Os nãos da mulher: ressonâncias da publicação de “Perché mi piace”

por Maria Letícia de Oliveira Reis

Nos últimos anos venho me interessando pela escrita da forma de vida, como analista, como mulher. E que veio de outro estado para São Paulo. Tenho procurado entre os feminismos aquele que mais tem a ver comigo, que mais me serve e, assim, acabo por assumir a problemática, como psicanalista, de debater com certa divisão de campos, na medida em que os feminismos necessitam de um conjunto para juntar forças para lutar. E a ideia de conjunto parece não caber na teoria psicanalítica lacaniana.

Tenho descoberto em minha pesquisa e, inclusive, na minha própria análise, que o feminismo que eu invento para mim – porque o trato como uma espécie de invenção – diz respeito à memória e à experiência. Meu percurso intelectual tem a ver com a memória, com a experiência, não só teóricas[1] , mas também pessoais. Uma outra forma de pensar isso seria recuperar, na minha história, como me tornei quem me tornei, por que escrevo em primeira pessoa, e por que digo que há um feminismo possível para cada um, e que passa por uma invenção. Uma escrita própria. Isso tem me levado a pensar que nem todo feminismo é identitário. Diz respeito a pensar como me situo no Brasil hoje. Como me situo atualmente em relação aos lugares aos quais pertenci e lutei para não pertencer mais ou dos lugares que luto para pertencer. E dos reconhecimentos ou não decorrentes desses lugares. No que diz respeito ao meu modo de escrever, escrevo sustentada pela poética do grifo, um modo de marcar e escrever para mim o que fiz grifando o que li de outra. Escrevo nessa intertextualidade e pensando no que é ser mulher no Brasil, atenta ao lugar de desamparo, ausência e solidão.

No dia 11 de dezembro de 2018, na praça Roosevelt em São Paulo, reuniram-se cerca de 300 pessoas para o lançamento do livro Perché mi piace – A vida com elas. Um livro composto de textos de 44 mulheres que foram convidadas a escrever sobre o que quisessem. Sua tradução: “porque eu quero ou porque me deu na telha”! Um ponto final depois de um verbo. Um livro só de mulheres, um teto todo nosso, parafraseando Virginia Woolf. Exausta da fórmula postulada de que mulher não é amiga de mulher, ou de ser lembrada de que uma mulher quando fala a outra mulher tem sempre algo desagradável a dizer, reuni várias, para lhes falar, para lhes convidar a dizer o que pensam. Para que escrevessem o que quisessem. Reunidos, assim, sextos[2] sem série ou conjunto. Uma entre várias, a cada vez. Um circuito do convite se formou, um livro do “com”. Éramos todas as diferenças convivendo. Essa tal intimidade fazedora de laços: “Talvez não estejamos completamente sós, enquanto houver um outro que nos escute. Talvez por isso se diga que mulheres falam muito”[3] escreveu uma das autoras.

Na época, acabei por ser confrontada por essa divisão de campos, a busca por esse coletivo que visa a uma igualdade, e pergunto: “por que as mulheres não podem, de certo em certo tempo, a cada vez, unir-se à procura de uma luta?” A orelha do livro, escrita pela colega e amiga, Daniele Sanches, expressa bem essa ideia:

[…] algumas mulheres falam por si, algumas acreditam falar por todas. Há uma a uma, obviamente não fazem Um. Elas escapam da armadilha de forjar um ilusório discurso consensual sobre o feminino; ao invés disso, ousam exercer a liberdade. Que loucas![4]

Um universal dentro do livro, a despeito de não se trabalhar o universal para a mulher na psicanálise. Por tudo isso, acabei por recolher alguns incômodos por conta dessa divisão de campos.

Recentemente, num debate de lançamento da tradução de O riso da Medusa[5], de Hélène Cixous, a pesquisadora Flávia Trocoli fez uma pergunta à autora, que é quase uma afirmação: “A escrita feminina e a democracia estão sempre por se fazer (?)”. Essa é uma formulação muito importante, já que a escrita feminina não existe porque não está pronta, está sempre por se fazer, é justamente feita a cada vez, por cada uma, a despeito de quem ocupa o lugar de mulher. Cada uma escreve sua escrita, não existe uma escrita universal. A escrita feminina está sempre por se fazer, e o que trago neste texto é a relação entre a democracia e a escrita feminina e que sustentam o título deste ensaio, os nãos da mulher. O que encontramos na transmissão da escrita feminina diz respeito à necessidade de dizer não, que é também o encontro disso na busca da sustentação da democracia.

