por Ilana Katz
Era o dia do seu aniversário de 33 anos, Gäel Faye, já cantor e rapper na França, assiste TV em um bar de Paris. As imagens mostram seres humanos fugindo da guerra deflagrada em outro canto do mundo para desembarcar na Europa, e o texto fala de pessoas fugindo do inferno em busca do eldorado. Faye sabe que isso diz muito pouco sobre a vida:
(…) nem uma palavra sequer sobre o país que elas têm dentro de si. A poesia não é informação. No entanto, é a única coisa que um ser humano deterá de sua passagem pela Terra. Desvío o olhar dessas imagens. Elas contam a realidade, e não a verdade. Um dia, talvez, essas crianças a escrevam.[1]
É por causa disso que o autor nos apresenta Gaby, o menino de 10 anos que vai contar a sua história de país. Burundi, o Pequeno País[2] de Gäel Faye, faz fronteira com Ruanda, terral natal da sua mãe. O livro é a história de um menino engatilhado pelo “inexorável mecanismo da história” (frase não assinada, na orelha do livro). É verdade que disso ninguém escapa, mas, como há histórias e histórias, e como há instantes, lugares e mecanismos que tornam possível para o Humano viver como se a vida acontecesse a despeito de sua determinação política, histórica e social, é preciso dizer que, no Burundi de Gaby, isso era impossível. A história do país que “traz dentro de si” é a história do acontecimento lento e sistemático dos conflitos políticos entre os grupos étnicos Hutus e Tutsis, que tensionavam e determinavam a experiência cotidiana de todos e de qualquer um, e que antecederam e determinaram a eclosão do que a gente, depois, chama de guerra.
A guerra, Gäel falou disso numa entrevista[3], “não vem como uma explosão, ela vem aos pouquinhos”. Minha vó, fugida da Polônia nazista, dizia a mesma coisa, e eu tenho lembrado disso todo dia.
Aharon Applefeld, judeu do leste europeu, em Meu pai, minha mãe[4], faz Erwin, um garoto que também tem 10 anos, contar suas últimas férias às margens do rio Pruth[5], antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Passei o livro inteiro esperando com ele a guerra chegar, queria ouvi-lo contar como aquela criança atravessou o tempo. Incrivelmente, foi só aqui, com ele, que me dei conta do que deve ter sido esperar a Segunda Guerra tendo vivido a Primeira. A vida tensionada nos olhos dos adultos pela espera do pior. Erwin diz, várias vezes, que o livro é um esforço de memória para fazer viver em si a sua infância: aquelas férias, voltar pra casa na cidade, o detalhe dos gestos de seus pais. A infância como seu lugar de antes da guerra, de quando ele viveu com pai e mãe. E então, para meu susto e para que eu também não esqueça, o livro termina onde isso acaba, na sala da casa de Erwin, de onde nem ele, nem seu pai ou sua mãe querem sair:
As noites em casa são silenciosas. Estávamos sós. A sensação de que tudo que tinha sido não voltaria mais a ser fazia com que não saíssemos de casa. Desfrutávamos de cada instante ali. Os móveis, as louças, as gravuras nas paredes, os pequenos objetos que mamãe colecionara durante tantos anos, cuidadosamente, agora pareciam mais iluminados.[6]
Applefeld, depois de assistir ao assassinato de sua mãe no gueto de Czernowitz, fugiu do campo de trabalhos forçados ao qual fora conduzido com seu pai, e passou 5 anos andando sozinho. “A história da sobrevivência de Ahron Applefeld parece um desafio de todas as probabilidades”[7]. Ele chegou à Palestina britânica com 13 anos e se deu conta que, depois de tudo, já não sabia falar direito em nenhuma língua. Era ainda preciso fazer com isso, e, já em Israel, Aharon tornou-se escritor, escreveu sua infância.
O recurso à ‘memória brutal’[8] das crianças que não podem esquecer dos detalhes, também tornou possível a Roman Gary fazer Ludovic contar as muitas formas de se lidar, em gerúndio, com o tempo da instalação da guerra. Ludo é um menino francês, que viveu na Normandia com seu tio, o fazedor de pipas[9]. O mecanismo inexorável da história levou consigo um garoto que sucumbia à consistência do amor e da Mulher, para quem “os ares, os países, a terra inteira eram a última preocupação”[10]. Quando a guerra se instalou, Ludo e Lila ficaram desaparecidos, um do outro. A chegada do exército alemão na Polônia pegou Lila em casa, mas, nesse instante, Ludo já estava no trem, voltando para Cléry, a sua cidade. No curso das “duras horas desse mal entendido físico que é um corpo sozinho”[11], e enquanto vivia seu memorial amoroso, Ludo foi amadurecendo a cada parágrafo. Assim como fez Gary, engajou-se na resistência Francesa até a libertação.
As Pipas foi o último romance do autor. É uma história de amor, de amor à humanidade. Ele diz: “O que há de terrível no nazismo é seu lado desumano”. E continua: “Mas é preciso render-se ao óbvio, esse lado desumano faz parte do humano. Enquanto não reconhecermos que a desumanidade é uma coisa humana, permaneceremos na mentira piedosa”[12]. Por isso, talvez, Ludo, antes do livro acabar, pergunta-se se depois que os alemães fossem embora haveriam outros. É tão fresca em mim essa pergunta quanto uma das respostas que Ludovic ensaia, quando já deixou de ser menino: “Depois dos anos que acabamos de viver haverá um vazio. Não pudemos formar os jovens”[13]. Roman Gary suicidou-se. A guerra mata mesmo depois que acaba.
