[ Sur le désir de l’analyste ]
por Érik Porge
Tradução | Daniela Smid
Revisão | Andréia Manfrin
Publicados originalmente em: Ornicar?, n. 14, 1977, pp. 35-39 & Ornicar?, n. 15, 1977, pp. 158-160.
O desejo do analista levanta a questão do crédito que se pode dar à psicanálise.
É certo que se aceita que a psicanálise não é uma escola de ataraxia. Mas temos que ir além: para que exista uma direção da cura, não se deve assumir que o analista seja desejante? Logo, o problema é então articular a subjetividade desejante com a objetividade da função chamada de “desejo do analista”. A subjetividade do desejo do analista, ou seja, a forma como o analista se envolve com a transferência do analisante, é chamada de “contratransferência”.
Foi principalmente a partir da década de 1950 que não só a possibilidade de uma contratransferência passou a ser aceita, mas também que os analistas consideraram isso sob um aspecto positivo, como força motriz da análise. No entanto, a leitura dos principais artigos[1] que trataram disso mostra o limite de um uso não crítico desse termo.
- É um apanhado geral onde se pode encontrar lado a lado: os sintomas do analista, suas manifestações do inconsciente, seus sentimentos, ideais, preconceitos, seu estilo, suas sublimações…
- A maioria dos analistas descobriu que os sentimentos ou as fórmulas que se impõem a suas mentes representam, na verdade, uma antecipação de elementos reprimidos no analisante. Por que falar então de contratransferência, uma vez que se trata literalmente de uma transferência do inconsciente do analisante no analista, o que é, portanto, um único fenômeno, a transferência, cujo lugar talvez seja o analista. Nesse contexto, isolar o termo contratransferência, portanto, equivale a inverter a análise para uma relação diádica, com a consequente psicologização.
- Assim, vemos atribuído à transferência o papel de suprir os sentimentos que o analisante é incapaz de encontrar em si mesmo, de confrontar os fantasmas do analisante com a realidade, de deixar o ego do analisante acessível à interpretação da transferência “quebrando” uma transferência “delirante”, de favorecer a identificação com o analista como pessoa, “ser humano vivente”, com suas falhas.
Como mostrou Lacan (Seminário XI), é de fato pelo amor de transferência que a demanda chega à identificação: identificação significativa do ideal do eu, a partir do qual o sujeito verá a si mesmo amável como eu-ideal. Que essa identificação sirva a definir o termo da análise, é o que foi também criticado por Lacan: ir além desse plano de identificação seria possível, graças justamente ao desejo do analista.
Como pode o desejo do analista, que, portanto, não pode ser reduzido à contratransferência, desempenhar esse papel? Na medida em que o desejo do analista representa a própria estrutura do desejo de acordo com a fórmula: o desejo é o desejo do Outro. Essa resposta parece coerente com o fato de que o analista, na análise, deve ocupar o lugar do Outro, o lugar da fala. Contudo, ela não esgota as perguntas que fazemos a nós mesmos sobre a particularidade do desejo do analista e sobre a dificuldade do analista em ocupar o lugar do Outro.
Por exemplo: Lacan não disse que “esse para que a neurose é construída, é para manter algo articulado, que é chamado de desejo”? O histérico, o obsessivo, o fóbico, o perverso, cada um preserva à sua maneira o lugar do desejo. O desejo do analista poderia ser reduzido a uma dessas estruturas? Constituiria ele um adicional?
Certamente, o neurótico tem um desejo que ele mantém somente ao pagar o preço de sintomas dos quais ele às vezes quer se livrar, mas, afinal, o psicanalista também tem seu sintoma: a psicanálise. No entanto, a demanda do Outro é considerada no neurótico como a causa do desejo, o que não poderia ser o caso do analista. O que sustenta o desejo do neurótico não é $ ◊ a, mas ϕ ◊ i (a)[2], o que significa que o neurótico não pode sustentar senão por procuração a um i (a), enquanto ele, inconscientemente, se identifica como sujeito com o significante do desejo por desejar, ou seja, o falo.