É importante deixar claro que a escrita feminina da qual eu partilho, a qual ainda estou entendendo – porque tudo isso é uma pesquisa em andamento –, é uma escrita que inclui a castração. E, no final deste texto, veremos que há uma gramática que compõe essa escrita que inclui a castração. Isso diz respeito a falar do desejo da mulher.

Em 2019, quando estávamos nos recuperando do resultado das eleições de 2018, algumas amigas que escreveram no Perché mi piace[6], numa conversa, se perguntaram: e agora, depois do Perché mi piace, vem o quê? E alguém responde: porque eu não quero! Perche no mi piace!

Retomo imediatamente a experiência da manifestação do EleNão, relembro ter visto algumas mulheres no carnaval escreverem nos seus corpos: não é não! Presto atenção a esses nãos e, em conversa com essas colegas, formamos um grupo para pensar num projeto de escrita dos nãos da mulher, por um feminismo que sustente a possibilidade de a mulher dizer não, e nos intitulamos Bartlebianas[7].

Partindo do desejo afirmado no “porque eu quero” italiano, nós, as curadoras da nova proposta de livro, voltamo-nos para o aparente avesso, ainda dentro do campo psicanalítico: a negativa do desejo. O não. Dessa negativa, e pensando na inescapável dialogia entre a Psicanálise e a Literatura, ocorreu-nos o conto canônico – e, sobretudo, seu personagem-título – de Herman Melville: Bartleby, o escrivão[8], em muito sintetizado na tradição ocidental no bordão formulático do inglês “I would prefer not”. “Eu preferiria não”. Como seria o “preferiria não” da mulher Bartleby, no Brasil de hoje? Escrevemos: preferimos não! Que aos nossos ouvidos parece abrasileirar e coletivizar o bordão.

Na psicanálise lacaniana, observamos que a mulher está acompanhada do não, na formulação: não toda fálica. Publicamente, o “não é não” é escrito em seus corpos, os nãos das dificuldades da vida, falta de ajuda para cuidar de seus filhos para trabalhar, salários mais baixos que de homens, o crescente índice de feminicídio, assédios, entre outras coisas. Naquele momento, a manifestação das mulheres ganhava uma proporção maior – no mundo e no país. Em setembro de 2018, o movimento do EleNão levaria às ruas brasileiras o maior número de mulheres jamais antes visto. Mas não só mulheres: ali estavam todas as pessoas que percebiam e que reconheciam o crescente índice de ódio, direcionado sobretudo às mulheres. Foi uma multidão, que reuniu vários tipos de bandeiras. EleNão, a maior manifestação organizada pelas mulheres dos últimos tempos, realizada por brasileiras em outros lugares do mundo também com esta consigna: ele não! E cantando uma versão de Bella Ciao, as mulheres entoaram na língua portuguesa:

Uma manhã, eu acordei e ecoava ele não, ele não, não, não. Uma manhã eu acordei e lutei contra o opressor. Somos mulheres, a resistência, por um Brasil sem fascismo e sem horror, vamos à luta para derrotar o ódio e pregar o amor.[9]

Alguns cartazes diziam: “juntas somos gigantes”, “mulheres contra o fascismo”, “primavera feminista”, “vamos à luta para derrotar o ódio e pregar o amor”.

Vale destacar que naquela manifestação não tinha um só conjunto – mas vários homens, crianças, LGBTQIA+ estavam presentes também e, principalmente, não havia um líder que comandava essa manifestação, ou seja, era um conjunto aberto, no qual não havia uma totalidade.

Virginia Woolf escreveu As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra[10], e é um livro que traz uma potência enorme, porque coloca a mulher como agente de suas decisões. Na vida amorosa, Simone de Beauvoir escreveu um texto, recentemente publicado no Brasil, intitulado Está na hora das mulheres darem uma nova cara ao amor[11]. Nesse contexto, como psicanalista, venho pensando na responsabilização subjetiva na análise. Se, de um lado, vemos a invasão do debate político nas associações de nossos pacientes na clínica, ou seja, a incidência da realidade social no trabalho psicanalítico, na mesma toada de responsabilização, do compromisso clínico e político que analistas precisam manter com a democracia, precisamos, de algum modo, lidar com os discursos de denúncia e, principalmente, não é porque uma psicanalista se declara feminista que perde a escuta da fantasia. Elaborei recentemente uma pergunta a partir da leitura do livro Misoginia e Psicanálise[12]: “por que, nas dificuldades da escuta do outro, no ponto cego da escuta que nos faz nos supervisionar, seria o feminismo aquele que nos serviria como tampão?”

