Movimentos na clínica: sobre o amor e o desamparo necessários

por Karina BuenoPaula Peron

Apresentação

O texto a seguir refere-se a um caso clínico, um dos primeiros de uma jovem analista em formação, ainda no contexto universitário[1], articulado a reflexões teóricas. A escrita deste caso foi pensada em um formato pouco usual, no qual a parte elaborada pela jovem analista se mistura aos comentários de uma analista mais experiente. Assim sendo, os leitores precisam saber que para diferenciar as vozes das autoras ao longo do texto, a parte referente a autoria da analista experiente (Paula Peron) estará em itálico e da jovem analista (Karina Bueno) encontra-se em fonte padrão.

O objetivo é transmitir o início da prática clínica de uma analista, mas também articulá-lo à prática analítica no geral. O caso[2] traz elementos relativos à infância, ao diagnóstico de autismo — cujo crescimento numérico não se pode ignorar —, e nos fala dos excessos que podem ser cometidos pelas práticas terapêuticas. A situação explorada aqui também fala dos impasses de nosso ofício, em especial para aqueles que estão no início desta experiência transbordante e ambígua que é a clínica psicanalítica.

A questão do excesso — a questão econômica, por assim dizer, em termos analíticos — será preponderante para pensarmos diferentes aspectos do texto e do caso clínico. No texto “Do amor necessário à transferência alienante”, Piera Aulagnier discorre detalhadamente sobre os excessos que podem acometer uma relação amorosa e uma relação analítica, que também é uma relação erótica, no sentido dos movimentos de Eros que ali se manifestam. Foi esse texto que inspirou algumas considerações de Paula Peron. Considerações importantes sobre a dimensão dos afetos que nos impactam em nossas práticas, recortados aqui, o amor e o desamparo.

O início da clínica e a formação de um analista são permeadas de angústia, amor e desamparo como vários analistas bem comentaram em Clinicidade[3]. Mas há certa preciosidade nesses primeiros tempos, que não devemos perder de vista. Wilson Franco traz um conceito que inspirou a escrita deste caso e o início da trajetória clínica da jovem analista Karina Bueno. Nomeado por ele de “paciente prínceps”, é “um tipo específico de encontro entre analista e paciente, tipo que assume papel crucial na trajetória formativa do analista”[4]. Sem pretensões de encerrar a paciente em mais um diagnóstico, os encontros com ela, desde a clínica-escola, foram fundamentais para as construções e desconstruções que a clínica proporciona. A seguir estão recortes opacos, quando comparados à experiência em si, mas corajosos em transmitir a “complexidade polifônica”[5] de um processo analítico.

Desaparecimento e retorno

“Com certeza, não é a exaustividade de um relato sobre o tratamento (contar tudo) que poderá dar conta do processo. Ao contrário, deveria bastar resgatar com algumas palavras os pontos nodais do tecido associativo, para que essas palavras re-escutadas, ao serem pronunciadas, designassem os lugares da transferência.” [6]

“Nossa, como é difícil fazer um io-iô!”. Foi assim que uma paciente de 12 anos, vinda com um diagnóstico de autismo, caminhou para o fim de sua análise comigo. Uma brincadeira de io-iô pode ser tomada como algo despretensioso, uma brincadeira corriqueira; afinal, quem nunca brincou ou se deparou com alguém brincando com um objeto feito para ir e voltar de nossa mão? Mas, neste caso, o io-iô teve um significado a mais do que uma simples brincadeira de criança. E é este “a mais” que tentarei explorar a seguir.

Envolvido com as repetições sobre o funcionamento mental, no texto “Além do princípio do prazer”[7], Freud pontua as brincadeiras de criança como uma das primeiras atividades normais do aparelho mental. Para tanto, descreve algumas cenas de seu neto caracterizado como um menininho que não dava preocupação a seus pais e não tinha qualquer alteração em seu desenvolvimento. Tais cenas trazem à tona uma brincadeira comum das crianças pequenas, de atirar coisas para longe, mas que no caso do netinho era acompanhada de uma verbalização, “o-o-o-ó”, cuja interpretação dada pela mãe e por Freud era de fort, em alemão, significando “ir embora”.

Em um segundo momento, Freud descreve uma brincadeira um pouco mais elaborada, se assim podemos dizer, em que o garotinho jogava para longe um carretel de madeira amarrado por um barbante, o qual sumia atrás da cortina de seu berço. Enquanto esse carretel desaparecia, o menino verbalizava: “o-o-o-ó”. Mas, após o desaparecimento, puxava de volta o barbante e, ao constatar o reaparecimento do carretel, emitia um contente “da” — interpretado como “ali”.

Freud, então, interpretou a brincadeira de seu neto como uma tentativa de lidar com a impossibilidade de protestar quando sua mãe ia embora. E compensava essa renúncia encenando o jogo de desaparecimento e retorno com os objetos que estavam ao seu alcance. Nesse sentido, assumia um papel ativo de repetir com os objetos uma experiência que vivenciou passivamente — a experiência de ter sido deixado pela mãe.

