Psicanálise na Praça Roosevelt: formulações sobre uma experiência

por Adriana Marino & Augusto Coaracy

Introdução

Já foram repetidas inúmeras vezes as palavras de Lacan[1] a respeito da importância do analista “alcançar em seu horizonte” e que “conheça a espiral a que o arrasta”, na subjetividade de sua época[2]. Certamente, a orientação ética, as táticas e o dispositivo clínico do coletivo da Psicanálise na Praça Roosevelt, bem como das diversas iniciativas de psicanálise em espaços públicos que comparecem no Brasil, estão tomadas por esse esforço.

A Psicanálise na Praça Roosevelt teve sua origem a partir das experiências da Clínica Pública de Psicanálise na Vila Itororó e da Clínica Aberta de Psicanálise na Casa do Povo, desenvolvidas por Daniel Guimarães, Tales Ab’Sáber e outros(as) analistas. Posteriormente, visando ampliar o projeto da Clínica Aberta, Tales convidou Aldo Zaiden para articular um novo grupo. Após algumas reuniões, em maio de 2017, um grupo de psicanalistas decidiu pela Praça Roosevelt como um território para uma nova empreitada.

Essa praça é um lugar representativo das tendências atuais de cerceamento dos espaços públicos na cidade de São Paulo: alvo de projetos que aventam seu fechamento por meio de grades e, inclusive, do suposto controle exercido pela figura de uma “síndica”. Ocupar esse espaço, portanto, inscreveu-se como tática de resistência frente aos discursos reacionários e privatistas que assolam o país. Assim como outras experiências de psicanálise em espaços públicos, a clínica na praça encontra-se comprometida em combater processos que geram segregação social, seja no acesso a uma experiência psicanalítica e sua extensão, seja na escuta do sofrimento atravessado por questões socioculturais e políticas.

No entanto, cumpre ressaltar que certo engajamento político pode configurar, na prática clínica, uma falaciosa imaginarização ou, mais precisamente, a canalhice de um “Outro do Outro”[3], ou seja, caso se preste a ser uma espécie de metalinguagem desta clínica – o que configuraria uma imparidade psicanalítica. Nos termos de Lacan: “Toda canalhice repousa nisto, em querer ser o Outro – refiro-me ao grande Outro – de alguém, ali onde se delineiam as figuras em que seu desejo será captado.”[4]. O cuidado aqui é sobre a possível crítica de um trabalho clínico atravessado pelo engajamento político deste coletivo. Algo como: “Sua salvação está na nossa clínica da praça” – não sendo fortuito Lacan se referir ao risco da esquerda incorrer na “canalhada coletiva”, isto é, às voltas com os mesmos interesses confessos pela direita[5].

O comprometimento político, portanto, não deve se prestar a “formar militantes” ou “esclarecer consciências”, por implicar em sentidos prévios e determinantes, ou seja, por trazer consigo uma forma de “visão de mundo”[6]. Isso seria outra forma de dominação, incorrendo naquilo que uma experiência psicanalítica justamente pretende combater, isto é, a sugestão. Nesse sentido, esclarece Freud, é preciso atentar ao risco de “transformar” o sujeito em uma “propriedade” do analista, isto é, “a conformar seu destino, impor-lhe nossos ideais”[7]. Não obstante o risco, é possível encontrar um coletivo de psicanalistas na praça, atentos ao seu tempo e advertidos dos possíveis impasses que o referido engajamento de uma psicanálise nos espaços públicos pode ensejar.

Assim, na manhã do primeiro de julho de 2017, um grupo encontrava-se na Praça Roosevelt, com suas cadeiras de praia, para oferecer escuta psicanalítica. Após um ano de intenso trabalho em que, além dos atendimentos sempre realizados aos sábados, conta também com encontros de intervisão e estudos ao longo da semana, o coletivo decidiu pela mudança do nome: de Clínica Aberta de Psicanálise na Praça Roosevelt para Psicanálise na Praça Roosevelt. A mudança deu-se em função de um acúmulo de experiências, em que o coletivo pôde reconhecer elementos que se encontram atrelados à sua história – portanto, caracterizam um processo de “refundação” – assim como elementos que lhe conferem uma heterogeneidade –, isto é, diferenças que marcam uma “fundação”.

Neste trabalho, apresentaremos as questões que culminaram com a mudança do nome da clínica. Abordaremos os impasses teórico-clínicos, especialmente as questões em torno da rotatividade de analistas, a hipótese dessa circulação produzir uma contínua histerização discursiva e elementos para pensar a transferência no dispositivo.

Impasses no dispositivo

A proposta inicial da rotatividade de analistas, oriunda da Clínica Aberta na Casa do Povo, não se encontra como pré-condição para o trabalho psicanalítico na Praça Roosevelt. Tal constatação foi extraída da própria experiência com esse dispositivo rotativo: desde situações em que havia a escolha deliberada por um(a) analista, passando pelo reconhecimento do estabelecimento de um vínculo transferencial específico, até a ausência de um consenso dos(as) analistas do coletivo em relação à sua fundamentação teórico-clínica. Isso quer dizer que, apesar dos efeitos terapêuticos recolhidos com a rotatividade, ela produz impasses epistemológicos significativos. Trata-se de uma questão para o coletivo e, por alguns motivos, conforme abordaremos.

