A urgência nos coloca num tipo peculiar de indeterminação, particularmente habitada pela questão do tempo. A consideração de que toda certeza é antecipada não parece dar conta do problema, mesmo que — embora muitas vezes se esqueça — tal afirmação também seja uma resposta a tempos trágicos e dramáticos.
Não é de hoje que a aposta numa abordagem que costure as angústias atuais e as passadas (assim como as tentativas de resposta) se mostra um modo astuto de posicionamento nessa lacuna, já que permite escutar parte daquilo que agora grita a partir dos berros já entoados. O risco, contudo, é de que os berros de outrora possam abafar o que poderia agora se escutar, ainda mais quando esses berros se transformam em cânticos. Assim, não perdemos somente os gritos atuais, mas também os que vieram antes.
Nessa dúvida, a areia movediça do tempo continua a nos engolir, como se estivéssemos presos dentro de uma ampulheta que nos lembra que a espera se torna abstenção no mesmo pulso em que a pressa pode silenciar. Junto a isso, o desamparo e a exaustão sempre tornam prazerosa a fantasia de tudo lagar às favas (e, por que não, mesmo esta Lacuna). Que a situação vislumbre o impossível não significa, entretanto, que não possamos escolher com qual impossível errar.
Nesse sentido, o impossível de escutar, tanto o que veio antes quanto o que está agora, continua a parecer uma errância sedutora. Sedução essa que se perde ao amortecer a intensidade das perguntas com respostas rápidas e apressadas. Talvez encontrar modos de agir sem ter que produzir respostas seja um modo de poder viver a urgência sem silenciá-la. Talvez seja isso que tentamos fazer nesta edição: seguir a sedução da escuta e não a das respostas.♦