Lacan, ao revisitar os textos freudianos, refere-se a essa questão da posição que a criança assume durante a brincadeira, como uma posição de mestre em relação ao objeto, podendo destruí-los. Além disso, destaca a importância da linguagem nos primeiros jogos. Em seu seminário dedicado aos escritos técnicos de Freud, pontua que “o objeto passa como que naturalmente para o plano da linguagem. O símbolo emerge, e torna-se mais importante que o objeto”[8]. Nesse sentido, temos o registro simbólico dando conta de amarrar a ausência do objeto a partir da presença de algo – linguagem – que o represente. Desta forma, a identidade do objeto é mantida em sua presença e em sua ausência.

Mas, para ocorrer esse jogo dialético de presença e ausência do objeto é necessária uma escansão temporal para que o sujeito possa produzir algo próprio a partir desse espaço. Isto é, entre o desaparecimento do carretel e seu posterior aparecimento há uma suspensão temporal nestas alternâncias que permite as verbalizações “o-o-o-ó” e “da” emergir – há aí um sujeito da enunciação.

Logo, a partir de Freud e Lacan, podemos perceber que uma brincadeira de criança nos diz a respeito da posição em relação ao outro em que ela se encontra e de seus recursos psíquicos para dar conta da realidade. Mas e quando uma criança não brinca ou pouco brinca, ou quando um adulto pouco se coloca como objeto de satisfação para ela? Que implicações isso poderia ter para as produções desse sujeito?

A menina autista e a estagiária angustiada

Era setembro do meu último ano de faculdade em uma universidade no interior de SP. Tinha acabado de fazer um atendimento na clínica-escola quando a secretária me procurou dizendo que uma mãe havia ligado pedindo atendimento para sua filha de 10 anos, que era autista. Essa informação caiu como uma bomba na clínica — até então apenas casos supostamente “fáceis” haviam aparecido para triagem. Ela marcou para eu atender, já que sabia do meu interesse pela clínica infantil.

Recebi a mãe e o pai da menina para uma entrevista inicial. Ele, um pouco mais tímido, de cabeça baixa, mas sempre atento à conversa. Ela respondia prontamente as perguntas demonstrando certa ansiedade e recorria ao marido quando tinha dúvidas sobre algumas informações. A garota é a filha mais nova desse casal; “a raspa do tacho” segundo o pai, com diferença de 10 anos para seus dois irmãos.

Desde pequena sentiam uma diferença com relação aos irmãos, notando certa demora em aprender a falar, aprender a andar, focalizar e manter o olhar para as pessoas, desconfiando que pudesse ter alguma coisa orgânica. Nas palavras dos pais, desde bebê “não interagia direito com os irmãos ou outras crianças. Quando cresceu, ficou muito agitada.” Por conta disso, passou por diversos exames médicos, como teste de audição, visão, exames neurológicos, todos com resultados normais. Apesar desses, os pais ainda mantinham certa angústia e inquietação por conta das diferenças da filha.

Aos 6 anos de idade, começou a frequentar o CAPSi de sua cidade por indicação da escola. No serviço de assistência psicossocial participava dos grupos com outras crianças e passava por acompanhamento psiquiátrico, em que recebeu a prescrição para tomar Ritalina[9] juntamente com um diagnóstico de Autismo Asperger. Desde então, os pais relataram um alívio em saber o que a menina tinha, mas ao mesmo tempo um problema, pois não sabiam mais como lidar e interagir com ela.

Dos 6 anos até os 10, intercalava a escola com outras atividades em dispositivos públicos ligados ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Tinha poucos amigos, gostava mais de ficar em casa na frente do computador ou da televisão e tinha bom rendimento na escola, a não ser em português, em que apresentava um pouco mais de dificuldade.

Emocionados por relembrar da trajetória percorrida pelos três até ali, os pais decidiram uma nova tentativa de tratamento para a filha, já que não gostariam de vê-la tomar medicação para o resto da vida. Naquele momento, percebi uma possibilidade de furo no rígido discurso nosográfico em que estavam inseridos — de patologização, assujeitamento, medicalização — e decidi marcar uma entrevista para conhecer a garota e ouvir o que tinha a dizer.

Dias depois ela apareceu na clínica-escola acompanhada de sua mãe. Apresentamo-nos e entramos na sala. Lá, perguntei se sabia o motivo de estarmos ali. Um pouco receosa, de cabeça baixa, respondeu: “porque sou autista”. Olhei para ela e questionei se sabia o que era isso. Rindo e espantada com minha pergunta, disse que não sabia, mas todo mundo dizia que ela era autista, “então pronto”. Devolvi indagando em um tom de brincadeira que se todo mundo falasse que ela era uma bailarina “iria ser e pronto” Ela olhou com deboche e respondeu: “Claro que não, né?! Nem gosto de dançar assim”. Então, pedi para que me contasse quem ela era, do que gostava e o que mais quisesse me falar.