Primeiramente, há o argumento da sustentabilidade do projeto. A rotatividade permite que analistas disponham de seu desejo para estar no espaço-tempo dedicado ao trabalho, contribuindo para que o projeto não enverede pela filantropia ou caridade – o que é salutar no contexto de um tratamento psicanalítico sem a precondição do dinheiro. Contudo, esse mesmo argumento revela um avesso no qual a disposição apresentada pelo desejo de cada analista pode encontrar-se atravessada pela conveniência. Em outros termos, o argumento pode embrenhar-se em uma sustentabilidade burguesa, no melhor estilo “Partido Verde”, na qual o autointeresse utilitário encontra-se em voga. Nesse sentido, considerando a orientação política que atravessa o desejo comum por este trabalho, a problemática é sobre a quem pode servir a rotatividade: aos analistas ou aos sujeitos atendidos na praça?

Soma-se a isso o problema do caráter “experimental” da rotatividade. Por um lado, valoriza-se a rotatividade enquanto se faz valer a experiência soberana da clínica e recolhem-se seus efeitos terapêuticos. Por exemplo: a potência contida na partilha de casos, o que contribui para a formação psicanalítica e, dialeticamente, traduz-se como orientação clínica desejável a partir da ética que nos orienta. A verificação dessas potências terapêuticas encontra respaldo inclusive, muitas vezes, nas experiências que alguns(mas) analistas do coletivo têm na saúde coletiva. Também podemos falar do aproveitamento singular, para um sujeito, da diversidade de estilos e diferentes manejos nos atendimentos. E, quiçá, os efeitos singulares de uma vivência do inconsciente em uma não concentração da transferência, o que pode ser interessante tendo em vista para o que aponta uma experiência de análise.

Por outro lado, o “caráter experimental” pode remeter a um modelo de ciência no qual a pessoa atendida encontra-se como objeto, e não como sujeito de sua experiência de análise. Importante ressaltar, portanto, nossa diferenciação em relação ao uso dessa noção de experimentação no dispositivo. Estamos, sim, em favor da soberania da experiência clínica, sem, contudo, pensar estar com a rotatividade realizando um “experimento”.

Em um passo além, apreendemos que a rotatividade traz impasses teórico-clínicos importantes em uma orientação psicanalítica atravessada pela teoria lacaniana. O referido dispositivo, como articulado por Tales[8], encontra seus fundamentos epistemológicos em autores que pensam essa transferência diferentemente, considerando uma transposição do trabalho terapêutico com grupos, onde se analisa o inconsciente que emerge dessa experiência grupal, para o fenômeno de um inconsciente que emerge do grupo de analistas. Em outra acepção, a partir de um referencial lacaniano, sabemos que uma experiência de análise não prescinde de uma articulação entre a escolha de um sujeito por um(a) analista e a decisão de um(a) analista em sustentar o desejo de empreender uma análise com aquele sujeito.

Ainda sobre os impasses em torno da rotatividade, há questões que dizem respeito à condução dos casos. Como pensar a direção dos tratamentos realizados, considerando a simples impossibilidade de partilhamento e discussão de todos os casos atendidos por cada analista? Constatada essa impossibilidade, a experiência de uma psicanálise na praça redundaria em um plantão psicológico[9], isto é, em uma experiência que se orienta pela inviabilidade de um contínuo trabalho clínico? Nesse sentido, é importante ressaltar que, nas reuniões semanais do coletivo, há um trabalho cioso de partilhamento e discussão de casos, significativo em termos da formação analítica e para o reconhecimento dos efeitos terapêuticos com o dispositivo. Na hipótese de haver uma diferença entre uma psicanálise realizada na praça e outra em consultório, em função das condições trazidas pela rotatividade, seria o caso de compor uma agenda para cada analista, a fim de que haja um contínuo trabalho clínico?

Vale ressaltar também, conforme se pode depreender, que a circulação não é, necessariamente, um aspecto considerado original para uma clínica aberta, pública e supostamente gratuita. Isso porque, mesmo na clínica de consultório considerada “tradicional”, “privada” e “paga”, a possibilidade de ser atendido por diferentes analistas, que não aquele(a) de uma primeira sessão, encontra-se aberta como possibilidade e, inclusive, como contingencialmente interessante. Afinal, é possível fazer inúmeras primeiras sessões com diferentes analistas em seus respectivos espaços.

Contudo, a disposição de uma gama de analistas na praça pode trazer consigo um ensejo para o fomento de resistência ao trabalho analítico. Desse modo, quando da emergência de certos conteúdos, um sujeito poderá recorrer a outro(a) analista que não aquele(a) na próxima sessão, a fim de arrefecer a possibilidade de uma implicação subjetiva oriunda da emergência daqueles conteúdos. No entanto, como evitar esse disparate, da hipótese de fomentar as resistências do sujeito, quando isso já se encontra como possível, necessário ou contingente, mesmo no consultório privado e na ausência de uma suposta gama de analistas à disposição?