Hoje pela manhã, abri a porta de casa para receber o jornal Rascunho. Veio Noemi Jaffe, em seu “Um tantinho”[14], falar sobre o que torna tão difícil para um escritor escrever durante a pandemia. Sob o corte Real da experiência, é difícil conseguir dizer o inominável de nosso instante.
“Testemunhar hora a hora o esvaziamento da carga semântica justa e histórica das palavras tem praticamente impedido os escritores de fazer ressoar a sua voz”[15]. Noemi, por força do ofício, escolhe incorporar as dificuldades na própria escrita. Ela diz o porquê muito melhor do que meu esforço de explicar:
a arte de nomear, para os escritores, é um trabalho muito sério, o mais sério de todos. Nosso ofício é encontrar o nome exato para aquilo que já tem nome, mas cujo significado se perdeu; para aquilo cujo nome se transformou em mais uma mercadoria consumível (eu te amo e afins), para aquilo que de tão fundo ou belo ou impactante, é difícil de nomear e, finalmente para aquilo que ainda não é nomeável[16]
Para falar disso, Noemi faz referência ao livro de Samuel Beckett sobre a Segunda Guerra, O inominável[17]. Lendo seu texto, girei para a nomeação sugerida por Lacan para esse ato que ela procura, esse gesto que ela descreve como o de fazer ver e sentir as ruínas da experiência humana, a procura por seus traços e seus destroços. Se entendo bem, a esse ato Lacan dá o nome de nominação: achar (e ser achado) por um nome radicalmente singular, um nome no qual o sujeito localiza a si no laço com o outro.
Aprendi com Domingos Infante[18] que, nessa discussão, é preciso considerar que Lacan, num certo ponto do seu ensino (a partir do Seminário de 1973/74, “Os não tolos erram/Nomes do pai”[19]), a nominação é tomada em duas vertentes: uma é descritiva e ligada ao significante e à significação, o que, entendo, fica com o nome “nomeação”; e outra, está próxima à letra e não ao significante, e, desde ali, conecta o dizer para além dos ditos. A nominação, ensinou-me o Domingos, permite a produção de real a partir do simbólico[20].
Nominar é um trabalho, e nomear é também um outro trabalho – e os dois, trabalhando, nos possibilitam mudar de lugar. É o que Noemi propõe no artigo que referi: “desloca um tantinho”; tornam um pouco mais possível “entrever o invisível”, e “entrescutar o inaudível, aquilo que não suportamos ou que se oculta de nós”[21].
É aqui que eu me pergunto sobre as crianças da literatura, essas crianças que foram tecidas por seus autores para contar suas histórias de guerra, essa história de cada guerra para as quais, sempre, e invariavelmente, faltam palavras.
Algumas histórias depois, percebi que, para aguentar o isolamento imposto pela crise sócio-sanitária na qual fomos atirados, afastei-me um tanto dos livros técnicos. Quando me dei conta, eu procurava, na literatura, crianças narradoras e procurava também crianças muito bem ditas pelos autores no seu “agir criançável”, como lindamente nomeia Cristina Vicentin[22].
Fiquei curiosa pelas crianças que levam os autores a caçar as palavras de seus romances na borda do que é/era indizível; essas crianças que acontecem na trombada da sua experiência singular com o instante do horror na história da humanidade. Não sei quantos autores usam esse recurso, e nem se isso é comum, mas esses que eu referi aqui, usam. E mais muitos outros o fizeram. Fizeram assim, talvez, para fazer o que Giorgio Agamben considerou como “fazer a experiência do seu ser falante”[23].
E é isso que me põe a pensar: o que a criança traz consigo que permite que, de página em página, se encontre um jeito de dizer o que estava guardado n’O inominável?
Essa pergunta guarda, para mim, lugar de pesquisa[24]. O que supomos na criança que é capaz de dizer o que esteve indizível? Há um recurso específico em jogo? Se sim, qual seria? Levar essas questões a sério talvez permita que avancemos na direção de uma resposta sobre o que é uma criança.
Gosto de pensar que, na defesa do meu doutorado, em maio de 2010, eu não soube responder essa pergunta, e então eu disse algo, mais ou menos assim: “Depois de falar tanto (a defesa somou mais de 4 horas) preciso dizer que eu não sei mais o que é uma criança”. Ali, já não me servia a ideia, ainda presente no campo da psicanálise, de que a diferença entre a criança e o adulto se instituiria pelo alcance de determinada fase de desenvolvimento da libido e de que o infantil, como conceito proposto por Freud[25] pudesse ser, digamos assim, ‘superado’.
Mas, então, com que elementos será possível dizer o que é uma criança?
O senso comum responde rápido, e diz uma criança referindo-se ao tempo cronológico da infância como o começo de uma vida, pensada na perspectiva do desenvolvimento e da maturação. Mas também não é essa a disposição que nos interessa.
A questão que ficou aberta, na oportunidade da banca de defesa do meu doutorado, se atualiza com a interrogação que formulei logo acima, e que recoloco aqui, através desse recurso à criança que escutei na literatura: o que torna possível que a criança enuncie o que não sabemos ainda dizer? É possível aprendermos algo com isso? (Talvez seja importante dizer que, ao pensar o recurso à criança, não afirmo que esse seja o único caminho para que autores, livros e pessoas avancem em direção ao encontro com o indizível, estou simplesmente perguntando sobre ser esse um recurso.)
Andres Barba, romancista colombiano, em seu impressionante República Luminosa[26], apresenta uma infância nem um pouco próxima do ideal com que costumamos pensar em criancinhas fofas e espertinhas. Apresenta uma infância que confronta os ideais hegemônicos da época (a nossa), uma infância que redesenha a distribuição de poder nas estruturas discursivas, e, bem, contando essa história maravilhosa, ele diz: “A infância é mais poderosa do que a ficção”[27].