Estendeu a mão para me cumprimentar e falou: “Sou Eduarda, tenho 10 anos! Muito prazer!”. Apresentei-me e sentamos perto das folhas sulfites e lápis que estavam dispostos sobre a mesa. Ela olhou para mim e disse: “Pronto, pode começar as perguntas”. Eu respondi que não iria fazer um questionário, apenas gostaria que me contasse um pouco de si, ou se preferisse, poderia brincar ou desenhar. Eduarda pegou as folhas sulfites e o lápis grafite, sorrindo ao dizer que adorava desenhar.

Enquanto desenhava, contou-me sobre seus gostos por dinossauros, desenhos em quadrinho, fadas, super-heroínas e zumbis. Sorrimos bastante em diversos momentos, trocamos muitos olhares. As únicas coisas que me chamavam a atenção era um discurso um pouco rebuscado para a idade da menina e alguns gostos um pouco diferentes perante as outras crianças — talvez eu já estivesse compartilhando do estranhamento dos pais sobre as “diferenças” de Eduarda com os semelhantes.

Ao final da sessão, avisei sobre o horário e ela disse que gostaria de mais uns minutinhos para terminar o seu desenho. Tinha feito uma personagem com um traço bem forte, um estilo gráfico que lembrava os mangás japoneses, muitas pontas nos cabelos e na armadura, além de uma faixa nos olhos. Em um canto da folha, fez as armas que a personagem carregava consigo – uma espada, um revólver e uma faca. Antes de nos despedir, perguntei se ela gostaria de voltar. Com uma resposta afirmativa da garota, e um acordo com os pais sobre a frequência semanal das sessões na clínica, fechamos o contrato.

Então, no início, Eduarda conversava apenas sobre os personagens de que gostava enquanto desenhava sua própria na folha sulfite. Ela dizia que iria fazer várias heroínas e vilões, os quais iriam se enfrentar em uma guerra. Além disso, demonstrava certa dificuldade em falar sobre si, nomear sentimentos, recorrendo poucas vezes à esquiva de olhares ou caminhando de um lado para o outro na sala quando era convocada a aparecer mais — como, por exemplo, para falar dos colegas que a irritavam na escola.

Ao longo dos atendimentos, aconteceu o estabelecimento de um vínculo transferencial muito forte catalisando o processo. Eduarda demonstrava muito interesse e felicidade em estar nas sessões, contando sobre os vídeos que tinha visto no YouTube, sobre os acontecimentos da escola e de casa. Aos poucos foi verbalizando alguns de seus sentimentos, como medo de acontecer um apocalipse zumbi no mundo e ela ficar sozinha; outras vezes chegava a dizer que não gostaria de falar sobre algo em específico naquele momento, mudando de assunto e tendo sua vontade respeitada.

Em todas as sessões Eduarda recorria aos desenhos, sempre aprimorando algum detalhe que julgava não estar tão bom. Para cada folha sulfite desenhava uma personagem sozinha. Um dia, estava um pouco nervosa com uma professora da escola e resolveu fazer algo diferente: um dinossauro. Na sessão seguinte, pediu ajuda para pintá-lo, pedido inusitado até então. Ao longo do semestre, fez três personagens, sendo que apenas a primeira tinha um nome: “heroína”. Ao final, quis unir todas a fim de formar um painel, pedindo ajuda para tal feito.

Em casa, a mãe relatou que Eduarda melhorou seu relacionamento, falando um pouco mais. O pai também tentou passar algum tempo maior com a filha, passeando com ela no parque e apostando pequenas corridas. De acordo com o discurso parental, perceberam que o contexto familiar no qual Eduarda estava inserida era de pouco afeto e pouca conversa. Apenas a mãe parecia ser mais afetuosa; então, todos estavam tentando pequenas mudanças no laço entre eles. Na escola, também foi identificada uma intensificação do contato social de Eduarda, um pouco mais de concentração e calma na sala de aula.

Entretanto, o ano estava chegando ao fim, assim como meu estágio e posição de estudante de psicologia. Tinha chegado o momento de definir junto com os pais o encaminhamento para o atendimento de Eduarda. Até que, para minha surpresa, eles disseram que gostariam de continuar comigo já que perceberam uma relação de confiança e um vínculo que a menina não tinha estabelecido com ninguém fora da família até então. A única condição imposta por eles de continuidade para os atendimentos era um consultório que fosse perto de um metrô/trem.

Do desamparo a enunciação

Freud, estudando a respeito das repetições, chegou ao conceito de Unheimliche, definido como aquilo que não é doméstico, não é familiar, não é conhecido e, portanto, é assustador. Mas vai além e conceitua que “o estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar”[10]. Isto é, o estranho é algo que remete ao que foi experenciado em algum momento da vida do sujeito e recalcado, permanecendo no inconsciente, mas que em determinados momentos vem à luz como uma experiência estranha.

Assim, podemos pensar a infância como uma vivência estranha para um adulto, já que este recalcou muitos conteúdos até chegar à sua idade, principalmente, os conteúdos sexuais infantis. Nesse sentido, um encontro entre um adulto e uma criança é permeado por inúmeros estranhamentos, incertezas, não saberes, espaços que vão proporcionando que as produções desses sujeitos emerjam.

