazem acreditar na existência de uma transparência que permite o acesso a tudo, quando, na verdade, personalizam por meio de medidas estatísticas que não tem nada de pessoal. Criam nos sujeitos a ilusão de uma singularidade que é efeito da estatística, e esta, por sua vez, é efeito de um processamento de informação[18].

Esse fenômeno cultural ambivalente foi sintetizado por Eric Sadin na descrição da passagem do “sujeito humanista ao indivíduo algoritmicamente assistido”; falando assim de uma “humanidade aumentada pela assistência algorítmica das tecnologias digitais”[19]. A liberdade da vida humana, em sua dupla dimensão de autonomia e autenticidade, encontra na assistência dos algoritmos os critérios para as tomadas de decisão e para as construções de sentido — os celulares passam a ser extensões operativas dos modos de vida na ciberexistência. O exemplo mais contundente disto talvez seja o “curtir” do Facebook como dispositivo de autentificação das experiências — daí talvez a dinâmica atual das guerras culturais em que estamos sempre buscando uma vida autêntica e julgando a autenticidade da vida do outro em um clique de Facebook, em um toque em uma tela. Mas também a circulação dos corpos e a duração do tempo passam a ser delegadas aos dispositivos digitais. Por exemplo, com o Google Maps, “quando o mapa se torna interativo, com os indivíduos de maneira direta ou com os dados que se atualizam constantemente, ele começa a se parecer com o território”[20]. A ficção borgeana do mapa que coincide com o mundo real é criada hoje menos pelas tecnologias de satélite e GPS do que pela atualização em tempo real de dados planetários em um mapa comum. Também, como afirma Paula Sibilia, a transição dos relógios analógicos para os digitais nos fornece uma clara imagem da perda dos interstícios nas decisões humanas.

A transição dos relógios analógicos para os digitais, todavia, sugere algumas pistas interessantes: nos novos modelos, o tempo perdeu os interstícios. O próprio aparelho específico tende a desaparecer, para se incrustar em todos os outros e se diluir por toda parte. Como ocorre com as instituições de confinamento, parece que também aqui os muros estão desabando: o tempo não é mais compartimentado geometricamente, passando a ser um contínuo fluído e ondulante, sempre escoando e nunca suficiente. Mais uma vez, o relógio serve como emblema e como sintoma, expressando em seu corpo maquínico a intensificação e a sofisticação da lógica disciplinar na sociedade de controle[21].

Tudo se passa, como sugeriu Agustín Berti, como se os novos critérios digitais substituíssem as autoridades tradicionais como a universidade, a crítica, o Estado e o sistema educativo[22]. Contra esses deslocamentos, a crítica termina por emudecer, pois a íntima e opaca transparência dos algoritmos e os novos critérios de orientação normativos da humanidade passam a ser engendrados no seio de um poder imanente que já não se expressa nas figuras transcendentes de soberania que podiam ser criticadas em suas mediações e em sua negatividade. A vida cotidiana é tomada por uma série de delegações aos sistemas de dados que tendem a naturalizar e uniformizar os dispositivos de assistência em uma vigilância e um oferecimento de dados que é desejado pelos usuários de aplicativos — a vida passa a ser mais eficiente e memética. Antes dos vazamentos de dados e informações de perfis do Facebook que escandalizavam a opinião pública, as empresas já obtinham dados por meio de quis como “Que Pokemon é você?” ou “Que revolucionário seria você?”.

Assim, os algoritmos assistem simultaneamente aos usuários e aos sistemas de metadados em sincronizações e uniformizações coletivas e sociais, e, paradoxalmente, isto é feito em prol de um dito serviço diferenciado e diacrônico de transparência da singularidade de cada pessoa para ela mesma. A singularidade se expressa quando o aspecto diferencial de uma informação é codificado em um sistema de metadados que possa fazer com que tal informação seja relevante. A indústria cultural contemporânea fornece perfis de Netflix, Youtube, Spotify e, mesmo Tinder, personalizados, construindo um perfil não de homogeneização, mas de particularização das singularidades.