Se a frase situa o caráter da inventividade das crianças, não deixa de fora, também, a potência da infância em apontar a parcialidade das ficções sobre o viver e da consequente resistência que a infância, como fenômeno político, e também cada criança, como acontecimento, impõem à inflagem imaginária da experiência da vida.
Nesse sentido, podemos lembrar e considerar que as infâncias, desde que foram inventadas, e como trama de discurso, têm, ao longo da história, operado resistência a uma certa vocação contemporânea de imaginarizar e capturar sentidos para o que resta, para o que não cessa de não se escrever. Seria por isso que as crianças foram aos livros contar o indizível? Estariam os autores, com as crianças, procurando enfrentar a imaginarização da experiência? Isso seria uma forma de se dizer além, ou aquém, da imaginarização a ser enfrentada?
É verdade também que o recurso à criança não está restrito à literatura. Rinaldo Voltoni[28] já nos lembrou, algumas vezes, que a fábula A roupa nova do rei [29]nos faz ver e ouvir que, frequentemente, a alienação ao Outro e a disposição à servidão voluntária, praticadas por humanos supostamente adultos, são interrogadas na disposição enunciativa da criança: “O rei está nu!”- frase de criança; é a criança quem faz o corte na sideração reinante.
Para não seguir enfileirando causos e casos clínicos que apontam para essa dimensão insurreicional da infância, trago apenas mais uma história, que me mostrou, mais uma vez, o que procuramos quando chamamos a criança para falar.
Essa história tem lugar na política partidária no Estado de Israel, mas começou muito antes, começou na compreensão política da vida. É o discurso de estreia de Ibstisam Maraana[30], feito em 27 de abril desse ano que vivemos, no Knesset, o parlamento israelense. Ela é “a nova deputada árabe-israelense”, e nesse discurso, conta a sua história para chegar ali: mulher, palestina, filha de um pai feito de silêncio e de uma mãe que não teve acesso à escola. A mãe se tornou faxineira para que suas filhas pudessem estudar. Casou-se com homem judeu, são os pais de Sofia. Ela é deputada pelo Avoda, partido de Shimon Perez e Yitzhak Rabin.
Ibstisam conclui o seu discurso de estreia contando uma história escrita para crianças. A história que transcrevo aqui se chama ‘As crianças riem’, e foi escrita por Zakária Támen: “O rei não ria nunca. Nunca teve um sorriso no seu rosto. Um dia, andando pelo campo, viu um grupo de meninas brincando e rindo. O rei perguntou: ‘Ei, garotas, do que estão rindo?’ Uma delas disse: ‘Rio porque o céu é azul’. Outra respondeu: ‘Rio porque as árvores são verdes’. E uma terceira disse: ‘Rio porque os pássaros voam’. O rei olhou para o céu, as árvores, os pássaros e não riu. Ele então pensou: essas meninas riem-se de mim e de meu reinado. Voltou para o seu palácio e publicou um decreto: ‘está proibido rir’. Imediatamente, todos os adultos deixaram de rir. Mas as crianças não deram bola ao rei e seguiram rindo.” Acabou a história. Ibstisam Maraana fecha o livro, olha para o parlamento e diz: “Continuem rindo”.
O discurso anti-segregacionista de Maraana se faz concluir com uma história de crianças desobedientes ao decreto do rei. O que nos interessa especialmente aqui são duas coisas: o lugar que a criança tem na história que ela conta, e sua ideia de usar a criança para dizer o que ela quer dizer para o Knesset.
Giorgio Agamben, no ano de 1989, faz um texto de apresentação para a edição francesa do seu ensaio Infância e História, de 1978. Esse texto chama-se “Experimentum Linguae”, e seguiu acompanhando como prefácio as edições subsequentes do livro. Nessa oportunidade, o autor considera que se fossemos desde sempre já falantes, se chegássemos no mundo completamente aderidos à língua, não haveria infância. Entendo que isso tem a ver com a sua ideia do que chamamos de aquisição da língua, ‘de entrada na linguagem’, ou qualquer outro modo de referir o que vem chegando no tempo da infância, ou seja, as diferentes formas de dizer da articulação entre língua e discurso na linguagem.
Escrevo esse vem chegando assim, porque a ideia de processo é fundamental aqui. É nesse ponto que Agamben introduz a descontinuidade como elemento decisivo do processo, e vamos ver, logo mais, também do que ele refere como infância. O que ele diz, e isso nos interessa muito especialmente, é que se houvesse um ser desde sempre falante, não haveria nem conhecimento, nem infância, nem história, porque esse suposto ser, “ele seria desde sempre imediatamente unido à sua natureza linguística e não encontraria em nenhuma parte uma descontinuidade e uma diferença nas quais algo como um saber e uma história poderiam produzir-se”[31]. É bem importante entender que o que Agamben sugere é que saber e história são produzidos porque há descontinuidade, porque, no acontecimento humano, não há aderência instantânea a uma suposta natureza linguística, porque há infância.
É importante também não deixar passar a oportunidade de aproximarmo-nos da concepção de Agamben sobre a infância, inclusive porque, como começamos a examinar, sua ideia de infância está articulada a essa da descontinuidade, e incide também sobre a nomeação como experiência.
Para começar, ele nos diz que a infância que está em questão no livro que o prefácio apresenta não é um lugar cronológico ou um estado psicossomático que a psicologia ou a paleoantropologia poderiam conceber como fato humano independente da linguagem. O conceito de infância guarda, na sua construção, uma tentativa de pensar os limites da linguagem[32], e, nesse livro (Infância e História), a infância “encontra o seu lugar lógico entre a experiência e a linguagem”. A aposta, sustenta Agamben, é que a infância acontece em uma relação particular com a linguagem, uma relação que, diante da insuficiência dos nomes, pode mais do que fazer silêncio, e pode mais, inclusive, que o silêncio ativo[33], aquele que é capaz de dizer coisas. A infância é essa situação (será que posso usar esse termo?) que faz ser possível, diante da insuficiência dos nomes, “ao menos até certo ponto, indicar a lógica e exibir o lugar e a fórmula”[34].