Quantas vezes, no consultório, ouvindo mulheres com divórcios difíceis, vejo-me dizendo “antes de uma análise você precisa de um advogado”, ou perguntando se elas tinham tranca na porta, ou portaria em seus prédios, como escrevi no texto A mulher e suas trancas[13]. Existem problemas sociais do lugar que a mulher ocupa, que chegam ao consultório, que fazem com que a passagem para uma análise leve mais tempo. É preciso que algumas coisas se ajeitem na vida da mulher para que ela consiga falar de si e se responsabilizar pelos seus próprios ditos, até mesmo ser capaz de ouvi-los. Tenho percebido uma invasão dessa brutalidade contra as mulheres e não acho mais possível falar da clínica da mesma forma que falávamos antes.

Quando me mudei para São Paulo, há vinte anos, havia um estilo de transmissão, e hoje podemos fazer diferente. Mulheres mais velhas que fizeram análise e com quem converso sobre isso, me dizem e eu já escutei a seguinte frase várias vezes: “se a minha/meu analista da época tivesse me dito isso eu não teria passado pelo que passei”. Existe certo silenciamento no que diz respeito ao manejo transferencial, que acho que precisa ser revisto quanto à neutralidade do analista em relação a essas questões sociais e culturais. Se pensamos em termos transferenciais, a adesividade transferencial pode ser um complicador ao processo. Dizer não à interpretação de um analista pode ser uma resistência à submissão[14]. No entanto, não são todos os analistas que estão dispostos a ter esse debate. Questões do tipo: “como pensar o amor nos feminismos hoje?” e “como pensar o destino da mulher?” são debates que importam para pensar a clínica psicanalítica atual. O advento da psicanálise é proveniente da escuta das mulheres que disseram não, uma resistência à submissão. Os pacientes têm o direito de preferir não, ou seja, serem insubmissos às violências sociais, políticas, aos abusos da vida amorosa. Destaco a importância de pensar o não, também nas produções de textos de pesquisadoras mulheres, invizibilizadas, pois às vezes, ele chega como apagamento. Rebeldia, teimosia, desamparo, perplexidade, impotência e desespero. As chamadas histéricas são as que denunciam.

O que pretendo destacar neste texto é a forma com que a manifestação do EleNão foi tratada teoricamente por alguns lá em 2017: a utilização do texto de Freud para pensar a manifestação das mulheres como responsável para o resultado das eleições. Ou seja, por ecoar o EleNão, este bordão teria servido para eleger o presidente em 2018. Consequentemente, todos os milhões empregados em fakenews, os problemas que estamos enfrentando desde o golpe em 2016, entre outros aspectos, tudo isso não foi considerado e recaiu novamente sobre as mulheres. Comentários e análises de intelectuais da esquerda dizendo que a manifestação havia sido um erro tático da campanha eleitoral, porque nessa frase haveria uma denegação. Isso me trouxe um incômodo, e assim retomei o texto de Freud, porque a ideia é recuperar a teoria e pensar o uso que se faz dela. Não sou socióloga, não trabalho com política diretamente, mas discursos de denúncia e militância não deveriam ser menosprezados pelos intelectuais e psicanalistas. Já tive experiência de escutar pessoas de partidos[15], e principalmente como trabalhar a fim de evitar que essas pessoas se deprimam, um cuidado com quem está nas ruas. Não estou discutindo estratégias de campanha, e sim o uso da teoria de Freud para justificar certa neutralidade e a responsabilização das mulheres pelo resultado que depois confirmamos que foi péssimo para o país, colocando em risco a democracia. Assim, com o uso – ou, melhor, o desuso da teoria de Freud, vemos que é aplicada ao teatro do falocentrismo e ao prejuízo do lugar do desejo da mulher na sociedade.

O texto freudiano diz:

Desse modo, o conteúdo da representação ou do pensamento reprimido pode abrir caminho até a consciência, com a condição de ser negado. A negação é um modo de tomar conhecimento do reprimido; na verdade já é um levantamento da repressão, mas naturalmente não aceitação do reprimido. Aqui se pode ver como a função intelectual se dissocia do processo afetivo. Com o auxílio da negação, só se revoga uma das consequências do processo de repressão, ou seja, o fato de que o conteúdo da representação não tem acesso à consciência. Daí resulta uma espécie de aceitação intelectual do reprimido, mantendo-se a repressão quanto ao essencial.[16]

Freud traz o exemplo daquele paciente que diz que teve um sonho com uma mulher e afirma: “mas não era a minha mãe”. Logo se lê: “é a mãe”. O texto A negação é curto, muito denso, e dele vou extrair o que me interessa para este debate, que é: se traz como óbvio que algo que foi negado, por consequência é algo desejado. Portanto, o grito do EleNão deveria ser lido por seu oposto. Isso é um equívoco pois, em Freud, desde A interpretação dos sonhos[17], o princípio da contradição está presente. O que acontece com o sonho do paciente de Freud que diz: “não é a minha mãe”? É e não é a mãe ao mesmo tempo. A noção de inconsciente de Freud desde A interpretação dos Sonhos admite a contradição e desfaz, invalida o princípio da não contradição.