Agora, essa singularização algorítmica opera em função de produzir um controle estatístico dos ruídos que poderiam ameaçar a performatividade dos algoritmos. Como afirma Fernanda Bruno, a governamentalidade algorítmica opera a perfilização da vida social para produzir a passagem do individual ao dividual, do intrapessoal ao interpessoal. “Seu principal objetivo não é produzir um saber sobre um indivíduo identificável, mas usar um conjunto de informações pessoais para agir sobre similares” e com essa massa de dados estatísticos o que se almeja é encontrar “a probabilidade de manifestação de um fator (comportamento, interesse, traço psicológico) num quadro de variáveis”[23]. Deste modo, é possível afirmar que, no interior das redes, os perfis dos usuários produzem “efeitos de identidade, em um sentido pontual e provisório, uma vez que eles não atendem a critérios de verdade e falsidade, mas sim de performatividade”[24]. A cultura algorítmica, assim, conforma-se em uma segunda natureza do sujeito neoliberal.

Uma sociedade de metadados

Este o primeiro dispositivo chave da governamentalidade algorítmica: traduzir informação como informação para alimentar um sistema de metadados que conforma redes de assistência, perfilização e singularização da vida humana. Isto faz com que o poder de vigilância e performatividade neoliberal opere de maneira “distribuída e imanente” como sugere Fernanda Bruno; e Rodríguez comenta:

Distribuída porque já não é necessário situar ao indivíduo em um lugar fixo, pois esse carrega consigo aquilo que o vigia e por meio do qual pode vigiar [smartphones]; e imanente porque, ao transformar qualquer interação comunicacional em dado, os sistemas de vigilância já não necessitam localizar-se em um ponto transcendente de observação (o olho de deus imitado pelo panóptico, ou qualquer câmera que vigia de cima uma rua na madrugada) na medida em que qualquer aspecto da vida social fica registrado sem qualquer esforço para “espiá-la”[25].

A cultura algorítmica no neoliberalismo opera transformando toda substância da vida social e todos os seus critérios de autonomia e autenticidade em dados de um sistema. O sujeito é sujeito — no interior das dinâmicas ético-políticas de reconhecimento — na medida em que possui relevância digital, opera por taxas de engajamento nas redes, aderindo à normatividade algorítmica que é tão imanente como a vida mesma. Como sintetiza Rodríguez: “É preciso saber, pois, que cada ‘curtir’ é um ato de governamentalidade algorítmica”[26].

Agora, o algoritmo não é apenas uma instância de normativização ou normalização das existências, ele possui também uma dinâmica recursiva que ultrapassa sua finitude enquanto conjunto de instruções distribuídas e imanentes, para torna-se ilimitado enquanto valorização ou sentido do próprio conjunto de informações que foi postulado pela hipótese cibernética como o substrato ontológico do ser e de todo o devir. A cultura algorítmica sustenta, então, o que Matteo Pasquinelli denominou sociedade de metadados, ou seja, uma sociedade que “acumula informação para extrair metadados, para produzir informação sobre informação[27].

Uma analogia que nos permite explicitar essa dupla articulação entre cultura algorítmica e sociedade de metadados pode ser estabelecida com a especialização que John Von Neumann produziu na máquina de computar de Turing. Von Neumann percebeu — a partir do modelo de redes neurais de McCulloch e Pitts — que a computação e a programação algorítmica funcionariam de modo mais eficiente se o sistema fosse divido em duas partes: uma unidade de processamento e uma unidade de memória, microprocessadores e disco rígido[28]. Analogamente, poderíamos dizer que a cultura algorítmica funciona como sistema de processamento dos dados da governamentalidade algorítmica e o Big Data, ou seja, o conjunto de metadados funciona como sistema de memória e parametrização dos processamentos. Os sistemas de metadados operam como dimensão de valor das normas presentes na cultura algorítmica.

Os algoritmos necessitam que os dados sejam processáveis de acordo com um critério comum e um mínimo de padronização técnica. Se hoje se pode falar em uma “algoritmização” da sociedade, não é apenas porque os usamos para qualquer coisa, mas também, e, sobretudo, porque todos eles se encontram conectados por meio de sistemas que são alimentados por nossos usos, de modo que possam processar os registros de diferentes atividades (uma solicitação de amizade, a visão de uma série de televisão, a frequência cardíaca de um corredor no parque, a busca de qualquer dado na internet) em um solo comum que permita prontamente a “personalização”, a designação dessa massa de dados a um indivíduo, a definição de um perfil. Disto se trata os metadados, que constituem o alimento dos algoritmos[29].