Entretanto, às vezes os estranhamentos e as incertezas se tornam insuportáveis e angustiantes, funcionando como uma resistência à emergência do sujeito da enunciação. Logo, algo precisa operar nesse laço e furar esse mecanismo de funcionar a fim que de novos movimentos nessa relação sejam estabelecidos, a fim de que jogos de ausências e presenças possam ser realizados.

Certo estranhamento, no sentido freudiano, fazia-se presente durante os primeiros atendimentos, operando como estranhas armadilhas para a constituição de um campo transferencial e uma direção de tratamento. Os nomes “estagiária”, “autismo”, “pais” e “diagnósticos” mais nos aprisionavam e encerravam em determinadas posições do que possibilitavam uma abertura para que transições e movimentos pudessem ser efetuados.

Atender uma criança supostamente autista ainda enquanto estagiária de psicologia, acolher os pais e construir um trabalho que não atasse a menina ainda mais em sua suposta patologia foi no mínimo assustador. Havia percorrido uma trajetória de quase cinco anos em período integral na faculdade, imersa em muita teoria e algumas experiências práticas, mas pensava que não estava pronta para dar conta de tal demanda. Quando finalmente estamos prontos para atender um paciente? Como se atende um autista? E se o paciente começar a se machucar na minha frente? Ou se eu não conseguir atendê-lo? Enfim, eram infinitas questões e muita angústia.

Por outro lado, me percebi tocada pelo romance familiar daquela família e convocada a romper a barreira que o diagnóstico ergueu. Julieta Jerusalinsky nos alerta que a determinação de uma patologia pode sancionar a criança a partir de um déficit ou de uma falha, podendo “vir a dificultar ainda mais as operações de inscrição simbólica e construção de uma imagem para o filho”[11]. Ainda assim, o diagnóstico entra no espaço de angústia e não-saber em relação ao outro, envolvendo-os simbolicamente. No lugar de uma sustentação de uma posição de espera e aposta para a emergência de um sujeito da enunciação tem-se um nome assujeitado como anteparo nesse laço.

Espera, aposta e sustentação de uma posição enquanto sujeito, foram esses os pilares dos encontros com Eduarda que possibilitaram o desaparecimento de uma menina desamparada em seu suposto diagnóstico para emergir uma menina de voz própria. Possibilitaram também o surgimento de “novos” pais, além de uma jovem analista.

Sobre o amor necessário para a movimentação do sujeito — analista e analisando

Nossa jovem analista parece ter sido capaz de se afetar pela condição da paciente, e seguiu verdadeiramente implicada, investindo o sujeito analítico de autonomia de pensamento e de desejo. Ao que o material indica, o rótulo de “autista” (neste caso, duplamente inadequado — por ser rótulo e pelo fato de que a menina não demonstrou corresponder minimamente às características autísticas) não foi impeditivo para uma escuta flutuante.

Impossível não mencionar os excessos diagnósticos em torno da infância em nossa época e as “obscuras consequências de sua proliferação na cultura”[12]. Como bem colocado por nossa jovem analista, a infância é alvo de toda ordem de projeção dos adultos. Infelizmente, entre outras coisas, parece que estamos excessivamente impacientes com os tempos da infância — exigindo, avaliando, medindo as produções e eficiências cognitivas da criança com rigor empresarial, através de uma ótica médica. Qualquer peculiaridade que aponte para mais lentidão, por exemplo, é julgada como déficit, a partir de uma imagem da infância como o tempo do preparo para a excelência no futuro, tempo este regulado pela Medicina. Nas palavras de Ângela Vorcaro:

a criança tornou-se lugar próprio para a aposta no futuro da civilização. Conhecê-la sob todos os ângulos, cuidar dela para que se previnam todos os riscos, superar os efeitos danosos do meio familiar ao seu florescimento eficaz, otimizar suas potencialidades são imperativos asseguradores do controle das incertezas do futuro da civilização, esperança de garantia da estabilidade da ordem social. É o que faz da criança uma valência futura.[13]

Além disso, a retirada da categoria de “psicose infantil” do DSM IV, e toda a reformulação que as categorias diagnósticas relativas à infância ali sofreram, provocaram uma epidemia do diagnóstico de autismo. Muitos autores apontam também as interferências da indústria farmacêutica sobre a prática psiquiátrica, gerando diagnósticos e tratamentos equivocados.

A analista estava certamente atenta a tal situação, visto que, já de início, desmonta com bom humor o diagnóstico trazido pelos pais, que felizmente não aderiram totalmente ao que lhes foi ofertado. Certamente ficaram aliviados ao encontrar nomeação para a estranheza que o tempo da infância de Eduarda produzia, mas também estranharam a perspectiva de medicação contínua e, principalmente, foram capazes de investi-la e cuidá-la como uma filha desejada, e não como uma autista. A jovem analista acentuou esse investimento, ouvindo e trabalhando com os mistérios e surpresas trazidas pela criança, e não com o supostamente previsível autista, o que possibilitou que Eduarda caminhasse em suas conquistas e mudanças.