Em relação à questão da tradução da palavra alemã Verneinung, por denegação, os tradutores da edição brasileira da CosacNaify optaram por negativa para ser compatíveis ao próprio Freud, que, no texto A questão da análise leiga[18] diz “na psicanálise gostamos de ficar em contato com o modo popular de pensar e preferimos tornar seus conceitos cientificamente úteis, ao invés de rejeitá-los.”[19] O problema é que ficou útil demais. Esse uso é a serviço de quê? Como pensamos a negatividade na psicanálise e como pensamos a negatividade na vida pública? Quando a mulher diz não a um homem é porque está querendo dizer sim? O texto freudiano nos mostra que não é tão simples assim. O índice do negativo faz parte do reconhecimento do inconsciente, onde há ambivalência, conflito e contradição. Tudo isso importa para pensar a escrita feminina e o desejo. O problema apresentado no texto de Freud não diz respeito somente às técnicas de interpretação analítica, mas à maneira como o sujeito se serve de negações para produzir uma linguagem mais compatível com seus conflitos.

Sobre o funcionamento da contradição no inconsciente, Laurence Bataille escreve lindamente em seu livro O Umbigo do Sonho sobre as lembranças da infância como formações do inconsciente, onde se percebe que não há garantias sobre as lembranças da infância e que, quando surgem, normalmente surgem deformadas. Um dia a lembrança aparece:

[…] na penumbra de um crepúsculo…avenida Ernest Renan, ao longo do Parque de Exposições… dou a mão meu pai de um lado, a minha mãe de outro”. Uma súbita alegria a invade: “Sim, era formidável! Eu tinha querido imitar os guardas de trânsito, parara um táxi com meu bastão de brinquedo. Estava muito orgulhosa porque o táxi parou bruscamente diante de mim. Alguém disse numa voz irritada: “Foi para não te atropelar”. O bastão, então, não tinha servido para nada. Que boa lembrança mais esquisita, onde eu quase sou atropelada! Mas alguma coisa não está certa: se eu estava com meu arco e meu bastão, eles não estavam me dando a mão. Além disso, se me tivessem segurando, eu não teria podido me atirar para o meio da avenida. No entanto, estou certa de que é uma boa lembrança. Sim! Foi depois disso que me tomaram pela mão, porque ficaram com medo. Eu tinha posto a vida da filha deles em perigo, e os tinha reunido. A separação deles representava para mim uma parada mortal, eu parei o taxi, parei a morte. Eu me impus, me fiz lembrar a eles. Só durou um breve instante, mas fui capaz disso. É uma boa lembrança.

É irritante: acabei de lhe dizer que procurava uma lembrança em que eu tivesse estado com meus pais, mas tinha pensado: entre eles. Agora isso me perturba. Digo a mim mesma que eles deviam estar andando lado a lado sem se ocupar comigo. Minha travessura os obrigou a me colocar entre os dois e, portanto, a se afastarem um do outro. E no entanto, é verdade que, se eles estavam juntos naquela tarde era por minha causa, mas eu era também e sobretudo a causa de sua separação. No fundo, eis o que é ainda melhor! Eu queria reuni-los e também separá-los. Ou reuni-los para separá-los. Decididamente é uma lembrança muito, muito boa.[20]

O princípio da contradição ser e não ser a mãe foi retomado por Jacques Lacan na seguinte estrutura: para que o reconhecimento do inconsciente seja possível, é necessário um modo de negação “aparição do ser sob forma de não ser” (no original em francês, “de n’être pas”)[21]. A palavra que diz respeito ao inconsciente, dessa forma, não é uma nomeação positiva: pelo contrário, organiza-se como negação. Lacan, desde seu primeiro seminário, relaciona o desejo com o outro e com a falta. A tese de Lacan é de que o desejo é essencialmente uma negatividade, e essa falta é constitutiva do sujeito.

É e não é ao mesmo tempo: a ambivalência precisa ser levada em consideração para se pensar a estrutura do funcionamento do inconsciente. E não levar em consideração a contradição e a ambivalência da negação e, com isso, ainda responsabilizar as mulheres no caso do EleNão é cruel.

O princípio da não contradição aristotélico, base de toda lógica clássica, sustenta que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Ou seja, na base de toda a lógica clássica, a contradição, é impossível.