Sobre essa querela, é importante retomarmos o que Freud constatou sobre a transferência comparecer “na psicanálise como resistência” [10]. Soma-se a isso, como extraiu de sua clínica, a resistência do sujeito neurótico a certos conteúdos inconscientes, como efeito inerente ao mecanismo do recalque. Aliás, trata-se de um aspecto que Lacan[11] posteriormente chamou atenção ao dizer que a resistência era do(a) analista frente à transferência do(a) analisante. No entanto, nos termos de Jorge[12], um trabalho analítico envereda por processos de desrecalcamento oriundos da resistência do sujeito que não condizem, necessariamente, com a resistência do(a) analista, isto é, aquela oriunda do uso inadvertido de seu poder, como no emprego da sugestão[13]. Tais desenvolvimentos teóricos não respondem de todo ao questionamento, mas podem contribuir para avançarmos em alguns impasses atinentes à circulação.

Soma-se aos problemas apresentados, uma questão concernente ao sigilo. Para além das experiências de atendimentos compartilhados presente em práticas da saúde coletiva, encontra-se um cuidado não apenas entre os(as) analistas que compõem o coletivo, mas, especialmente, com aqueles(as) que não atendem na praça. Desse modo, é importante reconhecer uma diferença entre “transferência de trabalho” e “transferência com o trabalho”, isto é, entre analistas que atendem e se dedicam ao projeto, aqueles(as) que não atendem, mas têm uma relação com o trabalho realizado, pelas mais diversas motivações, e aqueles(as) que atendem, mas encontram-se distantes do trabalho coletivo. Isso não constitui uma diferença em termos de grau, percurso de formação ou consensualidade transferencial no coletivo. Ao contrário, diz respeito a diferenças de função, que revelam um processo às voltas com a singularidade de cada um(a), comparecendo no cerne daquilo que pode ser particular para o coletivo.

Frequentemente, escutamos dos sujeitos atendidos que os(as) analistas “provavelmente” compartilham os casos atendidos, o que pode fomentar ideias persecutórias ou, a depender da diagnóstica e dos manejos, tocar selvagemente em sintomas e fantasias. Assim como é comum escutarmos algo sobre um desconforto em relatar “novamente” o que já teria sido trazido para outro(a) analista ou, diferentemente, de um sujeito considerar que se trata do(a) mesmo(a) analista. Em função da ética que nos orienta, o coletivo encontra-se advertido dessas questões, fazendo trabalhar seus impasses no interior dessa experiência e com cada sujeito atendido.

Enfim, há analistas do coletivo que se identificam e sustentam a circulação, outros(as) que se encontram reticentes e, ainda, há aqueles(as) que se posicionam contrariamente a essa prática. Há casos em que se localizam efeitos terapêuticos positivos e outros nos quais se considera, inclusive, iatrogênico ou imprudente uma circulação de analistas. Não há consenso sobre a rotatividade e por isso o coletivo, a partir da valorização do um(a) a um(a), dispõe-se a essa experiência, buscando sustentar e também refutá-la a partir de diferentes referenciais teórico-clínicos.

Outro impasse importante para o coletivo diz respeito à sua inserção no território. Afinal, oferecer um atendimento aberto, público e supostamente gratuito pode, efetivamente, favorecer algo como uma “democratização” da psicanálise? No interior desse debate, insere-se a questão sobre o que seria essa democratização, pois estaríamos, neste caso, a suprir as lacunas do Estado, em que os direitos sociais são escassos ou se encontram em iminência de extinção? Como pensamos, sob esta hipótese, estaríamos realizando uma filantropia. E, nesse sentido, adverte-nos Lacan:

Meu egoísmo se satisfaz extremamente bem com um certo altruísmo, como aquele que se situa no nível do útil, e é precisamente o pretexto por meio do qual evito abordar o problema do mal que desejo, e que deseja o meu próximo. É assim que levo minha vida manejando meu tempo, numa zona de dólar, rublo, ou outra, a partir do tempo do meu próximo, onde mantenho todos igualmente, esses próximos, no nível do pouco de realidade de minha existência. Não é espantoso que nessas condições todo mundo esteja mal, que haja mal-estar na civilização.[14]

A maioria das pessoas que frequentam a clínica é oriunda da classe média pauperizada, vindos das proximidades, mas também de diferentes locais da cidade ou das cidades próximas a São Paulo. Desse modo, é o caso de reconhecer ser preciso “mexer as cadeiras” dos(as) analistas, de modo que “ocupar” aquele território não redunde na sua “colonização”. Reconhecemos, portanto, certo distanciamento do dispositivo analítico da população de rua, que mora na praça e no seu entorno. Assim, em que medida as cadeiras de praia, um caderno e a própria oferta de um “atendimento psicanalítico” podem produzir afastamento, inibição ou mesmo reproduzir processos de segregação? Ocupar o território da praça exige que se conte essa dupla sutileza-dureza.