Fora do campo da Psicanálise, não seria incomum que essa criança fosse tomada como uma autista e treinada com técnicas adaptativas para melhor performance, mantendo e alimentando a alienação que o diagnóstico provoca.

Por outro lado, não é raro que um analista, ao manejar (mal) a transferência, mantenha por tempo demais a alienação necessária para o início do trabalho analítico. O trabalho na clínica com crianças deve ser extremamente cauteloso, devido ao risco de alienar o paciente no desejo do analista, visto que se trata de um sujeito em constituição, e que há uma assimetria necessária que, no entanto, não pode ser abusiva. Aulagnier adverte-nos sobre tal situação: “a relação analítica tem o triste privilégio de reforçar a tentação para o analisando de fazer do analista e da análise o objeto de sua paixão”[14] e “o prazer que ele sente tem como preço a sua alienação em relação ao pensamento e ao suposto desejo do outro”[15]; assim,

o Eu do analisando paralisa sua evolução e se imobiliza na contemplação fascinada dele mesmo enquanto objeto e agente desta idealização oferecida em holocausto ao parceiro e à sua teoria transformada em ideologia[16].

Tais palavras podem ser tomadas para pensarmos tanto o lugar de certas práticas da Psiquiatria na atualidade — ideologia paralisante — quanto o potencial destrutivo de nossas relações com as teorias, inclusive da própria Psicanálise, com seu fascínio e sedução.

Com a descrição que nos foi dada, parece-me que a jovem analista, em seu trabalho cuidadoso, não dificultou a saída de Eduarda. A analista ouviu as insatisfações que ela lhe colocou, e também se mostrou bastante consciente de que, prioritariamente, a criança constitui-se brincando e convivendo, e não em tratamento; e que o paciente não pode ser nosso objeto de necessidade, nem tampouco devemos nos apresentar a ele dessa maneira. É muito complexa e polêmica a discussão sobre os efeitos da análise, mas me parece claro que nossa jovem analista acompanhou a criança no movimento de “recuperar um direito e um poder de gozo tanto no registro sexual quanto no registro do pensamento”[17], movimento este paralisado pelos efeitos do tempo do Outro sobre Eduarda — efeitos estes que a analista pôde não repetir.

Eduarda e a analista

Mesmo formada psicóloga, os primeiros passos para montar um consultório ainda me angustiavam, mas impulsionada pela aposta na relação transferencial, bem como no apelo dos pais de Eduarda, abri meu consultório em São Paulo — próximo a um metrô — e demos continuidade aos atendimentos. Ela acompanhou junto comigo a chegada dos móveis, vibrando quando tinha algo novo na sala: “Olha, agora tem um sofá para eu poder dormir aqui!”. E eu vibrava a cada sessão com as mudanças que iam surgindo em Eduarda, seja em seus desenhos, seja nos relatos ou até em seus comportamentos. Parecia que a cada sessão se apropriava mais daquele espaço, falando livremente o que lhe vinha à cabeça ou fazendo coisas sem se importar com as amarras que tinha — deitava no divã e me contava sobre seu personagem preferido do momento, a Arlequina[18]; desenhava seus personagens que agora tinham nomes deitada no chão da sala, embaixo da mesa; ficava em silêncio, cantava músicas etc.

Um dia estava muito animada querendo entrar logo na sala. Tirou do bolso balas e um desenho que tinha feito em casa para me mostrar. Era a primeira vez que fazia isso! Tinha ganhado de seu pai folhas sulfites e um jogo de lápis grafite e de lápis de cor, e então passou o final de semana desenhando sua mais nova personagem: uma moça que vivia em um apocalipse zumbi, mas tinha uma armadura e energia dentro dela que a protegiam dos mortos-vivos. Era sua primeira personagem que poderia ficar perto das pessoas, protegendo-as e ser protegida por elas também.

Após essa sessão, Eduarda começou a criar verbalmente muitas historietas para seus personagens, desde cenas de apocalipse zumbi, corridas de dinossauros com as personagens montadas em cima dos animais. Em seguida, começou a deixar o papel e se pôs a brincar comigo com bolinhas de gude e panelinhas, massinhas de modelar, montar quebra-cabeças, jogar pega-varetas.

Até que já em meados de outubro a mesma transferência que estreitou a distância Interior – Capital começou a torná-la muito grande. Eduarda começou a falar sobre seu desejo de que a sessão fosse mais longa, pois passava mais tempo no trem do que na sala. Um dia estávamos sentadas no chão da sala envoltas por barbantes, tesoura, bolinhas de gude, massinhas de modelar e Eduarda teve uma ideia de criar seu próprio io-iô para brincar comigo. Embrulhava algumas bolinhas com a massinha, tentando criar uma esfera única maior e amarrar com um barbante. Estava empenhadíssima para realizar essa tarefa. Mas acabava se frustrando muito a cada vez que jogava o io-iô para baixo e este não voltava para sua mão: “Errr… não está dando certo! Tô ficando muito brava! Muito brava!”. Ao final dessa sessão, me contou que ouviu seus pais dizerem que ela iria parar de vir às sessões no ano que vem, mas que depois voltaria quando pudesse vir sozinha.

