por Luciana P. Venturini Gutierres
Final de 2019, início de 2020, um vírus com efeitos desconhecidos e, muitas vezes, fatais começou a circular pelo mundo. Uma pandemia! Esse inesperado acontecimento, que pegou o mundo de surpresa, impôs a necessidade de distanciamento social, de isolamento, trouxe mudanças urgentes e essenciais no modo de vida das pessoas que se afastaram de familiares, de amigos, de colegas de trabalho, exigiu um formato de trabalho à distância, virtual e online, que foi possível graças à tecnologia de rede que se dá na Internet.
Enquanto as pessoas no mundo inteiro iam tentando se reorganizar nesse novo modo de viver, as notícias assustadoras e fatais sobre o efeito do vírus no corpo humano alardeavam seu perigo nas mídias sociais e de comunicação. Os cientistas desconheciam o modus operandi do vírus no corpo humano, também desconheciam suas formas mais específicas de transmissão, bem como os medicamentos mais eficientes para seu tratamento. Isso exigiu dos cientistas e estudiosos uma corrida, atravessada por narcisismos patrióticos, acadêmicos ou políticos — inflados, algumas vezes — na busca por maiores informações possíveis para amenizar os efeitos do Coronavírus sobre a humanidade.
Os profissionais da saúde que atuavam em instituições que se propunham a cuidar diretamente de pessoas que apresentassem os sintomas e a doença denominada COVID-19 viram-se frente a frente com os efeitos, muitas vezes nefastos, do vírus e seu poder de contaminação; e assim muitos desses profissionais precisaram fazer renúncias importantes em nome desses cuidados, afastando-se de suas famílias, amigos e, em diversos casos, dando seu ‘suor’ e ‘seu corpo’ — na doença e na morte — em nome do que os vincula à sua profissão.
No hospital público em que atuo, um hospital geral, a demanda de atendimento a pacientes com sintomas de COVID-19 impôs a necessidade de mudanças no contexto da instituição. Uma comissão foi criada para determinar um roteiro de ações que direcionariam os cuidados com esses pacientes, ao mesmo tempo que se pensava como os profissionais da instituição poderiam tomar os cuidados necessários com sua própria saúde. As reuniões e transmissão de informações aos profissionais eram constantes e se modificavam com bastante rapidez, à medida que os profissionais iam conhecendo melhor o funcionamento de contágio e tratamento. As mudanças aconteciam no tom da urgência e do desconhecimento, as incertezas e dúvidas traziam também angústias que causavam respostas singulares nos profissionais. Assim, o roteiro de ações foi funcionando como uma referência norteadora frente a tamanho desamparo. Desamparo de todos, desamparo da humanidade, frente a um vírus desconhecido que escancara nossa condição humana, uma condição que inclui a impotência e incompletude.
Um ambiente separado foi rapidamente preparado para receber aqueles que chegavam com os sintomas de gripe e que poderiam estar associados à presença da doença. Gripário foi o nome atribuído a tal ambiente, assim como covidário, onde eram isolados os doentes suspeitos e confirmados. Tais significantes pareciam poder dar conta, inicialmente, da angústia provocada pela proximidade de um novo vírus que tinha efeitos ainda desconhecidos e muito assustadores sobre o corpo humano. Talvez assim se tivesse o suposto controle de isolar aquilo que era desconhecido. Foi uma ação importante.
Ao chegarem nesse ambiente, constatados os sintomas indícios ou um quadro de COVID-19, os pacientes com maior risco eram internados. A partir daí, o doente ficava internado e a família voltava pra casa. Dura separação, cheia de incertezas e regada de angústia. A morte rondava, escancarada.
Os profissionais da equipe médica, assim como o corpo diretivo-médico da instituição, ao perceber a dor dessa ruptura, foram planejando as ações que poderiam, além de cuidar do paciente internado com as medidas necessárias e possíveis, oferecer às famílias, à distância, os boletins médicos e orientações. E assim chega ao ambulatório de psicologia a demanda de escuta às angústias daqueles que acompanham de longe seus familiares doentes. No acompanhamento das famílias, que ficam em casa, longe dos seus, a dor e o sofrimento são pulsantes.
Moretto[1] sugere, nas suas articulações teóricos-clínicas, a partir de sua prática em instituição hospitalar, que as demandas que chegam ao psicólogo/analista, nesta instituição, através da equipe médica, são demandas que estariam na ordem da impossibilidade de ser obturadas pelo saber médico, uma vez que o discurso da medicina pressupõe um saber sobre o que se passa no corpo do sujeito, sobre a vida e a morte e, assim, através de seus sintomas físicos, podem nomear aquele mal-estar de que o sujeito sofre. No entanto, o que diz respeito à subjetividade e “escapa” a esse saber, denuncia os limites do alcance desse discurso, uma vez que para a medicina operar é necessário que exista um recalque sobre o que é da ordem do subjetivo. E é quando dessa impossibilidade de explicar de que o sujeito sofre que se articula uma demanda na forma de encaminhamento ao analista.