A negação do não todo

Ana Laura Prates, num vídeo feito pouco depois da manifestação do EleNão[22], coloca a negativa nos seguintes termos para pensarmos a lógica:

“Ele é presidente do Brasil (V). Ele não é presidente do Brasil (F).” E mais adiante diz:

“Escreve a incompletude dos conjuntos abertos, cuja contagem é impossível: uma a uma, essa negação repele o universal: ‘ele não’ é presidente. Essa proposição é submetida ao efeito feminizante do não. Ao negar o pronome (ele) o faz advir como substantivo, e desloca a negação do predicado, desestabilizando o sentido”.

O que a escrita da mulher faz, que agradou tanto a Lacan? Ela desestabiliza o sentido. Lacan ficou arrebatado com o arrebatamento da Duras e perguntou a ela: “como é que você fez isso”? Revelando que fazia o que ele ensinava. Ela responde que não sabia, que é a resposta próxima a que Cixous deu a Foucault[23], que não sabia, a não ser por seus efeitos. O efeito feminizante trabalhado na escrita, publicamente, nas ruas, na corrida para a sustentação da democracia. Essa proposição do efeito feminizante do não, como vamos pensando e estruturando a escrita da mulher e os efeitos do não, está no inconsciente, na vida pública, nas ideias de contradição, de conflito, ambivalência, desencaixe, disjunção, desarticulação, discórdia… O não, assim como a escrita, é apreendido a partir de seus efeitos. Às vezes os efeitos do não, no homem, que o escutou de uma mulher, é a morte dela.

Ainda sobre os efeitos dos nãos circulantes na vida pública, Danielle Magalhães traz uma articulação muito importante para pensar quem tem direito ao discurso.

A nossa política ocidental, desde Aristóteles, foi fundada em uma divisão que chancela os que podem participar da política e exclui os que não podem participar. Um dos critérios em que essa divisão se ancora, e que, ainda hoje, lutamos contra ele, é a exclusividade da capacidade de discurso a homens. Mais primário que isso é a caracterização da política exclusivamente pelo discurso entendido como fala articulada, elaborada, lógica. Desde a Grécia Clássica, a pólis, o âmbito estritamente político, era exclusivo àqueles que podiam discursar. E apenas homens livres podiam discursar. Mulheres, escravos, crianças e bárbaros nunca puderam discursar. Como ação e discurso significavam a mesma coisa, uma vez que os que podiam agir eram os mesmos que podiam discursar, esses últimos não podiam agir nem tampouco discursar. Segundo Aristóteles, em A Política, esses apenas falavam, mas não discursavam, apenas tinham voz, phoné, como um som que dá sinal de dor ou prazer, mas não tinham linguagem, logos, porque estavam mais próximos à animalidade, mais presos à necessidade imediata de sobrevivência. Assim, estavam mais perto do balbucio, do gaguejo, do mugido, do rosnado, do rugido, de todo som que não era articulado ao discurso. Vemos então que a base da nossa política ocidental desde sempre se constituiu sentenciando aqueles que devem ser excluídos.[24]

Quem pode participar da política? Por que quando as mulheres fazem a maior manifestação pública organizada, o uso da teoria é feito deste jeito?

A Bartlebiana brasileira

Bruna Mitrano nasceu no Rio de Janeiro em 1985, é poeta e vive na pele o Rio de Janeiro miliciano. Mestre em literatura portuguesa pela UERJ, vive na periferia da cidade, é filha de camelôs e publicou seu primeiro livro aos 17 anos. A prefaciadora de seu último livro afirmou que os poemas de Bruna são poemas molotov. O que me impressiona e me toca é perceber como a poesia é ligada à política e como antigamente a poesia era ligada à elite, e que isso vem mudando nos últimos tempos. Bruna Mitrano certamente não aguardou o teto todo dela para escrever. A comemoração do centenário da semana de 1922 neste ano trouxe bem esse contraste: hoje a arte vem da periferia. Isso tem um ganho importante e a ideia de trazer a autora com Bartleby tem bastante importância para mim, porque agora penso mais em quem leio, de onde veio, pois estou muito mais próxima da Bruna do que de Cixous ou de Marguerite Duras.

A escrita feminina que me interessa hoje tem a ver com uma realidade que está próxima a mim. As mulheres de classe média baixa que chegam em meu consultório trazem a dificuldade com a política, com o cuidado com os filhos, seus amores, estamos todas mais próximas de Bruna que de Caterine Millot, por exemplo, e de qualquer outra escritora francesa, marcando, assim, uma diferença de ser mulher no Brasil.