Desaparecimento e retorno sustentados por um fio

Após uma conversa com os pais, decidimos que seria o momento de finalizar os atendimentos. Eduarda estava mais comunicativa em casa, expressando suas vontades, melhorou sua relação com os colegas da escola, aumentaram suas notas em língua portuguesa, estava fazendo esportes por escolha própria — em serviços públicos da cidade, e não mais nos dispositivos ligados ao SUAS —, havia parado a medicação psiquiátrica e não frequentava mais os grupos no CAPSi desde o início do ano.

Os pais conseguiram enxergar Eduarda como uma mocinha de quase 12 anos que tem suas vontades, medos, comportamentos de uma criança e de quase uma adolescente ao mesmo tempo. A palavra pôde circular um pouco mais na família movimentando os laços entre eles.

Na última sessão, para mais uma surpresa minha, ela trouxe paçocas para comermos juntas, dizendo contente: “Paçoca é vida!”. Recuperou seus desenhos falando do quanto melhorou graficamente: “Olha, como era pequena e isolada na vida!” —referindo-se ao seu primeiro desenho ainda na clínica-escola. Contou sobre os jogos de videogame que estava jogando e sobre as broncas que estava recebendo de sua mãe, já que não estava seguindo os combinados de realizar as tarefas de casa para jogar, se colocando: “Tá vendo, é por isso que eu me isolo, para não precisar brigar com as pessoas!”, rindo em seguida.

Enquanto brincava com um io-iô que comprou junto com seus pais, me disse que estava triste de aquele ser o nosso último encontro, mas feliz em poder aproveitar suas tardes em casa, e não no trem atravessando a cidade. Reconheceu que ainda faltavam coisas para desenhar, conversar e brincar comigo, mas que voltaria depois, sozinha: “Eu dou uma pausa agora e quando crescer, eu volto sozinha!”. Ao final, decidiu deixar seus desenhos comigo, alegando que já estavam todos gravados “aqui” — apontando para sua cabeça —, mas o io-iô quis levar consigo para continuar brincando por aí.

Barbante e io-iô; desenho e brincadeira; trilho do trem e consultório; Capital e Interior; estagiária e analista; autista e Eduarda; infans e sujeito da enunciação; teoria e prática: enfim, são inúmeros os elementos que essa primeira experiência como analista envolve. Mas, há um jogar-se sustentada pelo laço com o outro que me parece precioso no início da minha constituição enquanto analista e de minha clínica, que de certa maneira desaparece e retorna a cada encontro analítico. Talvez esse ato seja o que pude proporcionar à minha primeira paciente e ela a mim — um constante jogo de fort-da.

Assim, espero que cada analista — jovem ou não — possa experenciar esse jogo no encontro com seu(s) paciente(s) prínceps. Torço para que se percebam convocados a “pôr-se em movimento — e esse movimento (emocional e simbólico sobremaneira, mas também teórico e técnico) que é fundamental na formação clínica singular do psicanalista”[19], bem como fundamental para a direção do tratamento de cada paciente, não paralise ou enrijeça diante do Unheimliche que vem do outro ou de nós mesmos.

Sobre o desamparo necessário ao exercício da Clínica

Nossa jovem analista revela detalhadamente o início entusiasmado de sua prática, ainda como estagiária de Psicologia, mas já fortemente transferida com a Psicanálise. Conta-nos também como leva a paciente da clínica-escola para sua clínica, que inaugura para recebê-la. Claramente afetada pela paciente e pela Psicanálise, faz a aposta mais preciosa de um psicanalista: acompanhar um sujeito em seus caminhos para encontrar o diferente, o inédito, o estranho, tudo isso em si mesmo e na relação analítica. A aposta é ocupar o lugar de experimentadora, junto a um outro que também experimenta os efeitos da atividade psíquica produzida pelo encontro analítico. A analista não parece hesitar nessa posição, e ocupa-a de maneira muito interessante, uma vez que não está tomada pelo medo, embora ele esteja lá, e sim por um desamparo necessário para uma abertura psíquica analiticamente produtiva. Afinal, a escolha de ser analista não é efeito do acaso, mas “continuar a ser analista é também aceitar as consequências e inconvenientes […] que nos impõe nossa prática no registro da dúvida”[20].

Gostaria de enfatizar o risco, aos novatos e aos mais experientes, de configurar o desconhecido como um objeto fóbico e passar a compreendê-lo excessivamente, a conhecê-lo demais, ou seja, deixar a teoria dominar a cena analítica. Esse assunto certamente não está entre os mais originais, mas ao mesmo tempo permanece fundamental. O que os novatos às vezes não podem reconhecer é que a imaturidade teórica pode funcionar em benefício do encontro analítico, dado que facilmente o furor teorizante se impõe àqueles que já estudaram mais. E nada mais desencontrado do que ser excessivamente teórico e inexperiente, embora esse possa ser um caminho para evitar a angústia do desamparo frente a um outro misterioso que nos destitui. Como bem coloca Freud[21], o desconhecido provoca todo tipo de reações.