No entanto, como ocupar a praça e estar com sua população, sem recorrer a uma espécie de “busca ativa”? Além disso, como ressaltou Parker, o discurso psicanalítico na cultura faz com que se sofra à la psicanálise: “Falamos psicanaliticamente quando não percebemos que o fazemos, e tal discurso psicanalítico nos faz ser quem somos.”[15]. Desse modo, a praça nos ensina não apenas os limites de uma psicanálise, como também suas limitações. Ocasionalmente, talvez seja importante considerar como sendo preciso se despir, inclusive, da psicanálise. Isso também diz da radicalidade contida na constatação de que o(a) analista paga com seu ser[16].

A praça é ensejo para pensarmos uma potência em termos de território, com seus normóticos, skatistas, alcoolizados, artistas, moradores da praça e da rua e trabalhadores. Em diversas linhas que se cruzam, sustentamos uma aposta clínica imiscuída no desejo em comum por este projeto, de que algo da ordem do público se inscreva nos dizeres que lá comparecem. Nesse sentido, como refere Oury[17], há uma aproximação possível da noção de ambiente com a noção lacaniana de semblante.

O autor lembra que o semblante é o agente de um discurso: a agência que permitirá a emergência de uma verdade que não pode ser dita por inteiro, mas que se articula num dizer. O que se opera nessa aproximação de semblante com o ambiente da praça é, portanto, um elemento que pode fomentar a produção de significantes como um arranque, uma partida para um trabalho do inconsciente.

Um ponto que as iniciativas atuais de psicanálise em espaços públicos têm em comum é a descentralização do dinheiro como pré-condição para o encontro clínico. Com isso, não se pretende subverter o cânone psicanalítico e todo o desenvolvimento teórico que há a respeito do dinheiro como um operador clínico. Não obstante, em consonância à “espiral que nos arrasta” em nossa época, descentralizar o dinheiro como precondição traduz um posicionamento e uma aposta clínica em tempos de hegemonia neoliberal e de uma franca segregação em nome deste equivalente geral. Afinal, e de forma bem simples, tirar de antemão a lógica do pagamento como hegemônica permite um acesso ao encontro clínico a populações que simplesmente não teriam essa possibilidade.

Que fique claro: não falamos de gratuidade. Cada um(a) teve que pagar algum preço para chegar até a praça: do transporte à alimentação ou mesmo o tempo de descanso no sábado de manhã. Nem tampouco que estejamos consistindo uma espécie de “horror” ao dinheiro ou a sua proibição – o que consistiria, pelo avesso, um eloquente sintoma deste coletivo. Não se trata de desconsiderar a importância do dinheiro como operador clínico, mas uma aposta em outras formas de articulação de desejo e gozo para cada sujeito, na medida em que se encontram articulados na economia psíquica. Afinal, a clínica psicanalítica orienta-se em transformações nos modos de gozo do sujeito do desejo[18]. O dinheiro presta-se a essa articulação, permite “amoedar” a libido e faz cifrar o gozo para mobilizar o desejo[19]. Portanto, não se trata de filantropia, doação ou caridade: posturas que trazem efeitos de dominação, contrários à ética psicanalítica.

Histerização contínua

Neste momento, faremos uma incursão sobre uma hipótese acerca da rotatividade de analistas, a saber, de que esta circulação produziria uma contínua histerização. Apesar de sabermos que fazer o desejo circular na polis tem relação com o desejo do(a) analista, a hipótese suscita uma espécie de “fazer desejar” contínuo. Desse modo, e a partir dessa hipótese, os atendimentos na praça colocariam possivelmente em xeque a condução dos tratamentos realizados, no sentido da direção de uma análise.

Por um lado, oferecer uma escuta psicanalítica na praça seria um convite para o desejo circular na polis. Por outro, a rotatividade ensejaria um contínuo “fazer desejar”, conforme o discurso histérico formalizado por Lacan[20] (1969-1970/1992). Esta hipótese, como apreendemos, assenta-se em uma associação entre dois significantes, a saber, “circulação” de analistas e “giro” discursivo. Para trabalhar essa hipótese, propomos a seguinte questão: em que medida a circulação de analistas pode promover uma circulação ou um giro discursivo?

A histerização, como Lacan (1969-1970/1992) desenvolveu, é promovida pelo discurso analítico e encontra-se na condição de se ocupar o lugar de analista, o que quer dizer, ocupar o lugar de semblante de objeto a do e para aquele sujeito em sua análise. Nos termos do autor: “O que o analista institui como experiência analítica pode-se dizer simplesmente – é a histerização do discurso. Em outras palavras, é a introdução estrutural, mediante condições artificiais, do discurso da histérica.”[21].

A posição de analista, com sua escuta, seu desejo inédito-impuro e conforme o estilo disforme que marca/marcou sua experiência de análise, encontra-se à disposição dos sujeitos que lhe chegam, mesmo na praça. É dessa posição, como apontamos nesse argumento, que uma histerização pode ser promovida. Isso sem esquecermos que um(a) analista não permanece neste lugar para sempre ou a todo o momento: “Nós nem mesmo somos semblantes. Somos, ocasionalmente, o que pode ocupar o seu lugar, e nele fazer reinar o quê? – o objeto a.”[22].