“A escrita da mulher e a democracia estão sempre por se fazer”, essa é a formulação de Flávia Trocoli no encontro com Cixous, e é disso que se apreende a escrita feminina atualmente na América Latina. Relembrando Ana Cristina Cesar: “As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios”[25]. Estamos numa busca constante para que algo seja escrito. E existem escritas que contêm em si mesmas a falta. Não uma falta de palavras, mas a falta na palavra. Talvez as mulheres tenham mais facilidade de bancar essa lógica não aristotélica, aproximando-se de uma escrita que inclui a castração, que inclua a falta. Bruna Mitrano abre o livro intitulado Não desta forma:

abro minha guerra

estou na sua frente

me olha. [26]

Gostaria de propor essas formas de escritas como efeitos feminizantes do não: ser vista, ser escutada, opor-se à morte. Ou, dizendo de outra forma, tornar algo simbólico passa por essa negatividade.

na estrada de terra

da cidade vazia

a criança preta empunha um pedaço de pau.

ela está nua e vê-se um corpo tão prematuro

quanto ruínas.

a boca intumescida da criança preta gutura

morte ao rei!

E na aridez inalcançável dos pés descalços

resiste

a criança tão criança e velha,

sozinha e livre-

o sino da igreja abandonada toca todo dia na hora errada. [27]

Um corpo tão prematuro quanto ruínas! A relação da contradição na condição precária e prejudicada da criança que mal pode falar, mas que pede morte ao Rei. Contradição e ambivalência. Como pode a criança preta e pobre pedir a morte do Rei? Isso contraria a justa medida aristotélica.

Retomo Danielle Magalhães, pois estava terminando seu doutorado quando aconteceu o incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro. Incêndio antecedido por outros dois, na Cinemateca e no museu da língua portuguesa, ambos em São Paulo. O que vai ao que queima? O que está indo ao fim? O que mais me tocou na leitura de seu livro foi a denúncia de que tudo aquilo que aponta a uma alteridade, está indo para o fim. A ideia de uma permanência de um líder e uma ausência de alteridade revela quem são os matáveis e quem são os sobreviventes. Como formula Magalhães: “quem são os matáveis e quem são os amáveis”[28]. Na escala de matabilidade, as mulheres e as crianças são mais matáveis do que homens. As mulheres e as crianças são as que evitam a morte, elas, tão precárias, são mais matáveis que os homens no poder. A autora recupera a noção de política de Hanna Arendt de que “a política nada mais é do que um meio para garantir a vida”[29]. Ora, o que vemos ultimamente é a perda do valor da vida.

Hoje, o meio, o objeto e o fim da política coincidem, na obtenção da riqueza. Se a vida sempre foi um fim da política, e, portanto, exterior à política, a política sempre esteve a serviço de excluir a vida. Mas, se ter a vida por fim é colocar um empecilho entre a política e a vida, o que vemos hoje é a exclusão da vida como preço: às custas de uma vida que é mais ou menos matável, mais rapidamente ou mais vagarosamente matável… A minha mãe, pensionista do estado do Rio de Janeiro, é menos matável que o pobre, preto, favelado, mas é mais matável do que eu, porque como ela, uma multidão de servidores foi morta aos poucos no ano de 2017- pelo governo do estado do Rio de Janeiro, regido pelo ex-governador Luiz Fernando Pezão…nesta escala eu posso me considerar privilegiadamente salva não porque tenho vida, mas porque sou menos matável. Quando vou à manifestações sou mais matável que as cachorras que ficam em casa. Somos matáveis, quando deveríamos ser apenas amáveis.[30]

Os matáveis, que aceitam a alteridade, estão vulneráveis. O poder, que quer se preservar como o mesmo, aniquila a possibilidade de alteridade, como, por exemplo, a não aceitação do resultado das eleições. Os poemas de Bruna Mitrano nos levam a pensar em uma nova noção de outro, que é aquele que tem uma relação com a precariedade. Quando propusemos um grupo para pensar o não e o intitulamos de Bartlebianas, pelo não como resposta, imediatamente pensei que, se Bartleby fosse uma mulher, teria sido arrancado pelos cabelos de sua sala no escritório de Nova Iorque. Por outro lado, as mulheres permitem a alteridade da entrada do outro. “Em toda alteridade, resta um pouco de fim. “O outro que não reconheceu o instante seguro espreme agora o corpo dormente entre os escapes”[31]. Os poetas e as mulheres são os primeiros a articular a contradição e os primeiros a incluir o não na imersão do mundo simbólico.