Os metadados operam no lugar operado antes pelo valor — econômico ou social — representam a medida da informação. E, nas sociedades de metadados, toda a vida social passa a funcionar como unidade de memória para os processamentos subjetivos e a produção de valor. Essa valorização objetiva é complementada por uma valorização subjetiva relacionada às operações de personalização. Nesse sentido, seria mais preciso ainda dizer não que os metadados são a medida da informação, mas que eles são o modulador da informação, como veremos adiante. Complementemos antes a caracterização que Pasquinelli faz da sociedade de metadados como um sistema de produção de informação sobre informação. Essa caracterização possui três passos[30]:

  1. Medir a acumulação e o valor das relações sociais — Os dados que os indivíduos produzem nas redes (curtidas, produtos comprados, trajetos de Uber, palavras pesquisadas e mencionadas no Twitter e no Google) formam parte de um sistema de relações de relações, que cria parâmetros algorítmicos para a leitura das informações produzidas por cada perfil (por isso, não ter perfil de Facebook te faz um terrorista, dado que você será um enigma para o sistema informacional[31]).
  2. Melhorar o design do conhecimento maquínico — As tecnologias de Inteligência Artificial e de Machine Learning são exponencializadas pela quantidade incomensurável de dados e informações que alimentam o Big Data. A governamentalidade algorítmica presta serviços de assistência cada vez mais singularizados e estes serviços personalizados, paradoxalmente, produzem a base estatística de padronização do funcionamento e programação algorítmicos (um efeito intrapessoal de assistência produz os padrões e códigos interpessoais de relações sociais). E, assim, cada vez mais os serviços de assistência serão monopolizados pelas empresas que tiverem uma maior base de sistema de dados e metadados[32].
  3. Por fim, monitorar e prever o comportamento das massas por meio da prospecção de dados (data mining). Os sistemas digitais algorítmicos promovem uma análise automatizada que fazem aparecer “correlações sutis” que permitem a realização de uma antecipação dos comportamentos individuais de modo que, não apenas a publicidade é individualizada, mas também todo o marketing político de subjetivação dos corpos pode ser orientado por populismos digitais[33]. Como dissemos, as mercadorias que somos são uma realidade singularizada e diferencial que produz valor político.

Estes três passos intimamente intrincados nos permitem, agora, rever os três aspectos fundamentais do governo cibernético propostos por Karl Deutsch com base em uma relação entre cultura algorítmica e sociedade de metadados:

  1. “instalar um conjunto de sensores para não perder nenhuma informação proveniente dos ‘sujeitos’” — cada indivíduo passa a ser um sensor que capta informações como informações, mas também um sensor de sensores que produz informação sobre informação parametrizando a codificação e programação dos sistemas algorítmicos, monopolizados pelas plataformas digitais.
  2. tratar as informações por correlação e associação” — as informações tratadas, mas também aquelas que resistem ao tratamento digital, passam a ser armazenadas em um grande sistema de memória, um banco de dados, que padroniza todo tipo de sistema de relações informacionais, mas também singulariza as “correlações sutis” que permitem uma antecipação de comportamentos individuais — daí o chavão: “seu celular sabe mais sobre você do que você mesmo”.
  3. “situar-se nas proximidades de cada comunidade vivente” — mais que isso, trata-se finalmente de estabelecer que as comunidades viventes sejam todas contíguas. Como disse Michel Serres, o conectivo substitui o coletivo[34], não há comunidades, coletividades, diferenças políticas e singularidade que sejam incompatíveis para o design totalizante e uniformizador da governamentalidade algorítmica.

A modulação dos algoritmos

Apresentamos, então, resumidamente os aspectos que nos parecem fundamentais para compreender a governamentalidade algorítmica. Entretanto, é importante salientar que a dimensão fantasmática e mesmo mágica da relação entre informação digital e algoritmos não nos deve levar a uma tecnofobia como se os algoritmos fossem alguma expressão de um controle transcendente das técnicas. Como frisa Pablo Rodríguez — e é sempre importante relembrar — algoritmos são programados por humanos e não são totalmente determinados pela automação das técnicas, caso contrário nada de novo poderia surgir — não haveria informação, apenas dados e códigos. Os algoritmos são simultaneamente programados e programadores, em uma dinâmica em que nós mesmos existimos, ou funcionamos, como algoritmos. “Ou seja, os algoritmos também vêm mostrar, por meio da exteriorização técnica, que em parte éramos perfis antes mesmo que houvesse redes sociais e sistemas de ‘tomadas de decisões culturais’”. Somos um espelho das técnicas algorítmicas. “A máquina de Turing, figura máxima do algoritmo, consistia em um ser humano equipado com um lápis e um papel” [35].