Parto da premissa, enunciada por Freud e debatida por vários autores, de que o desamparo é um afeto que nos abre aos vínculos e, por outro lado, pode provocar fantasias defensivas. Freud insistiu na diferença entre medo e desamparo, relacionando o primeiro à angústia que encontrou um objeto, representou seu objeto, e o desamparo como a expressão da vulnerabilidade do sujeito, sem respostas ao que as exigências da necessidade e do Outro colocam, especialmente na situação de prematuração do bebê. Mas Freud não restringe o desamparo ao estado inicial de impotência do prematuro, e fala dele como uma dimensão própria ao funcionamento psíquico, que acentua o caráter de indeterminação do encontro com o Outro, que não pode ser uma mera atualização do já vivido. A situação de desamparo dá visibilidade à impotência do sujeito. A saída para tal situação pode ser, como sugeriu Freud, a demanda de cuidado por figuras paternas de proteção e autoridade. Safatle[22], refletindo sobre os vínculos sociais e políticos, enfatiza outra saída, qual seja, pensar o desamparo como condição para uma certa coragem afirmativa diante da natureza despossessiva das relações, coragem esta que aposta na possibilidade de mudança de estado. E aponta que “algo dessa coragem anima a experiência psicanalítica”[23]. Considero essa ideia muito pertinente para pensarmos os excessos de teoria como defesas frente ao desamparo que o encontro analítico provoca no analista. No limite, o analista deve saber habitar o desamparo para ser capaz de produzir atos e palavras analíticas — o jogo do ioiô, descrito por Karina, apresentado por sua paciente. O excesso de teoria e das paixões dele derivadas constituem maneira de equivocadamente nos livrarmos do desamparo necessário e passar para um estado de certezas abusivas. Por outro lado, temos premissas e longos registros teórico-clínicos do passado e do presente da Psicanálise que certamente devem nos alimentar, ainda que, sem metabolização, possam nos estufar…

É interessante notar que não há ponderações sobre o enquadre analítico no texto de nossa jovem analista, questões tão comuns entre os iniciantes. O enquadre não parece ter se tornado, como coloca Pierre Fédida, um “cristalizador de defesas”[24], especialmente do ponto de vista da analista. O enquadre parece ter sido formatado como um “espaço corporal íntimo não habitável como espaço familiar”[25], já que a analista se entrega de fato ao encontro com a criança mas, ao mesmo tempo, não deixa de, em certo sentido, estranhá-la — novamente o jogo do ioiô.

A jovem analista parece ter sustentado o enquadre e a situação analítica também (o que nem sempre vem junto). Ou melhor, a situação analítica não foi mantida, mas sim constantemente reinstalada. Fédida[26] ressalta que certas atitudes técnicas ideológicas não são atinentes ao ofício de psicanalista e que os jovens analistas acabam privados, especialmente em função de seus institutos de formação, de sua curiosidade frente ao incompreensível e imprevisível da transferência. Assim, penso que os excessos de paixão teórica funcionam certamente de maneira defensiva frente à transferência e todos seus aspectos de oculto, estranho, inapreensível, plural, móvel e incerto. Nossa jovem analista soube escapar dessa armadilha, que teremos que desarmar a cada encontro.

REFERÊNCIAS

AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985.

CORIAT, Eisa Hilda (2011) “Os negros efeitos do DSM-IV”. In: JERUSALINSKY, Alfredo; FENDRIK, Silvia. O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera.

FÉDIDA, Pierre (1995) O sítio do estrangeiro – a situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1996.

FRANCO, Wilson (2015) “O paciente prínceps e a formação do analista.” In: LIMA, Rafael Alves [org.] (2015) Clinicidade: a psicanálise entre gerações. Curitiba: Juruá.

FREUD, Sigmund (1919) “O estranho.” In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. I, 3ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

FREUD, Sigmund (1920) “Além do princípio do prazer.” In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII, 3ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

FREUD, Sigmund (1925) “As resistências a psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2006.

JERUSALINSKY, Julieta (2002) Enquanto o futuro não vem: a psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma.

LACAN, Jacques (1953-54) O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

ORTEGA, Francisco et al. (2010) A ritalina no Brasil: produções, discursos e práticas. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v. 14, n. 34, p. 499-512, 17 set. 2010.

SAFATLE, Vladimir (2015) O circuito dos afetos. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

TELLES, Sérgio (2019) “Apresentação”. In: TELLES, Sérgio; COROA, Beatriz Teixeira Mendes; PERON, Paula (org.) Debates clínicos, vol. 1. São Paulo, Ed. Blucher.

VORCARO, Angela (2011) “O efeito bumerangue da classificação psicopatológica da infância”. In: JERUSALINSKY, Alfredo; FENDRIK, Silvia. O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera.