Essa indicação de Agamben movimenta a questão que causa essa escrita sobre o recurso à criança presente na literatura, ou, dizendo de outro modo, movimenta a pergunta sobre o que tornaria possível à criança enunciar o que não sabemos ainda dizer: diante da ausência do nome, a infância pode indicar a lógica, o lugar e a fórmula para cercar o que aqui está referido como ausência.
Isso acontece porque, para ele (eu gosto muito dessa ideia), o conceito de infância se coloca como uma tentativa de pensar os limites da linguagem em uma direção radicalmente diferente de uma resposta comum, que é a de falar desse limite pela via do inefável, ou seja, do déficit. “A singularidade que a linguagem deve significar não é um inefável, mas é o supremamente dizível, a coisa da linguagem”[35].
A infância, para Agamben, encontra seu lugar lógico entre a experiência e a linguagem. Minha hipótese para compreender essa construção tem a ver com o que apontamos há pouco, sobre o vir chegando da língua, o processo que dá lugar à descontinuidade, e que assim se abre para o vazio e para o que o mesmo Agamben refere como o impresumível.
Didier-Weill, psicanalista, faz considerações sobre a particularidade da experiência da criança que, quando articuladas às proposições de Agamben, sugerem mais um passo no enfrentamento da questão sobre o recurso à criança, que, nada mais é do que uma estratégia para enfrentar a pergunta que eu não soube responder no meu doutorado: o que é uma criança?
Didier-Weill[36] considera que a criança mantém uma relação com o saber que difere da do adulto, o que não quer dizer que ela não saiba, mas sim que o saber, no tempo da infância, produz-se em outras bases e com outros elementos. Esse recurso diferente é, para ele, a experiência subjetiva do espanto: “a experimentação de um acontecimento súbito, que detém o poder de introduzir, na continuidade do saber, a hiância súbita de uma descontinuidade”[37]. Essa capacidade, que o adulto eventualmente reencontra na relação com o esporte e com a arte, a criança tem diante da vida. E é nesse modo de se relacionar com a experiência, suportando hiância e descontinuidade, que a criança se relaciona com o saber.[38]
O autor não duvida que a relação particular com o saber que o sujeito produz no tempo da infância não se baseia em uma suposta inocência, que, aliás, apenas corroboraria a ideia de que o saber da criança não vale nada. Ao contrário, o que ele propõe é que “para além de sua inocência quanto ao saber, a criança é menos inocente que o adulto perante o real”[39]. Ou seja, o espanto como acontecimento revela que, para o sujeito, o saber se produz, nos tempos da infância e da vida adulta, com diferentes formas de acesso aos registros da experiência humana. A criança sabe sobre si e sobre o mundo que habita suportando as descontinuidades e as hiâncias que os adultos suturam com muitos recursos, e entre eles está uma específica relação com o conhecimento.
Essa é uma discussão crucial no interior da teoria, da pesquisa e da clínica da psicanálise. É importante porque permite compreender que, na infância, a diferença de produção, acesso e relação ao saber não significa falta de saber, mas, ao contrário, é um modo de relação com a falta que acessa outros registros da experiência. Não é ingenuidade, tampouco inocência, como o senso comum faz crer. É efeito de uma abertura ao Real.
Em outras oportunidades[40], detive minha escrita na consideração sobre o reconhecimento do estatuto do saber na infância como uma importante contribuição da psicanálise ao debate sobre as infâncias, no sentido em que corrobora a importância fundamental de escutar as crianças e o que dizem de sua relação com a experiência: a psicanálise apresenta os elementos e o psicanalista tem argumentos para afirmar que crianças sabem o que dizem. Usei como explicação para isso o caso das cartas que as crianças da Maré endereçaram ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,[41] para dizer, objetiva e subjetivamente, sobre o que é viver uma experiência de violação de direitos.
Segura de que esse aspecto da discussão já foi abordado, considero interessante investir na elaboração sobre a possibilidade da psicanálise formular uma diferença entre o tempo da infância e a vida adulta, a partir dos modos de operar com os três registros da experiência referidos por Lacan: o Real, o Simbólico e o Imaginário.
Sustento essa hipótese a partir das construções de Agamben e Weill, entendendo que a abertura ao Real que Weill escuta no espanto da criança está sustentada naquilo que, com Agamben, referimos como o vem chegando da relação com a linguagem, que é também o vem chegando da cultura. O termo que explicita a abertura ao Real, de Weill, é a hiância, e o que refere a inaderência instantânea à língua, que sustenta nossa humanidade em Agamben, é a descontinuidade. Podemos pensar, acredito, que o que está referido em Agamben como esse vazio diante do qual a experiência da nomeação se faz, é o que está posto no pensamento de Weill, em referência a Lacan, como o Real. E, mais ainda, considerar que hiância e descontinuidade referem a acontecimentos no registro Simbólico, é aí que o movimento da linguagem descontinua o encadeamento significante, e o nome não vem.
Considerando que o Real é um registro da experiência, e precisamente, na abertura do tempo da chegada da vida, o impacto que se faz registrar como corte sobre o “lugar simbólico” que aguarda o pequeno humano no corpo de seus adultos de referência, entendo que o vem chegando situa, a partir do pensamento de Agamben, o enlaçamento entre os registros da experiência em Lacan. Diante do corte, simbólico e imaginário articulam-se[42]. A infância, entendida na perspectiva do tempo do vem chegando, da articulação processual entre língua e discurso na linguagem[43], condiciona-se pela apropriação (no sentido exato de tornar próprio) de termos da cultura, que se fazem registrar numa trama entre o Imaginário e o Simbólico em relação ao real (que ex-isite).