Feita esta observação, gostaríamos agora de, em linhas gerais, apresentar como a governamentalidade algorítmica está se configurando como um modulador de informações, ou seja, de tendências de devir e de condutas. Como propuseram Nedim Karakayali, Burc Kostem e Idil Galip:

O que Deleuze chama controle também pode ser interpretado como parte de uma inquietude de sie que as recomendações, e, portanto, as assistências e as delegações ao trabalho algorítmico, bem podem formar parte do que Foucault chamava tecnologias do eu ‘que permitem aos indivíduos efetuar, por conta própria e com a ajuda de outros, certo número de operações sobre seu corpo e sua alma, pensamentos, conduta, qualquer forma de ser, obtendo assim uma transformação de si mesmos com a finalidade de alcançar determinado estado de felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade’”[36].

Em outras palavras, na governamentalidade algorítmica se borra a diferença entre controle e cuidado de si. O nome dessa dinâmica de ambivalência entre controle e cuidado, delegação e assistência é, como apresentou Deleuze, retomando Simondon, modulação. A já clássica definição de Deleuze sobre a modulação é emblemática: “Os confinamentos são os moldes, distintas modelagens, mas os controles são uma modulação, como uma moldagem autodeformante que mudasse continuamente, a cada instante, ou como uma peneira cujas malhas mudassem de um ponto a outro”[37]. Essa caracterização contém tudo o que precisamos para entender essa dinâmica. A passagem das sociedades disciplinares para as de controle se dá no momento em que a informação deixa de ter um molde pronto (uma forma) e passa a ser uma dinâmica autodeformante. A metáfora da malha ou da rede aqui é certeira, pois a informação controlada e programada por algoritmos é um conjunto intrincado de sim e não, de 0 e 1, de presença e ausência, enfim, de bits que são governados em sua variabilidade, pois são uma espécie de rede que se autoenreda — o que poderia ser considerada uma das definições para a Internet. Como disse Simondon, “o modulador está perpetuamente decidindo de acordo com a incidência de informação; esta incidência de informação governa instante por instante o regime de transformação da energia potencial em trabalho”[38]. O dispositivo modulador opera borrando a distinção entre norma e valor; ele transforma a incidência de um valor (informação sobre informação) em uma norma (informação como informação). Dito de outro modo, o modulador transforma todo tipo de dados de subjetivação em dados de controle. Só que ele faz isso devolvendo os dados como informação singular, como trabalho subjetivo, como tecnologias de si. Eis aqui a ambivalência da governamentalidade algorítmica: é a autodeformação algorítmica o processo informacional que identifica o sujeito em sua performatividade; quanto mais curtidas, mais o trabalho subjetivo se autentica como real.

Como afirmaram os Tiqqun, “toda crise, no capitalismo cibernético, prepara um reforço dos dispositivos[39]. Assim, como conclusão, apenas gostaríamos de apresentar apontamentos sobre três problemáticas que têm reforçado o dispositivo modulador que opera na governamentalidade algorítmica.

Problemática do pastor digital

Confiamos na extração de metadados e na surpresa que nos trazem os algoritmos para saber algo a mais sobre nós mesmo, sobre o que poderá acontecer conosco, enquanto todos (“eles”, “nós”, “vocês”) sabemos cada vez mais de todo o mundo, um Big Data interminável que poderá ser atraído pela figura do Big Brother, mas que é muito mais que isso. No circuito formado pelas delegações, as assistências e as vigilâncias, são produzidos, simultaneamente, mecanismos de obediência, formas de conhecimento de si e modos de confissão, assim como os que identificava Foucault nas tecnologias do eu cristãs, o omnes et singulatim antigo, que agora se transforma em uma espécie de pastor digital[40].

Assim, como Foucault sugeriu para outros contextos e dispositivos de subjetivação, há um dever curtir, um dever informar e conectar, um dever resistir ao estado de emergência permanente que faz com que nossa resistência se pareça com a confissão de nosso fracasso.

A cibernética aponta, assim, a inquietar e a controlar no mesmo movimento. Está fundada no terror, que é um fator de evolução (de crescimento econômico, de progresso moral), porque proporciona a oportunidade de produção de informações. […] O estado de urgência, que é o próprio da crise, é o que permite a autorregulação ser relançada, automanter-se como movimento perpétuo[41].

As dinâmicas políticas de reconhecimento como relevância digital e de saber e poder como lacração e “autenticidade” dos novos influencers inserem as formas de resistência na lógica binária do digital. O populismo digital que se alastra em um infinito trabalho de divisão “nós vs. eles” captura o debate político democrático em um estado de urgência paranoico de “dever ser” e de “confissão do que não se é”[42].