Isso quer dizer que é apenas, ocasionalmente, na posição de objeto causa de desejo para aquele sujeito, que um(a) psicanalista pode promover a “emergência do discurso analítico a cada travessia de um discurso a outro”[23]. Depreende-se, então, que é nos momentos de torção promovidos pelo discurso analítico que o discurso do(a) analisando(a) pode se transformar, isto é, são momentos de travessia discursiva que configuram os giros discursivos do(a) analisando(a), inserindo-o(a) no discurso analítico.

A histerização também é pensada em termos de entrada em análise. Esta entrada é promovida pelo discurso analítico e diz da emergência da divisão do sujeito ($), a partir de uma retificação subjetiva. Isto é, quando um sujeito pode, enfim, formular uma questão sobre a sua divisão, implicando-se em seu sofrimento e direcionando seu sintoma, na forma de demanda, a um(a) analista – conforme aponta o primeiro patamar do discurso histérico e a vertical do discurso analítico no sentido da produção: $ → S1.

É a partir do discurso do psicanalista que é possível ao sujeito dirigir aquilo que é de seu sintoma ($), como uma questão a ser decifrada, ao(à) analista, o que também é chamado de “sintoma analítico”, e que se encontra no lugar do logro de uma suposição de saber (S1). Este logro inicial do sujeito sobre o(a) analista serve ao estabelecimento da transferência. Porém, no que toca a direção do tratamento, esse logro encontra um(a) analista advertido(a) de sua culminação residual (S(Ⱥ)), o que aponta para o fim de uma análise (a). Isso quer dizer que o(a) analista não responde do lugar de uma parceria imaginária (a – a’), mas relança o saber (S2) para que o sujeito venha a produzi-lo singularmente em sua análise.

A retificação subjetiva, que marca a virada discursiva da entrada em análise, encontra-se na emergência de um ato analítico. Isso se dá na medida em que o(a) analista promove – sem intensão, mas como convite a um tensionamento – um manejo, algo que pode receber o estatuto de uma interpretação, que subverte o sentido que o sujeito “acostumou-se” em termos de seu sofrimento, conflitos ou seu próprio sintoma. A partir de uma vacilação deste sentido ordinário que o sujeito traz, algo é extraído a partir da escuta do(a) analista, daquilo que o sujeito acostumou-se a ordenar sobre seu si mesmo. Em outros termos, encontra-se algo que vacila e se revela. Nesse sentido, como observa Quinet[24], o sintoma que era, até então, uma resposta, pode se transformar em uma questão na qual o próprio sujeito encontra-se implicado. Há algo do gozo no sintoma que pode ser remetido ao desejo inconsciente do sujeito.

De uma solução de compromisso não totalmente satisfatória, sinaliza-se uma responsabilização subjetiva inconsciente em que o sujeito se vê às voltas com o próprio desejo naquilo que lhe traz sofrimento e que remete ao seu gozo. A retificação subjetiva na entrada em análise refere-se ao conhecido aforisma freudiano sobre a implicação do sujeito na desordem sobre a qual se queixa (Freud, 1901-1905/1996)[25]. Não obstante o emprego corrente do sintagma “retificação subjetiva” entre analistas, este operador clínico é extraído de Lacan (1958/1998), especialmente do texto A direção do tratamento e os princípios de seu poder, nos esparsos momentos em que o autor aludiu ao termo “retificação”[26].

Como se depreende, a retificação de que se trata de reconhecer no cerne da entrada em análise[27], assim como suas produções verificadas ao longo de uma análise, condizem com inversões da posição do sujeito rumo à destituição subjetiva[28]. Com isso, encontra-se a possibilidade de produzir uma mobilização subjetiva rumo à decisão de empreender uma análise. Abre-se a possibilidade de decifração sobre as vias do desejo do sujeito, o que quer dizer, enquanto neurótico(a), de como ele(ela) faz para manter seu desejo impossível ou insatisfeito.

A fim de retomarmos a hipótese, consideramos que não é a partir de um giro do(a) analista, não obstante suas apostas em termos de manejo, que o discurso de um sujeito pode girar. Um(a) analista pode até mexer as cadeiras, como tática, o que não quer dizer que um discurso gire conforme a figura daquele(a) que se senta diante do sujeito em uma cadeira. O discurso do sujeito apenas pode girar, histerizando-se, a partir do discurso analítico. O que não quer dizer que um(a) analista não circule advertidamente pelos discursos, assim como o próprio sujeito inadvertido vida afora. Isso porque são laços sociais, ou seja, laços de discurso disponíveis historicamente na cultura. Desse modo, a transformação do sintoma em questão, isto é, em um enigma a ser decifrado, não encontra sustentação na circulação material fenomênica de analistas – pelo menos – a priori e segundo os argumentos apresentados.

No entanto, reconhecemos que a circulação de analistas pode suscitar imaginarizações. Em termos literais, como um sujeito atendido na praça referiu: “imagino que vocês façam algo com isso”. Lateralmente, como ele mesmo também referiu: “Vocês devem saber algo sobre isso que estão fazendo”. Para além dessa imaginarização, um(a) analista aponta para a dimensão simbólica na qual opera. A partir de sua douta ignorância, um(a) analista sabe que é o sujeito quem possui um saber. Assim, a suposição de saber atribuída ao(à) analista, como transferência, é oriunda da concepção de que o próprio inconsciente é um saber[29]. Desse modo, um sujeito pode fazer uma série de entrevistas preliminares com diferentes analistas sem que isso o conduza mais facilmente à sua entrada em análise, isto é, à histerização de seu discurso.