E no contexto de uma pandemia declarada pela Organização Mundial de Saúde, em que os efeitos de um vírus desconhecido eram anunciados através de crescente número de mortes ao redor do mundo, todos os dias, pelas mídias e redes de comunicação, muito nos escapou. A todos. Até a comunidade científica, os médicos, profissionais da saúde, supostos sabedores sobre a saúde e a doença, foram pegos de surpresa por algo desconhecido, trazendo à tona uma temática que o ser humano tenta o tempo todo evitar, a morte. Instaurou-se, assim, as condições de uma experiência traumática, nos remetendo às construções de Freud[2] em sua obra Além do princípio do prazer, quando desenvolve melhor a noção de trauma, incluindo outras características nesse conceito, a saber, a vivência de grande intensidade/ ruptura pelo aparelho mental sem uma hipercatexia que o prepare para viver uma experiência tão intensa e a noção de surpresa que também o assalta. As reformulações que Freud faz em sua teoria, nesse momento da obra, que propõe a segunda tópica do aparelho psíquico, incluem a reflexão sobre o conceito do trauma, após a experiência da I Guerra Mundial, que impôs a necessidade de discutir as neuroses de guerra e suas vivências que não se distanciam da atividade pulsional e fazem questionar o conceito do princípio do prazer. E assim, a ideia de trauma vai permitindo compreender que algumas experiências podem se caracterizar como traumáticas na medida em que reativam fantasias que remetem uma vivência traumática anterior, articuladas à vida pulsional e à história pessoal de cada um.
Dessa forma, como cada sujeito pode reagir a essa situação traumática que vivemos é muito singular. Um estranho invisível que vem escancarar nossa condição humana, uma condição que não nos dá a garantia suposta de completude, de onipotência enquanto espécie. Um estranho invisível que carrega consigo um excesso, excesso daquilo que não podemos representar, excesso daquilo que nos escapa, como o irrepresentável da morte.
De qualquer maneira, essa situação que se colocou como uma crise mundial em muitos aspectos exigiu e ainda exige de cada um muito trabalho psíquico. Trabalho psíquico para aqueles que se propuseram a renunciar muito para cuidar do outro; trabalho psíquico também para aqueles que se viram impossibilitados de fazer renúncias em alguma medida, mas de qualquer forma, a humanidade se viu diante da necessidade de elaborar muitas perdas.
Freud, em Luto e melancolia, a respeito do trabalho de luto, nos sugere:
O teste de realidade revelou que o objeto amado não existe mais, passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto. Essa exigência provoca a oposição compreensível – é fato notório que as pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal, nem mesmo, na realidade, quando um substituto já lhes acena… Normalmente prevalece o respeito à realidade ainda que suas ordens não possam ser obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, com grande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-se psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido.[3]
Ou seja, mesmo que o objeto desapareça, ainda é preciso efetuar um trabalho psíquico dessa perda, onde o eu precisa se desligar pulsionalmente do objeto, renunciando a ele e transformando-se à medida que se vai identificando com algo desse objeto perdido. É nessa obra que Freud também faz uma diferenciação entre o luto e a melancolia. Neste último quadro clínico, o sujeito se identifica com o objeto de forma mais maciça e o eu é tomado em crítica severa e cruel, em lugar desse objeto, e há uma força destrutiva, que mais tarde será articulada à pulsão de morte e ao supereu.
Aqui, faço uma breve interrupção na teoria para um recorte de um acontecimento que fez parte de um trabalho de escuta com as famílias.
Determinado dia, encerrados todos os compromissos, quase indo embora da instituição, recebo um telefonema. A filha de um paciente internado em situação muito grave, do qual a família recebia uma escuta, está do outro lado da linha. Chorando, me diz que acabara de receber notícias do pai: o médico lhe disse que está muito grave e pode vir a falecer em breve. Chorando, me diz que a família estava decidida a vê-lo pela última vez, porque depois da morte, já anunciada, não sabia o que aconteceria ao corpo dele. Pede, então, que eu transmita aos médicos o desejo por uma ligação de vídeo para que a família toda se despeça.
