Editorial

Entre a assombração e a elaboração de um passado há cortes. Pois não se trata de uma diferença na altura da estrada da temporalidade, supostamente progressiva e ascendente. A assombração é já uma elaboração e não há atravessamento do traumático que não nos faça mais assombráveis pelos horrores do quotidiano. Mesmo que acordes duma canção sofrida em fade-out soem mais como burburinhos de um amanhã, fazendo crer na essência necessária da claridade, a saída do assombro passa pela chegada da ciência da extensão da destruição. Afinal, a diferença das lidas com o passado também são diferenças de sujeição: entre ser assombradx e elaborar, sofrer o corte e cortar. Assim, a aurora não basta para acordar e laborar: assenhorar-se das ruínas e valer-se delas para uma reconstrução que varra a sanha do assombro é trabalho. Que venha, mas que seja coletivo, gaio e ladino.