Transferência no dispositivo

Como tivemos ocasião de sinalizar, após um tempo de experiências, a proposta inicial de atendimentos realizados pela circulação de analistas deparou-se com alguns impasses. No entanto, conforme também reconheceu Freud[30], sobre a transferência como um fenômeno não exclusivo da relação analítica, verificou-se e ainda se verifica a transferência com o grupo de analistas, ao espaço da praça e mesmo ao dispositivo rotativo. Com Freud, trata-se de pensar a transferência como uma disposição do inconsciente em ligar/catexizar as “séries” que evocam relações permeadas por afetos singulares do sujeito[31]. Com Lacan[32], apreende-se a transferência como operação na qual se encontra um amor ao saber.

Soma-se a isso, na procura por atendimentos na praça, certa identificação, por parte dos sujeitos, com certos traços de nosso projeto, isto é, um coletivo à esquerda no escopo da política. Mais precisamente, encontra-se uma identificação com uma psicanálise que supostamente seria mais cool, um coletivo que “finalmente fez uma psicanálise não elitista”. O problema atinente ao coletivo, no que tange a essas identificações, é duplo. Primeiro, por reconhecer que, apesar de estarmos no centro da cidade de São Paulo, não atendemos boa parte de sua população. Segundo, e conforme também trouxemos no início deste texto, por ensejar um cuidado em termos do posicionamento político do coletivo. Afora essas observações, podemos considerar que tais identificações podem fomentar a produção de significantes para um trabalho do inconsciente.

Afinal, mesmo o estilo de um(a) analista, inclusive com sua figura, pode “contar” no cálculo de um sujeito em termos daquilo que o engancha na transferência, como no bigode de um dos analistas desta “boa praça”[33]. Mas o mesmo pode ser dito em termos da transferência em relação a um “grupo de analistas” ou à própria “praça”, considerados como significantes-qualquer[34] (Sq). Desse modo, para abordarmos a questão da transferência no dispositivo, talvez seja o caso de começarmos por uma segunda questão, a saber, a da escolha do(a) analista e a decisão que uma análise comporta.

Conforme desenvolvemos anteriormente, há questões sobre a circulação de analistas no cerne do dispositivo, isto é, os efeitos que a rotatividade pode suscitar no âmbito da transferência e seus impasses à direção de um tratamento. Especificamente, como já aludimos, o coletivo dedica-se às condições de possibilidade da escolha de um sujeito por um(a) analista, o que pode ser entendido como desejável. Soma-se a isso, em função de manejos singulares, quando se considera preciso que um sujeito seja atendido por um(a) mesmo(a) analista, ou seja, quando a rotatividade pode ser imprudente ou iatrogênica.

É possível que a escolha por um(a) analista se dê antes de uma histerização, como já tivemos ocasião de verificar. Nesse sentido, questionamos também em que medida uma psicanálise na praça pode se diferenciar da “tradicional” no que tange à escolha do sujeito. Referimos por “escolha”, com Freud[35], em uma alusão à “escolha da neurose”[36] e, portanto, a sua dimensão inconsciente. Isso em termos da escolha por um(a) analista em específico ou mesmo na escolha de atendimentos por um grupo de analistas, a partir do significante-qualquer que engendra a transferência. Desse modo, sobressai a importância de uma escolha e isso enseja pensarmos a transferência no dispositivo.

Assim, a partir do giro discursivo que marca a entrada em análise e tendo em vista o dispositivo da rotatividade de analistas, consideramos que possa haver a escolha por uma análise por parte do sujeito com um(a) mesmo(a) analista ou com um grupo de analistas. E, assim, a decisão do(a) analista em empreender uma análise com aquele sujeito é retroativamente direcionada para que este sujeito decida-se por uma análise, com aquele(a) analista ou não. Podemos conjeturar que, até este momento, o sujeito empreende com um grupo de analistas o que se entende por “entrevistas preliminares” ou, conforme termos freudianos, um “tratamento de ensaio”[37].

A partir do que desenvolvemos, é possível dizer que há uma relação dialética em termos de escolha e decisão por uma análise, inclusive na praça. Assim, a rotatividade, ao não se encontrar como pré-condição para a clínica na praça, ou mesmo um consenso, encontra-se como possibilidade que se articula a partir do desejo do sujeito, para cada analista e com a escuta do coletivo.

Considerações finais

A mudança do nome da clínica para “Psicanálise na Praça Roosevelt” constituiu um ato deste coletivo. Com isso, declararam-se um coletivo de analistas atentos ao seu tempo e advertidos dos possíveis impasses que uma psicanálise nos espaços públicos pode ensejar. O coletivo encontra-se em um tempo de acúmulo de experiências e trocas de saberes que tornou necessário afirmar uma posição sobre o lugar que ocupam no território, na cidade e frente ao avanço do fascismo que assola o país. A partir do reconhecimento de seus antecedentes e dos pilares que sustentam sua prática, afirmaram um posicionamento político, tendo por referência a experiência psicanalítica como uma ética.