No telefone com a enfermeira, explico o que se passou, transmito o desejo da família. “Mas, ele está intubado, já sem consciência, em processo de morte!”. Digo que a família sabe que ele está morrendo e quer se despedir. Ela diz que vai organizar essa possibilidade com a equipe.
No dia seguinte, fico sabendo que a equipe se mobilizou e fez a ligação de vídeo, com a família toda presente do outro lado da tela. Muito emocionados, se despediram do paciente. Dez minutos depois, ele faleceu. E a família agradeceu a toda à equipe, mais confortada, porque pôde fazer daquele momento, através da pequena tela do celular, um ritual de despedida do pai, do marido, do avô, tio, de todas as figuras que ele pudesse representar a cada um.
Tomada pela urgência da situação, o ato do analista se impôs à possibilidade do pensar e, em seguida ao acontecimento, um pensamento me convoca: como poderia caracterizar a transmissão desse pedido da família à equipe em termos da técnica analítica e suas articulações com a teoria? Algo que está para além do setting analítico?
Lacan, segundo Moretto[4], em sua produção teórica, questiona o sentido das normas rígidas da composição em um setting analítico porque uma análise pode acontecer onde há inconsciente e essa instância não está nem dentro, nem fora, está aí onde o sujeito fala e seu discurso pode acontecer onde houver a possibilidade de demanda por um saber sobre si, estabelecimento de associação livre. E graças a essas condições, a Psicanálise pôde ser lançada a outros campos para além dos consultórios: nos hospitais, nas ruas, espaços públicos e virtuais.
Triska[5], ao discutir a elasticidade da técnica analítica, imprimindo uma ótica lacaniana à proposta realizada por Ferenczi em sua obra sobre a elasticidade da técnica, vai pensando em como é escassa a bibliografia sobre a técnica a partir da própria experiência dos analistas. Ele retoma Fédida, que, por sua vez, sustenta a ideia da impossibilidade de uniformizar a técnica devido à singularidade dos analistas, mas propõe que, na prática clínica, nos sustentemos nas bases metapsicológicas estabelecidas com rigor. O autor entende que não há uma proposta técnica que seja última, inteira e ideal, pois novas descobertas teóricas podem trazer consigo novas possibilidades técnicas e essa abertura tem relação com o que Ferenczi chama de elasticidade.
Ainda segundo Triska[6], Lacan considerou Ferenczi como o mais autêntico interrogador da responsabilidade do analista e, discutindo sua obra sobre elasticidade da técnica, extrai uma indicação sobre o que o analista deve vencer em sua análise: não dar livre curso ao seu narcisismo, que a pessoa do analista não se confunda com o lugar do analista e, enquanto analista, seu desejo pode orientar a ética da psicanálise. Lacan, buscando resgatar o sentido da experiência analítica, foi um grande questionador dos formatos que pudessem favorecer um enrijecimento da técnica ou um empobrecimento das práticas pela cristalização dos conceitos freudianos. Ele considera que esse autor nos sugere que é preferível avaliar uma intervenção pelos seus efeitos do que somente pela sua correspondência à teoria, o que permite uma constante renovação da técnica e atualização do próprio arcabouço teórico. Essa abertura não desconsidera que há princípios norteadores do tratamento analítico, diretrizes que vão fundamentar a situação analítica.
Aqui, abro espaço para mais uma experiência no trabalho com as famílias dos pacientes com COVID-19, na instituição.
Em outra situação, recebo o telefonema do filho de um paciente internado, que a família estava acompanhando. Ele diz que sua avó e tia, mãe e irmã do paciente estão a caminho do hospital para falar com a equipe médica, poder encontrar o paciente e contar-lhe que seu pai havia falecido pelas intercorrências da COVID, em outro hospital. Achavam importante contar, pois ele estava perguntando sobre o pai havia vários dias, pois sabia que ele estava também internado. Transmite a preocupação delas de que o profissional da Psicologia possa estar junto no momento da transmissão da notícia, não sabiam como poderia reagir, justificou e pergunta se eu poderia estar lá. Vou até a enfermaria e encontro as familiares, juntas falamos com o médico que, com o auxílio da enfermagem, traria o paciente até a entrada da enfermaria. Enquanto esperávamos a vinda do paciente, ambas resgataram em minha presença e do médico tudo o que se passou desde o início dos sintomas e, como num fio de Ariadne, puderam revisitar os acontecimentos que surpreenderam a família até a morte de um de seus membros. O paciente chega até a entrada da enfermaria. A família se emociona com o encontro e a mãe vai respondendo as perguntas do filho cuidadosamente até que consegue contar-lhe que seu marido, pai do paciente, havia falecido. Eles se emocionam, choram, falam um pouco sobre o que se passou, ele que saber sobre o velamento e enterro do pai, ela conta sobre como foi e sobre o cuidado e carinho recebido dos amigos e familiares, diz que precisam reorganizar a vida agora e que ele é parte importante desse processo. Ele responde que está quase recuperado e que logo irá para casa, o que o médico confirma e cada um retoma a sua rotina. A transmissão da notícia acontece na presença da equipe de profissionais, familiares e paciente. A mãe convoca esse filho à vida, vida que segue e que poderá propiciar novos investimentos libidinais.