É possível considerar que esse acontecer – porque não somos desde sempre já falantes e nem desde sempre radicalmente aderidos aos termos da cultura – é a infância do sujeito?
O que Agamben diz, e já referi aqui, é que se fossemos desde sempre aderidos à língua não haveria infância, e também não haveria história. Colette Soler, para referir as marcas, suas fixações e destinos, diz a infância como “o tempo das primeiras vezes”.[44]
Mas, se vamos considerar isso, será ainda preciso levar em conta que a referência implícita ao tempo cronológico do acontecimento da infância (o começo da vida) não faz com que o tempo cronológico, por si só, possa definir a infância. Será preciso ainda, compreender que esse começo da vida marcado pelo vem chegando impõe-se, especificamente, e na contingência da vida que começa, como abertura ao Real. A infância como acontecimento entre a experiência e a linguagem.[45]
Com os elementos dispostos até aqui é possível voltar à pergunta ‘o que é uma criança?’ para responder simplesmente: é quem está na infância.
Em outra oportunidade entendi que “no tempo da infância, o sujeito precisa lidar com a criança”[46]. Estive (e continuo) interessada em considerar as relações entre os termos criança, infância e sujeito para pensar as relações entre sujeito e época no tempo da infância. Nessa direção, tal construção serviu para entender a ‘criança’ como um significante que conjuga os termos do desenvolvimento e as determinações da época[47]. O significante ‘criança’ foi pensado como o que designa as variações de experiência em relação ao tempo de desenvolvimento e às possibilidades do corpo, incluindo também, no seu termo, as diferenças de cultura e os efeitos da divisão de classes no interior de uma mesma cultura. Nessa trilha, caberia ao sujeito fazer-se lidando com a sobredeterminação e com a contingência de sua existência como criança, no tempo da infância. Escrevi “o sujeito lida com a criança”, para garantir, na construção do meu pensamento, que o trabalho do psicanalista com crianças leva as últimas consequências a radicalidade da compreensão de que o sujeito não se desenvolve.
O sujeito, na lida com o que aqui está dito no significante ‘criança’, responde ao lugar que lhe é atribuído: recusa, confirma, transforma[48]. O que torna possível a realização de todas essas possibilidades é que ele não fica reduzido ao lugar que lhe é designado, porque não se reduz aos significantes que vêm do Outro. O sujeito é, ele mesmo, uma resposta à sua experiência: acontece como uma resposta do real ao significante. Como formulou Sauret, “trata-se de uma resposta do real ao significante – quer ela seja feita de aceitação ou de recusa, o sujeito surge como consequência, levando a marca dessa recusa ou dessa aceitação: não há sujeito fora da linguagem, mesmo que todo ‘o real do sujeito’ não passe ao significante“[49].
À altura da discussão que esse outro trabalho foi escrito, mostrava-se necessário afirmar que o que está em jogo, por fim, é que cada sujeito lida de uma forma com o que o significante criança designa, pois trata-se sempre de uma maneira singular de se relacionar com o discurso social.
Para dar mais uma volta, e deixando mais para trás ainda a perspectiva desenvolvimentista que assedia a infância e a criança, será preciso dar ouvidos a outro aspecto referido por Sauret, na sua proposição sobre o sujeito: “não há sujeito fora da linguagem, mesmo que todo ‘o real do sujeito’ não passe ao significante”.
Em primeiro lugar, e para não criar um falso problema entre esse ‘fora da linguagem’ que Sauret refere aqui, e o vem chegando da linguagem que localizamos no pensamento de Agamben, vale dizer que, para esse último, o vem chegando refere-se à articulação entre língua e discurso que caracterizam a linguagem, o vem chegando faz referência ao que já apontamos, uma e outra vez aqui, como processo de aderência do sujeito à língua. O vem chegando não situa o sujeito, em tempo algum, fora do que, em termos lacanianos, referimos como linguagem, ou seja, a linguagem da qual, de acordo com Sauret, nenhum sujeito pode estar fora.
O ponto central que interessa à presente discussão deve permitir que voltemos a encontrar com o que possibilitou toda essa construção: o recurso à criança, para dizer o indizível que escutei na literaratura de Faye, Appelfeld e Gary. E que também está em tantos outros, como Valter Hugo Mãe, Gertrude Stein e Andrés Barba[50]. E que se fez presente com Ibstisam, no Knesset, e no TJ carioca, com as cartas das crianças da Maré.
Esse trabalho de colocar um nome para aquilo que insiste como o que não cessa de não se escrever, esse esforço que é escrever com/no/sobre o corte, esse esforço que Agamben nomeia como ‘cera perdida’[51], que vai e volta até que encontre um nome; esse esforço é o que Noemi Jaffe nos apresentou como o mais nobre trabalho do escritor. E, esse esforço, é o jogo em que R-S-I se trançam, é o jogo de viver no qual a criança, por contingência e determinação, sabe jogar diferente do adulto.
A abertura ao Real sugerida por Weill como traço próprio da criança talvez deva ser contada como recurso para que o nome que se procura nomeie, mas também nomine, como ensinou o Domingos. Diante do corte Real que as experiências como a guerra e as mais diversas formas de segregação podem produzir, manter-se em abertura ao Real talvez permita que o esforço de significação não interrompa a potência do que se pode dizer a partir da letra, como vertente material do significante[52].