Em uma perspectiva agambeniana[32], o “preferiria não” do Bartleby está ligado à potência, ao que ainda não passou ao ato – uma diferença que Aristóteles faz. Como pensar o “preferimos não” das mulheres também como ato? Seria possível pensá-lo como uma potência que já seria também um ato? Essa ideia da potência diz respeito à invenção da qual me refiro no início do texto? Mas, o mais importante é que essa potência só existe desde uma “potência de não”, ou seja, desde uma impotência. Qual seria a passagem a dizer sim à outra coisa, apontando o desejo? Fazer algo a partir da potência que traz em si a impotência (potência de não) é o que diferencia potência de poder, porque o poder não conhece a impotência.

Estes questionamentos me guiarão nessa pesquisa em andamento, mas por ora, trazer a bartlebiana brasileira se fez urgente. Até porque, para ler Agamben preciso estar acompanhada do gesto de pensar a paralisia histórica em que vivemos e o sistema de amnésia do qual ainda estamos sonolentos. E está sendo admirável descobrir a indissociabilidade entre o político e o poético lendo poetas da periferia e do subúrbio!

Se Aristóteles diz que o “não” gesta aqueles e aquelas que sempre foram excluídos da política, ao fim e ao cabo o que nos resta agora, não seria trazer o corpo, cada vez mais às ruas, porque é sempre uma luta em dizer quais os corpos estão livres para circular? Fomos gestadas pelo não e gestamos o não! Se nos responsabilizaram pela eleição do presidente pela suposta imprudência da manifestação do Elenão em 2018, de quais coisas nos responsabilizarão agora? Se os que nunca chegaram a ser, eram os mesmos que não podiam discursar, os que nunca chegaram a ser, foram relegados a uma função mais animal, insensata, ilógica, selvagem. O “não” é isto, está menos pro logos e mais pra bicho.

São Paulo, 15 de novembro de 2022, porque nunca foi tão importante quanto agora, colocar a data com a assinatura.

 

REFERÊNCIAS

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SANCHES, Daniele; REIS, Maria Letícia de Oliveira. Um percurso pelas feministas. Seminário online do Instituto Vox de Psicanálise, 19 de novembro de 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dL7YD6akcVo>.

WOOLF, Virginia (1938) As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra: Patriarcado e militarismo. Trad. Tomaz Tadeu; Guacira Lopes Louro. Autêntica: Belo Horizonte, 2019.

WOOLF, Virginia (1929) Um teto todo seu. Trad. Bia Nunes de Sousa. São Paulo, Tordesilhas, 2014.

QUEVEDO, Daniela; VENEZIAN, Juliana; VENOSA, Priscila. Perché mi piace – A vida com elas. Organização: Maria Letícia de Oliveira Reis. São Paulo: Calligraphie editora, 2018.


* Maria Letícia de Oliveira Reis é psicanalista formada em psicologia pela PUC Minas, mora em São Paulo (SP) há mais de 20 anos, onde clinica. Fez mestrado na USM sobre memória, e doutorado na USP sobre experiência. Nos últimos anos tem se dedicado à leitura de escritoras mulheres, principalmente latino-americanas, e também à escrita feminista. Publicou “Infância e Memória” (2015) e fez a curadoria do livro  “Perché mi Piace” (2018).



[1] A memória e experiência foram objetos de pesquisa ao longo da minha vida. Escrevi um livro intitulado Infância e memória, Curitiba, Editora CRV, 2015, fruto da dissertação de mestrado, no qual investiguei as recordações dos adultos de uma psicanálise realizada na infância; no doutorado realizei uma pesquisa no Instituto de Psicologia da USP sobre o conceito de experiência.

[2] Neologismo criado por Hélène Cixous, a partir das palavras “texto” e “sexo”. CIXOUS, Hélene (1975) O Riso da Medusa. Trad: Natália Guerellus; Raísa França Bastos. São Paulo: Bazar do tempo, 2022.

[3]REIS. Maria Letícia de Oliveira (org). 2018. Perché mi Piace. Curitiba, Editora Calligraphie, p.24.

[4] REIS. Maria Letícia de Oliveira (org). 2018. Perché mi Piace. Curitiba, Editora Calligraphie, p.24.

[5] CIXOUS, Hélène (1975) O Riso da Medusa. Trad: Natália Guerellus; Raísa França Bastos. São Paulo: Bazar do tempo, 2022.

[6] REIS. Maria Letícia de Oliveira (org). 2018. Perché mi Piace, Curitiba, Editora Calligraphie.

[7] Daniela Quevedo, Juliana Venezian e Priscila Venosa.