A ética da análise é que o sujeito venha a esse lugar ocupado por Φ (“Wo Es war, soll Ich werden”), enquanto dessa operação significante cai um resto, a, causa do desejo. É só depois que o desejo entrega sua estrutura. Ao mesmo tempo, já está lá o que é produzido pela operação analítica: ele se paga com uma renúncia ao gozo, ao (– φ), função imaginária da imagem fálica. Renúncia que é, no fundo, uma enunciação[3]. Esse momento de “tomada do desejo”[4], que nada mais é do que de um “des-ser”, tem a ver (essa fórmula vaga exigiria, claro, ser explicitada) com o final da análise. Essa “tomada do desejo”, no fim da análise, é o desejo do analista. A prática da análise seria então a única maneira de ser desejante?
Certamente não, mas o que podemos dizer é que o desejo do analista desnuda a estrutura do desejo. Ou melhor, ele a revela como lugar. Citemos o exemplo do sonho do paciente de Freud[5], onde é afirmado: “ele não sabia que estava morto” – “de acordo com seu desejo”, acrescenta Freud. O significante “de acordo com seu desejo” está inscrito no grafo de Lacan entre a enunciação de “ele não sabia” e o enunciado “que ele estava morto”, denotando por sua subtração do texto do sonhador a aspiração de um lugar onde se situa o desejo.
Como diz Lacan, “o desejo se manifesta dentro desse intervalo que separa a articulação pura e simples da fala onde o sujeito se dá conta dele mesmo, que só tem sentido em relação a essa edição da fala”. É sempre na falha, na lacuna, no intervalo, que reside o desejo: entre percepção e consciência, entre demanda e necessidade, entre enunciado e enunciação. Fato de estrutura que Lacan formalizou com o grafo localizando o desejo entre a linha superior e a linha inferior.
O desejo do analista passa a ocupar esse lugar, de lacuna ele passa a ser apenas esse lugar. Isso significa que o analista deve reconhecer que seu lugar é determinado pela estrutura, é necessário não mentir sobre a estrutura e, portanto, permanecer enganado.
Para o analisante, o desejo do analista, vindo substituir o desejo do Outro, permanece um enigma, um x, na medida em que o analista não responde à demanda. Se o analista não responder à demanda, não é em nome de alguma virtude da frustração, nem por um forte gosto pela adivinhação, mas por uma questão da estrutura do desejo: porque a linguagem vem perfurar o ser de carne, e que sua demanda por se articular em significantes deixa um resto metonímico correr sob ele. “O sujeito está sempre a uma certa distância de seu ser, esse ser não se junta a ele nunca, é por isso que ele não pode fazer nada mais do que tentar alcançar seu ser nessa metonímia do ser no sujeito que é o desejo”[6]. E o analista não pratica sua ação como a aplicação de um conhecimento, mas sim porque ele próprio, privado de um gozo, encontrou-se preso pelo desejo, caído por sua vez, no restante do que ele perdeu pela inadequação radical do sujeito ao saber. Apenas nesse sentido, podemos aceitar o termo desejo de saber: um desejo decorrente da não completude do saber do Outro.
Essa abordagem do desejo do analista não significa que o analista não pode ceder ao seu desejo, e, segundo Lacan, essa é a única coisa de que podemos ser analiticamente culpados.
Que analista de fato nunca pensou que deveria agir para o Bem do analisante, colocando-se ao mesmo tempo em posição de demanda em relação ao analisante? Qual analista não ficou surpreso com a segurança silenciosa do sentimento de saber? Pois o critério da posição do analista não é daquele que sabe: “é na medida em que acreditamos poder atender à demanda que estamos no sentimento de saber”. Que analista não acreditava que era ele o desejado pelo analisante? Mas, como Sócrates a quem Alcibíades procurava a confissão do agalma, o analista “deve abster-se de qualquer suposição de ser desejável. O desejante não pode dizer nada sobre si mesmo, a não ser para se abolir como desejante: a qualquer tentativa de articulação, nada sai além de uma síncope da linguagem, de uma impotência para falar, porque assim que ele fala, ele passa para o registro da demanda[7].
Mas se o desejante não pode dizer nada sobre si mesmo a não ser se abolindo como desejante, isso levanta a questão do que nós mesmos estamos autorizados a dizer, ou, mais exatamente, a escrever.
Para tentar responder a essa pergunta, vamos partir do que pode trazer o desejo do analista no tratamento: as interpretações, os cortes de sessão e outras intervenções.