O recurso à criança aponta para um movimento necessário de abertura ao Real, do lado do adulto. Para que se possa, com isso, aceitar o corte que desfaz as suturas que nos sustentam e, dali, chegar mais perto, pela via da letra: nominar para que se possa dizer além do dito, ou porque, em muitas situações, diante do corte Real da experiência humana, os ditos genéricos não dizem nada mesmo, e é preciso procurar um como dizer. Diante do horror, como disse Noemi, todo nome é só “um tantinho”, mas, ela também diz, é. Penso que podemos dizer que o que se afirma aqui com esse “um tantinho” é o necessário movimento de produção do Real a partir do Simbólico. Um tantinho é impulso de vida.
O recurso à criança, portanto, se faz como uma forma de dar tratamento ao Real. Com isso que a literatura ensina ao psicanalista, é possível retornar ao seminário “Os não tolos erram/Os nomes do pai” e escutar Lacan chamando a atenção da sua audiência para o fato de que o Real não está desde sempre aí, impávido e colossal. Como registro da experiência, e, portanto, referido ao sujeito, o Real se produz, se produz como ex-istência, mas se produz. A questão é que isso que se produz como efeito da existência, depende da direção que o enodamento toma, a cada vez, entre Simbólico e Imaginário e com o Real também. Faz diferença, para isso que se produz como ex-istência ao enodamento – ou seja, em uma exterioridade que sustenta o nó -, faz diferença para o Real que se produz a direção que se assume entre Simbólico e Imaginário.
Por que isso faz diferença? Porque faz diferença se na lida com o Real vamos dar consistência ao furo (indo do imaginário ao Simbólico), ou se vamos furar a consistência (avançando do Simbólico para o Imaginário).
Ainda na sala de aula da literatura é possível escutar que, diante da experiência do horror, do corte, e quando se esgarça e se rompe o tecido social que costuma nos enredar, o recurso à criança se realiza como esforço de produção do Real a partir do Simbólico que fura a consistência do Imaginário, porque na consistência dos ditos, o dizer não se produz.
O recurso à criança permite, ainda, perceber a infância como esse instante de articulação específica entre RSI, esse instante que tem, na abertura ao Real expressa no espanto, uma condição que afeta o saber e o saber-fazer com a vida. Desde aí, talvez possamos considerar a que criança é o modo do sujeito de estar na infância.
Nessa sala, ainda temos Gaby, o menino que conta a sua história em Meu pequeno País. Quando a guerra estoura, e “o ódio era exibido sem vergonha”[53], Gaby, já sem poder andar pela cidade, ir à escola ou sem coragem de encontrar seus amigos, faz refúgio nos livros que empresta da sua vizinha grega, a senhora Economopoulos. Como ele diz, “viaja histórias”, ocupado em permanecer criança: “graças às minhas leituras, eu abolira o beco sem saída, estava voltando a respirar, o mundo se estendia pra mais longe”[54]. Gäel Faye, antes de terminar o livro, no qual se inventou com Gaby, situa, com a força do seu trabalho de nominação, a produção do Real a partir do Simbólico. Faye, como alguns outros escritores que aqui referimos, precisava fazer algo com os cacarecos, os destroços, seus restos. Deu a letra: “eu pensava estar exilado do meu país. Ao retomar as pegadas do meu passado, compreendi estar exilado da minha infância. O que me parece ainda mais cruel”[55]. ♦
REFERÊNCIAS
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CONH, Clarice (2013). Concepções de infância e infâncias: um estado da arte da antropologia da criança no Brasil, in Civitas – Revista de Ciências Sociais, v. 13, n.2, p.221-224. Porto Alegre.
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FAYE, Gäel (2016). Meu pequeno País. Trad. M. F. O. do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018
FREUD, Sigmund (1909). Análise da Fobia de um menino de cinco anos. in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V.10, pp. 13-156. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
GARY, Roman (1980). As Pipas. Trad. J. R. Simões. São Paulo: Todavia, 2021.
JAFFE, Noemi (2021). Um tantinho. Rascunho- o jornal de literatura do Brasil. Curitiba, n.254, p.11, junho/2021.
KATZ, Ilana (2019). Infâncias: uma questão para a psicanálise. In: SURJUS, Luciana Togni.; MOYSÉS, Maria Aparcida. Saúde mental Infantojuvenil – Territórios, Políticas e Clínicas de Resistência. Santos: Unifesp/Abrasme, 2019. p. 77-89. Disponível em: <https://www.unifesp.br/campus/san7/images/pdfs/Saude%20Mental%20Infantojuvenil.pdf>.
LACAN, Jaques. ([1973/74]) Os não tolos erram/Nomes do pai. Trad. F. Denez e G. C. Volaco. (Neste volume não há mais indicações sobre a edição).
MARAANA, Ibstisam. El primer discurso en la Kneset de la diputada Ibtisam Maraana (27/4/2021). Disponível em: <https://youtu.be/16lssFNLJzU>.
SAURET, Marie-Jean. (1998) O infantil e a estrutura. Trad. S. Sobreira e C. Khalifeh. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise.
SOLER, Colette (2012). O que resta da infância. Trad. E. Saporiti. São Paulo: Editora Escuta, 2018.
VICENTIN, Cristina. Gramkov, Gabriela (2018). Pistas para um agir criançável nas experiências de conflito. ETD – Educação Temática Digital. Campinas, SP, v. 20, n. 2, p. 368–390, 2018. DOI: 10.20396/etd.v20i2.8650659. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8650659>. Acesso em: 11 jun. 2021.
VOLTOLINI, Rinaldo. KATZ, Ilana. Infância e Política. Disponível em: <https://youtu.be/idwlGHg_GeM>.
* Ilana Katz é psicanalista, doutora em educação na FE/USP, pós doutora em psicologia clínica no IP/USP, pesquisadora no LATESIP/USP.