[8] MELVILLE, Herman (1853) Bartleby, o escrivão – uma história de Wall Street. Trad. Irene Hirsch. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

[9] Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Tw0x0cZXSmY>. Consultado no dia 15/11/2022

[10] WOOLF, Virginia (1938) As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra: Patriarcado e militarismo. Trad. Tomaz Tadeu; Guacira Lopes Louro. Autêntica: Belo Horizonte, 2019.

[11] OLIVA, Juliana; MARQUES, Rafaela Ferreira (2019) Está na hora das mulheres darem uma nova cara ao amor, de Simone de Beauvoir. Ipseitas, São Carlos, vol. 5, n. 2, pp. 166-169, jul-dez 2019. Disponível em: <https://www.academia.edu/41536402/Dossi%C3%AA_Especial_Simone_de_Beauvoir>. Revista da pós-graduaçao em Filosofia da Ufscar. Volume 5.n. 2- julho-dezembro 2019. Tradução: Juliana Oliva e Rafaela Ferreira Marques.

[12] GUSSO, Helena Canto et al. Misoginia e Psicanálise. São Paulo: Lavartus Prodeo editora, 2022.

[13] REIS, Maria Letícia de Oliveira (2019) A mulher e suas trancas. Ipseitas, São Carlos, vol. 5, n. 2, pp. 128-134, jul-dez 2019. Disponível em: <https://www.academia.edu/41536402/Dossi%C3%AA_Especial_Simone_de_Beauvoir>.Consultado em 15/11/2022. Em Um Teto todo seu, Virginia Woolf nos diz que, para a mulher escrever, precisa de dinheiro no banco e uma tranca na porta. Nesse texto, destaco a importância da tranca na porta para as mulheres brasileiras e latino-americanas de uma tranca não somente para a privacidade, mas também para a sua segurança.

[14] Este aspecto da adesividade transferencial ou seu oposto, uma crítica em relação às intervenções do analista, é bem trabalhado no livro Transferência negativa: manejos e limites na clínica psicanalítica, de Priscila Frehse Pereira. Curitiba, Editora Artes & Ecos, 2022.

[15] Falei sobre isso em outro momento, no seminário do Instituto Vox de Psicanálise, em 19 de novembro de 2021, dos efeitos da minha clínica de escutar militantes. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dL7YD6akcVo>.

[16] FREUD, Sigmund (1925) A Negação. Trad. Marilene Carone. São Paulo: CosacNaify, 2014.

[17] FREUD, Sigmund (1899) A interpretação dos sonhos. Trad. do alemão: Renato Zwick. Porto Alegre, L&PM, 2012

[18] FREUD, Sigmund (1926) A questão da análise leiga. Volume XX. Trad. direta do Alemão: José L. Etcheverry. Buenos Aires. Amorrortu editores, 2006.

[19] FREUD, Sigmund (1925) A Negação. Trad. Marilene Carone. São Paulo: CosacNaify, 2014.

[20] BATAILLE, Laurence (1987) Umbigo do sonho. Trad. Dulce Duque Estrada. Rio de Janeiro. JZE, 1988, p. 20 (Grifo meu)

[21] SAFATLE, Vladimir. Paixão do Negativo, São Paulo: Editora UNESP (2006).

[22] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lqx5gLJyZ78>.

[23] Disponível em: <https://revistapolichinelo.blogspot.com/2014/05/sobre-marguerite-duras-michel-foucault_29.html>

[24] MAGALHÃES, Danielle. Ir ao que queima. Rio de Janeiro: Ape’ku Editora, 2021, p. 201.

[25] CESAR, Ana Cristina. a teus pés. São Paulo. Companhia das Letras, 2016.

[26] MITRANO, Bruna. Não. Rio de Janeiro: Editora Patuá, 2016, p. 20.

[27] MITRANO, Bruna. Não, 2016, p. 15.

[28] MAGALHÃES, Danielle. Ir ao que queima. Rio de Janeiro: Ape’ku Editora, 2021, p. 199.

[29] MAGALHÃES, Danielle. Ir ao que queima. Rio de Janeiro: Ape’ku Editora, 2021, p. 199.

[30] MAGALHÃES, Danielle. Ir ao que queima. Rio de Janeiro: Ape’ku Editora, 2021, p. 199.

[31] MITRANO, Bruna. Não. Rio de Janeiro: Editora Patuá, 2016. p.28

[32] AGAMBEN, G. Bartleby, o escrevente. Uma história de Wall Street. Trad. Vinícius Honesko. Belo Horizonte. Autêntica editora, 2015




COMO CITAR ESTE ARTIGO | REIS, Maria Letícia de Oliveira (2023) Os nãos da mulher: ressonâncias da publicação de “Perché mi piace“. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. -14, p. 4, 2023. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2023/03/27/n-14-04/>.