Moretto[7] refere que nos casos onde o risco de morte é iminente, a demanda não é propriamente de análise, mas de apaziguamento da angústia de morte. Considerando que a angústia advém da falta de significantes, se houver uma demanda a ser escutada sobre a morte, ela precisa ser falada.
No trabalho com as famílias, no contexto da Pandemia, na instituição, houve muita angústia; a ideia de que tudo era desconhecido, inclusive para o saber médico, remeteria ao desamparo. O roteiro de ações planejadas pela direção médica da instituição foi ação importante para usar estratégias possíveis e fazer o que se sabia: cuidar daquilo que era familiar — os sintomas clínicos, isolar e modificar o fluxo de atendimento para diminuir as possibilidades de transmissão e contágio, buscar informações sobre as experiências vividas anteriormente nos outros países, reuniões semanais, entre outros. Separar os doentes de suas famílias consistiu numa dessas estratégias. As mudanças, e não só no contexto do hospital, exigiram rearranjos diversos no sentido do cuidado consigo e com o outro. Assim, no trabalho com essas famílias, considero que qualquer ato de escuta da dor dos familiares e também de seus membros doentes, assim como qualquer ação que pudesse propiciar o acontecimento do processo de luto é uma intervenção de cuidado.
Vivemos um momento de muitas mudanças e perdas, concretas e simbólicas. Um momento em que as políticas-públicas, além de não atuar de forma uníssona no combate ao vírus e seus efeitos, parecem não reconhecer e dar lugar à dor da experiência das perdas vividas. O que, então, nesse contexto de pandemia, poderia ajudar o sujeito no seu trabalho de luto, no campo do singular e também, no campo do laço simbólico?
E então, retomo a questão à que tinha sido, pelos meus pensamentos, convocada. Os atos, para além do setting analítico, decididos nas urgências dos pedidos familiares.
A fala dita pela filha de um dos pacientes “depois que meu pai morrer, não sei o que vai ser do corpo dele”, faz pensar na questão dos rituais fúnebres e na sua importância para o homem diante da morte.
Segundo Souza e Souza[8], há registros arqueológicos sobre a prática de rituais fúnebres desde a pré-história, o que sugere que a emergência de consciência coincide com a preocupação com a finitude.
Ainda segundo as autoras, compreender a importância desses rituais traz a possibilidade de compreender as manifestações humanas diante da morte e revela como uma sociedade se organiza diante de mudanças implicadas nesse acontecimento e como simboliza esse momento. Dar espaço ao ritual fúnebre é tratar o sofrimento psíquico do sujeito que está inserido no laço, uma vez que ele faz a marca de um momento que reconhece uma perda, ajudando na sua elaboração e das mudanças que ela inscreve. Dispensar um cuidado ao corpo do morto é dar valor e lugar à sua subjetividade e à sua representação, é humanizá-lo. Além de reconhecer a importância daquele que foi perdido.
O reconhecimento da experiência da perda pode propiciar os caminhos do trabalho na elaboração do luto. Assim, penso que os atos decididos na urgência das demandas familiares foram efeito da escuta da angústia diante da morte, na possibilidade de instaurar um lugar de fala, fala da dor diante da perda, possibilitando a realização de rituais possíveis para que essas famílias pudessem se despedir dos seus membros, demarcar um estado de enlutamento e, especialmente, reconhecer a importância da perda. A importância desse reconhecimento parece ganhar força nesses rituais possíveis, em um país que vive um momento onde não se tem tal reconhecimento por parte de seus governantes, que não reconhecem a dor e a intensidade de tudo que se vive em uma pandemia.
Os familiares, os que se interessaram em continuar recebendo essa escuta seguiram em atendimento. A esposa do primeiro paciente citado pôde dizer o quanto foi importante para ela vê-lo, através do vídeo, em uma condição de muito sofrimento para poder entender que essa separação, na morte, era o melhor destino para ele naquela situação. E só assim, ela conseguiu “deixa-lo” ir, se despedindo em palavras junto com sua família. Ela tem encontrado na fala sobre sua experiência de perda e o que ela desnuda, durante os atendimentos que ainda mantem, a possibilidade de elaborar seu luto.