[1] FAYE,Gäel (2016). Meu pequeno País [Trad: Maria de Fátima Oliva do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018, p.12.
[2] FAYE,Gäel (2016). Meu pequeno País [Trad: Maria de Fátima Oliva do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018
[3] Em entrevista concedida à Ruan de Sousa Gabriel, para o jornal O Globo, em 30/05/2019, na oportunidade de sua vinda à FLIP. Disponível em: <https://www.google.com.br/amp/s/oglobo.globo.com/cultura/atracao-da-flip-rapper-gael-faye-usa-propria-historia-para-narrar-guerra-aos-olhos-de-um-menino-23700365%3fversao=amp>.
[4] APPELFELD, Aharon. (2013). Meu pai, minha mãe [Trad:Luis S. Krausz]. São Paulo: Editora Carambaia, 2019.
[5] “Rio Prut, também chamado de Pruth , romeno Prutul , um afluente do rio Danúbio , agora formando a fronteira da Romênia com a Moldávia . Antes de 1940 e da tomada da Bessarábia pela União Soviética, o Prut estava quase inteiramente na Romênia”. disponível em: <https://delphipages.live/pt/geografia-e-viagens/geografia-fisica-da-agua/rios-e-canais/prut-river>.
[6] APPELFELD, Aharon. (2013). Meu pai, minha mãe [Trad:Luis S. Krausz]. São Paulo: Editora Carambaia, 2019, p. 215.
[7] KRAUSZ, L. Posfácio. In: APPELFELD, Aharon. (2013). Meu pai, minha mãe [Trad:Luis S. Krausz]. São Paulo: Editora Carambaia, 2019, p. 216.
[8] ‘Memória brutal’ é o nome dado por Roman Gary à impossibilidade de esquecer de Ludo, o menino narrador de seu último romance, As Pipas.
[9] GARY, Roman (1980). As Pipas [Trad: Julia da Rosa Simões] São Paulo: Todavia, 2021.
[10] GARY, Roman (1980). As Pipas [Trad: Julia da Rosa Simões] São Paulo: Todavia, 2021, p. 90.
[11] GARY, Roman (1980). As Pipas [Trad: Julia da Rosa Simões] São Paulo: Todavia, 2021, p. 133.
[12] GARY, Roman (1980). As Pipas [Trad: Julia da Rosa Simões] São Paulo: Todavia, 2021, p. 238.
[13] GARY, Roman (1980). As Pipas [Trad: Julia da Rosa Simões] São Paulo: Todavia, 2021, p. 327.
[14] JAFFE, Noemi.(2021) Um tantinho. Rascunho- o jornal de literatura do Brasil. Curitiba, n.254, p.11, junho/2021.
[15] JAFFE, Noemi.(2021) Um tantinho. Rascunho- o jornal de literatura do Brasil. Curitiba, n.254, p.11, junho/2021.
[16] JAFFE, Noemi.(2021) Um tantinho. Rascunho- o jornal de literatura do Brasil. Curitiba, n.254, p.11, junho/2021
[17] Esse livro foi escrito em 1949 e é o último volume da ‘triologia do pós guerra’beckttiniana, composta também por Molloy (1947) e Malone(1948). Infelizmente está esgotado na editora.
[18] Entre os anos de 2008 e 2013, trabalhamos juntos no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise com Crianças (NEPPEC), e, nesse espaço Domingos promoveu seminários em torno dessa temática.
[19] LACAN, Jaques.([1973/74]) Os não tolos erram/Nomes do pai [Trad: Frederico Denez e Gustavo Capobianco Volaco]. Neste volume não há mais indicações sobre a edição.
[20] Sei que esse parágrafo ficou muito denso, peço um pouco de paciência ao leitor, pois a ideia é que ele seja destrinchado ao longo dessa nossa conversa.
[21] JAFFE, Noemi.(2021) Um tantinho. Rascunho- o jornal de literatura do Brasil. Curitiba, n.254, p.11, junho/2021.
[22] VICENTIN, Cristina. GRAMKOV, Gabriela (2018). Pistas para um agir criançável nas experiências de conflito. ETD – Educação Temática Digital. Campinas, SP, v. 20, n. 2, p. 368–390, 2018. DOI: 10.20396/etd.v20i2.8650659. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8650659>. Acesso em: 11 jun. 2021.
[23] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p.14.
[24] Está dita com outros termos na causa de minha segunda pesquisa de pós doutoramento, no Instituto de Psicologia/USP, sob a supervisão de Christian Dunker: Infâncias não hegemônicas: proposições para a desimaginarização da psicanálise com crianças.
[25] FREUD, Sigmund (1909). Análise da Fobia de um menino de cinco anos. in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V.10, pp. 13-156. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
[26] BARBA, Andres (2017) República Luminosa [Trad: Antônio Xerxenesky]. São Paulo: Todavia, 2018.
[27] BARBA, Andres (2017) República Luminosa [Trad: Antônio Xerxenesky]. São Paulo: Todavia, 2018, p.71.
[28] Voltolini, Rinaldo. Katz, Ilana (2020) Infância e Política. Disponível em: <https://youtu.be/idwlGHg_GeM>.
[29] Andresen, Hans Christian (1837). A roupa nova do imperador. Ilustração Eve Tharlet. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
[30] Maraana, Ibstisam. El primer discurso en la Kneset de la diputada Ibtisam Maraana (27/4/2021). Disponível em: <https://youtu.be/16lssFNLJzU>.
[31] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p. 14.
[32] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p.10.
[33] Agamben, nesse ponto, usa o termo sigética, e o tradutor, em nota à página 13, explica que “esse termo foi proposto por Heidegger para referir ‘a ciência ou arte (de falar através) do silêncio’, apta a ‘construir o silêncio na linguagem’; está vinculado à Erschweigen, ‘silêncio ativo, que diz’”.