Problemática do sujeito

Uma das máximas do neoliberalismo digital é que o sujeito não pode não ser um indivíduo. Para que as subjetividades sejam governamentalizadas é necessário que o sujeito seja um indivíduo para que possa ser endividado, representado, midiatizado e securitizado como nos mostraram Hardt e Negri[43]. Contudo, simultaneamente, para que os fluxos de informação e controle de nossas ciberexistências possam seguir alimentando as bases das empresas-plataformas que organizam, armazenam e conectam as realidades, precisamos ser, simultaneamente, seres dividuais como sugeriu Deleuze e transindividuais como propôs Simondon. Uma empresa ou um sujeito-empresa que não aparece nas buscas do Google, é um sujeito inexistente. Cada vez mais se multiplicam nossas conexões, avatares, perfis de metadados em um existir online — não há mais separação entre ser e estar on-line/off-line. Somado a isso, coexistimos em uma necrogovernamentalidade, como propôs Fábio Franco[44], em que as técnicas de desaparecimento e assassinato das ditaduras e ditas democracias se reatualizam em intervenções militares que fingem a gerência de uma barbárie crescente. Os sujeitos neoliberais vivem na encruzilhada de um paradoxo ao terem que ser em suas dimensões de autonomia e autenticidade, simultaneamente, indivíduos para a administração econômica neoliberal e dividuais e transindividuais para a administração digital do mundo; a única síntese que o neoliberalismo tem apontado para esse paradoxo é a das técnicas de necrogovernamentalidade: gerir as ciberexistências do contingente cada vez maior de sujeitos matáveis.

Problemática do mundo administrado

O ensaísta Éric Sadin em seu livro A humanidade aumentada — a administração digital do mundo[45]propõe pistas para uma inversão interessante: o futuro da inteligência artificial, das sociedades de metadados automatizadas não será uma distopia como as que nos acostumamos em BlackMirror e Matrix, controlada por máquinas como o Big Brother de 1984 ou o Hal de 2001: Uma odisséia no espaço; tampouco, a resistência às distopias que se anunciam se dará por meio de utopias. A disputa se dará entre monotopias e heterotopias, ou seja, por um lado, um mundo único no qual as diferenças serão uniformizadas para serem operadas por algoritmos ou, por outro lado, uma multiplicidade de mundos que implicará as diferenças no surgimento de um digital pluripotente — que abrem os sentidos dos próprios algoritmos. Dito de outro modo, a questão central não é se todos os seres possuem ou participam de uma linguagem-código universal e uniformizante da informação digital, mas se certa inteligência artificial, certa genética, certa neurociência, enfim, determinados campos do saber e da ação, reduzirão o campo dos possíveis da experiência ao que os algoritmos podem processar. Basicamente, a questão é se a humanidade assistida por algoritmos e por base de metadados ou nossas existências de cíbridos — híbridos de humanos e máquinas, de analógico e digital — já começaram a se reduzir ao que a informação digital comporta e conforma e ao que o algoritmo pode controlar. A disputa que se coloca cada vez mais em nosso presente — para ficarmos apenas em dois exemplos — não é se o cérebro um dia poderá ser simulado por uma máquina se houver um software cerebral sendo corretamente executado nela ou se a consciência poderá ser traduzida em padrões algorítmicos, como propõe o diretor de engenharia do Google Ray Kurzweil[46]; mas se estamos criando as ficções que paulatinamente vão sustentando que o pensamento pode ser traduzido em algoritmos, em linguagem digital de sim e não, de 0 e 1, de ausência e presença. Também no caso da informação genética que estaria “contida” no DNA, a disputa não é se nossas vidas estão previamente programadas pela informação que os genes carregam e “executam”, mas se a medicina, a indústria farmacêutica e as técnicas de edição genômica não estão construindo uma ficção extremamente contundente de que a vida pode ser programada, reprogramada e aperfeiçoada por meio da informação genética. Talvez mais que criticar essas ficções, pudéssemos propor ou buscar ficções alternativas.

REFERÊNCIAS

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Lucas Paolo Vilalta é doutorando, mestre e bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É coordenador da área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog. É professor convidado da disciplina “Fundamentos filosóficos, valores e territorialização dos direitos humanos” no curso de especialização em Direitos Humanos e Lutas Sociais da UNIFESP e Instituto Vladimir Herzog. Dá cursos, publicou e realiza pesquisas de Filosofia da informação e novas tecnologias digitais, Filosofia Macumbeira, Estética Musical, História da Música Popular Brasileira e Literatura. Em 2014, publicou o livro de literatura “confissões de um texto solipisista ou persona ad hoc”. Prepara para publicação o livro “Simondon: uma introdução (em devir)” pela Editora Alameda e o livro “Filosofia Macumbeira”.