O que constitui este projeto é o espaço público como potência de vida e a heterogeneidade de estilos contidos no desejo comum que este coletivo faz emergir, isto é, a escuta atravessada pela pulsação de um território: a Praça Roosevelt. A clínica psicanalítica nos convida a uma experiência com o inconsciente que se assenta na direção de uma subversão. Portanto, traz em sua orientação ética, clínica e política uma posição frente às relações de dominação e alienação: eis algo da noção de travessia que uma psicanálise permite percorrer via transferência. Nesse sentido, o coletivo está, como outras experiências de psicanálise em espaços públicos, comprometida com as desigualdades que produzem segregação, não apenas do acesso a uma experiência psicanalítica e sua extensão, mas que também geram sofrimento.

Trata-se de uma aposta na experiência, da aproximação do horizonte de nosso tempo. Ocupar espaços públicos é, afinal, uma das formas de resistência e de fazer política com que o coletivo se alinha. Assim, encontram-se como psicanalistas na praça, sem pretender substituir ou tamponar a precarização de direitos sociais conquistados. Encontram-se como analistas como forma de resistência política e, na praça, para que este esforço possa contribuir para fazer do público um espaço onde cada um(a) possa estar.

REFERÊNCIAS

Broide, Emília Estivalet & Ab’Sáber, Tales. (2017). Clínicas públicas de psicanálise. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, 1(3). Disponível em: https://revistalacuna.com/2017/04/28/n3-02/. Consultado em: 13/06/2018.

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* Adriana Marino é psicanalista. Graduada em Psicologia pela Universidade São Marcos e em Filosofia (FFLCH-USP). Especialista em Psicopatologia e Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP). Mestre e doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Membro do Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo (FCL-SP), Psicanalistas pela Democracia e Psicanálise na Praça Roosevelt. Tem experiência em saúde coletiva, docência e consultório. E-mail: adrianamarino@usp.br

** Augusto Coaracy é mestre pela PUC/SP em Psicologia Social com a dissertação: “A participação social como diretriz estratégica do SUS: a psicanálise operando em lógicas coletivas na saúde”. Experiência em instituições de saúde pública no SUS, tanto na Atenção Básica (SPDM) e no Conselho Gestor (Hospital São Vicente de Paulo, Brasília/DF). Realiza atendimento psicanalítico em consultório particular. Participa do coletivo Psicanálise na Praça Roosevelt. Fez formação em psicanálise no Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo. Graduação em psicologia na Universidade de Brasília. E-mail: augustocoaracy@gmail.com



[1] Lacan, Jacques. (1953). Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In Lacan, Jacques Escritos. (pp. 238-324). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

[2] Lacan, Jacques. (1953). Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In Lacan, Jacques Escritos. (pp. 238-324). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; p. 322.

[3] Lacan, Jacques. (1960). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Lacan, Jacques. Escritos. (pp. 807-842). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

[4] Lacan, Jacques. (1969-1970). O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992; p. 63.

[5] Lacan, Jacques. (1969-1970). O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992; p. 382.

[6] Freud, Sigmund (1919). Caminhos da terapia psicanalítica. In Freud, Sigmund. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”); Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920) (Trad. de Paulo César de Souza, Vol.14, pp. 279-292). São Paulo: Companhia das Letras, 2010b; p. 289.

[7] Freud, Sigmund (1919). Caminhos da terapia psicanalítica. In Freud, Sigmund. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”); Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920) (Trad. de Paulo César de Souza, Vol.14, pp. 279-292). São Paulo: Companhia das Letras, 2010b; p. 288.

[8] Broide, Emília Estivalet & Ab’Sáber, Tales. (2017). Clínicas públicas de psicanálise. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, 1(3). Disponível em: https://revistalacuna.com/2017/04/28/n3-02/. Acesso em 13 de junho de 2018.

[9] Ao abordar esse assunto, não se pretende uma crítica ao modelo de atendimento do plantão psicológico. O argumento que interessa ao parágrafo é o dos limites trazidos pela rotatividade de analistas em termos da direção do tratamento.

[10] Freud, Sigmund. (1912). A dinâmica da transferência. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 110-119). Rio de Janeiro: Imago, 1996; p. 113

[11] Lacan, Jacques. (1953-1954). O Seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986

[12] Jorge, Marco Antônio Coutinho (2017). Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan, vol. 3: a prática analítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

[13] Como ressalta Jorge (2017), a resistência do lado do analisando, especificamente neurótico, dá-se pela força do recalque para que não emerja uma fala reveladora sobre a verdade do sujeito. Trata-se de uma força que atua contra o desrecalcamento em uma análise, contrariamente à associação livre (que, como sabemos, não é exatamente “livre” em função da sobredeterminação inconsciente). Daí que o processo envolva uma insistência inconsciente e que o analista não “force” a fim de não aumentar a resistência do sujeito, mesmo porque “a palavra autêntica tem outros modos, outros meios, que os do discurso corrente”, ou seja, ela se apresenta no “sintoma, no sonho, no lapso, no Witz, obedece a outras leis” (Lacan, 1953-1954/1986, p. 304).