[35] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p.11.
[36] DIDIER-WEILL, A. (1995) Os três tempos da lei. O mandamento siderante, a injunção do supereu e a inovação musical. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor,1997.
[37] DIDIER-WEILL, A. (1995) Os três tempos da lei. O mandamento siderante, a injunção do supereu e a inovação musical. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor,1997, p.17 (grifo meu).
[38] Vale dizer que é “sinal dos tempos” que, ainda no tempo da infância, o sujeito desista de se espantar para responder imaginariamente ao empuxo do ideal de eficiência da época.
[39] DIDIER-WEILL, A. (1995) Os três tempos da lei. O mandamento siderante, a injunção do supereu e a inovação musical. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p.27 (grifo meu).
[40] KATZ, Ilana (2019). Infâncias: uma questão para a psicanálise. In: SURJUS, Luciana Togni.; MOYSÉS, Maria Aparcida. Saúde mental Infantojuvenil – Territórios, Políticas e Clínicas de Resistência. Santos: Unifesp/Abrasme, 2019. p. 77-89. Disponível em: <https://www.unifesp.br/campus/san7/images/pdfs/Saude%20Mental%20Infantojuvenil.pdf> e KATZ, Ilana (2021). Infâncias e parentalidade: nomeações, funções e funcionamentos. In: TEPERMAN, D.; GARRAFA, T.; IACONELLI, V. (Org.). Parentalidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. (Coleção Parentalidade & Psicanálise) [prelo]
[41] Para ler as cartas: <https://bit.ly/2R8GCVZ>.
[42] Ângela Vorcaro, em seu doutorado defendido na PUC/SP em 1997, tece, na experiência da criança, esse trancamento entre os registros. Tive a sorte de encontrar com sua transmissão já nos primeiros instantes da minha formação. Sua tese está publicada no livro: VORCARO, Angela (1997). A criança na clínica da psicanálise. Rio de janeiro: Companhia de Freud.
[43] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p. 64.
[44] SOLER, Colette (2012). O que resta da infância [Trad: Elisabeth Saporiti]. São Paulo: Editora Escuta, 2018, p. 45.
[45] AGAMBEN, Giorgio ([1978]2001). Infância e Hisória: destruição da experiência e origem da história [Trad: Henrique Burigo]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p. 63.
[46] KATZ, Ilana (2019). Infâncias: uma questão para a psicanálise. In: SURJUS, Luciana Togni.; MOYSÉS, Maria Aparcida. Saúde mental Infantojuvenil – Territórios, Políticas e Clínicas de Resistência. Santos: Unifesp/Abrasme, 2019. p. 77-89. Disponível em: <https://www.unifesp.br/campus/san7/images/pdfs/Saude%20Mental%20Infantojuvenil.pdf>.
[47] Cabe lembrar ainda que as determinações biológicas do desenvolvimento, por sua vez, também guardam efeitos da época, no sentido em que seu valor é decidido socialmente. Esta é uma discussão fundamental, enfrentada pelo campo da deficiência, que nos interessa, mas não será realizada nesse artigo. Para conhecer o debate veja: ANGELUCCI, Biancha. (2014), “Medicalização das Diferenças Funcionais- continuísmos nas justificativas de uma educação especial subordinada aos diagnósticos”, in Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente/SP, v. 25, n. 1, p. 116-134, jan./abr. 2014
[48] Para acompanhar as considerações dessa discussão, ver: SOLER, Colette (2012). O que resta da infância. Trad: Elisabeth Saporiti. São Paulo: Editora Escuta, 2018.
COHN, Clarice (2013). Concepções de infância e infâncias: um estado da arte da antropologia da criança no Brasil, in Civitas – Revista de Ciências Sociais, v. 13, n.2, p.221-224. Porto Alegre.
[49] SAURET, M-J. (1998) O infantil e a estrutura [Trad: Sílmia Sobreira e Clary Khalifeh]. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, p. 16.
[50] Respectivamente:
MÃE, Valer Hugo (2020) Contra mim. São Paulo: Bibioteca Azul.
STEIN, Gertrude. O mundo é redondo. Trad: Dirce Waltrick do Amarante e Luci Collin. São Paulo: Iluminuras,2020.
BARBA, Andres (2006). As mãos pequenas. Trad: Miguel Serras Pereira. Lisboa: Minotauro.
[51] Cera perdida é uma expressão usada por Giorgio Agamben, em alusão a uma técnica antiga para realizar esculturas de bronze. Essa técnica usava fazer o molde de cera da peça para ser fundida. Nesse processo, o bronze fundido, derramado sobre a peça, tomava o lugar da cera. Agamben faz referência a esse processo para dizer, logo no início de seu Experimentum Linguae, que “toda obra escrita pode ser considerada como o prólogo (ou melhor, como a cera perdida) de uma obra jamais escrita”(p.9).
[52] Acredito que seja necessário, em outra oportunidade, desenvolver a relação entre dito, dizere significante e letra a partir do seminário 18, de Lacan, para avançar sobre a compreensão do recurso à criança como abertura ao Real.
[53] FAYE, Gäel (2016). Meu pequeno País [Trad: Maria de Fátima Oliva do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018, p.173.
[54] FAYE, Gäel (2016). Meu pequeno País [Trad: Maria de Fátima Oliva do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018, p.167-68.
[55] FAYE, Gäel (2016). Meu pequeno País [Trad: Maria de Fátima Oliva do Coutto]. Rio de Janeiro: Radio Londres, 2018, p.186.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | KATZ, Ilana (2021) O recurso à criança para dizer o indizível. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -11, p. 5, 2021. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/07/20/n-11-05>.