[1] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 15. Disponível em: < http://www.cefc.org.ar/revista/wp-content/uploads/2015/07/barda6-rodriguez.pdf>

[2] Este texto foi pela primeira vez apresentado no Colóquio LATESFIP 2018 — Dos limites do neoliberalismo aos desenhos da transformação. Agradeço aos organizadores, especialmente a Marcelo Ferretti, pelo convite para apresentar este trabalho e pela oportunidade de discuti-lo no referido Colóquio. Agradeço também o apoio da CAPES com uma bolsa de estudos que me permite desenvolver minha pesquisa e, consequentemente, alguns resultados parciais aqui apresentados.

[3] Primeiros desenvolvimentos que estamos realizando em uma análise histórico-filosófica de como a informação digital se transformou no substrato material de base para a organização das tecnologias e dispositivos de controles que orientam nossos modos de vida atuais, podem ser encontrados em VILALTA, Lucas. Quem o cérebro pensa que é? — uma neurologia das conectividades. Revista Dois Pontos, V. 16, N. 3, disponível em: https://revistas.ufpr.br/doispontos/issue/viewIssue/2883/641; El cerebro en individuación. Revista Reflexiones Marginales da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), Dossiê Simondon, n. 48. Disponível em: https://2018.reflexionesmarginales.com/el-cerebro-en-individuacion/; Ciberexistência — bem-vindo ao mundo dos cíbridos. Revista Avatares de la Comunicación y la Cultura, dossiê “Algoritmos, Big Data y automatización social, n. 15. Disponível em: http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/avatares/article/view/13008/pdf

[4] SIMAS, Luiz Antonio.; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macucmbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.

[5] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 48.

[6] A transformação que sustenta tal hipótese está muito mais vinculada à constatação de que as dinâmicas de competição e monopólio das finanças e da informação, a disseminação da ideologia e dos dispositivos de subjetivação do empreendedorismo e do sujeito-empresa estão fazendo com que o indivíduo busque sua valorização como mercadoria relevante na circulação e no acesso dos serviços; bem como, o sequestro neoliberal do Estado para a implementação de políticas de exploração, precarização e dominação do trabalho e da vida social, todos estes aspectos conformam dispositivos que auxiliam e normativizam a produção de valor por meio da informação. O interesse da hipótese dos Tiqqun consiste justamente em apontar como estamos vivendo uma transformação nos mecanismos de produção de valor no capitalismo; sendo, portanto, um convite para pensarmos as dinâmicas de complementaridade e retroalimentação entre capitalismo e o modo de funcionamento e circulação da informação digital propagado pela cibernética. Um bom exemplo disso poderia ser encontrado no fenômeno da uberização do trabalho. A compreensão da precarização exploratória do trabalho nesse fenômeno no neoliberalismo ganha espessura quando percebemos que a extrema precarização do trabalho dos Rappi, por exemplo, passa a ser muito útil para a acumulação de um massivo contingente de operadores de complementação informacional às plataformas de dados. Os Rappi garantem a manutenção e ampliação da perfilização nas compras de mercado ali onde os algoritmos ou as conexões de sistemas de dados falham, onde o serviço de compra remota não se completa (e você pode alterar os produtos escolhidos) e onde o sistema de automação ainda não alcançou suas promessas (os veículos autônomos ainda são uma realidade distante).

[7] LÉVY, P. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996, p. 126.

[8] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015. p. 40. Pablo Rodríguez nos brindou com uma instigante e certeira análise de como a primeira e a segunda cibernética expressaram a emergência de um novo a priori histórico baseado nos conceitos de informação, comunicação, sistema e organização; permitindo-nos mesmo afirmar o surgimento de uma nova episteme. Ver o capítulo 2, “Del nuevo a priori histórico” em: RODRÍGUEZ, Pablo. Las palabras en las cosas — Saber, poder y subjetivación entre algoritmos e biomoléculas. Buenos Aires: Cactus, 2019, pp. 59-82.

[9] RODRÍGUEZ, Pablo. Historia de la información: del nacimiento de la estadística y la matemática moderna a los medios masivos y las comunidades virtuales. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2012, p. 39.

[10] RODRÍGUEZ, Pablo. Extrálogo. In: TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 13.

[11] SIMONDON, Gilbert. Cibernética y filosofia. In: Sobre la filosofia (1950 —1980). Buenos Aires: Cactus, 2018, pp. 42-6.