[14] Lacan, Jacques (1959-1960). O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997; pp. 228-229.

[15] Parker, Ian. (2006). Cultura psicanalítica: discurso psicanalítico na sociedade ocidental. São Paulo: Idéias & Letras; p. 14.

[16] Lacan, Jacques. (1958). A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In Lacan, Jacques. Escritos. (pp. 591-652). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

[17] Oury, Jean. (2009). O coletivo. São Paulo: Aderaldo & Rothschild.

[18] Lacan, Jacques. (1960). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Lacan, Jacques. Escritos. (pp. 807-842). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

[19] Quinet, Antonio. (2005). As 4 + 1 condições de análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 76

[20] Lacan, Jacques. (1969-1970). O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

[21] Lacan, Jacques. (1969-1970). O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992; p. 33

[22] Lacan, Jacques. (1972-1973). O Seminário: livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985; p. 129.

[23] Lacan, Jacques. (1972-1973). O Seminário: livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985; p. 27

[24] Quinet, Antonio. (2005). As 4 + 1 condições de análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

[25] Freud, Sigmund. (1901[1905]). Fragmento da análise de um caso de histeria. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. VII, pp. 15-118). Rio de Janeiro: Imago, 1996.

[26] Desse modo, Lacan não chegou a nomear “retificação subjetiva”, apesar de empregar o termo “inversão dialética” no contexto das transformações ocorridas em sua análise do caso Dora, como podemos encontrar no texto: Intervenção sobre a transferência (Lacan, 1951/1998, p. 218). Lacan, Jacques. (1998). Intervenção sobre a transferência. In Lacan, Jacques. Escritos. (pp. 214-237). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1951)

[27] Ao evocar os significantes-mestres de sua divisão e alienação constitutivas, o sujeito pode sair do discurso histérico, que marca sua entrada em análise, entrando no discurso analítico, como apresenta o matema do discurso analítico, em que o $ (no lugar do outro causado pelo objeto a) visa à produção dos significantes que marcam, ordenam e determinam excessivamente a vida do sujeito (Jorge, 2017).

[28] Trata-se de um processo transformativo que envolve “desidentificação” e “desfalicização”, de modo que, como nos diz Soler (1998), a fantasia deixa de servir à tamponação da castração por meio do objeto mais-de-gozar (da ordenação fálica) para fazer advir o não-todo em uma posição de “sujeito à fantasia” (pp. 197 e 198). Soler, Colette. (1998). A psicanálise na civilização. (pp. 257-308). Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria.

Em outros termos, quando a fantasia deixa de ser o quadro estático e aprisionante do sujeito, elevando o objeto à dignidade da causa de desejo. Daí que a destituição subjetiva em uma análise permita ao sujeito encontrar “sua certeza em seu ser de objeto” pulsional ($ = a) (Quinet, 2005, p. 104).

[29] Lacan, Jacques. (1998). Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In Lacan, Jacques. Escritos. (pp. 807-842). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960)

[30] Freud, Sigmund. (1996). A dinâmica da transferência. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 110-119). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1912)

[31] Freud, Sigmund. (1996). A dinâmica da transferência. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 110-119). Rio de Janeiro: Imago, p. 112. (Trabalho original publicado em 1912).

[32] Lacan, Jacques. (1992). O Seminário, livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Jahar. (Trabalho original publicado em 1960-1961)

[33] Apesar de risível, o referido bigode remete ao traço unário que, no “lacanês” corriqueiro, é exemplificado pelo bigode do Hitler para abordar os modos de identificação. O “boa praça”, aqui, alude à equivocação possível deste traço, subvertendo-o, o que condiz com a forma privilegiada de interpretação lacaniana.

[34] O matema da transferência aparece pela primeira vez na Proposição de 9 de outubro de 1967. O S designa o significante da transferência, que será dirigida ao Outro como uma demanda. Abaixo a cadeia metonímica do inconsciente, contendo os significantes primordiais do sujeito. Ao lado, o Sq é o significante qualquer que servirá de engate para o sujeito (Jorge, 2017).

matema

[35] Freud, Sigmund. (1996a). A disposição à neurose obsessiva. Uma contribuição ao problema da escolha da neurose. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 335-349). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1913)

[36] O que pretendemos ressaltar é que a escolha, em psicanálise, é sempre sobredeterminada. Quando Freud (1913/1996a) aborda a escolha da neurose, diz da relação entre os determinantes constitucionais (disposições) e o “acidental” (contingencial). Freud, Sigmund. (1996a). A disposição à neurose obsessiva. Uma contribuição ao problema da escolha da neurose. In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 335-349). Rio de Janeiro: Imago, p. 341. (Trabalho original publicado em 1913).

[37] Freud, Sigmund. (1996b). Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da Psicanálise I). In Freud, Sigmund. ESB. (Vol. XII, pp. 137-160). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1913)




COMO CITAR ESTE ARTIGO | MARINO, Adriana & COARACY, Augusto (2019) Psicanálise na Praça Roosevelt: formulações sobre uma experiência. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -8, p. 10, 2019. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2019/12/08/n-8-10/‎>.