A interpretação analítica não é julgada no nível da validade de um enunciado. Como Safouan diz: “a significação se produz não onde há um significado oculto, mas onde o sujeito não sabia”. A interpretação analítica isola o significante “ele não sabia” em vez da enunciação.
Agora, também o analista está dividido por seu dizer. O que ele supõe a si mesmo como saber sobre o saber inconsciente do analisante não corresponde à realidade desse saber inconsciente do analisante. Por sua intervenção – interpretação, corte de sessão -, ele é, então, colocado na posição de ser dessuposto de seu saber, de ser essa dessuposição, reduzida a um objeto que, em razão do seu modo de produção, será causa de desejo pelo analisante.
Esse efeito de perda que o analista representa só é possível se esse movimento de retorno não estiver obstruído por uma demanda do analista em relação ao analisante, em particular uma demanda de significação.
Portanto, chegamos à resposta de que o que é objeto do desejo do analista é esse efeito de perda, no cruzamento do Imaginário, do Simbólico e do Real, o objeto a, que o analista incorpora em troca de sua enunciação.
[Continuação]
[Nota da edição original da Ornicar?:
“Um lamentável erro editorial [da revista “Ornicar?”] cortou o final do artigo de Erik Porge (“Sobre o desejo do analista”, pp. 35-39), publicado em nosso número anterior. Ele será disposto abaixo.”]
A busca pelo objeto é o objeto, que o analista deve explicar.
Sabemos que Lacan escreve a relação do sujeito com esse objeto como $ ◊ a, matema do fantasma, que sustenta o desejo e regula o lugar entre o enunciado e a enunciação (em Grafo completo[8]. A linha superior S (Ⱥ) – $ ◊ D é a da enunciação; a linha inferior s (A) – A é a do enunciado. Essa observação também se aplica à parte anterior do nosso texto publicado em Ornicar? nº 14).
O objeto a é acima de tudo uma letra; só a referência à escrita permite dizer que em uma frase falada houve um jogo de palavras, a homofonia. A letra é, portanto, o que cai na linguagem, isto é, o que constitui o seu limite, a borda em torno da qual se organizam os significantes. A ex-sistência da letra na palavra, a, explica o fato de que o desejo, se é inarticulável, não é inefável, infinito (no sentido do ápeiron do imaginário), mas que tem seu limite precisamente com a.
Isso nos ajuda a aproximar a referência ao número transfinito para situar o desejo do analista, sugerido por Lacan na Proposição de 9 de outubro de 67[9]. Parece que o número transfinito, como o primeiro deles, tem um parentesco mais próximo com o objeto a: pois é também uma letra, vinda como uma “fixão”[10] de algo inominável (o último número da série infinita de números inteiros). Por outro lado, assim como permite combinar a noção de infinito com a de limite, a opera essa mediação entre a finitude do desejo e a infinitude do sujeito. O número como referência do objeto a designa o real da estrutura à qual o desejo do analista está vinculado. O objeto a pode servir de instrumento de medida: como diz Lacan, é “unidade-sexo”.
Ao dar ao termo razão (logos) seu significado matemático (relação entre duas grandezas que se sucedem ou maneira como uma contém a outra), avançaremos que a “causa” a razão da relação entre o enunciado e a enunciação. O princípio da comunicação analítica é que “na linguagem nossa mensagem vem do Outro sob uma forma invertida”. Se escrevermos essa mensagem, significa que ela volta na forma de quociente: 1/a.
O sentido, s (A), é marcado pelo significante da incompletude do Outro, da impossibilidade de dizer o verdadeiro sobre o verdadeiro: S (Ⱥ). É por isso que, em nossa opinião, as duas linhas do Grafo completo[11] divergem de $ ◊ a, ao passo que convergem para o desejo, porque o desejo é o desejo do Outro.
Mas esse efeito de perda, 1/a, se iguala à própria constituição do objeto, à sua redescoberta, como diria Freud. Observaremos, portanto: 1/a = 1+a. É notável que essa equação seja análoga a uma equação que deriva da partição em razão média e extrema e dá o valor do número áureo[12]. Essa analogia nos serve para registrar que se o objeto a pode servir de instrumento de medida, ele próprio não é mensurável porque é um número irracional, incomensurável ao Um.