[12] RODRÍGUEZ, Pablo. Las palabras en las cosas — Saber, poder y subjetivación entre algoritmos e biomoléculas. Buenos Aires: Cactus, 2019, p. 39

[13] Um bom exemplo desse sistema de equivalências são as redes neurais que McCulloch e Pitts propõem no célebre artigo de artigo de 1943 A Logical Calculus of The Ideas Immanent in Nervous Activity — sendo considerado um dos artigos fundadores da cibernética, das ciências cognitivas e da Inteligência Artificial. Nele, McCulloch e Pitts partem das descrições fisiológicas e anatômicas propostas por Ramón y Cajal do funcionamento elétrico dos neurônios e de suas sinapses e propõe que esse funcionamento que opera por “tudo ou nada” (corrente passa ou não passa) poderia ser assimilado à lógica binária — por meio de uma correspondência entre seus estados elétricos e os dígitos binários, ou seja, ativado ou desativado, sim ou não, 0 e 1. “Por causa do caráter ‘tudo ou nada’ da atividade nervosa, os eventos neurais e as relações entre eles podem ser tratados por meio da lógica proposicional” (MCCULLOCH, Warren; PITTS, Walter., op. cit., p. 19). A proposta fundamental que o modelo de redes neurais de McCulloch e Pitts carrega é a de que os fenômenos ocorridos dentro do cérebro podem ser estruturados por meio da transposição e equivalência de suas operações materiais (e, em parte, portanto, elétricas) em funções lógicas. Tal equivalência tinha por base também outra estabelecida por Claude Shannon em sua dissertação de mestrado A Symbolic Analysis of Relay and Switching Circuits em que ele havia demonstrado que “circuitos de retransmissão e de comutação como os que são encontrados em uma máquina eletrônica podiam ser expressos em termos de equações do tipo booleano: pois o sistema verdadeiro/falso poderia corresponder a ‘interruptores ligado/desligado’ ou estados fechados e abertos de um circuito” (GARDNER, Howard. A nova ciência da mente — uma história da revolução cognitiva. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p 159).

[14] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 18.

[15] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015. p. 32.

[16] STRIPHAS, T. apud. RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018. p. 19.

[17] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018. p. 19.

[18] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018. p. 19.

[19] SADIN, Eric. La humanidad aumentada — la administración digital del mundo. Buenos Aires: Caja Negra, 2017, pp. 129-148.

[20] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018. p. 20.

[21] SIBILIA, P. O homem pós-orgânico — a alquimia dos corpos e das almas à luz das tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015, p. 29.

[22] BERTÍ, A. apud RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018. p. 20. Tais transformações e deslocamentos das figuras tradicionais de saber e de poder para figuras de relevância digital e autenticidade individual são um dos aspectos fundamentais para a compreensão de um dos fenômenos digitais mais debatidos atualmente: as fake-news.

[23] BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegra: Sulina, 2013, p. 161.

[24] BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegra: Sulina, 2013, p. 169.

[25] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 21.

[26] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 26.

[27] PASQUINELLI, M. apud RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 23.

[28] O modelo computacional da máquina de Von Neumann segue sendo a base da maioria dos computadores ainda hoje. Ele em linhas gerais possui a seguinte arquitetura: uma unidade central de processamento dos cálculos, nos quais são realizadas as operações aritméticas e lógicas (processador), uma unidade de memória que armazena os dados e códigos em programas, uma unidade de acoplamento entre processamento e armazenamento, cálculo e memória (placa mãe), e, por fim, unidades de input (teclados, mouse e microfones) e de output (monitor e caixa de som), todas elas conectadas por transmissão de sinais elétricos como ocorre nos neurônios e por troca de informações controlada por meio dos dados codificados. (ver: RODRÍGUEZ, Pablo, 2019, p. 170; KURZWEIL, Ray., 2014, p. 229). Para a compreensão de como o modelo de Von Neumann operou um espécie de síntese da proposta da Máquina de Turing (em que os processos de pensamento e cálculo são assimilados à lógica) e das redes neurais de McCulloch e Pitts (em que o cérebro é assimilado a uma máquina lógica em que circulam sinais elétricos que carregam informações), ver DUPUY, Jean-Pierre. Nas origens das ciências cognitivas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996, pp. 76-81.

[29] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 22.

[30] Estes três passos que comentamos e desenvolvemos aqui forma propostos por RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p.26.