Karina Bueno é psicóloga e psicanalista. Mestre em Educação pela Faculdade de Educação USP/SP, membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a infância – LEPSI. e-mail: contato.karinabueno@gmail.com

Paula Regina Peron é psicóloga e psicanalista pelo Sedes Sapientiae, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC/SP, professora do Curso de Psicologia da PUC/SP, membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sandor Ferenczi, Organizadora do livro Sujeitos da Psicanalise – Freud, Ferenczi, Klein, Lacan, Winnicott e Bion, diálogos teóricos e clínicos, Ed. Escuta, e do livro Debates Clínicos, vol. 1, Ed. Blucher, com capítulos nos livros Freud e o Patriarcado, Ed. Hedra, Atendimento psicanalítico da depressão e Ferenczi: Inquietações clínico-políticas, ambos da Ed. Zagodoni. E-mail: prperon@uol.com



[1] Apesar de ser estudante de Psicologia, a analista já estava suficientemente identificada e dedicada à Psicanálise para se considerar uma analista em formação, o que certamente ficou mais claro posteriormente, quando de fato ela seguiu seu percurso na Psicanálise.

[2] As informações pessoais referentes à criança atendida, que o leitor encontrará descritas no caso clínico, são fictícias a fim de preservar o princípio do sigilo ético fundamental em qualquer atendimento. Apesar das complexidades envolvidas na exposição de um caso, consideramos fundamental e formativo compartilharmos as inquietações que atravessam o trabalho analítico. Para aprofundar a discussão, ver TELLES, Sérgio (2019) “Apresentação”. In: TELLES, Sérgio; COROA, Beatriz Teixeira Mendes, PERON, Paula (org.) Debates clínicos, vol. 1. São Paulo: Ed. Blucher, onde são problematizadas as dificuldades acerca das publicações clínicas em psicanálise.

[3] LIMA, Rafael Alves [org.] (2015) Clinicidade: a psicanálise entre gerações. Curitiba: Juruá.

[4] FRANCO, Wilson (2015) “O paciente prínceps e a formação do analista.” In: LIMA, Rafael Alves [org.] (2015) Clinicidade: a psicanálise entre gerações. Curitiba: Juruá, p. 14.

[5] TELLES, Sérgio (2019) “Apresentação”. In: TELLES, Sérgio. “Apresentação.”. In: TELLES, Sérgio; COROA, Beatriz Teixeira Mendes, PERON, Paula (org.) Debates clínicos, vol. 1. São Paulo: Ed. Blucher.

[6] FÉDIDA, Pierre (1995) O sítio do estrangeiro – a situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1996, p. 109.

[7] FREUD, Sigmund (1920) “Além do princípio do prazer.” In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII, 3ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 2006, p. 24.

[8] LACAN, Jacques (1953-54) O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud, 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 234.

[9] Sobre o uso da Ritalina, ver: ORTEGA, Francisco et al. A ritalina no Brasil: produções, discursos e práticas. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v. 14, n. 34, p. 499-512, 17 set. 2010.

[10] FREUD, Sigmund. (1919) “O estranho” In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. I, 3ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 2006, p. 238.

[11] JERUSALINSKY, Julieta (2002) Enquanto o futuro não vem: a psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, p. 119.

[12] CORIAT, Eisa Hilda (2011) “Os negros efeitos do DSM-IV”. In: JERUSALINSKY, Alfredo; FENDRIK, Silvia. O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera, p. 165.

[13] VORCARO, Angela (2011) “O efeito bumerangue da classificação psicopatológica da infância”. In: JERUSALINSKY, Alfredo; FENDRIK, Silvia (2011) O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera, p. 220.

[14] AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985, p. 190.

[15] AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985, p. 190.

[16] AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985, p. 190.

[17] AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985, p. 189.

[18] Personagem da DC comics, inimiga do Batman e namorada do Coringa. Começava a surgir às dualidades — bom e mau — coexistindo em um mesmo personagem.

[19] FRANCO, Wilson (2015) “O paciente prínceps e a formação do analista.” In: LIMA, Rafael Alves (org.) (2015) Clinicidade: a psicanálise entre gerações. Curitiba: Juruá, p. 15.

[20] AULAGNEIR, Piera (1979) “Do amor necessário à transferência alienante”. In: Os destinos do prazer. São Paulo: Escuta, 1985, p. 196.

[21] FREUD, Sigmund (1925) “As resistências a psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2006.

[22] SAFATLE, Vladimir (2015) O circuito dos afetos. São Paulo: Cosac Naify.

[23] SAFATLE, Vladimir (2015) O circuito dos afetos. São Paulo: Cosac Naify, p. 74.

[24] FÉDIDA, Pierre (1995) O sítio do estrangeiro – a situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1996, p. 66.

[25] FÉDIDA, Pierre (1995) O sítio do estrangeiro – a situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1996, p. 68.

[26] FÉDIDA, Pierre (1995) O sítio do estrangeiro – a situação psicanalítica. São Paulo: Escuta, 1996, p. 100.




COMO CITAR ESTE ARTIGO | BUENO, Karina; PERON, Paula (2020) Movimentos na clínica: sobre o amor e o desamparo necessários. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -10, p. 6, 2020. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2020/12/09/n-10-6/>