O desejo do analista é, portanto, a irracionalidade que dá – para o analisando – a razão do desejo, para o desejo do Outro, resto de uma pura alteridade. ♦
REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund (1911) Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. In: FREUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schreber”), artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, pp. 108-121.
LACAN, Jacques [(1958-59)2013] O seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. Trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
LACAN, Jacques [(1960)1966] Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, pp. 807-842
LACAN, Jacques [(1960-61)1991] O seminário, livro 8: A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.
LACAN, Jacques. [(1964)1973] O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Trad. MD Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
LACAN, Jacques [(1968)2001] Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. Em: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, pp. 248-264.
LACAN, Jacques [(1968-69)2006] O seminário, livro 16: De um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
LACAN, Jacques [(1972)1973] O Aturdito. In: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, pp. 448-497.
* Érik Porge exerce a psicanálise em Paris. É membro da Associação de Psicanálise Encore e diretor da revista Essaim. Foi membro da Escola Freudiana de Paris até sua dissolução e trabalhou como psiquiatra responsável por um centro médico-psicológico (CMP) para crianças e adolescentes. Tem vários livros publicados e traduzidos para diversos idiomas, entre eles Jacques Lacan, un psychanalyste, Les noms du père chez Jacques Lacan, Voix de l’echo, Lettres du symptôme, Des fondements de la clinique psychanalytique e Transmettre la clinique psychanalytique.
** Daniela Smid é psicanalista em São Paulo, formada em psicologia pela USP e mestranda em Psicologia Clínica na mesma universidade.
*** Andréia Manfrin Alves é bacharel em Letras (USP – SP) e mestre em Didática do ensino de francês (Sorbonne – França). Trabalha como revisora, preparadora, editora e tradutora há mais de quinze anos e também é autora de materiais de apoio para livros de literatura infantojuvenil. É também atriz, locutora e contadora de histórias e adora envolver toda a sua formação prática e teórica no trabalho com textos em diferentes vertentes.
[1] Artigos de M. Little, P. Heimann, Weygert, L. Tower, M. Kahn, e recentemente “Revue Française de Psychanalyse”, nº 3, 1976.
[2] N. da T.: Ao trocar e-mails com Erik Porge sobre este artigo, ele explicou sobre a fórmula que aqui consta, dizendo o seguinte: “La formule “phi barré poinçon i(a)” est bien de Lacan. Elle se trouve, avec son explication, dans le séminaire “Le désir et son interprétation”, p. 534 de l’édition du Seuil (17 juin 59) et p. 550 (24 juin). Vous pouvez aussi lire à ce propos la fin de l’article dans les Ecrits “Subversion du sujet et dialectique du désir”.
Em Lacan, nos locais indicados por Porge, encontra-se: “Essas não são, creio, coisas que sejam compreensíveis fora da perspectiva que tento articular para vocês aqui. É a saber, no fim das contas, que a fórmula $ ◊ a para o neurótico se transforma em alguma coisa (se vocês querem, sob reserva e sumariamente) da identificação de seu ser inconsciente. E é por isto que nós lhe daremos o mesmo signo que ao “S barrado”, $, ou seja, “falo barrado”. Quer dizer que, em presença de um objeto, é a forma mais geral de um objeto do desejo, que não é outra coisa senão esse outro enquanto ele ali se situa e se reencontra: ◊ i(a).” (Lição de 17 de junho de 1959). [N. do E.: “Estas não são, creio, coisas compreensíveis fora da perspectiva que estou tentando articular para vocês aqui. Para o neurótico, o S barrado da fórmula ($ ◊ a) se transforma – digo isso com reservas e sumariamente – em uma coisa onde se inscreve a identificação de seu ser inconsciente com o falo. Por este motivo, daremos a este o mesmo signo que para o sujeito e, assim como há sujeito barrado, escreveremos falo barrado – isso, em presença de um objeto que escrevemos sob a forma mais geral de um objeto do desejo, a saber, sob a forma desse outro imaginário onde o sujeito se situa e se reencontra. Ou seja: ϕ ◊ i (a)”. LACAN, Jacques [(1958-59)2013] O seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. Trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2016, p. 484]
“… na última vez por exemplo tentamos formular como sendo o ponto sobre o qual o desejo de desejo que tem o neurótico apoia-se, ou seja, essa relação com a imagem do outro graças ao que pode se estabelecer todo esse jogo de substituição em que o neurótico nunca tem que fazer a prova daquilo de que se trata, isto é que ele é o falo: seja mesmo Φ ◊ i(a).” (Lição de 24 de junho de 1959). [N. do E.: “Tomemos como referência, por exemplo, o que tentamos formular da última vez como sendo o ponto sobre o qual se apoia o desejo de desejo que o neurótico tem. Dissemos que é graças à relação do eu com a imagem do outro que pode estabelecer todo esse jogo de substituições no qual o neurótico nunca tem de fazer a prova daquilo de que se trata, a saber, que ele é o falo – ou seja, efetivamente, ◊ i(a).”. LACAN, Jacques [(1958-59)2013] O seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. Trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2016, p. 498].