Penso que, na instituição, onde o que está colocado em cena é o discurso médico para cuidado e tratamento do corpo, a possibilidade de o analista abrir espaço para que a subjetividade não seja mais uma vez recalcada, faz emergir a singularidade do sujeito, que está incluído no laço, em uma rede simbólica, familiar e em uma narrativa histórica, o que pode ganhar potência no contexto de uma pandemia.
Lembro-me da cena do momento em que a mãe vai contar ao filho sobre a morte do pai. Todos nós profissionais e familiares ali, juntos na transmissão da notícia, vivendo um momento único e em comum. Penso na importância da escuta das familiares antes da notícia da morte. Penso na escuta da equipe que, atentamente e em silêncio, abre espaço para a dor dessa família. Fico pensando em como cada um de nós sai dessa experiência, ao retomar suas rotinas, fico pensando se todos ali não viveram em alguma medida, na identificação com um aspecto comum a toda a humanidade, parte da elaboração de seus lutos mediante as perdas que todos vivemos diante do cenário de uma pandemia.
Como reflexão final deste trabalho, considero que nos interrogarmos sobre a técnica psicanalítica não é algo particularmente novo, mas este exercício pode contribuir sempre para reposicionar e arejar antigas questões da clínica cotidiana, especialmente em novos cenários como foi e tem sido o dessa pandemia. ♦
REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund (1917). “Luto e melancolia”. In: Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. J. Salomão trad.. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1972, vol.14, pp. 271-292.
FREUD, Sigmund (1930 [1929]). “Mal estar na civilização”. In: Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas completas. J. Salomão trad. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol.21, pp. 81-171.
MORETTO, Maria Livia Tourinho (2001). O que pode um analista no hospital? São Paulo: Casa do Psicólogo.
TRISKA, Vitor Hugo (nov. 2009 a Abril 2010). “O que é a elasticidade da técnica psicanalítica?” Revista aSephallus de orientação lacaniana On Line, 9(5). Recuperado em 11 de setembro, 2020. Disponível em: <www.isepol.com>
SOUZA, Christiane Pantoja de & SOUZA, Airle Miranda de (2019). “Rituais Fúnebres no Processo do Luto: Significados e Funções”. Psicologia: Teoria e Pesquisa On Line, 35, Epub July 04, 2019. Recuperado em 24 de setembro, 2020. Disponível em <http://doi.org/10.1590/0102.3772e35412>.
* Luciana P. Venturini Gutierres Graduada em psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP. Mestre em Psicologia pela mesma Universidade. Psicanalista. Atuando em clínica particular e no contexto de hospital público desde 1996. E-mail: lvgutierres@gmail.com
[1] MORETTO, Maria Livia Tourinho (2001). O que pode um analista no hospital ? São Paulo: Casa do Psicólogo.
[2] FREUD, Sigmund (1930 [1929]). “Mal estar na civilização”. In: Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas completas. J. Salomão trad. Rio de Janeiro: Imago, 1974, vol.21, pp. 81-171.
[3] FREUD, Sigmund (1917). “Luto e melancolia”. In: Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. J. Salomão trad.. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1972, vol.14, pp. 276-277.
[4] MORETTO, Maria Livia Tourinho (2001). O que pode um analista no hospital ? São Paulo: Casa do Psicólogo.
[5] TRISKA, Vitor Hugo (nov. 2009 a Abril 2010). “O que é a elasticidade da técnica psicanalítica?” Revista aSephallus de orientação lacaniana On Line, 9(5). Recuperado em 11 de setembro, 2020.
[6] TRISKA, Vitor Hugo (nov. 2009 a Abril 2010). “O que é a elasticidade da técnica psicanalítica?” Revista aSephallus de orientação lacaniana On Line, 9(5). Recuperado em 11 de setembro, 2020.
[7] MORETTO, Maria Livia Tourinho (2001). O que pode um analista no hospital ? São Paulo: Casa do Psicólogo.
[8] SOUZA, Christiane Pantoja de, & SOUZA, Airle Miranda de. (2019). “Rituais Fúnebres no Processo do Luto: Significados e Funções”. Psicologia: Teoria e Pesquisa On Line, 35, Epub July 04, 2019. Recuperado em 24 de setembro, 2020.
COMO CITAR ESTE ARTIGO | GUTIERRES, Luciana P. Venturini (2021) Interrogações sobre a técnica psicanalítica em tempos de pandemia: rituais possíveis no trabalho de luto. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -11, p. 11, 2021. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/07/07/n-11-11/>.