[31] Como descreveram o presidente executivo do Google e o diretor do Google Ideas: “Os governos podem concluir, por exemplo, que é arriscado demais ter cidadãos ‘fora da grade’, ou seja, isolados do ecossistema tecnológico. Certamente, no futuro, como agora, haverá aqueles que resistirão à adoção e ao uso da tecnologia, aqueles que não vão querer ter perfis virtuais, sistemas de dados on-line ou smartphones. Entretanto, o governo poderá desconfiar de que as pessoas que optam por ficar isoladas por completo da rede tenham algo a esconder e, assim, uma propensão maior a violar as leis. Como medida de contraterrorismo, esse governo desenvolverá o tipo de registro de ‘pessoas ocultas’ que descrevemos antes. Se você não tiver perfil em rede social ou assinatura de celular e em geral for difícil encontrar referências on-line a seu respeito, talvez você seja considerado um candidato à inclusão nesses registros. E provavelmente também ficará sujeito a um conjunto restrito de novas normas que incluem rigorosa verificação nos aeroportos ou até restrições de deslocamento” (SCHMIDT, Eric; COHEN, Jared. A nova era digital — como será o futuro das pessoas, das nações e dos negócios. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013, p. 181).

[32] Sobre como os “efeitos de rede” e a circularidade da conversão de dados em metadados produz uma monopolização nos serviços prestados pelas plataformas, ver: SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Malden: Polity Press, 2017, pp. 42-5 e todo o capítulo “Great Platform Wars”, pp. 93-129.

[33] Sobre este aspecto, sugerimos ver os trabalhos da pesquisadora Letícia Cesarino. Para uma síntese, ver: http://www.comciencia.br/leticia-cesarino-todo-populista-bem-sucedido-hoje-precisa-ser-tambem-um-bom-influenciador-digital/.

[34] SERRES, Michel. Tempo de crise — o que a crise financeira trouxe à tona e como reinventar nossa vida no futuro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017, p. 25.

[35] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p.30.

[36] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 31.

[37] DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-1990). São Paulo: Ed. 34, p. 225.

[38] SIMONDON, Gilbert. Communication et information — Cours et conférences. Chatou: Editions de la Transparence, 2010, p. 165.

[39] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 60.

[40] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 33.

[41] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 48.

[42] Bolsonaro soube se valer dessa dinâmica, pois apreendeu muito bem a máxima do fundamentalismo religioso: se eu quiser falar com Deus, tenho que estar com o meu pastor. Os nacionalistas, os neoliberais e os fundamentalistas religiosos têm algo em comum — além do voto em Bolsonaro, é claro. Seja a Nação, o Mercado ou o Onipotente, para todos eles é preciso que a figura Suprema governe para que as designações sagradas sejam cumpridas. Em pleno século XXI, a fé em Deus-monocrático andava em baixa na democracia — até mesmo Cabo Daciolo professava um “Deus acima de todos” um pouco envergonhado, mas parecido com a glorificação democrática de Deus do que com sua presentificação autocrática. A questão é que Deus ressuscitou em uma versão 4.0 no bolsonarismo. Bolsonaro sabe muito bem que um pastor não fala com Deus, mas fala de Deus — o pastor é um meio da fé se realizar e não seu objetivo final. Assim, a crença em Bolsonaro se fortalece quando esse diz não conhecer nada de economia e ao pecar provisoriamente contra o Mercado no controle dos preços dos combustíveis. Também se fortalece quando esse defende a soberania da Nação ofertando-a aos interesses estadunidenses ou chineses e quando ele afirma que o Estado é laico, mas que ele é terrivelmente cristão. Deus não precisa fazer sentido, sua coerência existe quando Ele é encontrado… e Bolsonaro é pastor de uma fé humana, demasiado humana.

[43] HARDT, Michael.; NEGRI, Antonio. Declaração — isto não é um manifesto. São Paulo: n-1 edições, 2014.

[44] Ver: FRANCO, Fábio. Da biopolítica à necrogovernamentalidade: um estudo sobre os dispositivos de desaparecimento no Brasil, 2018. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-25022019-112250/pt-br.php.

[45] SADIN, Eric. La humanidad aumentada — la administración digital del mundo. Buenos Aires: Caja Negra, 2017.

[46] KURZWEIL, Ray. Como criar uma mente — os segredos do pensamento humano. São Paulo: Aleph, 2014, p. 222.




COMO CITAR ESSE ARTIGO | VILALTA, Lucas Paolo (2020) O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica. Lacuna: uma revista de psicanálise. São Paulo, n. -9, p. 7, 2020. Disponível em <https://revistalacuna.com/2020/07/12/n-9-07/>