“O neurótico, de fato, histérico, obsessivo ou, mais radical mente, fóbico, é aquele que identifica a falta do Outro com sua demanda, Φ com D.” [LACAN, Jacques [(1960)1966] Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, p. 838].
“No neurótico, o (-φ) insinua-se sob o $ da fantasia, favorecendo a imaginação que lhe é própria, a do eu. É que a castração imaginária – e o neurótico a sofreu logo de saída – é a que sustenta esse eu forte que é o dele, tão forte, diríamos, que seu nome próprio o importuna, que o neurótico é, no fundo, um Sem-Nome.” [LACAN, Jacques [(1960)1966] Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, pp. 840-841].
[3] Jogo de palavras feito por Lacan no seminário “De um Outro ao outro”, e enfatizado por Ch. Rabant. [LACAN, Jacques [(1968-69)2006] O seminário, livro 16: De um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008].
[4] Lacan, “Proposição de 9 de outubro de 1967”, Scilicet 1. [LACAN, Jacques [(1968)2001] Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. Em: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, pp. 248-264].
[5] “Formulações sobre os dois princípios da atividade psíquica”, trad. Cl. Conté em “Documents, Recherches et Travaux de l’ E.F.P.”, nº 4. [FREUD, Sigmund (1911) Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. In: FREUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schreber”), artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, pp. 108-121].
[6] Lacan, seminário “O Desejo e sua interpretação”. [LACAN, Jacques [(1958-59)2013] O seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. Trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2016].
[7] Lacan, seminário “A Transferência”. [LACAN, Jacques [(1960-61)1991] O seminário, livro 8: A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992].
[8] [LACAN, Jacques [(1960)1966] Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, p. 831].
[9] Scilicet 1 [LACAN, Jacques [(1968)2001] Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. Em: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, pp. 248-264].
[10] “L’étourdit”, Scilicet 4, p.35 [LACAN, Jacques [(1972)1973] O Aturdito. In: LACAN, Jacques. Outros Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, p. 484].
[11] [LACAN, Jacques [(1960)1966] Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998, p. 831]
[12] Lacan usou a metáfora da divisão em razão média e razão extrema para representar a relação assexuada e a articulação de a com A. A analogia, ou proporção, é uma identidade da razão e tem pelo menos três termos. Se pegarmos a direita:
Com c> a> b, a divisão em razão média e razão extrema é definida pela proporção: c-a/a-b = c/a = d/b e c = a + b.
Se definimos c = 1, é fácil mostrar que a razão para essa proporção, ou seja, o médio prazo, a = √ 5-1/2, e o inverso do médio prazo: 1/a = d = √ 5+1/2 é o famoso número de ouro (escrito em matemática φ). Também é fácil, a partir da partição média e razão extrema, estabelecer a equação 1/a = 1+a.
Por outro lado, como a, φ, é um número irracional, impossível de nomear por um inteiro ou uma fração, incomensurável ao 1, e ele é escrito como uma fração contínua:
φ = 1 + 1/1 + 1/1 + 1/1 + 1/1 + φ
Essa cadeia pode ser continuada ad infinitum se substituirmos o φ à direita da equação por seu valor de conjunto: o que resulta na impossibilidade de um conjunto se totalizar. Esse exemplo ilustra a função metonímica pura do objeto, que o analista é chamado a incorporar.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | PORGE, Érik (1977) Sobre o desejo do analista. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -11, p. 9, 2021. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/07/07/n-11-09/>.